04- Calor sufocante
Aurora estava tentando tirar o espartilho há muito tempo, por mas que tentasse, não conseguia, então
procurou algo para cortar o vestido, caso contrário seria impossível tirar, vendo as atitudes das servas ,
ninguém a ajudaria.
Ela vasculhou as gavetas, por sorte ela encontrou uma caixa de costura que tinha de tudo, tirou uma
tesoura e começou a cortar o espartilho tentando não se machucar.
Quando ela tirou o vestido sentiu que estava respirando de novo, então ela percebeu que não tinha
nada para vestir, ela havia chegado naquele lugar apenas com o que estava vestindo, não havia mais
nada que ela pudesse vestir além do que tinha acabado de rasgar.
– Por que sou tão boba, e agora o que vou fazer? O rei deixou claro pra mim que não posso pedir nada nesse lugar, e mesmo que eu pedisse, duvido que as criadas me dariam.
Aurora deitou na cama apenas com seu vestido de baixo que estava usando. Ela começou a pensar o
que faria para conseguir roupas, ela se virou várias vezes na cama macia, acariciando os lençóis de
seda macios, então uma ideia lhe ocorreu, claro que ela não tinha vestido para consertar, ela teria que fazer ela
mesma.
Enquanto procurava algo para fazer seus vestidos ela encontrou vários conjuntos de lençóis bonitos, ela
poderia usá-los para fazer um ou dois vestidos.
Aurora pegou um lençol verde limão e um branco e começou a cortar, felizmente ela era uma boa
costureira sabia fazer um vestido simples, o que era melhor do que andar só de calcinha.
Ela pensava enquanto cortava os lençóis,
–Só espero que não se incomodem em eu cortar os
lençóis. Se o fizerem terei de aguentar a bronca, nada pode ser feito, eu preciso de roupas.
Ficou acordada a noite toda fazendo seus vestidos, usando alguns enfeites do vestido de noiva para que seu vestido não ficasse tão simples, ao amanhecer ela
conseguiu terminar seu primeiro vestido, um vestido simples verde limão com renda branca que ela havia cortado das cortinas.
Ela experimentou e viu que lhe caia como uma luva, sorriu satisfeita, pegou os pedaços de pano e os
escondeu para que as servas não os encontrassem depois foi dormir.
No dia seguinte ninguém foi lhe acordar para o café da manhã, Aurora acordou ao meio dia, logo depois
que uma serva de cabelo castanho entrou, ela disse que se chamava Rana, ela trouxe uma refeição simples que consistia em sopa de legumes, um pedaço de pão, água e uma maçã, as servas acreditavam que lhe dando uma refeição tão pobre a estavam incomodando. Porém para Aurora, que antes não podia fazer três refeições por dia, aquilo era luxo, ela comeu a sopa e o pão, guardou a jarra de água e a maçã para o caso de não lhe trazer o jantar.
Quando terminou a serva recolheu os pratos e saiu silenciosamente.
Aurora usou o resto do dia para fazer outro vestido e calcinhas.
Na hora do jantar Rana voltou ao seu quarto com uma bandeja de comida, o jantar foi mais farto do que o do meio-dia, ela colocou um filé de vitela na boca e uma salada, ela também teve uma maçã sobrando como sobremesa. Aurora comeu toda a comida deixou os pratos limpos e guardou a maçã como fez ao meio-dia, Rana a encarou, porém não disse nada sobre o hábito de guardar comida.
As estações passaram, a primavera terminou e deu lugar a um verão quente. Pela primeira vez aquele quarto que se tornou a casa de Aurora virou uma verdadeira prisão, estava tão quente que era insuportável.
Ela saiu para a varanda, mas o sol brilhava o dia todo e não lhe dava folga, mesmo as noites se tornaram tão quentes. Ela havia falado várias vezes para as servas
que ela queria sair do quarto, mas elas disseram que ela não podia sair, que eram ordem do Rei.
Uma noite quando Aurora sentiu que ia morrer de calor, escapou de seu quarto, não havia guardas na
sua porta, então ela não teve problemas para escapar, ela foi ao Jardim, se sentou em uma fonte e aproveitou o ar fresco que se misturava com a água da fonte.
Pela primeira vez em dias, ela sentiu que estava respirando novamente, ficou muito tempo, e
odiou quando teve que voltar para seu quarto infernal, mas ela não queria se meter em problemas, então ela
voltou tentando não ser vista.
Depois daquele dia, todas as noites ela escapava e ia à fonte para se refrescar, colocava os pés na fonte e desfrutava da água fresca que lhe dava uma folga do
calor sufocante de seu quarto.
Alessandro saiu para passear, estava trabalhando o dia todo revisando documentos e se sentiu estressado
e o calor só piorava as coisas, enquanto caminhava pelo Jardim viu uma jovem sentada na beirada do chafariz com os pés na água. Ele perguntou-se quem era tão sem vergonha para fazer isso.
Ele chegou um pouco mais perto, vendo os cabelos avermelhados, ele sabia quem era, era sua esposa
Aurora Venobich, Alessandro cerrou os punhos com força para aplacar seu instinto assassino, toda vez
que a via ele queria mata- lá. Os cabelos dela lembravam o Rei Vitra Venobich, que matou cruelmente vários de seus irmãos há alguns anos.
Toda vez que ele via ela, seu sangue fervia e a única coisa que ele queria era mata-lá, ela era tão pequena e
magra que ele só precisava apertar o pescoço dela para mata-lá.
Ele se virou e voltou para seu quarto, tentando empurrar essas ideias de sua mente.
Depois daquele dia, ele descobriu que Aurora fugia do quarto todas as noites para ir naquela fonte, se
refrescar, achou o comportamento dela vulgar, no entanto deixou pra lá, fingiu que não sabia o que
estava fazendo e parou de pensar nela, deixando a novamente no esquecimento.