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Capítulo 1: Nadar, nadar...

“Quando temos o destino traçado, não há como reverter, quem é a Chama Gêmea que nos acompanha. O fio vermelho está ligado que nem as Moiras podem e nem conseguem romper, e assim com todos os obstáculos enfrentados, que fazemos o percurso de nos encontrar, reencontrar e ficar.”

Liz Pomeriggio Fiori

Quando aquele homem adentrou em nosso quarto, tive a certeza de que algo havia acontecido com meu marido. Só não sabia ainda o quê. Senti a janela do quarto sendo arrombada.

Ver aqueles homens ali para me pegar, me fazia ter um certo receio. Mais tinha mais receio pelo meu filho, que acho que pelo susto, resolveu nascer hoje.

Estava sentindo dores. Dores que iam e vinham. Dores essas que estavam até suportáveis, até quando tentei me levantar ou debater para não ser dopada.

Antes do caos se alojar em minha frente, ouvi dele dizer que agora precisava fazer aquilo para me levar embora. O caos se alojou. Não consegui ver mais nada.

Nem sei quanto tempo dormi. Só sei que acordei com fortes dores. Realmente estou em trabalho de parto.

Estou em um quarto que não é o meu. O quarto tem uma grande cama ao qual estou deitada, tem uma cadeira, uma mesinha e duas portas que creio uma levar ao banheiro e outra a saída daquele quarto. Mas, o grande espelho perto da porta, uma penteadeira com alguns produtos femininos me fazem crer que foram preparados meticulosamente para mim, e para minha surpresa, estou acorrentada com uma grande corrente presa em uma parede ligada ao meu tornozelo.

O idiota acha que tenho forças para fugir. Só um louco mesmo para pensar nisso. Reúno as forças que tenho quando as dores das contrações cessam por alguns minutos e vou ao banheiro.

No banheiro, há uma banheira, um chuveiro, uma pia e um vaso. Tiro minhas roupas jogando no carro ao lado da pia. Vejo que há toalhas, escova de dente e objetos de higiene.

Entro diretamente no chuveiro e com a água morna, sinto meu corpo relaxar. Depois de alguns minutos embaixo do chuveiro, saio me enrolando na toalha. Vejo na cadeira no quarto, uma camisola de algodão e uma calcinha. Retorno para o banheiro e me visto.

Uma contração mais forte vem com tudo me fazendo gritar de dor.

- Filho, por favor. Ainda não.

Nosso elo é tão forte que ele alivia um pouco, mas não por muito tempo. Minutos depois, uma nova contração mais forte.

A porta do quarto se abre, e parece brincadeira. Quando penso no que aconteceu na casa do Pietro, esse homem aparece de novo e agora com Vitorino. Só pode ser um carma mesmo.

Respirando feito cachorrinho, em meio ao meu ofego disparo.

- O que faz aqui doutor Gilvan?

Por mais que fale com desdém, agora que sinto-me impotente. Nem da magia posso usar agora. Ele me olha surpreso e ao mesmo tempo, vejo em seu olhar um pouco de preocupação, tristeza e arrependimento. Mas não tenho como me focar nisso. A dor está dilacerante.

- Calma Liz, estou aqui para te ajudar. Vamos, deite-se. Preciso te examinar.

Assento e permito que me conduza a cama. Vejo logo atrás dele assim que me deito, Vitorino me olhando fixamente. Seus olhos estão vermelhos. Parece que estava chorando. Mas pouco me importa. Só quero ter meu filho e ir embora daqui.

Ao observar ao redor, vejo que Gilvan está um pouco apreensivo. Ele olha de relance para Vitorino que logo retoma seu olhar a mim e rangendo os dentes ele fala.

- Vitorino saia daqui. Preciso trabalhar. Ela está em trabalho de parto. Você aqui só vai atrapalhar.

Vejo fúria no olhar de Vitorino. Mas a dor está cada vez mais forte, estou me sentindo fraca. Mas consigo sentir que ele não quer sair.

- Brian, faça seu trabalho que daqui não saio.

- Ah mais você sai sim. Anda Vitorino. Vai logo pedir as empregadas, bacias de água morna e toalhas limpas.

Ele bufa e revira os olhos e agradeço que mesmo ele relutante sai. Assim que a porta se fecha, Gilvan se aproxima. Me sinto confusa. Como assim Brian? Não acredito que ele seja alguém do meu passado. Mais um.

- Liz, agora irei te examinar. Preciso tirar sua calcinha e farei o exame de toque para saber quantos centímetros vocês está de dilatação tudo bem?

Assinto. Assim que ele vai até o meio das minhas pernas para me examinar, mais uma dor vem. Dessa vez mais forte. Sinto um líquido quente molhar minha bunda. Agora sei que minha bolsa rompeu.

Vejo ele sorrindo ao tirar minha calcinha. Que merda, será que está na hora?

Vejo ele colocar as luvas de borracha e merda, sinto como se ele me rasgasse enfiando aquela mão grande dentro de mim. Será que é mesmo os dedos, a mão ou o braço para essa dor dilacerante.

- Você está já pronta Liz. Sua dilatação está na largura necessária. Assim que tiver mais uma contração, quero que faça força e empurre está bem?

Assinto. Agora mais calma, resolvo indaga-lo.

- Gilvan, porque ele te chamou de Brian?

Vejo ele engolir em seco e arregalar os olhos para mim. Ele suspira profundamente, me olha com um olhar perdido. Agora sei pela sua expressão que ele é o Brian do meu passado.

- Liz, me perdoe por tudo. Mas sim sou o Brian que você conheceu na adolescência. O Brian amigo do Pietro e Vitorino.

Não, não, não. Quando penso estar livre, sempre aparece alguém para atrapalhar e me fazer perder a pouca liberdade que estava sentindo.

Mas, ele está de cabeça baixa. Parece procurar por algo. Sei que ele não tem culpa do passado, afinal ele tentou fazer algo de bom, mas mentiu. Escondeu ser em alguém que não é. Isso não tem desculpa. Ele suspira e me olha com seus olhos marejados.

- Liz, eu estou aqui para te ajudar.

Quando ia indaga-lo a porta novamente se abre. Ele adentra abruptamente com duas empregadas que me olham com pesar com bacias com água morna e toalhas.

Gilvan acena e agradece e olha para eles e os manda novamente sair. Vitorino bufa revirando os olhos e sai batendo a porta com força.

Mais uma contração surge e faço o que Gilvan, quer dizer, Brian me pediu para fazer.

- Vamos Liz, força.

Faço força que sinto meu corpo mole. Nada do meu menino nascer. Brian, me incentiva mais uma vez a fazer força e acho que foram algumas horas tentando, até que o choro alto do meu filho preenche aquele quarto.

Um choro incontido eu solto. Felicidade por meu menino estar bem e ter nascido. Um choro de tristeza por meu amado Dan não estar aqui ao meu lado.

Nos preparamos tanto para esse momento. Nem sei quando irei estar ao seu lado novamente. Nem sei ao certo se irei ter a sorte de sair daqui.

- Liz, ele é lindo. Vou colocar em seus braços para que o amamente.

Assinto. Logo ele coloca aquele lindo pacotinho em meus braços. Ele é uma mistura magnifica de nós dois. Tem os cabelos pretos, nariz parecido com o meu, boquinha rosada e carnuda igual a nossa, bem branquinho. Coloco em meu seio e logo ele começa a sugar. Sinto um pequeno incômodo no início por ele sugar com tanta força, mas é suportável. Ele abre os olhos e ali eu vejo. Um verde como os meus quando nasci.

- Oi meu amor. Seja bem-vindo a esse mundo. Logo, estaremos com seu pai.

Acaricio seus cabelinhos e sinto alguém me olhando. Nossos olhos se encontram. Brian vê a cena e pega seu celular do bolso tirando uma foto minha com o Miguel. Arqueio minha sobrancelha desconfiada com o que ele irá fazer com aquela foto. Ele me tranquiliza.

- Liz, sei que não fui um bom amigo naquela época, não fui uma boa pessoa sendo médico fazendo coisas da qual me envergonho quando Pietro lhe sequestrou, mas por meus verdadeiros sentimentos por você irei te ajudar.

Ainda não confio nele, mas resolvo arriscar em dar um voto de confiança.

- E como pretende fazer isso e porque mudou de ideia em não fazer o mesmo que eles fizeram comigo?

- O amor precisa ser correspondido, precisa existir o compartilhamento entre os dois. E não pode ser algo obrigado. Mas eu vou te ajudar, porque quero ver você feliz e sei que só será com o Dan.

Sorrio e sinto que ainda há esperança nas pessoas e dessa vez sinto que logo irei embora daqui.

- Tudo bem. Mas porque tirou a minha foto com o Miguel?

Ele sorri e me olha com divertimento.

- Irei mandar para seu marido e a localização. Enquanto isso, não faça nenhuma besteira.

- Que besteira faria?

- Você sabe né. – Ele coça a cabeça envergonhado. Eu sei bem o que ele quer dizer com isso, mas o indago.

- Sinceramente não sei.

- Vou falar logo, antes que o Vitorino apareça.

- Estou esperando. – O olho séria, mas por dentro, sinto-me divertida.

- Aquela cena de antigamente me assombra até hoje.

- Ah, entendi. Pode deixar que não deixarei meu lado sombra me afetar. Pelo menos, não por enquanto.

Eles sorriem e a porta abre. Em passos lentos, Vitorino adentra. Ele avista Miguel em meu colo e vejo uma emoção que não esperava ver nele.

Ele se aproxima estendendo as mãos em direção ao meu filho. Olho para Brian e meu filho em um jogo de olhares sem saber o que fazer. Tenho medo de que ele faça algo ao meu filho. Brian me olha tranquilizando-me e fechando meus olhos eu respiro fundo.

Olho novamente para meu filho que dormiu em meu seio após mamar. Retiro de meu seio e entrego-o a Vitorino que logo é alertado que precisa colocar o bebê para arrotar.

- Não se preocupe meu amor, ele é nosso filho. Não farei mal algum a vocês dois.

Olho desconfiada para ele, mas mostro a ele estar concordando com suas ações.

- Bem, meu trabalho aqui acabou por hora. Peça para as empregadas trocarem os lençóis, levarem a Liz para tomar um banho e comidas leves. Ah, e bastante água e suco.

- Sim, já providenciei tudo. Obrigada por tudo.

- Nos veremos dentro de dois dias. Tenho que ver se há algo anormal e também trazer uma pediatra para avaliar o bebê.

- Ok. Eu te acompanho até a porta.

Quando vejo Vitorino caminhar com meu filho em seus braços acompanhando Brian, meu coração acelera. Não sei mais o que fazer. Entro em um desespero.

- Vitorino. Não é bom sair com Miguel daqui do quarto agora.

- Porquê não?

- Ele acabou de nascer. Liz está certa.

Respiro aliviada quando Brian fala isso para ele vendo meu desespero. Ele assente, sorri, beija a testa do meu filho e me entrega novamente. Dá um beijo em minha testa o que me faz sentir minha bílis subir de nojo, mas me contenho.

Eles saem me deixando sozinha com meu filho naquele quarto.

~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~

Após sair da mansão próxima a propriedade de Dan, Gilvan/Brian liga para ele. Ao quarto toque, ele atende om uma voz embargada mas que aparenta desespero.

- Dan, sou eu Brian, quer dizer doutor Gilvan.

Sua respiração fica ofegante do outro lado da linha.

- O que você quer doutor?

- Calma, estou ligando para falar que Liz teve o Miguel.

- Cadê minha mulher e meu filho. Onde você está?

- Bem perto de vocês. Mas só falarei pessoalmente.

Ele se cala. Após uns segundos pensando, ele dispara.

- Onde?

- Sabe o antigo teatro grego, me encontre lá em meia hora.

- O Antico Teatro di Taormina, estarei lá.

Sem receber qualquer confirmação, Dan encerra a ligação e se prepara para encontra-lo.

O tempo determinado chega e Dan recebe uma mensagem de Gilvan para que o encontre numa parte de dentro onde ficavam os atores para saírem da coxia e se apresentarem. Ele segue com Marximi e Nuno.

Gilvan está de costas olhando por uma parte das paredes quebradas para o horizonte esperando pela chegada de Dan.

Dan entra sozinho, enquanto os dois irmãos aguardam na entrada por onde ele passou. Virando-se por perceber sua presença, Gilvan está com o celular em mãos.

- O que tem para me falar, onde eles estão?

- Primeiro, veja esta foto.

Ele estende o celular para Dan e lhe mostra sua esposa com seu filho nos braços amamentando. Seus olhos enchem de lágrimas e ele sorri em ver que pelo menos eles estão bem. Tomado por uma fúria, ele olha para Gilvan e entre os dentes ele o indaga.

- Está de coloio de novo com um bandido?

- Não. Só fiz meu trabalho de obstetra e trouxe seu filho ao mundo. Mas quero ajudar a pegá-los de volta.

- O que te faz pensar que eu concordarei ou acreditarei em você?

Gilvan sorri.

- Pelo simples fato que eu sei onde eles estão e bem perto de vocês.

Dan arqueia a sobrancelha em questionamento.

- Tudo bem. Mas onde eles estão?

- Em uma mansão com Vitorino próximo a vocês.

- Vou agora mesmo resgatar os dois.

Segurando no braço de Dan, ele o alerta que é muito perigoso.

- Vitorino está armado até os dentes. A mansão está sob total segurança. Daqui a dois dias eu irei vê-los com a pediatra para saber como estão. Nesse tempo, você pode se preparar e resgatá-los mas para isso, você precisará da ajuda do seu pai.

Dan suspira profundamente. Ele sabe que precisará fazer algo que não queria. Mas não vê outro jeito para ter sua esposa e filho de volta. Ele concorda.

- Tudo bem. Então daqui a dois dias resgatarei os dois.

- Ok, te mando uma mensagem assim que estiver lá dentro.

- Tudo bem. Agora preciso ir. Posso ver mais uma vez a foto?

- Já mandei para você por mensagem.

- Perfeito.

Dan sai com seus capangas indo até a mansão do seu pai onde sua mãe está de volta morando com ele.

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