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01- Eu não quero morrer

Aurora estava sentada na cama abraçada aos joelhos, o frio do inverno perfurando seus ossos como espinhos afiados, ela tentava cobrir seu corpo pequeno e delicado o melhor que podia, mas naquele palácio abandonado onde ela foi mandada para morar não

deu a ela o abrigo que precisava.

Aurora era a primeira filha do Rei Venobich, um homem cruel e implacável que via todos os seus

filhos como meras ferramentas.

No reino de Laios, o herdeiro do trono era sempre o primogênito, independentemente do sexo da criança, porém o rei não queria uma menina pequena e doente

como sua herdeira, então a mandou para parte mais distante do palácio para morrer silenciosamente.

Aurora havia se agarrado a vida com todas as forças, mesmo recebendo apenas uma refeição por dia e não tendo condições de sobreviver, ela não desistiu e se agarrou a vida de forma admirável.

No silêncio e entre as lágrimas, ela repetiu várias vezes.

– Eu não quero morrer, eu não quero morrer, Deus, se você está me ouvindo, por favor me ajude, eu não quero morrer.

Aurora repetia essas palavras todos os dias, uma e outra vez.

Ninguém conseguia entender por que um ser tão fraco e infeliz como ela se mantinha agarrada à vida, um dia uma das servas que lhe traziam comida uma vez por dia perguntou a ela.

– Por que você ainda quer viver? Não seria mais fácil se você desistir e morrer? Assim toda dor e sofrimento que você está sentindo desapareceria.

Aurora tinha 12 anos, os últimos 6 anos tinha sido

um inferno, mas ela não desistiu diante das garras da morte que sussurrava em seu ouvido todos os dias para ela desistir de lutar.

– Por que você não se joga da torre mais alta desse castelo?

– Você está louca? Se eu fizesse, eu morreria.

– Você vê, assim como sua vida é valiosa para você, minha vida é valiosa para mim, então pare de me pedir para morrer, porque não o farei.

Ela continuou comendo em silêncio, quando terminou a serva pegou a bandeja com os pratos vazios, ela não tinha deixado nem uma migalha, tinha acabado com

tudo.

Depois que a serva foi embora Aurora olhou pela janela, lá fora a neve começou a se acumular enquanto olhava pela janela ela levantou os olhos para o céu e fez sua pequena oração novamente, juntando as duas mãos .

– Eu não quero morrer, por favor, Deus, não me deixe morrer.

Aurora continuou a rezar a mesma oração por três invernos, na primavera do seu décimo quinto

aniversário aquela serva que sempre trazia comida para ela trouxe um lindo vestido, lindas jóias e enfeites para seus cabelos.

– Por que você trouxe tudo isso? ela perguntou curiosa.

– Sua majestade me pediu para trazer tudo isso para deixá-la bonita, ele quer vê-la.

Faziam 09 anos desde a última vez que Aurora tinha visto seu pai, ela ainda se lembrava das palavras

cruéis que cuspiu nela com a sua rejeição.

" Eu não preciso de uma filha aleijada como minha herdeira, então apenas morra de uma vez ."

– Você sabe para que ele quer me ver?

– Não, ele só me disse para me apressar.

A serva lhe deu um banho de água fria, o corpo inteiro de Aurora estremeceu ao sentir a água sobre seu corpo magro, ela desejou que tudo aquilo acabasse rápido, mas não foi assim, tinha que ficar muito limpa.

Depois do banho, ajudou a se vestir, ela colocou um lindo vestido branco, depois colocou dois enfeites de flores, um de cada lado de seus longos cabelos ruivos,

depois aplicou uma maquiagem leve, finalmente colocou um pequeno colar de safira em formato de lágrima .

A serva a fez olhar em um espelho quebrado que estava em um canto, ela estava linda, apesar de não ter vivido em condições adequadas, Aurora havia se tornado uma bela jovem de cabelos ruivos, pele branca e pálida como a neve devido ao fato que ela quase não recebia os raios de sol, pois estava sempre trancada naquele palácio frio.

Seus olhos dourados como o sol brilhavam e seus lábios vermelho visco pareciam lindos e delicados .

Enquanto Aurora olhava no espelho, a serva colocou o último enfeite em seu cabelo que estava no fundo da caixa que ela trouxe, era um véu fino, quando Aurora então percebeu o que estava acontecendo, ela ia se casar.

Como a morte nunca chegou, seu pai queria se livrar dela de outra forma, com o casamento.

Aurora não disse nada, ela só desejou que onde quer que a mandassem fosse um lugar melhor para se viver.

– Está tudo pronto, por favor, siga- me, Sua Majestade está esperando por você .

Aurora caminhava com um passo relaxado pelos corredores do palácio, todos que a viam murmuravam enquanto ela passava se perguntando: Quem seria ela?

Ela tinha cabelos ruivos, traços únicos da família Venobich, por isso, todos ficaram tão surpresos ao

vê-la, pois ninguém lembrava que ela era a primeira princesa do reino de Laios.

Aurora continuou a andando, ignorando completamente os murmúrios das pessoas, foi levada

a sala do trono, não se curvou, nem cumprimentou o homem que a olhava com frieza e desprezo sentado em seu trono.

Ele disse:

– Minha querida filha, vejo que você cresceu lindamente.

Embora as palavras do Rei parecessem doces, para Aurora pareciam um insulto. Seu pai sorriu maliciosamente e disse a ela:

– Hoje você será enviada para o reino de Cosset, devido as constantes guerras decidir enviar minha filha mais amada para formar uma aliança de paz.

Aurora não reclamou, nem disse nada, ela simplesmente ficou ouvindo as palavras de seu pai desejando que tudo isso acabasse logo. Aquele vestido que ela estava usando era pesado e apertado e

desconfortável, os sapatos que ela não estava acostumada a usar faziam seus pés doerem.

– Querida filha, espero que você tenha uma boa vida com seu futuro marido.

O Rei acenou para alguns guardas que estavam vestidos de branco, deviam se os soldados do

reino de Cosset.

Seu pai disse:

– Escolte com cuidado minha preciosa filha.

Os guardas se aproximaram de Aurora e disseram a ela:

– Por favor, siga- nos, uma carruagem está esperando por você.

Aurora não se despediu de seu pai nem se curvou antes de sair, apenas se virou e seguiu os guardas.

Ela olhou para trás, ouviu seu pai dizer pela última vez.

– Que a luz de Orion esteja com você.

Aquelas últimas palavras pareciam afetuosas para os guardas que a acompanhavam. Só os que pertenciam ao reino de Laios conheciam o significado de tais

palavras.

"Que a morte venha logo te visitar".

Embora Aurora tenha vivido sua vida trancada, sem receber nenhuma educação, ela aprendeu a ler

antes de ser jogada ali, ela ocupava seu tempo lendo, também sabia que as últimas palavras de seu pai para ela, na verdade eram um desejo de morte.

Aurora não se virou ela andou com o rosto para cima, ignorando tudo ao seu redor, ao sair do palácio ela viu

uma enorme carruagem branca com enfeites douradas esperando por ela na entrada, um dos guardas a ajudou a subir na carruagem.

Aurora olhou pela janela, de lá ela observou enquanto eles deixava o palácio para trás, ela pensou que sentiria algo ao sair de seu lugar de origem, porém não sentiu nada, nem tristeza, nenhuma emoção.

– Espero que minha vida no reino de Cosset seja melhor do que era neste lugar.

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