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Capítulo 06

Aos poucos vão chegando notícias concretas sobre a invasão e os riscos de uma ocupação no Morro Celeste é descartada, volto para casa dos meus pais que estão aflitos.

Tranquilizo -os sobre tudo, aproveito um pouco do tempo com meus filhos e então me despeço, mesmo sabendo que já está tarde e que eles não aprovam os caminhos que estou dando para minha vida eu realmente preciso subir o morro, o dever me chamar.

Tudo é resultado de escolhas minhas e quanto mais tempo eu ficar em cima do muro mais difícil as coisas ficam, eu já decidi minha jornada agora é vestir a camisa e seguir firme, pulso de aço e fé na caminhada, fazer o certo pra merecer as oportunidades que estou recebendo, eu sei que não é fácil ocupar a posição que estou ocupando e sei também que peguei o bonde andando porém tenho conhecimento da minha capacidade e sei que breve já vou quitar as dúvidas do morro, equipar ele e fazer acontecer do meu jeito.

Quando eu tiver o domínio total e organizar as finanças do Morro eu quero ampliar os projetos sociais da comunidade, trazer alguma ONG, e desenvolver atividades para a garotada e para as mulheres, coisas que agreguem qualidade de vida nos lares das famílias.

Ao contrário do que pensam, não estamos nas comunidades apenas por proteção, nós amparamos a maioria das famílias, fazemos por eles muito mais que o governo.

Enquanto vou subindo o morro, os moradores me cumprimentam, outros por medo trocam de rua, apesar de às vezes ter que tomar atitudes drásticas eu sou uma pessoa que primeiro analisa o lado humano das situações e só se não tiver outro jeito mesmo é que passamos para algo mais rígido.

As vias estreitas e as escadas irregulares ficam com acesso ainda mais difícil no anoitecer, estou com tantos pensamentos na cabeça e de tão distraída quase caio, só não vou ao chão pois um dos vapores que faz a contenção por ali me segura.

— Calma, chefinha!

— AFF! Droga!! — Me recomponho e agradeço.

Sigo meu caminho, paro no Bar do seu Juca e de lá entro no nosso QG, sento na minha mesa e fico olhando as anotações do dia, amanhã tem carregamento para receber e outros para entregar, o do Tom eu posso cancelar, certeza que depois do dia de hoje ele vai esperar um pouco para pegar, vou guardar no nosso barracão… é o mínimo que posso fazer depois da força que ele tem me dado, eu sei que ele te os canais dele mas comprou essa mercadoria só para inteirar minha carga, Papa me contou meio por cima, a negociação não foi comigo eu só recebo. Só vou fechar negociação diretamente quando finalizar esse débito, felizmente só faltam uns 500 mil.

Encosto minha cabeça na mesa apoiando a testa nas costas da minha mão, não fiz quase nada durante o dia, porém foi um péssimo momento para passar o dia trancada num quarto de hotel. Meu celular vibra e eu cogito não atender, mas vejo que é Thiago, melhor ver o que é, vai que está precisando de algo.

— Oiê! Como você está? - Perguntou girando a cadeira parecendo criança brincando, sorrio pequeno ao notar minha atitude.

— Oi!! Estou bem, você sumiu! — Ele fala seco e eu sei que ele quer falar algo, são muitos anos de convivência sei exatamente o que significa esse timbre de voz.

— Muito serviço… — Minto, já que ainda não falei que estou à frente do morro mesmo já tendo quase três meses.

— Vem cá, quando vai me contar? Eu estou preso! Aqui todo mundo sabe quem é dono de onde. Não vejo a necessidade de você sustentar uma mentira pra mim… já nem temos nada mesmo.

— Se já sabe, que diferença faz eu contar ou não? Como você mesmo diz as conversas rolam… e quer saber, os boatos são verídicos. — respondo impaciente.

— Certo! Mas me diz uma coisa… deu pra quem, para conseguir essa nomeação?

— Vai tomar no seu cu, arrombado!

Desligo o telefone tremendo de raiva, onde já se viu uma falta de respeito dessas… hoje o dia não poderia terminar pior, tinha de ser com uma pérola dessas.

(Thiago) - 19:45

Desculpa! Me precipitei nas palavras.

– Contato Bloqueado –

– Contato Desbloqueado –

(Eu) - 19:48

Quer saber, vai pro inferno você e todo mundo que acha que mulher pra chegar em algum lugar tem que abrir as pernas. Se estou aqui foi exclusivamente por merecimento. Não me liga, não me manda mensagem, não me procura.

Com relação às suas coisas,vou mandar pela sua mãe e qualquer assunto que eventualmente precisar tratar comigo fale através do advogado.

Passar bem!

– Contato Bloqueado –

Que dia foi esse?! Que dia meus senhores!!

Guardo as coisas que estão sobre a mês, tranco minha porta e volto pra casa… outra noite no morro, espero que eu consiga dormir.

O ideal é que eu me adapte a ficar aqui depois que anoitecer pois é muito arriscado ficar subindo e descendo com tanta frequência. Não só eu tenho de me adequar a essa realidade como também meus pais.

Essa semana vou agilizar isso, vou fazer uma reforma nós dois quartos extras para meus filhos, caso eles venham me visitar, e personificar o meu, gosto de tudo decorado com pontos pessoais, essa identidade suaviza mais o ambiente.

Passo um olhar analítico por toda a casa e enquanto tomo banho crio um esboço mental de como quero deixar a casa, saio do banheiro me enxugo e visto um pijama, mesmo tendo dormido o dia todo, ops dormido mais cochilado, agora a noite estou destruída, parece que carreguei pedra a noite toda.

Assim que deito na cama ouço a vibração do meu aparelho,são mensagens de Thiago e de Papa. ignoro as de Thiago já bloqueando esse novo número também e depois abro as do Papa que está apenas querendo saber se está tudo certo.

Tranquilizo- o sobre tudo e reafirmo que mesmo com a invasão no morro do Dono, amanhã vamos pra cima de pegar a mercadoria e já lançar nos lojistas e aliados.

— Eu sabia que a mana é sucesso e que conseguirá conduzir esse morro como ninguém.

— Obrigada mano, mas o mérito é nosso, não fiz nada sozinha.

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