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Capítulo 6

—Eles são vermelhos, certo? Esqueci de especificar a cor na floricultura. —Ele coçou a nuca sem jeito.

— Vermelhos como sangue, como deveriam ser. Só vou colocá-los em um vaso com água e vamos embora.

Depois de fazer isso, fechei a porta da frente, peguei a mão de Josh e começamos a descer as escadas. Percebi que ele começou a respirar profundamente ao meu lado, quase como se estivesse soluçando.

- Nariz entupido? —perguntei estranhamente.

- Não e você. - Ele respirou fundo. - Teu cheiro.

Eu sutilmente levantei meu braço e cheirei minha axila. Não fedia.

— Juro que tomei banho. - Garantido.

—Eu quis dizer que você cheira bem. —Ele riu, me fazendo rir.

Chegamos ao térreo e paramos de nos olhar.

- Obrigado. — Me aproximei dele, coloquei as mãos em seus ombros e fiquei na ponta dos pés, aproximando meu rosto de seu pescoço.

— O que você é... — A pergunta desapareceu de seus lábios quando sentiu meu nariz tocar sua pele.

Fechei os olhos e respirei fundo, soltando o ar pela boca em um suspiro. Tinha um cheiro maravilhoso, aquele perfume certamente era muito caro.

—Você cheira bem também. — falei sem me afastar.

Abri os olhos e percebi que ele estava arrepiado e agora nem se movia, mantendo os lábios tensos e as sobrancelhas levantadas. Sua reação me fez sentir um calor estranho no peito. Ficamos assim, próximos e silenciosos, ambos estáticos.

- Obrigado. — Dei um passo para trás. —Você não pode se atrasar. —Ele me ofereceu a mão.

Entrelacei meus dedos nos dele e saímos do prédio. Pegamos um Uber até o local e Josh insistiu em pagar a passagem. Eu estava me acostumando com o jeito que ele me mimava. Se ele me convidasse para uma bebida, eu o pediria em casamento.

O barulho era alto, tanto pela música quanto pelas pessoas conversando. Josh apertou minha mão e pude vê-lo começando a ficar tenso. Deve ser terrível estar em um lugar cheio de gente sem poder ver para onde está indo. Para tranquilizá-lo, levantei sua mão e pressionei meus lábios contra sua pele, deixando uma marca rosa de brilho labial. Aparentemente isso o fez relaxar. Pelo menos agora ele estava sorrindo e sua postura estava mais leve.

Levei-o para perto do bar e o cumprimentei com alegria quando vi Sina. Ela acenou de volta com um largo sorriso e rapidamente veio até mim.

—Meu cantor favorito chegou! -Ele me deu um grande abraço. —Você está sexy! —Ele se afastou e me deu uma boa olhada, depois voltou sua atenção para Josh. E um gato a acompanha, ela parou na frente dele. —Eu sou Sina.

—Eu sou Josh. — ele sorriu suavemente.

— Ah, o vizinho que paga a comida da Any? Deve ser um alívio saber que ele não vai mais te chantagear. —Ele brincou.

—Quem disse que não vou? - Eu respondi.

— Provavelmente eu acabaria inventando alguma desculpa para ela continuar me fazendo companhia. - Ele diz.

—Ah, você é um amor. — Sina fez a mesma cara que faz quando vê um cachorrinho fofo.

- Ele é! — Falei com orgulho como se fosse meu mérito ter um amigo tão grande.

Nós três começamos a beber cerveja e meu amigo começou a fazer um teste sobre a vida de Josh. Ele, com muita paciência, respondeu cada uma das dúvidas que ela tinha, sempre com um sorriso no rosto. Foi ótimo vê-lo se dar bem com outra pessoa além de mim. Às vezes tenho a sensação de que Josh está muito sozinho.

—Então você viajava frequentemente como hobby? —Sina ergueu as sobrancelhas. — Deve ser ótimo ser rico.

- Eu não sou rico. —Ele esclareceu. —Minha família tem dinheiro, mas eu não diria que somos ricos.

— Sim, ele mora no meu prédio. - Eu disse o óbvio. Se eu tivesse mais cinco mil dólares na minha conta, nunca moraria naquele lugar.

—O lugar não é ruim, os vizinhos são malucos.

- Incluindo eu? - Eu perguntei.

— Principalmente você, Any faz A.

Eu ri e enlacei meu braço com o dele, apoiando minha cabeça em seu ombro. Quando olhei para Sina, pude ver que ela tinha uma pitada de curiosidade em seus olhos que ia muito além de querer saber sobre as viagens de Josh a Paris e Veneza. Afastei-me dele e peguei minha cerveja, tomando um grande gole enquanto fingia não estar incomodado com o jeito que Sina estava olhando para mim.

-Qualquer! —Kriystian gritou comigo enquanto vinha em minha direção. - Você é o próximo. — Ele falou apenas antes de virar as costas para ela e ir embora apressado.

— Ok, é melhor eu me preparar. —Contei aos meus dois amigos. — Volto em trinta minutos, Josh. Sina estará aqui o tempo todo, certo?

- Boa sorte, qualquer um. —Ele me deu aquele sorriso perfeito.

- Obrigado! — Antes de sair dei um beijo na bochecha dele.

Optei por cantar músicas mais suaves na minha primeira noite. Algo com uma mistura de Jazz e R&B. Eu estava nervoso, mas confiante. Os ensaios me deixaram totalmente preparado, permitindo que eu e a banda conhecessemos o ritmo um do outro.

Quando entrei no palco e os holofotes pairaram sobre mim, respirei fundo e segurei o microfone com uma das mãos. A melodia começou e com os olhos fechados comecei a cantar. Assim que ganhei confiança, abri os olhos e sorri cantando a primeira música. As pessoas estavam gostando muito, até pararam as conversas paralelas para olhar para mim. Devo ressaltar que foi uma sensação única.

Olhei para o bar onde Sina e Josh estavam. Ela sorriu para mim como uma mãe orgulhosa assistindo a uma peça na escola do filho, os olhos brilhando com traços de lágrimas e o sorriso era insignificante. Josh, por sua vez, tinha a mesma expressão encantada de quando me ouviu cantar no dia da audição. Ele estava absurdamente calmo e fazia parecer que estava totalmente focado em mim e na minha voz.

Nas músicas seguintes o clima ficou mais leve, até arrisquei dançar um pouco, mas sem me levantar da cadeira. Assim que meu show terminou, as pessoas aplaudiram e eu agradeci com mais sinceridade do que nunca. Não foi um “obrigado” automático; Na verdade, fiquei grato.

Saí do palco e fui para o bar. A primeira a me abraçar foi Sina, que me abraçou enquanto ria de alegria.

— Eu disse que você era o melhor, certo? —Ele me deu tapinhas nas costas algumas vezes. —Nunca mais duvide de mim, senhorita!

— Pode deixar, mãe. -Risada.

Fui até Josh e fiquei na frente dele.

- O que você acha?

— Não falei isso na sua prova porque você estava muito animado, mas posso dizer agora. Você tem uma das vozes mais incríveis que já ouvi na minha vida, digo isso com toda sinceridade. Você deve investir em si mesmo.

- Na música? — fiz uma careta e ri. — Não tenho toda essa capacidade.

—Não foi isso que ouvi. Qualquer pessoa, se você quiser prosseguir, tenho certeza que funcionará se as portas certas se abrirem para você. — Dava para perceber que ele estava falando sério e não estava apenas tentando ser amigável.

— Bem, quem sabe? - Dei de ombros. —Acho que essa é a única coisa que sei fazer bem, então talvez algo me ocorra.

- Você deve. —Ele falou com convicção.

— Obrigado por estar aqui, Josh. - Peguei suas mãos. - É muito importante para mim.

Ficamos parados e por um segundo foi como se ele estivesse olhando para mim. Pela primeira vez seus olhos apontaram em minha direção como uma espécie de conexão inexplicável. E ter aquele olhar azul intenso em mim fez meus joelhos tremerem e tive que me concentrar para não soltar um suspiro alto e desconfortável.

— Ok, pessoal! — Sina cortou a tensão nos segurando pelos ombros. — É uma noite de coisas maravilhosas e quando acontecem coisas muito boas é preciso batizar o momento para que tudo continue assim.

-Batizar? —Josh perguntou curioso.

— Sim. Any teve um começo perfeito em seu novo emprego, eu consegui um emprego no Lorran's e você conheceu duas garotas incríveis que não vão te deixar em paz. Imortalizamos o momento com uma boa dose de Snake Eyes.

—O nome não parece certo. — Ele fez uma careta.

—Muito menos o sabor. - Meu rei. — Mas é tradição, então... — Olhei para o barman. —Querida, três doses de Snake Eyes, por favor! - Eu perguntei.

Ele trouxe a bebida vermelha e encheu as três bebidas. Antes de beber, Josh cheirou o conteúdo e franziu a testa.

— Não me lembro da última vez que bebi algo com esse cheiro. Tem certeza que não é gasolina?

—É muito pior que gasolina. — disse Sina. Vamos, todos juntos em três...

Após a contagem, nós três bebemos os líquidos em nossas bocas.

Balancei a cabeça e fechei os olhos, sentindo uma sensação de queimação na garganta. Josh também não pareceu aceitar bem a sensação e tossiu algumas vezes, além de ficar um pouco vermelho. Sina, com uma resistência que nunca entenderia, nem piscou.

— Vá sentar em uma das mesas, vou pegar umas tequilas e te seguir. —Ele disse antes de se afastar para falar com o barman.

Peguei a mão de Josh e comecei a conduzi-lo em direção a uma das mesas de canto, uma daquelas rodeadas por um sofá vermelho. Sentamos um ao lado do outro.

— Você sobreviveu ao Snake Eyes, parabéns! - Sorriso.

—Há uma grande possibilidade de que isso esteja me matando lentamente. —Ele acariciou a própria barriga. —Há quanto tempo você conhece Sina?

— Eu a conheci na minha primeira semana morando na cidade. Eu era garçonete em um barzinho e a encontrei chorando no banheiro por causa do namorado. Demorou um pouco, mas finalmente terminaram. Naquele dia eu a consolei o melhor que pude porque tive que levá-la para fora para limpar o vômito na pia, que até hoje ela nega ser dela. Mas então vi algo nela que não conseguia dizer. Ela diz que somos almas gêmeas. - Risos - Ou... talvez eu tenha ficado com a primeira pessoa que elogiou meu cabelo.

- Como ela está fisicamente?

— Se parece un poco a ti, tiene cabello rubio corto y liso, tiene ojos celestes con pestañas grandes que me dan envidia, es más alta que yo, pero no tanto y sus labios parecen moldeados por la El mejor cirujano plástico del mundo, pero são naturais. Ela é muito bonita.

- Eu posso imaginar. - Ele sorriu. - E você? Diga-me como você está.

- Ah, José...

— Por favor, você disse que faria isso.

—Ainda não sei como fazer isso.

—Você descreveu a Sina com muita facilidade e ela não é uma gata.

- Bom ponto.

- E então...? —Ele me disse para continuar falando.

— Ok... uh... Meu cabelo é castanho e cacheado.

- Deve ser legal. Posso jogar?

—No meu cabelo?

- Caso existam.

— Eu acho... Está tudo bem. —Seria estranho se alguém me perguntasse.

Josh apoiou um dos braços no encosto do banco e com a outra mão passou os dedos pelos meus cabelos. Fiquei imóvel enquanto sentia o toque que variava entre carinhoso e exploratório. Em seu rosto, ele tinha a expressão de alguém que estava contente em fazer isso.

— Agora posso visualizar. —Ele disse, mas não tirou a mão de mim. —O que mais você pode me contar sobre você?

- Meus olhos são marrons.

—Claro ou escuro? —De repente, ele começou a se aproximar.

- Meia garrafa térmica. — Minha voz era quase um sussurro e tive que começar a respirar pela boca.

Josh se aproximou ainda mais, seu braço em volta do meu corpo, sua mão agora passando pelo meu cabelo e seu hálito quente atingindo a superfície dos meus lábios.

- E sua boca? Como é ela? —Ele também começou a sussurrar e senti sua respiração difícil.

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