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9

De volta à minha mesa, desligo minha secretária eletrônica e ligo meu celular. Já tem uma notificação esperando por mim, um e-mail de Jake. Suspiro frustrada enquanto a abro, dividida entre felicidade e raiva.

Jake Carrero enviou um presente iTunes para você.

“I Will Find You” de Clannad.

Imagino que seja uma piada sobre suas tendências de acossador. Aparentemente, não importa onde eu vá, ele me encontrará. Ele não permitirá que eu deixe Nova York. Nesse ritmo, tenho certeza que não terei permissão para deixar essa empresa. Suspiro e jogo agitada meu celular.

Vamos ver sobre isso, Carrero.

Não faço mais ideia de que lado é para cima ou para baixo … Jake me manda embora e age como se não me conhecesse. Quando percebo, ele está por toda minha vida, tentando me dizer o que fazer e me enviando músicas. Estou mais confusa do que acreditava ser possível. Ele é como uma montanha russa com suas emoções e parece que meus sentimentos estão sendo influenciados por ele.

Tudo tem que ir. Esses sentimentos e emoções idiotas. Pelo menos, ele confirmou minhas dúvidas sobre Ray Vanquis.

Nunca mais preciso me preocupar com ele? Ray ficará fora da vida da minha mãe para sempre?

Se não o fizer, só posso imaginar o que Jake fará. Ele não é alguém com quem você mexe. Apesar de todo seu charme e jeito descontraído, Jake tem um lado perigoso. Já vi isso antes, brevemente. Ter seu dinheiro e poder significa que o céu não tem limites. Ele poderia fazer alguém desaparece se quisesse. Com certeza, ele tem a mentalidade para fazer isso. Sua família tem vínculos com a máfia. Eles mantêm isso fora da atenção da mídia, negam os vínculos, mas eles são italianos do velho mundo. Seu avô fundou essa empresa em meio a boatos sobre contratar assassinos da máfia; história que Jake nunca negou ou confirmou. Estremeço com o pensamento, mas de alguma maneira me consolo com isso. Se está na minha vida ou não, ele está me protegendo … Ainda. Seu poder, alcançando e me protegendo de longe. Nunca poderia odiá-lo por isso. Ele é a única pessoa que já conheci que se importou o suficiente para fazer isso por mim. É por isso que doeu tanto saber que tive que desistir dele quando ele me afastou.

* * *

A tarde transcorre sem incidentes. Jake me deixou em paz e apesar do meu choque ao ter notícias dele e depois vê-lo, estou mais uma vez hesitando sobre minha decisão de deixar esse lugar. Em um dia, ele baixou minha autoestima; depois alternou entre aumentar e baixar mais uma vez; de quase chorar de raiva a sorrisos, depois de volta à completa desolação quando percebo que não temos motivos para nos ver novamente. Tudo que sua visita fez foi me lembrar o quanto sinto falta dele, sua raiva, humor e carisma. Sua beleza e habilidade de mudar de humor como o vento. Sinto falta de cada parte dele e isso me deixa ansiosa por dentro, pois vê-lo somente destaca quão longe estou de superá-lo.

Wilma não menciona sobre a aparição dele. Estou tão atolada com o trabalho que a tarde passa rapidamente. Compenso as duas horas perdidas depois que a maior parte do escritório vai embora. Gosto de ter esse momento tranquilo para lidar com tudo que Wilma me pediu. Concentrar-me no trabalho me ajuda a ignorá-lo e esquecer tudo sobre hoje e vê-lo novamente.

***

Está escuro quando olho para cima. Alongo minhas costas e levanto da minha cadeira. Já dei mais de vinte telefonemas, troquei e-mails com muitas AP lidando com convites de várias pessoas importantes e entrei em contato com o organizador do evento. Tenho certeza que não há mais nada que possa fazer hoje à noite já que são quase 19h.

O clima está se aproximando do inverno então o sol está se pondo mais cedo. Não esperava que estivesse tão escuro. Arrependo-me de ficar até tarde, já que a caminhada da estação em Queens será sombria e um pouco assustadora.

Limpo minha mesa e desligo meu laptop, depois pego meu casaco e bolsa e caminho para o elevador com um bocejo contido. O elevador faz um som metálico, as portas se abrem e eu entro. Não me surpreendo por encontrá-lo vazio. O elevador desacelera e faz um som metálico de novo. Olho para cima e percebo que parou no décimo-quarto andar. Estranho, já que pouquíssimos funcionários que ficam além das cinco e meia. Não acho que Jake e eu fomos embora antes das sete quando trabalhava com ele, mas ele sempre foi um viciado em trabalho.

A porta se abre e estou esperando outro andar vazio. Meus olhos estão focados no celular, verificando as mensagens. Alguém entra, um homem. Posso ver seus sapatos e calça desse ângulo e ele para perto de mim, um pouco perto demais. Sua loção pós-barba domina o espaço, grudando na minha garganta, me obrigando a olhar para cima. Há algo vagamente familiar sobre ele e tenho certeza que já nos encontramos antes, quando eu era assistente de Jake. Ele está na casa dos quarenta e poucos, com cabelos grisalhos prateados e feições pesadas. Ele sorri para mim antes que eu volte para meu celular. Há algo sobre ele que me deixa desconfortável, então me afasto mais, de maneira sutil. Passo o braço ao redor de mim, protegendo meu corpo.

“Você é Emma Anderson, certo?” Sua voz rouca interrompe meu desinteresse óbvio por ele e olho de relance e franzo o cenho.

“Sou, sim … Por que você pergunta?” Ao olhar para ele de cima a baixo, percebo o terno cinza bem feito e sapatos caros. Ele deve ser um dos executivos ao invés de um simples funcionário do escritório. Ele tem um ar de riqueza e a arrogância de um homem que sempre consegue o que quer.

Você sabe? Como Jake.

“Sou Dan Gabrielle.” Ele estende a mão e o nome parece familiar, mas pela minha vida, não consigo identificá-lo. Normalmente sou boa com rostos e nomes.

“Prazer,” digo de maneira fria, apertando a mão quente e áspera e recuo para ficar da maneira mais graciosa possível para o lado. Meu cérebro conecta os pontos e eu o reconheço. Dan Gabrielle é um dos principais executivos da Carrero. Ele lida com o merchandising dos produtos de beleza e higiene. Já ouvi tantos boatos sobre esse homem e seu estilo de vida dos funcionários do escritório. Ele é conhecido como alguém para se evitar entre as mulheres. É apenas minha sorte idiota que eu fique presa em um elevador sozinha com ele depois do expediente.

“Ouvi dizer que você era a AP de Jake? … Estive procurando por uma garota nova … Minha última foi embora de repente.” Ele sorri com malícia e um brilho estranho em seus olhos faz meu estômago tremer de apreensão. Eu me pergunto quantos avanços ela recusou antes de ir embora, conhecendo muito bem o tipo de comportamento que os executivos às vezes gostam de usar com suas APs, especialmente porque tenho experiência em primeira mão com Dawson.

“Não estou procurando outro cargo de AP nessa empresa … Estou trabalhando com Wilma Munro em eventos e afins.” Desvio o olhar, colocando o celular na bolsa para me dar outra coisa para me concentrar. Ele se aproxima, o olhar imobilizado no decote da blusa sob minha jaqueta justa. Com um sorriso repulsivo se espalhando pelo seu rosto, percebo que ele encontrou o menor sinal de decote espreitando por cima das minhas roupas. Sinto meu estômago cair e meus nervos começam a tremer. Sinos de alarme abafando tudo de uma maneira louca e maníaca.

Assédio sexual era comum nos escritórios, mais comum do que as pessoas gostam de admitir e esse cara estava dando vibrações sérias. Já estive aqui antes, lidei com esse tipo de coisa várias vezes antes de trabalhar para Jake. Sei que a maioria daquelas pessoas importantes aqui nunca acreditariam em mim. Jake nunca me fez sentir assim o tempo todo em que esteve comigo, nem uma vez, independentemente da sua abordagem ativa.

“Tenho certeza de que podemos chegar a algum tipo de acordo.” Ele se aproxima mais, tão perto que seu braço está contra o meu ombro. Estou contra a parede do elevador. Não há mais nenhum lugar que eu possa ir. “Preciso de uma garota bonita com boas habilidades … Ouvi dizer que Jake não conseguiu acompanhá-la, então teve que deixá-la ir.” O tom pegajoso de cobra em sua voz bajuladora faz com que meu queixo levante e eu olhe com cara feia para ele. Sei o que ele está insinuando. Ele ouviu boatos ou presumiu que Jake e estávamos transando.

Oh, meu Deus.

“Não sei o que você está insinuando, mas não estou interessada.” Eu digo com raiva, tentando recuar, mas sinto a parede surgir atrás de mim, está mais perto do que eu pensava.

Isso não o impede de se aproximar ainda mais.

“Acredito em nunca dizer nunca, Senhorita Anderson. Normalmente consigo o que quero. Já vi você por aí no prédio … particularmente gosto do traje.” Ele se inclina para mim e fala no meu ouvido, “Saias justas e fodíveis e saltos altos sensuais.” Ele passa uma mão pela lateral da minha saia lápis justa, da coxa ao quadril e depois viaja pela frente em direção ao ápice das minhas coxas. Seu toque causa repulsa e sobe gradualmente pela minha garganta e eu o empurro com força.

Não … Não … Não! Por que essa merda sempre acontece comigo?

Assim como Dawson quando trabalhei para ele e suas mãos errantes! Que diabos é isso sobre mim que grita...Toque-me?

“Afaste-se de mim!” Grito com ele, ouvindo a porta a porta soar. Saio correndo a toda velocidade, sem me importar se alguém vê minha partida maníaca e dou de cara com uma parede de tijolos.

“Porra,” a parede resmunga. Há um ‘ooomph’ e um gemido, depois um baque quando nós dois caímos no chão. Estou deitada em cima do corpo quente e duro de alguém. Seus braços estão ao redor da minha cintura enquanto me mexo para respirar fundo. A queda deve ter me deixado sem fôlego.

“Jesus, Emma … Um olá teria sido suficiente”

Gemo com a voz de Jake e levanto a cabeça, ficando cara a cara com ele. Seus olhos verdes perfeitos se fixam nos meus em um ângulo muito íntimo, lembranças inundam meu cérebro.

Sério? Tinha que ser ele! De todas as pessoas. Por que ele?

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