Capítulo 2
Quando Beatriz chega ao Copacabana Palace, percebe o quão o evento está lotado de homens e mulheres. Mas não é um jantar de festa de solteira? Deveria ter só mulheres aqui, pensa enquanto procura a noiva. Estremece só de pensar que pode estar no local errado.
Depois de muito procurar, enfim encontra Sônia perto do bufê com um grupo de pessoas e percebe que há muito não a via. Agora sua amiga usa os cabelos longos e naturalmente ruivos, está com a silhueta mais esbelta, ou talvez fosse o belo vestido verde rendado tomara que caia que dava esse efeito. Sônia está sorrindo mostrando seu anel de noivado a um casal quando percebe a presença da amiga. Bia não pôde deixar de notar que sua amiga ficou tensa assim que a viu. Então decide apontar para o banheiro feminino mostrando que iria esperá-la e o que obteve foi um leve aceno de cabeça.
Chegando ao banheiro, Sônia encontra Beatriz olhando atentamente para o espelho, e zomba sorrindo:
— Está um pouco velha para brincar de sério com o espelho, Bibi – abraça a amiga — Que saudades eu estava de você! Achei que não viesse hoje.
— Eu sei que tenho sido relapsa com você, minha amiga, mas é que tenho passado por um momento difícil e você, melhor que ninguém, sabe disso – explica, segurando as mãos de Sônia. — Mas não vamos falar de mim. Olha você está de linda! Uma diva! Quem fez isso? Diga o nome para eu ir fazer uma consulta.
— Obrigada, mas isso tudo aqui é puro amor... – passando as mãos ao lado do corpo — e 30 mil reais. Você realmente está bem? – pergunta Sônia fazendo cara de preocupada — Olha, se você quiser ir embora, Bibi, eu compreendo, sua cara está condenando que não quer estar aqui.
— Sô, eu quero ficar – responde encarando a amiga com um sorriso amarelo — Você sabe que se fosse o contrário, eu nem estaria aqui.
— Tem certeza? Talvez meu jantar não lhe faça bem – reforça enquanto afasta de Beatriz, para olhar e arrumar os cabelos que estavam de lado no espelho
— Aliás, não era para ser uma despedida de solteira? – questiona Beatriz encarando a amiga.
— Sim, era. Porém o Jorge achou melhor que fizéssemos um jantar de ensaio para que TODOS os nossos amigos pudessem participar – responde Sônia observando a amiga pelo espelho — Eu não quero que fique para baixo.
— O que quer dizer com isso? Tem algo que está me escondendo Sônia? – pergunta Bibi, desconfiada, apoiando na pia para fixar o olhar em Sônia. Sua amiga abaixa a cabeça a fazendo entender o que está acontecendo— Hugo também está na festa? Ele está aqui, não é?
— Sim... E veio acompanhado – responde Sônia, olhando para Bibi pelo espelho na defensiva — O que eu poderia fazer? Ele é amigo do Jorge, melhor amigo. Assim como você é minha melhor amiga! A gente não pode eliminar um ou outro. A gente não sabia que vocês iriam se separar…
— Acompanhado? Mas nós estamos casados! Imagine o que as pessoas vão dizer! O nome da minha família saindo nas capas das revistas de fofocas será um desastre! – reage Beatriz ignorando o pedido de desculpas de Sônia — Onde ele está? Em qual mesa? E quem é a amante, ordinária, que está com ele?
— Amante? Bibi, vocês não se falam tem um ano! Vocês não estão mais juntos! E isso está bem claro para todos aqui – repreende Sônia segurando os braços da amiga — Por favor, não crie confusão com ele, está bem? Esse jantar é importante para mim e para o Jorge.
— Eu? Causar confusão? Já pediu isso para ele? – pergunta Beatriz, revoltada, apontando para a porta. Ela se sente injustiçada por Sônia pedir uma coisa daquelas. — Não fui eu quem trouxe um acompanhante para a festa, pois jamais vou fazer isso com você. Agora ele…
— Já pedi – interrompe Sônia, se afastando da amiga. Ela coloca uma das mãos no ombro de Beatriz. Sabe que a reação de Bibi poderá ser pior depois do que está prestes falar — E como eu sei que você não está saindo com ninguém, eu a coloquei na mesa dos solteiros. Tem uma pessoa que está ansiosa para lhe ver… Ou melhor, rever.
—Eu sou uma mulher casa, Sônia. – retruca Bibi, ríspida.
— Amiga… – tenta argumentar Sônia sendo interrompida pela porta do banheiro sendo aberta.
— Quem ousa tirar a estrela principal do salão? – questiona a mulher de meia idade que entrou no banheiro — Filha, tem convidados a sua espera.
— Olá, Margout – cumprimenta Beatriz a senhora que é mãe de Sônia — Desculpe a indelicadeza, mas tive de ser egoísta para conseguir conversar com minha melhor amiga.
— Mas você teve e terá muitos dias para conversar com ela, Bibi. Acho que seu marido deve estar preocupado com sua ausência à mesa – comenta a senhora sorrindo enquanto alfineta Beatriz.
— Mamãe! – repreende Sônia.
—Sem dúvida Margout, nós já terminamos por agora – responde se afastando de Sônia. Esforça-se para que as próximas palavras saíssem as mais firmes possíveis. — Eu vou só retocar a maquiagem e irei para minha mesa.
— Só não demore muito, Bibi, não quero que perca o brinde. Afinal você tem um discurso a fazer – informa Sônia enquanto faz um olhar de desculpas.
Após as duas saírem, Beatriz senta no banco de madeira, pensando em como suportaria aquela noite.
****
— Martini, Senhora? – pergunta o garçom para Beatriz.
— Sim, por favor – responde Bibi entregando sua sexta taça para ele com um sorriso débil — E não pare de trazer! Eu lhe proíbo… Proíbo de me abandonar… Você não pode me abandonar… Sério, não pode.
O garçom olha sem jeito para Beatriz que o segura pela manga da camisa. Ele acena freneticamente que sim, implorando que ela o solte. Bia então o solta lhe dando um largo sorriso.
— Bom garoto… Bom garoto – elogia virando para a mesa. Todos os que estão sentados ali olham para Beatriz, horrorizados com sua atitude. Então ela levanta a taça para o centro da mesa — Um brinde a todos os que o cerimonialista colocou erroneamente nessa mesa! Que é o meu caso Ahahaha… Vamos brindar gente… Sério… Nossa, vocês… Vocês… São muito para baixo… Igual ao meu marido… Pois é… Eu tenho marido… Colocaram-me errado aqui… Eu devia… Devia estar em outra mesa… Eu disse para Sônia que isso ia acontecer… Sabe… Eu sei que fui uma péssima madrinha… Mas eu não teria… Não teria contratado esse, pessoal… Agora vê se pode… Colocar uma mulher casada em uma mesa de solteiros.
Por mais que ela tente se enganar dizendo que está na mesa errada, todos sabem a verdade. Então decide olhar para o salão e procurar por Hugo e sua acompanhante. Deseja circular no salão para saber onde estão sentados. Cada homem que passa com o porte físico de seu marido, chama sua atenção, enquanto toma seu Martini. Onde será que ele está? Pensa impaciente.
— Os noivos estão para o outro lado. Ou está me procurando?
— Na verdade, não estava à procura dos noivos… Eles não estão perdidos para eu ter de procurá-los – responde Bia, se virando sorrindo. — Muito menos à sua procura, Flávio.
Flávio Peixoto Wilkinson, ou lorde Wilkinson, é o próximo duque de Wilkinson de sua família britânica e primo de Sônia. Seus olhos verdes já fizeram Beatriz suspirar quando mais jovem. Foi o seu primeiro beijo, bem como foi o primeiro de muitas garotas.
— Tudo bem – concorda Flávio tomando a taça das mãos de Beatriz — Acho melhor se controlar um pouco, Bee, se não desperdiçará o belo champanhe do brinde.
— Eu sei me controlar, Flávio… Diferente de você na minha festa de aniversário. – alfineta, tomando a taça da mão dele — Eu aposto que foi a Sô que mandou você aqui, não foi?
— Você conhece bem a Sô, ela anda bem preocupada. – explica Flávio que se senta à mesa. — Na verdade, eu também…
— Ahahaha, Flávio, você preocupado? – questiona Bibi que dá um gole na bebida o encarando — Essa eu pago pra ver. Logo você que só olha para o próprio umbigo.
— Para você perceber a gravidade da situação. – responde Flávio passando a mão nos belos cabelos loiros — Eu realmente estou preocupado com você. – finaliza encarando Beatriz.
— Eu prefiro você sendo egoísta. Conte-me da sua vida… Como está a Inglaterra? Já se mudou para lá? – pergunta Bia mudando de assunto.
— A Inglaterra está fantástica. Ainda não me mudei, pois tenho umas coisas inacabadas aqui no Brasil.
— Você é o homem mais sortudo do mundo, sabia? Tem tudo o que sempre quis. Um emprego que te permite ficar em dois países, além de conhecer outros. E o melhor, não ama ninguém. Sério, se eu fosse homem, queria ser você – comenta enrolando a língua ao falar a última palavra.
— Na verdade eu ainda não tenho tudo o que quero – confessa tocando na mão de Beatriz. Seus olhos verdes a encaram que fica vermelha na hora. — Eu vou pegar um aperitivo para nós. Não queremos ficar altos antes do brinde.
Beatriz tem certeza que com “Nós”, ele quis dizer “Ela”. Enquanto Fábio se afasta, Beatriz se vira, encontrando Hugo no salão. Ele está conversando com algumas pessoas enquanto abraça uma mulher loira de cabelos curtos enrolados e o corpo mais cheio de curvas do que o dela. Como por impulso, não sabe se é da bebida ou de vontade própria, ela pega sua taça e vai em direção aos dois.
— Olá, meu amor! – cumprimenta efusivamente, fazendo Hugo virar em sua direção — Até que enfim te encontrei! Você acredita que o cerimonialista me colocou no lugar errado. Onde estamos sentados? – pergunta segurando no braço de seu marido.
Hugo afasta seu braço gentilmente dando leves tapinhas na mão de Beatriz. Sua expressão está calma, porém seus olhos estão gélidos.
— Olá, Beatriz – cumprimenta Hugo, secamente. Vira-se para os demais — Peço licença a todos, preciso falar com minha Ex-mulher – explica enfatizando o ex.
Dá um beijo em sua acompanhante, dizendo algo em seu ouvido e se retira com Beatriz para o lobby.