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Capítulo 6 — Abraço amigo

Judy

— Então, como foi a noite? — Ulisses perguntava me olhando e mascando chiclete, eu me arrumava para ir até o hospital.

— Até que foi tranquila. — Disse sorrindo e encarando o espelho, pensando em como eu fui me deixar levar por uma boa conversa.

"Sua barba cerrando a minha nuca, enquanto Ramon dizia o quanto estava esperando por aquele momento, mal sabia ele que eu também. Nossos corpos por um breve momento quase não ficaram despidos dentro do seu carro, mas eu não pude fazer tal loucura e quando voltei para a realidade, abri a porta e corri para dentro de casa, pois estávamos na porta da minha casa, e não morávamos em prédios". Mas Ulisses não iria saber disso nunca, ou não iria parar de falar nisso sempre que me visse.

— É, achei que fosse me dizer alguma coisa que rolou entre vocês, porque sempre que falo dele você fica toda sem jeito e isso nem é de hoje.

— Ulisses, sabe que meu pai me mataria se soubesse que a filha dele tem pensamentos no melhor amigo dele, só que pelado. Então, acho melhor a gente esquecer disso por ora.

— Tudo bem! Mas… você vai ter que me dizer a verdade depois, eu sei que não foi apenas isso. E hoje eu quero ir ver o Lúcio, acho que ele está com saudades de mim também. — Ulisses meu pai sempre se deram bem, tinham suas brincadeiras à parte, mas sem ofender a ninguém e eu sei nem que Ulisses também está sentindo o peso de sua falta.

— Então vamos logo que eu não quero ficar ouvindo você falar o dia inteiro não.

Minha cabeça estava girando, mas eu não ia deixar que isso me limitasse. Assim que entrei dentro do carro, meu telefone tocou e era um número desconhecido.

Ligação Ativa

— Pois não?

— Bom dia, estamos ligando da Lancer e queremos saber se você tem interesse em trabalhar conosco como fiscal de vendas? Após uma revisão em seu currículo e uma avaliação em sua entrevista, chegamos a conclusão que a Senhorita tem todo o porte para trabalhar em nossa empresa.

Eu não sei se eu gritava, chorava ou sorria de felicidade naquele momento, mas a coisa mais importante que eu tinha era responder.

— Eu… é claro que eu quero. Muito obrigada por essa notícia, a senhora não sabe como fez o meu dia mais feliz.

— Imagino, senhorita. Esperamos você aqui amanhã às 10:00hrs, para um teste e para que conheça seus colegas. Tenha um ótimo dia!

— Obrigada, você também tenha um ótimo dia!

Ligação Inativa

— Dá pra acreditar Ulisses, eu vou trabalhar na Lancer. Estou tão feliz. — Falei tão alto que deixei escapar a minha risada sinistra, que no fundo eu detestava.

Ulisses me abraçou e chorou junto comigo. Agora terei que trabalhar dobrado, pois também quero ter uma vida digna ao menos, com as vendas que farei na Quitanda, terei que dividir com Ulisses que está me ajudando e eu já aceitei a ajuda que Ramon ofereceu, quero dá o melhor para meu pai e depois a gente se acerta.

Victoria

Finalmente Ramon voltou para acertarmos nossas contas. Não vivemos em harmonia, mas ainda somos casados perante a lei e isso ele não pode negar.

— Bom dia, Sra. Vincent, como foi a viagem?

— Exausta, traga alguma coisa refrescante o mais depressa possível, Kyra. Ah, e por favor, mantenha-se calada, sua voz é irritante demais.

— Sim senhora.

A filha de Ramon, Vivian estava na cidade e embora a pequena criatura inútil me odiasse, ela era útil em algumas coisas e para minha surpresa, ela estava com outra mulher na casa do pai, sem dúvidas deveria estar empurrando ela para seu pai, já que não suporta ver o velho sozinho.

Ligação Ativa

— Olha Victoria, eu só não vou desligar na sua cara, porque não estou perto do meu pai e posso lhe xingar de tudo que vier a minha mente, então fala logo o que você quer.

— Vivian, como sempre tão amável. Como sabia que eu iria falar sobre seu pai? Enfim… eu quero que avise a ele que estou na cidade e quero falar com ele sobre o divórcio, ele sabe que eu sei dos meus direitos.

— Ele nunca vai te dar nada, sua vagabundä. Por que você não vai trabalhar, em?

— Porque eu amo ter a vida que você tem, sua pirralha. Bom, já disse que quero falar com ele, se não quiser me ver lhe entregue o recado ou a noite teremos um jantar em família.

Ligação Inativa

Andrew me odiava e algumas vezes eu fui ameaçada por ele, não foi nada da boca pra fora porque ele tinha uma arma apontada para o meu rosto e se não fosse Ramon naquele dia, eu jamais sairia viva. Nem por isso eu guardo rancor do moleque, só espero que ele tenha o pior.

Kyra era a doméstica mais antiga que eu tinha e única que sabia reconhecer o meu lado bom. Ela me dava conselhos inúteis, falava o quanto era feliz vivendo sua vida de pobre ao lado do seu marido que mal ganhava um salário, e seus dois filhos que ainda por cima eram mal educados.

Ramon

Estava sendo um dia desgastante, Vivian falava o quanto estava gostando de estudar fora e que estava se esforçando para dar o seu melhor, mas eu não estava conseguindo focar em nada disso, estava mesmo pensando na noite anterior e o quando Judy era mais fascinante do que eu pensava e o melhor de tudo isso era que os meus sentimentos poderiam ser correspondidos, mas eu estava mais fodido que nunca, porque já não conseguia mais parar de pensar nela e Lúcio me mataria se soubesse disso.

Estava olhando as notícias do dia quando Vivian e Helena se aproximaram de mim, pedindo uma pizza antes de ir embora e o clima não estava um dos melhores.

— Anda logo, o que está querendo me dizer? Essa sua cara não consegue me enganar.

— Victoria ligou, ela disse que quer conversar com o senhor ou a noite estaria lá em casa para fazer uma surpresa. — Ela estava sem graça e com raiva. — O senhor me disse que não tinha mais nada com ela.

— Eu já não tenho mais nada com ela e você sabe disso. Sabe também que o processo de divórcio demora a sair, ainda mais quando eu não quero abrir mão de nada, porque consegui tudo que tenho com o meu suor e sem ajuda de ninguém.

Meus pais passaram na minha cara a vida inteira que eu não seria ninguém na vida. Minha mãe era juíza e meu pai promotor, mas eu sempre gostei de viver fora da bolha em que eles queriam me colocar, foi quando comecei a trabalhar em uma oficina e comecei Lúcio, nós tínhamos meus pensamentos e desde então ele está ao meu lado e me apoiando em tudo. Quando o conheci Judy já era nascida, mas eu nunca tive muito contacto com ela, pois ele pagava uma pessoa para tomar conta dela enquanto nós dois vivíamos trabalhando, até que vencemos na vida. Quando casado com Victoria, adorei Vivian e Andrew, mas alguns meses depois veio o nosso término e até hoje ela luta na justiça por alguma coisa minha, já tentei negociar com ela, mas ela oi quer tudo ou nada e eu não vou lhe dar esse gostinho, então, eu sou praticamente obrigado a lhe dar 30% do que eu recebo, fora o que ela me pede por fora, mas isso não me faz a menor falta.

— Eu sei pai, mas eu tenho medo que ela enfeitice você novamente e de novo você caia nas garras dela. Eu sei que ainda mantinha encontros com ela, eu não sou idiota!

— Pois está sendo agora, jamais mantive relação com Victoria após o nosso término. Não quer que a tenha como uma ameaça, está bem? Só quem tem o direito de dizer o que fazer ou não a você e ao seu irmão, sou eu, está me entendendo? Victoria sem mim não seria nada do que é hoje, disso você pode ter certeza.

Após me despedir das duas, fui até o hospital onde já estavam Judy e Ulisses.

— Então, como é que ele tá? — Perguntei não me aproximando muito e ao ouvir minha voz, percebi que ela se assustou.

— Não posso entrar ainda, disseram que ele não pode sentir fortes emoções e se me ver pode passar mal por causa da reação que seu corpo irá ter. — Vi uma lágrima cair e ela apoiar a cabeça no peito de Ulisses. — Por que essa droga de acidente teve que acontecer logo com ele?

Eu não sabia o que dizer, estava torcendo para que meu amigo saísse dessa bem, mas o destino não estava ao nosso favor e doía em mim ver Judy chorando, jamais me ocorreu tal sentimento e eu estava experimentando isso pela primeira vez.

— O que acha da gente ir tomar um café lá embaixo e daqui a pouco a gente sobe pra saber de mais notícias? Ficar nervosa não vai adiantar muita coisa. Vamos? — Ulisses saiu na frente e eu então aproveitei para me colocar ao lado de Judy e passar meu braço em seu ombro, a puxando para perto de mim e lhe dando um abraço, mas sem segundas intenções. Eu queria tanto quanto ela que Lúcio ficasse bem logo, ele é como se fosse um irmão pra mim, que não quer perder por nada.

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