Introdução - Lizandra
Quando a descriminação causa a morte de seres inocentes, é necessário a intervenção da maioria, para que se instale a ordem, a decência e a segurança para todos.
A séculos atrás, quando havia reinos de raças distintas e puras, com poderes distintos e a magia flutuava no planeta, houve aqueles que não concordaram com relações inter-raciais, causando uma imensa guerra entre os sobrenaturais. Os bruxos, feiticeiros e magos, foram quase totalmente dizimados. Suas terras, casas e palácios foram destruídos e queimados.
As fadas se esconderam em suas próprias cidades em uma dimensão paralela. Os Lobisomens foram feitos de cobaias e seus antecedentes outrora pacíficos, tornaram-se bestas feras. Vampiros perderam suas emoções e terminaram seus dias apáticos e dormindo o sono da imortalidade.
Os humanos, com a passagem dos séculos, foram transformando aquelas raças, em mitos e criando histórias de terror, para assustarem as crianças, a fim de obrigá-las a obedecerem.
Seus criadores, semideuses amorosos, ficaram preocupados com a possível aniquilação de suas criaturas e escreveram um destino diferente para todos. Intervieram no futuro, permitindo o que para os de raça pura, seria inadmissível. A cria de uma mistura inusitada, contendo uma centelha divina com a magia do amor e da paixão.
Foi então dada a ordem e iniciou a contagem regressiva para a salvação dos seres sobrenaturais e sua transcendência através da união das raças.
Esse primeiro passo iniciou com a permissão de um acasalamento inusitado de uma fada, não uma qualquer, mas a rainha de todas, com o anjo guardião da Cidade dos Anjos.
Infelizmente, com os sentimentos ruins despertos dentro dos seres, tanto humanos, como sobrenaturais, quase matou o fruto desse acasalamento. A ganância e sede de poder, assim como a discriminação, fizeram aquela vida ter que fugir e se esconder, mas passado o tempo, ela trouxe o fruto de seu ventre para dar prosseguimento aos planos dos semideuses.
E foi assim, que muitos anos depois, nasceu Lizandra, nossa progenitora dos frutos da grande Ascensão dos Hibridos.
Aqui começa sua história.
Narrador
Um segredo do passado transformou uma linda bebê num pária da sociedade. A rejeição era completa e conforme foi crescendo e vendo as diferenças de sua imagem com a das outras moças, mais se escondia com medo do que podiam fazer. Nem o líder do povo a defendia, antes era o que mais a maltratava.
Imagine como a tratariam quando descobrissem o que realmente ela é.
Lizandra
Se alguém vê de fora, pensa que é uma cidadezinha de interior, tranquila e sossegada.
Eu estou olhando esta cidade do alto de um morro, não é muito alto, mas é o suficiente para ter uma queda d'água, fica bem atrás de onde estou sentada.
Daqui posso ver a cidade, assim como parte da floresta que a rodeia e sentir a queda d'água atrás de mim. O barulho é intenso e consigo sentir até os respingos de água. É meu lugar favorito pata me refrescar e espairecer, tentar ir squecer um pouco, os problemas da vida.
Você deve se perguntar, porque eu estou aqui, quando o sol ainda está bem alto? A questão é, não encontro outro lugar que possa ficar tranquila, aqui, pelo menos, não tem ninguém à minha volta para me perturbar. Até acho estranho que ninguém mais venha aqui, mas para mim, é melhor assim.
Meu nome é Lizandra, mas ninguém me chama assim. Sou uma pessoa considerada inferior no meu mundo. Alguns acham que sou insignificante, pois sou a filha da costureira. Não temos dinheiro nem situação boa. Preciso trabalhar e ajudar minha mãe nas costuras, passo o dia fazendo bainha, colocando botões, chuleando e bordando.
Teremos uma festa muito em breve e tivemos muitas encomendas. Durante as provas de roupa, sou chutada, humilhada e agredida de todas as maneiras. Às vezes não tenho tempo nem de comer e por isso, estou tão magra, abaixo do peso ideal, meu cabelo está ressecado e opaco e minhas roupas já estão bem gastas. Com a grande encomenda de roupas, minha mãe precisa comprar muitos tecidos. Isso poderia me dar o direito de fazer um vestido para mim também, porém, minha mãe não deixa.
Ela me trata mal porque diz que meu pai deixou ela por minha causa. O problema é que meu pai é moreno e eu nasci ruiva. Minha mãe é morena clara e meu pai ficou desconfiado, pois na noite em que fui gerada, meu pai se perdeu da minha mãe no meio da noite e quando eu nasci tão diferente, ele acusou ela de adultério.
Minha vida não tem sido fácil, pois como minha mãe me trata mal na frente dos outros, quem vê, também acha que pode fazer a mesma coisa e me trata mal também. O nosso líder não se incomoda, pois pensa que meu pai estava certo em desconfiar da minha mãe.
Olhando daqui de cima, a cidade é linda, calma e parece que tudo está em paz, mas lá dentro, é um tumulto e um burburinho só. Muita fofoca, muito ciúme, muita inveja e muitas moças querendo conquistar o nosso líder. Mas um relacionamento entre os membros daqui, não é fácil, pois tem que ser com a pessoa certa.
Minha cidade na verdade, é uma Alcataia e nós, somos criaturas homens/ lobos, vivemos numa sociedade escondida dos homens, mas também convivemos com eles. Eles nos visitam, quando é permitido, mas nós convivemos com eles sem eles saberem ou terem noção do que somos.
Nasci a 45 anos. Para os humanos, posso estar madura, mas nossa raça vive muito, ainda não atingi a maioridade, digamos que estou saindo da adolescência, com aproximadamente 19 anos.
Apesar de ser filha de lobos, algo aconteceu na noite que fui concebida, minha mãe não conta e desconta em mim a falta que sente do meu pai. Sim! Ele é meu pai. Fiz uma pesquisa, na biblioteca daqui, sobre árvore genealógica e descobri que na família de meu pai, havia uma ancestral com quem me pareço. Ela também foi discriminada, mas fugiu e ninguém sabe o que aconteceu com ela. É um tabu falar sobre ela.
As Alcateias se distinguem pela cor da pelagem de seus membros lupinos e aqui todos são cinzentos ou pretos, como o alfa, mas minha loba é colorida e eu, sou ruiva, olha o porque de meu desassossego, sou diferente de todos. É como se um lobo da matilha dos vermelhos, tivesse vindo aqui e jogado uma sente ruim no nosso meio. Deu pra perceber que essa semente seria eu, né?
Aos 21 anos, me transformei pela primeira vez e minha loba tem uma pelagem ruiva clara, puxando pro rosa com mechas esverdeadas. Por isso não falei pra ninguém e só me transformo quando estou sozinha. Imaginem uma loba cor de rosa noeio dos conzentos.
Meus cabelos também são ruivos quase rosados, por isso eu os corto curtos e estou sempre com a cabeça coberta por tiras de pano que sobram das costuras de minha mãe, que costuro formando uma faixa larga, envolvendo toda a cabeça, assim ninguém vê meus cabelos diferentes. É uma forma de me proteger de mais agressões.
De uns tempos pra cá, minha loba anda inquieta e pedindo para eu deixar o cabelo crescer, afinal, faz parte do pelo dela, né?. Assim, estou deixando que cresçam.
Também tenho uns calombos estranhos nas costas, parece extensão das escápulas, bem perto da coluna vertebral. Não sei o que é, mas uso blusas grandes pra disfarçar. Eles são bem aparentes sobre as costas de minha loba, já tentei ver pelo reflexo na água do lago, mas não consegui.
Minha loba, Rose, disse que vou saber na próxima lua azul. Falta somente uma semana. Espero que não fique pior do que está, pois assim já me chamam de aleijao e esquisita, não suportarei se ficar pior.
O nome Lizandra, foi meu pai que escolheu antes de meu nascimento. Seria uma homenagem a mãe dele, mas quando ele me viu, ficou com tanta raiva, que foi embora na mesma hora e minha mãe ficou tão arrasada que nem pensou em trocar o nome. Acho meu nome lindo, mas ninguém me chama por ele, acho que nem sabem. Pra todos, meu nome é coisa, coisinha, esquisita…
Por rstas coisas é que acabo me isolando neste lugar, aqui ninguém atrapalha meus pensamentos e so hos, afinal, sonhar não tem custo e nem faz mal a ninguém. Sonho que um dia vou encontrar meu companheiro, que será um lobo bom e que me amará como sou e nunca mais deixará ninguem me fazer mal. Mas são só sonhos, o que virá, só a Lua sabe.