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· · • • • Cena IV ◗●◖Ágape • • • · ·

Cansado.

Os olhos âmbares se mostravam extremamente cansados naquele momento, se mostravam opacos assim como seu irmão havia descrito.

Porém, ela não descreveria daquela forma, não descreveria como talheres que não haviam sido polidos, mas sim a uma pedra preciosa que há muito tempo havia perdido o brilho.

— Ele é tão lindo... — escutava algumas garotas com a voz extremamente fina dizerem em uníssono.

— Será que ele vai me notar? Será que eu deveria tentar falar com ele? — uma menina loira e de olhos acinzentados dizia, as írises brilhando enquanto olhava — o olhar dele é tão...marcante!

Novamente, pobre alma.

E por algum motivo, tudo aquilo incomodava Ágape, incomodava em um nível que ela não queria ficar ali para ver nenhum daqueles seres tentar. Queria o tirar dali e o colocá-lo em um lugar quieto onde pudesse respirar.

Estava ficando louca? Talvez estivesse.

— Seu príncipe encantado parece ser disputado — Airell brincou ao colocar o próprio braço em volta de seus ombros — acho que você não tem muito tempo para desperdiçar.

— Tem mais cara que ele é seu príncipe encantado, não o meu — a ruiva zombou — ficou praticamente fissurado em fazer ele gostar de você.

— E você não? Achei aquilo um tamanho de um ultraje! — o rosto que possuía olhos de esmeralda se contorceu com indignação — ninguém nos deixa de lado! Ninguém!

— Certo, certo — os olhos de jade se fecharam quando um suspirar foi solto — gente... — quando os mesmos se abriram novamente, só viu o ser de cabelos negros sendo soterrado por uma maré de meninas desesperadas.

Sufocado.

Enojado.

Essas eram as expressões em seu rosto.

— Carinha de quem quer correr para longe — o ruivo logo soltou, seu rosto também parecendo desconfortável ao assistir àquela situação — deveríamos fazer algo, não deveríamos?

— Nós vamos fazer algo — a ruiva disse determinada — ou melhor, você vai fazer algo.

— Sempre sobra para mim — os olhos de um verde-esmeralda se viraram junto a um bufar — o que tenho que fazer agora, minha cara senhora?

— Primeiramente, senhora é a sua mãe, segundamente... — Ágape parecia pensar, montar uma desculpa que tiraria aquele indefeso ser das garras pequenas das coisas que o rodeavam — diga que a rainha o chamou para algo, ninguém iria atrás se fosse algo relacionado a rainha, não é?

— É, provavelmente não — apenas confirmou ao prender a cabeça levemente para lado — então...aqui vou eu.

— Espere... — a ruiva o pegou pelo ombro antes do mesmo apenas sair — estarei o esperando no jardim, naquela parte da fonte.

— Deixa eu adivinhar, quer que eu o leve até lá? — um sorriso convencido apareceu no rosto delicado de Airell — você nunca quis alguém além de mim lá.

— Isso não quer dizer nada, pare de pensar besteira! — parecia conhecer sua irmã demais para não o repreender naquele momento — agora ande, vou te esperar por lá.

— Sim, senhora — o ruivo fez uma leve reverência, uma que era acompanhada de um sorriso de canto — como quiser.

⋅• ◗●◖ •⋅

Estava demorando, estava demorando mais do que deveria.

Algum imprevisto aconteceu? Ele não havia conseguido tirar ele dali?

Não, foco.

Não era nisso que deveria pensar, não era para entrar em pânico.

— O que ele gostaria de falar sobre? — logo veio em mente — eu... praticamente não sei nada sobre ele... — outro motivo para ansiedade foi encontrado, o que fez a ruiva andar de um lado para o outro, de um lado para outro.

— Cheguei, minha senhora — Airell disse em tom de brincadeira — e eu trouxe o seu príncipe.

— Eu...esquece... — dois de seus dedos foram até o meio de sua testa que se encontrava franzida — agora pode voltar.

— Eu posso voltar? Sabe tudo o que eu fiz para tirar ele do meio daquele mar de víboras? — falava com indignação — eu merecia ficar aqui pelo meu trabalho árduo.

— Mas não vai — respirou fundo — vá consolar o coração daquelas pobres damas carentes, vá!

— Tão injusta... — um bico se formou no rosto do ruivo — você vai ver, eu nunca mais vou fazer nada que pede!

— Você sempre diz isso — Ágape disse junto a um sorriso fraco e cheio de descrença nas palavras de seu irmão — mas se acha que consegue dessa vez, vá em frente.

O dedo de Airell foi levantado, provavelmente por achar que teria alguma resposta para dar a ruiva; mas quando viu que esse não seria o caso, apenas se afastou aos resmungos.

Quieto.

O lugar havia ficado quieto.

— Bom, creio que agora você possa ter um pouco de descanso — os olhos de jade foram até o chão enquanto a ruiva andava até a fonte para se sentar — eu geralmente fico aqui nesses bailes, ninguém vem aqui.

O moreno não disse nada, nem demonstrou reação alguma além de se sentar próximo a ela.

Impecável.

Sua postura era impecável, o jeito que se portava era impecável, até mesmo as suas expressões pareciam ser.

Ele tinha a sua idade, mas parecia carregar bem mais que treze anos em suas costas.

— Obrigado — finalmente algo saiu pelos lábios do ser de olhos âmbar — aquilo estava sendo...incômodo.

— Não precisa agradecer...você parecia que queria correr de qualquer modo — um arquear fraco foi pintado naqueles lábios rosados — e... não posso evitar de dizer que eu não entenda a situação.

— Imaginei — os olhos com cor de topázio se focavam no horizonte — como consegue lidar com tanta gente por tanto tempo?

— Você se surpreenderia com o tamanho da prática que meu irmão tem de me tirar do meio de tudo — a ruiva riu de forma baixa — e eu também tenho um pouco por tirar ele do centro das atenções, mas ele raramente quer ser tirado de qualquer modo, então...

— É, também deu para notar — um sorriso fraco pode ser visto no rosto estoico — ele chega e faz "PAH!".

— "Pah"? — a ruiva riu brevemente — não sei por que, mas entendi.

— Que bom que entendeu, não sabia se saberia explicar de forma devida — se mostrava aliviado com aquilo — mas de qualquer forma, ele parece acostumado e a gostar de toda a atenção que recebe.

— Um pouco — Ágape se resumiu a responder — costumo brincar e dizer que ele não precisa ir até a plateia já que a mesma vai até ele.

— Certamente — o moreno respirou fundo — ele atraí a plateia como mariposas são atraídas pela luz.

— E a plateia pode se queimar assim como as mariposas.

— Devo supor que isso não se aplique apenas ao seu irmão — falou de forma direta — não é, senhorita Lisianto?

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