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Capítulo 7

Eu não sabia se ele estava se referindo à aparência da minha boca ou como ela se movia.

— Ela é... — Olhei para os lábios dela e esqueci o que estava pensando em dizer.

Apenas alguns centímetros...

—Tequila! - alguém gritou.

Josh e eu pulamos de medo e imediatamente nos afastamos um do outro. Olhei para Sina que começou a colocar os copos de tequila na mesa. Ela estava tão exultante que talvez nem tivesse visto o que estava acontecendo alguns segundos atrás.

Peguei um dos copos e bebi de uma só vez.

— Calma, Any. —Sina riu. —A noite mal começou.

E eu já estava mais do que tenso.

Suspirei profundamente e guardei o caderno. Já era demais para mim ter que lidar com minha mãe incomodando Noah e agora Nadine decidiu fazer isso também? Tenho que me lembrar de pedir desculpas a ele no próximo e-mail que ia mandar para ele, o que não seria o certo naquele momento, já que aquela informação era demais para um dia.

Ele poderia estar preocupado com isso, mas agora a única coisa em que conseguia pensar era em Any. Já era segunda-feira e ele não falou comigo o dia todo de domingo. Também não ousei procurá-la porque não tinha certeza se ela se lembrava de tudo o que aconteceu no sábado e o que estava pensando a respeito. Talvez tenha sido um erro dela, então ela decidiu começar a me ignorar.

Já era a quarta dose de Snake Eyes que Any havia tomado e eu previ que isso não iria acabar bem. Não me atrevi a tomar mais de um gole e duvido que queira beber de novo. Ela, por outro lado, declarou que era a melhor bebida da casa, mas sua voz já estava embargada ao dizer isso.

—Você não acha que está bom para hoje? — Perguntei a ele quando ele começou a fazer planos para o Ano Novo.

—Estou bem, José. —Ele beliscou meu nariz. —Só um pouco tonto. - O Rio. —Ei, como é quando você fica bêbado? Como é ficar tonto quando você está cego?

—Ei, feche os olhos. — respondi com um encolher de ombros.

- DE ACORDO. —Ele estava fazendo isso? — Parece bom... — E então só pude ouvi-lo cair no chão junto com o banco. Sim, ela fez isso.

Eu imediatamente me abaixei e agarrei seus braços, ajudando-a a se levantar. Apesar da queda, ela riu como se tivesse sido muito engraçado.

— Você poderia ter se machucado. - eu a repreendi. —Onde está Sina?

—Ele está enfiando a língua na garganta de um garoto a poucos metros de nós. —Ele ri novamente.

—Você ri muito quando bebe, né?

— Não seja chato. Vou pedir um Snake Eyes para você. Ei, meu amor...

-Qualquer! — levantei a voz. —Vamos para casa, por favor.

— Ai meu Deus, me desculpe! —Ele disse com uma voz chorosa. — Não quero te deixar com raiva, por favor não grite comigo.

Mesmo em seu estado não natural conseguiu me fazer sentir suave, como isso foi possível?

— Ok, me dê sua mão.

Ela fez o que eu disse e colocou o braço em volta dos meus ombros. Se ela não conseguia se equilibrar sentada, muito menos em pé e andando no meio de uma sala de concertos lotada. Com as mãos segurei sua cintura perto de mim e tentei me concentrar para não me distrair. Eu era um cego tentando tirar um bêbado de uma festa, a ideia não me pareceu boa.

—Qualquer um, agora vou precisar que você me guie até a saída. E se houver alguém na nossa frente, peça permissão. — Falei bem perto do ouvido dele.

— Ugh, temos que ir para a esquerda.

Comecei a andar enquanto a segurava.

—Agora siga em frente. Para. Permissão? Queremos passar. — Um pouco grosso, mas funciona. Pode continuar. Para.

— Com licença, querido... Alô? Eu pedi permissão! Merda... Além de ser puta, você é surda? Saia da frente, seu bastardo!

-Qualquer! —Eu estava em alerta.

- Como é que isso acontece? —Uma garota perguntou com uma voz irritada. - Repita!

—Repetir o quê? A puta, a surda ou o bastardo? Porque vocês são os três.

— Me desculpe, ela está bêbada e estou tentando tirá-la daqui. —Expliquei a ele imediatamente.

— Se você me der um beijo eu deixo você passar. —E de repente a garota achou que seria uma boa ideia flertar comigo.

- Como é? — Any tentou se libertar dos meus braços, mas eu a segurei com mais força contra mim. —Solte-me ou atiro nele com minhas próprias mãos!

—Calma Anya! — Respirei fundo e decidi fazer o que sabia que sempre me garantiria certos privilégios com as pessoas. — Menina, sou cega e essa tarefa é difícil. Você pode me deixar entrar?

— Ah... eu... eu-me desculpe.

Pelo menos a pena que ele sentia por mim às vezes servia a um propósito.

- Obrigado amor. — Qualquer um disse ironicamente. — Você pode seguir em frente, Josh.

Conseguimos sair do local sem que nenhum de nós ameaçasse bater em mais ninguém. Encomendei um Uber e quando chegamos ao nosso prédio tive que me comprometer com a tarefa de subir as escadas sem nos matar. Felizmente, eu já tinha uma ideia da altura de cada degrau, do número de degraus e da direção das escadas em cada andar. Claro que se eu estivesse com a bengala teria sido mais rápido, mas consegui chegar ao chão dele.

Any passou os braços em volta do meu pescoço e apoiou a testa no meu ombro, começando a se inclinar para frente e para trás. Foi difícil tentar encontrar as chaves na bolsa enquanto eu a abraçava, mas finalmente as encontrei.

Entreguei o chaveiro para ela, ela pegou e após selecionar uma das chaves e abrir a porta, levei-a para dentro e pedi que me guiasse até o quarto dela, pois eu só conhecia a sala e a cozinha do apartamento dela. Mais uma vez ele ficou em silêncio e depois pediu desculpas porque em vez de falar apontou o dedo, esquecendo novamente que eu era cego.

Passei meus braços em volta de suas pernas e a levantei no meu colo.

—Então você é forte, hein. - Ele disse em tom de flerte. - Isso é novo.

-Qualquer. Onde. Ele é. O seu. Sala? — fiz a pergunta lentamente.

Com a ajuda não tão eficaz de Any, consegui tropeçar em um único móvel antes de encontrar a direção do cômodo. Deitei-a na cama e quando tentei me afastar, ela agarrou minha jaqueta, me fazendo cair na cama e subiu em cima de mim.

Ok Josh, ela está bêbada, acalme-se..

Falei com meu subconsciente.

— Você me fez uma pergunta que eu não respondi. —Ele começou a falar em voz baixa.

Pude sentir que estávamos muito próximos, pois seu hálito quente de vodca era mais forte, além da sensação de ter seu hálito tocando meu rosto, algo que me deixou nervosa.

- Que pergunta? —Minha voz involuntariamente também ficou mais baixa.

—Ele me perguntou como era minha boca.

Engoli em seco e permaneci em silêncio.

—Em que sentido você quer saber? - Ele continuou. —A aparência dos meus lábios ou o seu sabor?

Ele estava dando em cima de mim ou era realmente uma dúvida genuína? Já fazia muito tempo que uma mulher não tentava flertar comigo, então não conseguia lembrar como identificar isso na voz dela.

— Eu queria... eu queria... — Nada me ocorreu.

— Você queria me beijar? -Foi direto.

- Eu não disse isso.

—Mas ele pensou. —Ele soltou uma risada divertida.

De repente, ela levantou uma das pernas, esfregando-a na minha barriga.

—— Qualquer um, você está bêbado. — lembrei ela assim como eu e meu amiguinho de calça que resolvemos acordar.

– Sinto muito, Josh. Você ficou animado?

—Qualquer um, por favor...

Minha frase foi interrompida por seus lábios. Sim, ela realmente me beijou e eu não consegui me mover daquele momento em diante. Não é que eu não pudesse ou não quisesse. Uma parte da minha consciência me disse para parar imediatamente com isso e sair dali, já que ela não tinha faculdades mentais perfeitas. Porém, a outra parte, que talvez tenha agido por instinto, gritou ainda mais alto, fazendo com que eu ficasse por cima enquanto nossas bocas se fundiam.

Não vi outro jeito senão me entregar ao momento e me deixar levar pelos lábios maravilhosos de Any. Coitado que morreria sem ter oportunidade de mostrar do que aquela boca era capaz. Ela parecia muito experiente e com um desejo que ficava explícito cada vez que sua língua deslizava contra a minha e suas mãos safadas me puxavam para ficar ainda mais em cima dela.

Explorei as curvas de seu corpo com minhas mãos enquanto explorava sua boca com meus lábios. Foi a primeira vez que tive contato tão intenso com alguém desde o acidente. Fui descobrindo suas formas, imaginando cada parte dele, registrando em minha mente as singularidades daquele corpo que parecia ter sido feito para que minhas mãos estivessem nele. Ele a amava... Nossa, como ele a amava!

Desde o momento em que Any bateu na minha porta pela primeira vez, eu sabia que algo me levaria até ela. A princípio, presumi que isso fosse apenas o prenúncio de uma nova amizade que poderia começar a considerar forte e duradoura. Mas agora que sei qual é o gosto, percebo que deduzi coisas erradas. Havia mais em nossa conexão do que pensávamos. Ou talvez eu só estivesse pensando nisso porque também não estava tão livre de álcool.

Precisando recuperar o fôlego, paramos o beijo. Estávamos ofegantes e me senti frustrada por não poder ver sua expressão. A pior parte de ser cego é não saber exatamente o que você está fazendo com as pessoas. Eu só sabia o que me contavam e tinha que me contentar com palavras mais fáceis de manipular do que as humanas.

— Qualquer um, isso foi... Droga, você está bêbado! — Lembrei-me de sentir todo o peso dele em meu corpo. -Qualquer? — chamei ela balançando um pouco o ombro. — Você desmaiou, não foi? - Suspirei. — Ok, vou tentar deixar um copo de água em algum lugar desta sala. E não sei onde você guarda os cubos, então não poderei trazer um aqui. Sinto muito pelo seu piso ou carpete. — Empurrei-a gentilmente para o outro lado da cama, conseguindo sair e cobri-la.

Saí do quarto e fui para a cozinha. Tirei uma jarra da geladeira e encontrei a parte do armário onde estavam os copos. Demorou mais para fazer coisas simples quando você não conhecia muito bem o meio ambiente. Embora eu já tivesse estado lá muitas vezes, não era minha casa, então minha familiaridade com o apartamento de Any era limitada.

Depois de deixar a água na mesa de cabeceira do quarto, preparei-me para sair do apartamento. Ouvi Kitty miar antes de chegar à porta.

—Ei, Gatinha, não deixe sua mãe vomitar em você. Que tal dormir no sofá hoje?

Saí de lá, fechei a porta e joguei a chave embaixo da madeira.

Quando acordei mais tarde naquele domingo, a ideia de que minha ligação com Any era maior se dissolveu completamente e fiquei com a sensação de que ela era apenas minha amiga e que poderíamos ter estragado isso nos deixando levar pela bebida e pelo calor do o sol. o momento.

FLASHBACK DESLIGADO.

Já era segunda-feira e eu ainda não sabia o quanto tínhamos estragado as coisas. Talvez muito?

Meu telefone sinalizou a chegada de uma mensagem de voz de Any e eu agarrei o aparelho tão rapidamente que quase escorregou das minhas mãos.

- Olá vizinho! Desculpe por sumir, tive uma ressaca terrível pela manhã e à tarde tive que viajar para minha cidade natal. Acabei esquecendo o dia da visita à prisão e não podia faltar ou meu pai dizia que evitei, pois seria o terceiro bolo em um mês. Cheguei à noite e estava com muito sono e tinha esquecido de carregar o celular. Eu me pergunto por que não recebi nenhuma mensagem sua pelo menos querendo saber se estou vivo. Eu fiz algo que você não gostou? Por favor digame. Geralmente tenho apagões de memória quando bebo.

Isso esclareceu tudo. Exalei como se só agora pudesse respirar direito. Essa mensagem provou que estava tudo bem e que provavelmente ele nem se lembrava do beijo. Bem, é melhor deixar as coisas como estão e não estragar nada.

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