๑ 05 | É o Tenente? não entendi.
"Quem teme ser vencido tem a certeza da derrota"
— Autor desconhecido
๑
Nova York – quarta-feira | 2019.
O barulho insistente do despertador invade meu subconsciente com aquela musiquinha infernal. Desperto sabendo que já estava na hora de ir trabalhar.
— Não sei para que faço essa merda, tenho dinheiro e muito, na verdade. — me sento na cama, respiro fundo e decido levantar de uma vez se não vou me atrasar e meu Tenente vai ficar de piadinha durante o dia inteiro — Não quero isso nem de brincadeira.
Vou para o banho realizar minhas higienes matinais e sem demora estou pronto. Desço para a garagem e entro no meu carro que é muito caro para um agente do FBI. Um dos privilégios de ser rico. Hum! — só trabalho para não ser consumido por minha consciência negativa — Coloco uma música e sigo para a agência. Minha alegria se vai quando observo o carro do meu Tenente que também é muito caro para quem trabalha no FBI o que nos remete a questionar de onde o mesmo acumulou toda essa fortuna porque a quantidade de zeros na sua conta bancária não chega nem a preencher uma mão. — Como tenho essa informação? Hum! Digamos que andei investigando um pouco já que o mesmo é bem suspeito e nada tira da minha cabeça que ele tem um pé do lado corrupto dessa agência, se eu conseguir juntar os pontos então terei minha carta de alforria para esse emprego que não é muito o meu estilo, sou o agente mais inteligente dessa porra aqui. Estou entrando na garagem do prédio quando vejo uma vaga onde sei que meu Tenente pretende se alojar.
Só de raiva estaciono no local que ia entrar. Fico admirando gritando dentro do seu carro batendo no volante estressado. Começo a rir da cara de otário que faz e com a certeza que ele não pode me ver, meu carro é a prova de som e tem películas nos vidros, porém, tenho convicção que nesse exato momento o Tenente Omar quer me matar.
— Não sei porque, mas acredito que está me xingando, na verdade, tenho certeza. — fico ali por mais um tempo até ver seu Dodge na cor azul cintilante seguir para os fundos da garagem — Babaca.
Pego minha bolsa no banco de trás e tateio até achar meu celular, ligo para Enzo. Já se passaram 18 meses desde que sair da base de Bagram e deixei minha filha com ele.
— Bom dia, ela ainda está dormindo marido. — na semana seguinte após minha vinda para casa ele começou a me chamar assim — Mons, nossa menina anda perguntando por você diariamente e quando não nos falamos fica pior, não deixe de ligar um dia se quer, por favor. — Sinto preocupação em suas palavras.
— Desculpa, estou quase saindo desse emprego, ligarei sim, eu prometo. É que tem dias que não dá, sinto muito. Então, como você está? Precisando de alguma coisa?
— Estou bem, não se preocupe comigo. Vou desligar e limpar bem esse chão. Ela está aprontando muito, essa garota tem dias que acrescenta vários fios de cabelos brancos em mim. — Sorrindo me informa.
Falamos brevemente já que minha Luz ainda está dormindo e sigo para o elevador colado a vaga que eu roubei. É inevitável, começo a rir assim que entro no cubículo de metal e vejo meu Tenente correndo em minha direção pedindo para segurar o mesmo. O admiro sumir com as portas se fechando.
— Já que ouvirei pela vaga porque não pelo elevador também. — Coloco meus fones para ter um álibi.
As portas se abrem caminho direto para minha sala. — Isso mesmo, um agente do FBI tem uma sala só dele. — Penso que pelo simples fato de não me dar bem com trabalho em grupo e ter uns pontos com o diretor, ganhei esse quartinho se é que posso chamar de sala, já que é de 2X2 onde tem uma pequena mesa, um armário e minha cadeira.
Estou tranquilo ouvindo minha música favorita do Imagine Dragons — Believer
Chegou a melhor parte, bem no refrão. Estou imaginando uma bateria e baquetas ilusórias que estão agredindo o ar quando meu Tenente entra bufando de ódio em minha pequena sala. Percebendo que irá começar a berrar, resolvo tomar uma atitude ou estragará minha música favorita.
— Pode parar! — repreendo antes que começasse a gritar — Bom dia. — Respondo calmamente.
— Você só pode estar a fim de me foder não é mesmo agente Villin? — grita chamando a atenção de todos para si — Primeiro a vaga e depois o elevador.
— Não entendi Tenente! Do que está falando? — ainda com meus fones curto a música foda que estou escutando, vejo seus lábios se mexendo e entendo tudo que está dizendo.
Na minha humilde cara de pau retiro meus fones, pois, apitou por falta de bateria e os ponho na mesa. Abro a gaveta da mesma que por sinal é minúscula, mal cabe minhas pernas sob ela e tento colocar para carregar na caixinha.
— Você ouviu alguma coisa do que falei agente? — estressado me questiona posso jurar que quer me bater. — Responda. — Berra.
— Bom dia Tenente, não escutei, mas sei tudo que falou, já que sei fazer leitura labial e foi mais forte do que eu. A música era do Imagine Dragons. Minha banda favorita. Ah! Outra coisa, estou em uma fase bem difícil da minha vida. — volto minha atenção para ele, pois, estava tentando colocar os fones para carregar — Tive uma noite muito difícil. Pesadelos da época da Síria, estou sentindo que me encontro prestes a ter um ataque e sair atirando em todos, igual um louco.
Percebo que tenho sua total atenção, já que o mesmo está assustado olhando para mim. Pego minha pistola e repouso sobre a mesa fecho meus olhos e puxo o ar exageradamente, destravo e coloco na cabeça.
— Estou surtando Tenente. — sussurro batendo com o cano na testa — Todos que gritam comigo, quero meter uma bala no meio da cara. — Afirmo enquanto olho bem dentro de seus olhos que estão arregalados de desespero.
Assustado caminha de ré até a porta.
— Depois conversamos. — Sai fechando a mesma me deixando em um silêncio total.
— De agora em diante darei um de louco, estou pensando em tirar um tempo como fiz no ano passado. Vou surtar e fico 2 meses em casa. — ligo meu monitor e vejo um e-mail do Detetive Dias — Será que tem boas notícias?
Clico no mesmo e vejo que mandou uma mensagem em código. Aqui é tudo vigiado, então, criamos uma forma de passarmos despercebidos.
──────────────
CAIXA DE ENTRADA.
RamonDias@stat...
Anteontem para mim
De: ramondias@miamidelegacia.com
Para: Monspievillin@fbi.central.com
Data: 6 de fevereiro de 2019 21:01
?Criptografia padrão (TLS). Ver detalhes de segurança....
?
Detetive.dias: Venho através desse e-mail avisar do falecimento do meu tio, gostaria de lhe convidar para o funeral que acontecerá amanhã segunda-feira 2019/02/07. Caso não possa me ligue para conversamos, ele pediu que lhe entregasse uma carta.
──────────────
— Merda! Perdi o velório do meu tio. — grito ganhando olhares — Que inferno!
Faço um showzinho e rapidamente o respondo avisando que sinto muito por perder o velório, mas que em breve irei até ele. Volto a ficar calmo. Dou uma lida em uns relatórios quando Baby me liga. Atendo no primeiro toque.
— Mons estou com saudades. — como sempre bem dramático — Vem me ver.
— Estou trabalhando. Sinto-me em crise. — Informo.
— Tadinho. Vem que cuidarei de você Monspiezinho vem com o Baby, que vou te dar uma massagem com o diálogo. — rindo me ameaça, pois, é o único que sabe desse teatro que agora será anualmente — Venha que o psicológico Dários irá cuidar muito bem de você.
— Não sei se vou para a Suíça. — afirmo já que meus planos são outros, irei à Síria para ver minha Samir — Vou desligar estou no trabalho.
— Queria avisar que o Dante é excelente o cara consegue todas, Oliver ajudou uma mulher e se meteu em um problema e já consegui resolver, mas sabe como ele é não demora muito está novamente enfiado em alguma situação onde alguém tenta matá-lo.
— Oliver não muda né. — confirmo o óbvio visto que desde muito novo ele gosta de ajudar a todos, já o vi ficar rico e ficar pobre para ajudar a gente — Baby vou desligar.
Trocamos mais uns elogios e finalizo a ligação. Volto a trabalhar e vejo uns casos onde tinha tudo para dar certo e por ironia do destino dava errado. O problema é que eu nunca estava neles somente minha equipe, todas às vezes o Omar me colocava para fazer relatórios desnecessários como se quisesse me tirar da jogada.
— Ele sabe que sou bom em tudo que faço e tenho certeza como tem dedo dele, nessa porra. — Falo analisando três casos.
Todos eles têm ligação com um deputado famoso de Miami. Tomara que o Dias tenha boas notícias preciso colocar logo esse cara arrogante na cadeia e me ver livre disso. Meu telefone toca é o Enzo aceito a chamada de vídeo.
— Papaizinho. — Os olhos mais lindos que já vi nesse mundo ganham minha atenção.
— Oi! Minha Luz esses seus cabelos lindos estão cada dia mais rebeldes né mocinha. — sorri puxando para trás o monte de fios cacheados que logo se soltam e retornam para o alto — Linda minha princesinha.
— Estou com saudades! — fala olhando mais adiante e não demora Enzo entra na tela — A mamãe disse que meu cabelo tem vida própria é por isso que ele se manda.
Caio na gargalhada com a confissão e vejo Enzo tapar a boca para segurar o riso.
— Filha, papai está no trabalho vamos deixar ele trabalhar. Deixa-me cuidar de você. — triste me joga um beijo no ar — Tchau! Querido, antes de dormir te ligamos.
Concordo com a cabeça e finalizo a chamada. Volto a focar no trabalho antes que alguém chegue me dizendo que sairemos a campo.