Capítulo 4
Abro os olhos dolorosamente quando ouço Kyle xingar baixinho, embora em voz baixa. Ele anda pelo meu quarto, com o telefone colado ao ouvido.
-Sério, vá se foder! Não tenho mais nada a dizer para você! ele cospe.
O telefone dele voa na pilha de almofadas espalhadas pelo chão, que instalei ontem à noite para evitar que ele dormisse no chão. E também para nos salvar de ter que dividir minha cama, o que ele certamente pensou que seria o caso, se eu acreditar na careta que ele fez depois de me ver formar uma espécie de colchão aos pés da minha cama. Menos ainda era possível que ele dormisse no sofá, correndo o risco de sofrer um despertar não muito caloroso do meu pai.
- Foi Coelho? Eu perguntei, me espreguiçando, depois de encontrar seu olhar inconstante. Tudo otimo ?
- Yeah, ótimo! ele responde cinicamente, em um tom gelado.
Permaneço estoica, ainda meio adormecida, sem saber se quero discutir com ele sobre como ele fala comigo quando acordo.
"Desculpe, não é contra você..." ele finalmente murmurou.
- Não é nada, você tem todo o direito de ficar chateado...
Puxo o edredom por cima de mim, lembrando que estou de pijama, sem sutiã, o que é facilmente detectado, enquanto Kyle continua andando, passando nervosamente a mão boa pelos cabelos.
-Eu não dou a mínima que ela transe com outro cara, ele disse, parecendo estar falando mais consigo mesmo do que comigo. Eu sou louco contra isso, mas caramba, ele não! Coelho não, merda!
Ele chuta uma das almofadas, que bate primeiro na minha janela e depois no chão. Ele respira fundo e se senta abruptamente na beira da minha cama, esfregando o rosto com a mão.
-Hmm, sinto muito que ele... Bem, que ele tenha feito isso com você... Tentei confortá-lo, sem saber mais o que dizer ou fazer.
-Vou dar um soco na cara desse idiota!
Ele se levanta com um movimento repentino que me faz pular, depois vai procurar o celular entre os travesseiros.
-Leve-me de volta ao campus! Eu vou matá-lo seriamente!
-Uh... gaguejei, um pouco perdido.
Realmente, isso é demais quando você acorda.
- Leve-me de volta, porra! ele me ordena, contentando-se em levantar a voz.
Uma vontade repentina de atacar ele vem até mim, mas eu apenas levanto uma sobrancelha e o faço pensar sobre o que aconteceu.
-OK, desculpe. Você pode me levar de volta, por favor? ele tenta novamente, com muito mais calma e educação. Não posso dirigir com esse elenco de merda.
- Parabéns, há um claro progresso, carreguei-o forçando um sorriso que ele imita exageradamente. Inversão de marcha.
-Para que ?
-Porque tenho que me levantar para me trocar e estou de pijama, aponto para ele.
Sua risada ecoa no meu quarto sem que ele me obedeça.
-Querida, pijama não vai me incomodar, não se preocupe com isso.
-Vire-se eu te digo, idiota.
Ele finalmente obedeceu depois de revirar os olhos. Levanto-me e corro para pegar uma camiseta e um sutiã na cômoda, mas ele se vira para mim, sorrindo. Eu coro, colocando meu antebraço no peito, que pode ser facilmente visto apontando por baixo da minha regata.
-É o tipo de coisa que pode rapidamente me fazer esquecer meu mau humor... ele sussurra, virando-me novamente as costas.
- Pare de encarar!
"Relaxe um pouco", ele riu.
Para não causar mais esse desconforto, pego as primeiras calças que aparecem.
-Se eu não tivesse essa merda, ele levanta, levantando o gesso, ainda virou. Você já estaria gritando meu nome, de quatro na sua cama. Ou contra sua cômoda… ele pensa como se realmente achasse que esse cenário é possível. Provavelmente ambos, na verdade.
-Você sabe o que Kyle? Fui até ele furioso. Você é um idiota sem cérebro!
Seu sorriso se alarga quando seu olhar pousa em meu peito, que exponho a ele quase com orgulho.
O bastardo, ele me provocou propositalmente para me forçar a baixar a guarda e eu caí na armadilha de cabeça.
"Muito bem", engoli meu constrangimento, olhando para sua virilha. Exceto que você é duro com Kyle...
Sem a menor expressão, nem surpresa, nem constrangimento, nem nada, ele por sua vez examina o caroço formado pela calcinha antes de engolir um sorriso divertido.
-Um ponto em todos os lugares, bola no centro, decretei, orgulhoso da minha réplica.
Rolando os quadris exageradamente, saio do meu quarto sob sua risadinha amarela que me agrada.
-Foda-se garota, ouvi ela murmurar atrás da minha porta, o que só alimenta a alegria da minha vitória.
Uma vez vestida, meu coque emaranhado removido e meus dentes escovados, volto para o meu quarto, e Kyle. Ele está calmamente plantado em frente à minha janela, olhando para o nada, a mão livre enfiada no bolso amassado da calça jeans. Ele está tão absorto em seus pensamentos que nem me ouve voltar.
-Estou pronto, digo baixinho para não assustá-lo, o que faz falta.
Seu corpo se contorce junto com a mandíbula cerrada, depois relaxa quando ela me vê. Ele sorriu fracamente para mim enquanto pegava seu telefone, claramente escondendo algo de mim.
Não sei o que o assombra tanto, mas parece feroz.
"Sim, hmm, na verdade..." ele gagueja, parecendo estranhamente nervoso. Eu particularmente não quero lutar lá imediatamente. Bem, eu não estou realmente em estado de qualquer maneira, então não tenho certeza se seria de muita utilidade de qualquer maneira...
Sua voz é rouca e baixa, seu timbre incerto. Obviamente, ele não se sente confortável com a sua própria decisão pacífica. O que, segundo a sua reputação, não deveria acontecer com frequência dado o seu carácter agressivo que parece começar constantemente no quarto de volta.
- Que bom ouvir você dizer isso, me contentei em responder, sincero.
- Sim, legal, ele gagueja, engolindo um suspiro. Apresentação. Então talvez pudéssemos... não sei, comer alguma coisa? Estou morrendo de fome.
Escondendo minha surpresa, convencida de que ele acabaria se precipitando no constrangimento e fugindo, batendo a porta ou me pedindo para deixá-lo em algum lugar e nunca mais falar com ele, concordo com um aceno de cabeça e um sorriso. Que ele mal me devolve.
Não sei de onde vem seu desconforto repentino. Aquele que costuma ser tão agradável e seguro de si.
Menos de vinte minutos depois, sob suas ordens, estaciono seu carro em frente a um restaurante fast food. Fazemos um pedido e, surpreendentemente, ele se recusa a pagar minha parte.
Quem diria que Kylian Etienne era do tipo galante. Eu não, de qualquer maneira.
"Diga-me, querida", ele continua, mastigando suas batatas fritas, enquanto eu me impedi de fazer uma careta ao ouvir o apelido estúpido que ele me deu com um sorriso de covinha. Se você deixa um cara dormir no seu quarto, não tem namorado que venha fazer cena de ciúmes?
- Esclarecedor como conclusão.
Ele sorri para mim, enfiando outro punhado de batatas fritas na boca, a última acabando de esvaziar.
-Para que ? ele me pergunta.
-Porque o que ? Por que não tenho namorado?
Parecendo sério, ele balança a cabeça. Obviamente muito intrigado com este tópico.
-Digamos que no momento prefiro me dedicar aos estudos e que não tenho muito interesse em me casar com alguém. Não tenho cabeça para isso e, de qualquer forma, não há ninguém de quem eu goste.
Encolho os ombros, achando-me convincente, já que é a pura verdade, mas ele não parece concordar.
-É porque você é difícil então, ele decreta.
Eu encorajo seu desenvolvimento mordendo meu envoltório.
-Sério Camille, só no campus deve ter um exército de caras que sonhariam em te foder.
Surpreendida com sua maneira completamente natural de abordar o assunto, balanço a cabeça de maneira despreocupada.
-Você não acredita em mim ? ele ri adicionando ketchup à bandeja.
- Não faz sentido, resmunguei, por minha vez inquieto quando ele parece ter recuperado toda a sua lendária confiança. Os universitários só se sentem atraídos por garotas...
Procuro minhas palavras, para não frustrá-lo ou ofendê-lo. O tipo de garota que estou descrevendo é exatamente aquela que ele também gosta de companhia.
- Por fim, por quem é do tipo que vai em festas de estudantes e acaba lá de cueca. Você vê o que, eu murmurei, desviando o olhar.
-É preciso dizer que essas meninas são engraçadas, ele as defende, me fazendo rir.
Ele encolhe os ombros indiferentemente, como se fosse óbvio.
Claro que na faculdade é mais ou menos.
- Mas entendo o que você quer dizer - continua ele, limpando a boca no guardanapo. A questão é que, se nos sentimos atraídos por essas garotas, é apenas para conseguir uma ou duas vezes, e muito.
-E eu não? Fiquei quase indignado, mas me recuso categoricamente a cair nesse estereótipo.
Ou simplesmente ser esse tipo de garota, para falar a verdade, sem nenhum julgamento, cada um é livre para fazer o que quiser.
-Você, você é o tipo de garota com quem você quer dormir o tempo todo depois de provar, ele corta.
Incapaz de reprimir minha risada, sentindo minhas bochechas esquentarem.
-E o que exatamente faz você dizer isso?
-Você só precisa olhar para sua bunda, qualquer cara sensato se recusaria a compartilhá-la depois de experimentá-la.
-Você cuidou da minha bunda? Rosnei atrás do meu sanduíche.
-A legging do seu pijama era bastante sugestiva... ele suplica, me dando uma piscadela estúpida que me faz revirar os olhos. E então eu encontro você muito inchado para alguém que observou meu pau.
-O que ? Quase engasguei, ao mesmo tempo envergonhado e rindo. Eu absolutamente não verifiquei nada!
- Como você sabia que eu estava com o poste então?
Eu coro na cadeira, presa quando ele levanta uma sobrancelha, desafiando-me a contradizê-lo. Então ele começa a rir sob meu silêncio eloquente.
-Se você gostou da prévia, o resto vai te surpreender, querido.
- Por que eu veria o resto? Eu respondi secamente. Espero que você não imagine que vamos dormir juntos porque não quero machucar seu pobre coraçãozinho, mas, querido, você sempre pode correr atrás de mim e me contar todas as frases bonitas nas quais você é especialista, você está longe de me colocar na sua cama.
-Na cama ou em outro lugar. Uma coisa é certa, um dia ou outro dormiremos juntos, ele insiste em acreditar.
Seu olhar me avalia por um momento, enquanto meu abdômen se contrai.
O que é essa besteira?
Como se percebesse, um sorriso aparece em seus lábios.
Merda, como um cara tão irreverente me faz vibrar daquele jeito?
Forço uma risada para esconder meus hormônios ferventes que parecem estar flutuando no ar, pegos de surpresa pela reação do meu próprio corpo a ele.
- Sempre sonhe Etienne, finalmente consigo dizer.
Ele sorriu mais enquanto esticava a perna, deixando seu pé roçar no meu.
-Seu corpo está ardendo de desejo, minha querida, toda a sala notou, ele sussurra, exagerando com voz suave. Você está morrendo de vontade de me deixar levá-lo naquela mesa agora.
Eu abro os olhos para ele para suprimir sua linguagem Chartiez, olhando para o resto do fast food. Felizmente, ninguém está nos observando. Empurro os pés para baixo do assento, o que o faz rir.
-Nunca vamos dormir juntos, esqueça, insisti.
-Ok, depende de você. Você vai ter me excitado com sua bundinha linda, mas eu vou superar isso, que pena para você, beleza.
-Há muitas outras bundinhas lindas, não se preocupe.
- Coisas como a sua são raras, ele ri, sua covinha muito visível.
Que idiota.