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Prólogo

[Luz]

-Força, senhora Barnes! Só mais um pouquinho, estamos quase lá. -eu incentivo enquanto a mulher suspira jogando a cabeça para trás com as forças exauridas.

A duquesa de Barnes é uma jovem miúda com pouco tempo de casada com o duque de Barnes, que infelizmente está tendo dificuldades em trazer ao mundo o primeiro herdeiro do ducado devido a pequena estrutura de seu corpo quase infantil e magricelo. A passagem da criança está sendo um tanto quanto dolorosa e complicada para a mulher em decorrência do tamanho avantajado do bebê, que muito provavelmente herdara a composição corporal do pai, um homem grande e corpulento.

Mirna, uma das empregadas da senhora Barnes que está me auxiliando no trabalho de parto da duquesa, enxuga com um pano úmido o rosto da patroa que está pingando várias gotas de suor por causa do esforço contínuo.

-Vamos tentar uma coisa nova, senhora Barnes... O tempo está passando e o bebê pode ter sérias complicações senão o retirarmos neste instante. -digo saindo da posição que estou entre suas pernas e me levanto.

-O que mais poderia ser feito, que já não fiz? Eu não aguento mais, sou uma fraca, Luz! Não consigo ao menos dar um filho ao meu marido. Eu... -ela choraminga com a voz embargada e meu coração se aperta ao escutar seu lamento sofrido.

-Ouça, senhora Barnes. Você é uma mulher forte e valente que trará ao mundo essa criança com muita saúde. E eu estou aqui justamente para isso, para ajudá-la no processo. -a encorajo, pois sei que mente e corpo trabalham em conjunto, um sem o outro é perda de tempo. -Confia em mim?

-Confio... -ela murmura fracamente e eu assinto com um pequeno sorriso.

-Já estive com outras mulheres que tiveram dificuldades na hora do parto como a senhora também está tendo, então adquiri um método que não tem falhado até hoje e é o que quero tentar. Tenho sua permissão?

-É claro, faço qualquer coisa para ver meu filho nascer. -ela consente e eu me preparo tomando o lugar necessário para prosseguir.

Sento-me atrás dela e envolvo sua enorme barriga com as duas mãos massageando-a com certa pressão.

-Preste atenção senhora Barnes, eu irei absorver toda a dor que está sentindo nessa hora, tudo bem? Eu vou tomar tudo para mim para que não sofra. Você apenas terá que se preocupar em fazer força e empurrar enquanto eu grito, entendeu?

-Sim, eu entendi.

-Se concentre somente nisso e nada mais, não há ninguém no local além de nós duas. -faço-a focar na situação.

Mente e corpo trabalhando juntos.

-Pode apoiar a cabeça em meu ombro assim... -eu a ajudo a se acomodar na melhor posição. -Pronta? -ela concorda e eu continuo. -Um, dois, três e... agora, empurra!

Então eu grito, ela grita, nós gritamos de dor enquanto eu forço um movimento para baixo em sua barriga com as mãos como se estivesse expulsando a criança do meu próprio ventre. É como se eu realmente estivesse sentindo a dor em seu lugar, tomando para mim a tarefa e sofrimento daquela pequena mulher que está lutando arduamente para dar a luz a seu herdeiro.

Não sei precisar em quanto tempo, mas ela consegue. A senhora Barnes se desmancha em um choro convulsivo e emocionado que sacode todo o seu corpo franzino e fraco em meus braços, ao finalmente escutar o choro estridentemente alto do pacotinho vermelho e enrugado nas mãos de Mirna que acaba de recebe-lo em meio a suas pernas.

-É um menino! -a empregada exclama radiante para a patroa com o pequeno envolvo em toalhas. -É um varão, um herdeiro, senhora Barnes! -a mulher repete outra vez com genuína alegria ao que a duquesa se estica afoita para pegar o bebê em seus braços.

Meneio com a cabeça para que Mirna assuma meu lugar, não confiando na estabilidade física da duquesa após tanto tempo naquela situação. Assim que trocamos de posição, outra empregada surge com uma nova bacia contendo água quente, substituindo a antiga já manchada de sangue. Abro a caixa que sempre carrego comigo para o trabalho e de lá retiro os utensílios que necessito. Depois de cortar o cordão umbilical separando definitivamente mãe e filho, aspiro o nariz e a boca da criança com um pequeno aparelho (no formato de uma pêra que exerce pressão quando apertado realizando assim a sucção), uma invenção magnífica criada por minha mãe há muitos anos atrás, limpo os resquícios do sujo de sangue e da placenta, enrolo-o em uma tolha e o entrego nas mãos ansiosas da senhora Barnes.

-Obrigada, Luz! -ela agradece com os olhos lacrimosos grudados na criança em seus braços. -Meu bebezinho que amo tanto!

-Só cumpri com minha missão, senhora Barnes. -sacudo as saias do meu vestido quando me levanto. -Espero que a senhora e sua família sejam muito felizes com a chegada desta criança iluminada. Que Deus continue olhando por você e fazendo-a fértil. -desejo com um sorriso de felicidade no rosto encaminhando-me em direção a saída, onde acabo dando de cara com o duque de Barnes que está prestes a entrar no recinto.

Mesmo que ele saiba que não é o correto nesta situação, o homem se aproxima da mulher e do filho em poucas passadas com os olhos completamente marejados, afinal de contas quem iria detê-lo? Ele é um duque, oras! Ninguém é mais poderoso do que ele nesta casa. Sua vontade jamais seria contrariada.

Com a sensação de missão cumprida e uma enorme paz e felicidade invadindo meu coração pela nova dádiva sagrada recebida pelo casal, sigo para a cozinha da residência ducal, onde encontro com algumas cozinheiras que parecem ansiosas por notícias de sua duquesa.

-É um menino forte e saudável. -anuncio e as mulheres explodem em comemoração pela patroa. -Quero deixar apenas algumas recomendações para a alimentação da duquesa, já que este foi um trabalho de parto que exigiu muito de suas energias.

-Mas é claro, criança. Diga-me tudo o que ela irá precisar. -a mais velha delas logo se põe disposta a anotar o que tenho para dizer e assim eu o faço.

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