Capítulo 3
Ao longo dos dias seguintes Collins se tornara um pouco dedicado ao extremo em me fazer elogios, eu tentava me esquivar mas no fundo gostava da atenção mesmo que não tivesse nenhum interesse. Eu só tinha olhos para Alan.
Os alunos estavam cada vez mais tensos, agora o aluno da enfermaria não era o único possuído, me partia o coração vê-los tão assustados, eu tinha que levá-los a próxima aula sempre que terminava a minha o que era muito cansativo e levava tempo, mas isso garantia que ficassem seguros então eu fazia de bom grado.
Também ajudava Linda a acompanhar os elementares de terra para as refeições, com isso decidi colaborar com as estufas, afinal, eram plantas demais para ela cuidar sozinha, nossas habilidades de terra e água se completavam, deixando os ramos mais saudáveis.
- Logo teremos sálvia suficiente para proteger todos os alunos, mas até lá - Linda me entregou um pequeno receptáculo em forma de gota com um óleo que liberava um aroma almiscarado - use a sua.
Desde então, o colar me serve como amuleto, embora eu sentisse a presença maligna em cada canto da Academia.
Meus encontros com Alan foram sendo deixados de lado, assim como eu, ele andava ocupado demais, com aulas extra para os alunos mais velhos, o propósito disso era termos auxílio deles caso as coisas piorassem.
Eu nunca me dei bem com a solidão, precisava de companhia, de carinho.
Fui ver Wright na sala dele após o toque de recolher, ele estava em pé mas um pouco curvado com os olhos atentos a um caldeirão em sua mesa e pareceu um pouco surpreso com minha presença.
- Acha seguro andar por aí a essa hora?
- Eu tenho proteção - tirei o colar de dentro da roupa e ele se aproximou devagar.
Alan pegou o pingente e o levantou.
- Sálvia. Está longe de ser proteção suficiente.
- Tem funcionado.
- Por enquanto.
Sem dizer mais nada ele chegou ainda mais perto e segurou o receptáculo com as duas mãos em concha e o aproximou da boca sussurrando palavras de uma língua morta. Só de ouvir sua voz meu corpo estremeceu, em alerta.
Quando soltou meu colar notei o óleo antes amendoado, agora estava vermelho sangue. Na sua mesa uma pequena abelha dava seus últimos espaços.
- Esse é o preço da minha proteção? - ele não respondeu.
Alan sentou-se em sua cadeira parecendo um tanto aborrecido, me coloquei atrás dele com as mãos em seus ombros e comecei a massageá-los, ele permitiu.
- Porque se decidiu pelo caminho da magia obscura se tem um poder elementar?
- Porque acha que sou elementar.
- Bem, um reconhece o outro - movi as mãos sobre o corpo inerte da abelha, ele se desfez e um minúsculo amontoado de terra se formou, dando lugar a uma única folha de grama.
- Elementar, você não me parece - procurou a palavra por um instante - tradicional.
- E não sou - voltei a massageá-lo.
- Esse sobrenome Lacey.
- Salem.
- Americana, então.
- Só meus antepassados, eu sou francesa como você bem sabe .
- Você é boa nisso - disse Alan se referindo a massagem.
- Você está tenso, querido.
Ficamos em silêncio por um tempo, quando notei a tensão em seus ombros diminuindo o abracei deixando alguns beijos em seu pescoço.
- Como uma bruxa tão jovem e com tanto potencial se torna professora? - notei desprezo em sua voz.
Soltei Wright e fui me sentar na mesa à sua frente, tentando pensar na melhor resposta.
- Ser professora não é ruim, eu sempre fui boa com os mais novos, apesar de estudar em casa eu ajudava as crianças com a magia, mas não me formei com muitas ambições.
- Ou seja, você ainda não sabe o que quer.
- Eu não disse isso, Alan.
- Ainda assim é apenas uma menina se aventurando.
Hesitei por um momento, no fundo tinha medo que ele me visse assim, não respondi, ao invés disso eu me levantei e voltei para o meu quarto.
Me senti ainda mais solitária depois da conversa com Alan, decidi não ceder, me concentrei em minhas tarefas e evitava a todo custo ficar sozinha com ele, os alunos precisavam muito mais de mim.
Não demorou muito até que ele me procurasse, no final de semana seguinte em meu quarto, enquanto entrava no banho ouvi batidas na porta, vesti meu roupão e abri torcendo para que não fosse mais notícias ruins.
- Professor Wright? O que houve?
- Podemos conversar?
Deixei que ele entrasse, Alan olhou em volta com curiosidade. Quase tudo era preto exceto pelas inúmeras plantas.
- Combina com você.
- O que que, Alan? - me encostei no guarda roupa e cruzei os braços.
- Eu não deveria julgá-la pela pouca idade, não foi ... educado.
- Você é péssimo pedindo desculpas.
- Estou tentando ser cordial.
- Eu gosto de você, não sei porque mas eu gosto, nunca tive medo de ser sincera quanto aos meus sentimentos.
- Isso pode ser perigoso.
- Eu sei, não ache que não vivi o suficiente por ter apenas vinte e três. Mas sei que se formos discretos podemos manter o emprego.
- Não estou falando em demissão. há perigos maiores.
- O demônio? O que isso tem a ver com passarmos as noites juntos?
Ele não respondeu, ao invés disso, andou até mim e me beijou.
- Eu vou para o banho - me afastei andando até a porta do banheiro - você vem?