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Amo Um Problema

Passaram se dias desde aquele beijo, e volta e meia me peguei relembrando, então falei com as meninas que iria para São Paulo e decidi passar alguns dias sendo a Lívia, na casa da Tainá. Conversamos animadamente durante todo o dia, e combinamos de sair para um pub à noite para curtir a noite como antes.

Termino o meu banho e sorrio enquanto escolho uma das minhas roupas que deixei na casa dela, enfim a normalidade das minhas roupas. Aproveito o tempo frio e optei por uma calça jeans escura, uma bota cano curto, uma t-shirt branca e uma jaqueta de couro.

— Prazer em vê-la novamente, Lívia Viana. — Débora brinca assim que saio do quarto.

— Pois é, Debi. Senti falta da Lívia e seu "urban style". Ainda sabe andar sem saltos altos, Lud?

— Vocês gostam de me encher o saco, hein. Mas confesso que senti falta dessa normalidade. Vamos? Ah! Convidei um amigo para se juntar a nós três.

— Contanto que não seja nenhum traficante. - Débora diz eu a encaro séria, enquanto as duas gargalharam da minha cara.

Pedimos um táxi e em poucos minutos chegamos no pub onde sempre íamos, quando eu era somente a Lívia. Peço um Cosmopolitan para começar a noite, e no início da madrugada o Ulisses se junta a nós três. Passei boa parte da noite conversando com o Ulisses, e percebi que ele é um cara bem legal e extrovertido.

— O seu pai estava muito errado. — Ele diz rindo e me deixa confusa.

— Não entendi. Sobre o quê?

— As suas aulas de teatro foram muito proveitosas. Você não se parece em nada com a louca que me acertou um tapa na cara.

— Como que é?! — Debora exclama, surpresa. — Liv batendo em alguém?

— Ela não te contou?

— Não, Ulisses! Pode contar isso pra gente agora mesmo! — Thainá diz empolgada enquanto apoia os cotovelos na mesa.

— Vocês duas são muito fofoqueiras!

— A amiga de vocês me deu um tapa no meio da cara, porque achou que eu fosse estragar o disfarce dela no meio do baile. Tomei um tapa a toa, porque nunca colocaria a vida dela em risco. — Ele sorri e faz carinho na minha mão, enquanto eu sorrio envergonhada. — Fiquei dias com o rosto doendo e as minhas bolas ainda foram ameaçadas.

— Essa minha amiga está levando esse personagem bem a sério.

— Só fiquei com medo e agi sem pensar, mas já me desculpei contigo, Ulisses.

— Quem te viu, quem te vê. — Thai diz enquanto levanta o seu whisky. — Um brinde a Ludmila, responsável por agitar a vida pacata da Lívia.

— A minha vida não era pacata, mas vamos brindar a isso!

Levantamos as nossas bebidas e brindamos. Conversamos o restante da noite e no final da madrugada decidimos ir embora. A noite foi muito agradável e eu aproveitei como antes, mas metade de mim sentiu falta de dançar e rebolar até o chão. Ulisses nos deixou na porta do condomínio e após breves palavras, nos despedimos e eu subi para tomar um banho e descansar.

Mesmo contra a minha vontade, após uma semana voltei a vida da Ludmila, mas preferi voltar a noite para não ter que encarar ninguém com o rosto inchado de mais uma despedida da minha antiga vida.

— Fala, gata! Tava sumida.

— Fala aí, Gere. Tava em São Paulo, voltei agora. Tô morta, preciso descansar. Fica na paz aí.

— Já é. Bom te ver de volta. O chefe vai ficar feliz em saber.

Ele diz enquanto eu viro as costas e reviro os olhos por lembrar, mais uma vez, daquele bendito beijo que já havia entrado no esquecimento. Tomo um banho e me jogo na cama, chorando de saudade dos meus pais. Os meus soluços incessantes são interrompidos por batidas na janela do meu quarto.

Jogo uma água no rosto e abro a porta, acreditando ser a Jéssica, mas encontro o Nanzin parado em pé na minha porta, enquanto o TH nos encara do portão.

— Que susto, Nanzin. Como você entrou aqui? — Digo enquanto encaro o muro de quase três metros que separa a minha casa da rua.

— Tu acha que isso me impede de algo? Isso é mole. Tava chorando?

— Não, é só a alergia. — Disfarço.

— Tá precisando de remédio? — Eu nego e ele estala a língua. — Tu sumiu, loirinha. Pensei que tivesse abandonado a comunidade.

— Eu fui visitar os meus pais, e depois fui ver se já é seguro voltar pra São Paulo, mas o meu ex me perturbou assim que me viu.

— Comédia mesmo. Se pudesse, ia lá resolver pra tu, Lud.

— Tranquilo, daqui a pouco ele desiste. Tá, e aí? Pra que tu invadiu a minha casa?

— Tava com saudade disso aqui.

Ele diz e me puxa para um beijo, dessa vez retribuo com mais naturalidade que na primeira vez e em poucos minutos estamos dentro do meu quarto, enquanto ele intensifica cada vez mais os beijos. Por alguns minutos retribuo e curto o momento, mas logo a Lívia me faz ter um fio de lucidez e eu interrompo a safada da Ludmila.

— Calma! — Digo assim que me solto, tentando retomar o ar e visto a minha blusa de novo. — Você é doido? Não estamos no baile.

— Eu me perguntei a mesma coisa quando parei em frente ao seu portão. Que caralho de beijo é esse que tu tem? Porra, ficou na minha mente esses dias todinhos, loirinha.

— Eu também curti muito o nosso beijo, mas não dá, Nanzin. Já tive problema demais com homens e tô fora de mais um.

— Lud, nem eu tô me entendendo. Já peguei várias, geralmente é só uns beijos, uma aliviada e no outro dia nem me lembro delas.

— Foi mal aí, mas eu terei que entrar para a sua lista de esquecimento. Não sou mulher para você e nem você é homem para mim.

— Tu tá ligada que eu sou o dono dessa porra toda, não sabe? — Ele me encara e eu sinto o medo percorrer pelo meu corpo, mas meneio a cabeça positivamente. — Caralho, eu sou capaz de comandar uma favela inteira, mas não consigo ter a mulher que eu quero.

— Eu sou problema, Nanzin. Melhor assim.

— Eu amo um problema, loirinha. Tu não vai se livrar de mim não.

Ele diz e me dá outro beijo, me solta e vai embora. Tranco a porta e me encosto nela, respirando mil vezes para acalmar a tensão no meu corpo. Você é a Ludmila, mas em primeiro lugar é a Lívia, não se esqueça dos motivos que te trouxe aqui.

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