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Perfume para mulheres

Desde muito jovem tenho sido um tanto insistente em tudo o que faço. Sempre me preocupo em fazer tudo certo, buscando a perfeição. Tudo o que tenho até agora é a combinação de esforço mais inteligência.

Isabella é minha irmãzinha. Eu era para ela como uma mãe. Desde que minha mãe sofreu aquele fatídico acidente, quando eu tinha apenas cinco anos, tive que ajudar meu pai, cuidando de Isa para que ele pudesse trabalhar e nos sustentar.

Meu pai é Massimo D'Amaro, um imigrante italiano que veio muito jovem para este país, mas sempre foi um trabalhador e um sonhador inveterado.

Para ele, ajudar a humanidade a ser feliz é o seu sonho; então ele sempre fez o possível para nos deixar felizes. Não faltou nada na infância, exceto o amor de mãe. Mesmo assim, nunca senti que o carinho dele fosse necessário porque nosso pai fazia questão de que não sentíssemos.

À medida que crescemos, se eu pudesse sentir isso. Principalmente quando tive minha primeira menstruação. Eu não sabia o que fazer, ou como dizer a ele.

Naquela noite, quando ele chegou do trabalho, eu estava no meu quarto com a Isa. E pareceu-lhe estranho que ela não saísse para recebê-lo como de costume.

Logo ele estava lá, na porta nos observando.

-Vamos ver principesse, por que você não sai para me receber? Você se esqueceu do seu pai?

Isa correu para abraçá-lo. Adorávamos quando ele falava conosco em italiano.

-Ciao pai.

Ele veio me dar um beijo na testa como de costume.

-Você se sente mal?

-Não pai. Tudo certo.

–Trouxe uns docinhos pra gente ver um filme juntos.

–Vá com a Isa, tenho que estudar para a prova de amanhã.

–Amanhã é sábado Diana. O que está acontecendo com você?

Ele deve ter imaginado o que estava acontecendo. Ele mandou Isabella para a cozinha comer alguns chocolates.

–Você sabe que pode me contar qualquer coisa, bambina.

-Sim Papai.

–Aproveite então esse curinga e diga ao papai, o que acontece?

-Estou menstruada.

Seu abraço era tão reconfortante que nem uma única palavra foi necessária.

– Te amo pai!- falei abraçando-o com todas as minhas forças.

–Te amo raggazza!

Ele saiu da sala e foi para seu quarto. Ele trouxe um pacote embrulhado.

"Acredite ou não, eu esperei por este momento", disse ele enquanto me entregava o pacote.

Meus olhos brilharam de alegria e comecei a descobri-la.

"Obrigado, pai", respondi.

Dois packs de pensos higiénicos de dia e de noite. Um perfume com cheiro de mulher.

É o melhor presente que recebi em toda a minha vida. Porque essa seria a minha motivação para ser mulher.

Naquela noite assistimos a um filme infantil, especialmente para Isa, que mal tinha seis anos. Ela é cinco anos mais nova que eu.

Os anos passaram num piscar de olhos. Meu pai tinha começado um pequeno negócio de comida italiana. E eu e a Isa ficamos encarregados de servir as mesas.

Sempre havia algum libertino que queria nos cobiçar. Mas nunca fui afetado por seu instinto básico. Isabella, ao contrário, revelou-se mais sensível aos elogios de qualquer um deles.

Aos 20 anos conheceu Marcos, filho de um dos empregados da cozinha, e sem ficarem juntos por um mês, foi morar com ele. Papai estava muito triste naqueles dias.

Enquanto isso, continuei em casa, sustentando meu pai. Ele já tinha um tempo sem mulher ao seu lado então resolvi apresentá-lo a mãe da Gianella. Foi amor a primeira vista, fiquei feliz em ver meu pai apaixonado pela Paulina.

Sempre fui responsável por resolver a vida dos seres que amo. É minha missão retribuir ao pai por tudo que ele fez por nós.

Com relação à Isa, sempre a aconselhei e mesmo nos primeiros meses quando ela saiu com o Marcos, eu a sustentava com parte do meu salário para que ela não passasse por problemas financeiros.

Já depois eu vi, que ela era muito feliz com seu jeito simples de viver. Eu o deixei seguir seu caminho. Essa é outra das coisas que costumo fazer, deixar cada um tomar suas decisões e ser feliz como pode.

Não sei em que momento Isa começou a sofrer de períodos paroxísticos e se tornou uma viciada em drogas. Se não dormisse tinha que tomar clonazepam, se não controlasse a distimia bebia bebida alcoólica ou Sertralina, se por acaso se sentisse ansiosa, nada como uma boa dose de Alprazolam.

Lá ele começou a cair em excessos e hoje está nesta clínica com um quadro de esquizofrenia aguda.

Não gosto de ter que visitá-la e vê-la assim, ausente, letárgica. Por esse motivo, prefiro pagar por uma boa clínica e deixar que eles cuidem de seus cuidados.

Entro na minha banheira e Herminia a preparou do jeito que eu gosto: espumosa e com pétalas de rosa. Posso sentir o perfume das flores e ficar extasiado com esse cheiro. Fecho os olhos enquanto ouço o Noturno em Fá Maior de Chopin.

Preciso relaxar e não pensar muito. É o que me trouxe até agora ao lugar onde estou. Foco. Esse é o verdadeiro segredo do sucesso.

Posso sentir a água fria entre minhas pernas e o roçar das pétalas acariciando minhas panturrilhas e antebraços. Mergulho um pouco o corpo, sempre deixando o pescoço um tanto erguido para não molhar o cabelo.

Alguém bate, eu saio um pouco. Eu estendo minha mão e pego a toalha para sair da banheira. Pela segunda vez eles jogam. grito exasperado:

"O que diabos está acontecendo?" ele perguntou enquanto caminhava em direção à porta.

-Com licença, você tem uma ligação de Dona Paulina. Ele diz que é urgente.

Saio correndo do banheiro e agarro o telefone sem fio de suas mãos.

"Sim, me diga, o que está acontecendo?"

A notícia que recebo é chocante, empalideço. Desligo o telefone.

-Encontre-me algo para vestir. Luz.

Herminia corre para o quarto ao lado e vasculha o guarda-roupa. Acompanha um conjunto esportivo de algodão. Eu me visto com pressa. Retiro a touca de banho. Eu solto meu cabelo. Pego a carteira, meu celular.

–Avisa ao Tarcisio que já vamos embora!

"Sim, senhora", ele responde enquanto desce as escadas.

Pego o elevador para chegar ao primeiro andar. Tarcísio já está com o carro parado em frente à entrada. Ele abre a porta para mim. Eu vou para cima. Feche e suba.

-Onde senhora?

–Para a clínica central Tarcisio. é papai. Rápido por favor.

Saímos da mansão. Estaremos lá em dez minutos. Eu saio e corro para a clínica.

– Senhorita, por favor, quarto do Sr. D'Amaro.

–Quem solicita informações?

"Sou sua filha inepta", respondo, batendo no balcão.

Com licença, Diana. é 26-C

Eu ando até o elevador. Eu vou para cima. Chego ao terceiro andar e ando com pressa, às vezes corro. Finalmente estou de frente para a sala. Eu entro. Aproximo-me:

– O pai está bem?

Ele olha para mim incapaz de responder por causa do respirador artificial.

Eu vejo seus olhos. Ele fala comigo com eles. Sempre tem sido assim.

"O médico diz que foi uma parada cardíaca", responde Paulina.

"Ela vai ficar bem, certo?" ele perguntou enquanto a agarrava pelos dois braços.

"Você deve permanecer sob observação esta noite, querida."

"Eu vou ficar com ele." Eu quero falar com o médico!

“Ela virá antes da troca da guarda para ver. Já lhe deram tratamento. Você só precisa se acalmar.

Eu a olho um tanto irritada com a frieza com que ela fala comigo. Sempre fui muito equilibrado e emocionalmente controlado. Só quando se trata do pai, tudo muda. Ele é meu tudo.

-Desculpe, mas acho desnecessário lembrar quem é. É meu pai.

De repente, o monitor cardíaco começa a cair. Corro até onde ele está. Enquanto eu grito com Paulina para chamar o médico.

–Papà no lasciarmi!– digo enquanto descanso minha cabeça em sua mão.

A enfermeira entra, que me pede para sair do quarto. Eu não quero deixá-lo. Resisto, até que o médico entra acompanhado de um estagiário, que leva o eletrochoque para fazer pressão no peito e reanimá-lo. Eles fecham a porta.

Ouço o médico contando do lado de fora da sala, ouço o monitor bipar por segundos e parar de apitar novamente.

O médico aparece. Ele tira as luvas e caminha até onde estamos.

–Sinto muito, o Sr. Massimo acaba de falecer.

Não me lembro do que aconteceu. Abro os olhos, vejo que estou em uma maca e ao meu lado Marcos me olha triste.

Eu reajo e tento me levantar. Sinto uma dor no braço esquerdo. O cateter intravenoso me dói quando me mexo.

-Calma Diana, você não pode mais fazer nada. O velho nos deixou", diz ele enquanto me abraça.

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