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Aquele Beijo

Embora o Nanzin tenha sumido, tenho recebido de duas a três entregas por dia, açaí, bolo no pote, trufa... Essa pessoa realmente acredita que irá me conquistar, mas a cada entrega me pego soltando um sorriso bobo, o que tem me deixado bem incomodada.

— Caraca, Lud. A Lurdinha arrasa nesse bolo de pote, tu tem que provar. — Jéssica diz enquanto prova o bolo de chocolate.

— Não aguento mais ver bolo no pote, amiga. Deus é mais!

— Ué, pra que tu tá comprando então? Tá maluca?

— Não sou eu não, doida. — Reviro os olhos. — Isso é coisa do Nanzin.

— Eu te disse que ele é problema e ao invés de tu se afastar, tá se envolvendo? — Ela diz e solta o bolo em cima da mesa

— Aquele beijo, Jéssica. Aquele único beijo foi o suficiente pra ele ficar nessa aí, e ainda invadiu a minha casa semana passada.

— Fosse tu parava logo, Lud. É sério.

— Jéssica, me conta o que aconteceu com a sua amiga. Eu mandei ele ir embora, tu disse que ele não tem fiel nenhuma e ele fica me mandando um monte de comida pra mim, porque disse que vai me conquistar.

— É complicado, loira.

— Eu tô ligada que é complicado, olha como tu fica quando fala disso. Dá logo o papo, Jéssica

— Essa parada tem que morrer aqui, hein. — Ela diz e eu assinto. — A Leninha era a fiel dele, do nada ele surtou com ela e mandou ela embora. Depois ela apareceu sangrando porque tentou abortar o filho dele e morreu. — Ela diz com os olhos marejados, e eu a abraço.

— Que filho da puta! A mulher grávida dele e ele faz isso? Que merda.

— A Leninha era uma mina maneira e do nada aconteceu tudo.

— Eu sinto muito, Jéssica. Mas e aí? Ficou por isso mesmo?

— Claro que ficou, ele é o chefe, Lud. Quem vai contra ele? O Boneco, meu ex, até tentou tirar satisfação com ele, os dois discutiram e do nada ele sumiu. Por isso te disse, sai dessa antes mesmo de entrar.

— Obrigada por avisar. Já te dei o papo, quero ninguém não. Ainda mais um cara desses que faz a mulher abortar o próprio filho.

— Pior que ele dava maior moral pra ela, loira. Ninguém entendeu nada.

— Ludmila!

— Aí. Mais uma entrega. — Reviro os olhos e ela gargalha.

— Tomara que seja algo salgado desta vez. Pelo amor de Deus!

Depois que a Jéssica saiu da minha casa, outro rapaz me entregou uma porção de salgadinhos, então antes do almoço decidi tomar um banho e ir atrás do Nanzin para pedir para ele me deixar em paz.

Porém, antes que a minha mão alcançasse a chave na porta, começou uma intensa troca de tiros e, embora isso seja normal aqui, sempre imagino como foi no dia em que o meu pai foi baleado.

Gritos, xingamentos e mais tiros, e eu pego o celular na tentativa de saber se está tudo bem com ele, eu não aguentaria perder outra pessoa que está se tornando tão especial para mim.

— Oi, desculpa ligar assim, mas queria saber se está tudo bem.

— Oi, Liv. Estou bem, acabei de sair da academia e estou indo para casa. O que houve?

— Fico aliviada em saber. Tá o maior tiroteio aqui, fiquei com medo de você estar por aqui.

— Graças a Deus, não. — Ele ri — Desde o tapa na cara não sou alocado para ir aí, e até acho bom, não quero arriscar tomar outro.

— Desculpa novamente por aquilo. Você consegue me deixar com vergonha disso.

— Não fiquei, foi apenas para descontrair. Quais os seus planos para hoje?

— Tomar um banho, fazer um brigadeiro e assistir a uma série nova. Nada muito diferente do normal

— Que tal outra saída entre amigos, somente eu e a Lívia dessa vez? Acredito que a Ludmila precisa de uma folga novamente.

— Não sei se é uma boa ideia, melhor a minha Netflix mesmo.

— Por favor, Lívia. — Ele faz charme e eu gargalho. — Sério, é sábado, eu estou entendiado, os meus amigos estão namorando e você precisa se divertir.

— Tá bom, me convenceu. Acho que a Ludmila precisa de mais uma folga, realmente. Às 19h em frente ao meu antigo apartamento.

— Combinado.

Encaro o celular por alguns segundos. Que merda eu tô fazendo da minha vida? Mas eu realmente preciso de um descanso disso tudo, afinal, na próxima semana eu começo a pegar um pouco mais pesado e terei que me concentrar pra não ser descoberta.

No final da tarde arrumo a minha bolsa e combino de me arrumar na casa da Débora, afinal, quem vai sair com o Ulisses será a Lívia, e não a Ludmila.

Porém, os meus planos foram interrompidos assim que saio no portão e encontro o Nanzin na boca da esquina. Sinto o meu corpo reagir, porém, diferente das outras vezes, não é por medo.

— Vai dar um rolé, loirinha?

— Vou encontrar umas amigas, distrair um pouco a cabeça. Obrigada pelos doces, salgados e todo o resto. Engordei uns cinco quilos essa semana.

— E nem parece porque continua gostosa como sempre. — Ele diz percorrendo os olhos em mim, e sinto o meu rosto esquentar.

— Valeu, agora eu preciso ir.

— Agora que ia te pedir um copo de água? Bora lá, tu vai perder só cinco minutos comigo

— Vai me atrasar, Nanzin.

— Caralho, vai me negar um copo de água?

Suspiro insatisfeita, mas decidi voltar para casa e dar a água pra ele. Assim que abro o portão e entro, ele me acompanha e se senta no meu sofá.

— Caxanga top, loirinha.

— Valeu, tenho bom gosto. — Digo assim que entrego o copo de água pra ele.

— Ialá! Deve ser por isso que não quer me dar moral então.

— Sai daí, Nanzin. Tu é gato, mas te disse, sou problema.

Nanzin termina de beber a água e se levanta, mas ao invés dele ir em direção a saída, ele me abraça. O cheiro dele me embriaga completamente, e após um longo suspiro, passo os braços ao redor do pescoço dele, retribuindo o abraço.

— Queria só uma noite contigo, isso só pode ser tesão.

— Tu é muito louco. — Sorrio e o encaro. — Mas gosto disso.

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