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São 7 da manhã. Minha hora favorita do dia.
O vento fresco sopra deliciosamente em meu rosto carregando algumas mechas rebeldes de meus cabelos dourados, o canto dos pássaros me leva embora e meu fiel cigarro não sai de meus dedos. Tudo isso acompanhado da minha boa xícara de chá de menta.
Adoro sentar-me na varanda, contemplar o beco ainda deserto e perder-me nos tons luminosos e fascinantes do nascer do sol. A calma me acalma e ao mesmo tempo me assusta e gosto desse sentimento contraditório e particular.
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Olho brevemente para o meu relógio... 7h30. Respiro alto, se ao menos eu pudesse prolongar esta hora do dia.
Apago meu segundo cigarro e corro para meu quarto. Calço o tênis, amarro descuidadamente meus longos cabelos loiros e pego minha mochila escolar em cima da cama. Estou pronto!
Desço as escadas de dois em dois e encontro minha mãe parada na sala me olhando desesperada, balançando a cabeça da esquerda para a direita, os braços cruzados sobre o peito.
“O que eu fiz para ter uma filha moleca...” ela murmura para si mesma.
Minha terna mãe sempre reclama da minha aparência, minhas camisetas largas e calças disformes a deixam doente. Não posso evitar se gosto de me vestir assim.
Mulher de trinta e três anos, minha mãe é muito elegante, saia lápis, escarpins, maquiagem caprichada... Resumindo, ela é tão linda que quase fico com ciúmes.
"Eu vou mãe!"
Eu beijo sua bochecha ruidosamente e arranquei uma risada alta dela.
"Vejo você em breve, meu querido"
Deixo nossa casa acolhedora e vou para a universidade, pronta para uma caminhada de vinte minutos.
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Chego na hora como sempre porque odeio chegar atrasado e chamar a atenção de outras pessoas. Corro para entrar na minha pequena sala, é meu primeiro ano de medicina e hoje é meu terceiro dia de aulas. Admito que ainda estou estressado, ainda não conheço ninguém e prefiro ficar no meu canto.
A sala vai enchendo aos poucos e a professora chega uns quinze minutos atrasada.
Estou me concentrando em nossa primeira aula de biologia... ou melhor, tentando o melhor que posso. A lição do antigo professor não me motiva, as paredes acinzentadas à minha volta dão-me náuseas e a janelinha sufoca-me. Tudo isso para dizer que não aprecio esta faculdade mais do que isso.
Nunca quis estar lá, mas tive que estar, pois a medicina sempre foi meu sonho. Minha mãe sozinha não tem condições de me pagar a melhor faculdade da cidade e meu pequeno trabalho como garçonete não me ajuda muito.
Mas nunca vou reclamar, por ela vou aguentar tudo. Depois da morte do meu pai, há três anos, ela conseguiu se levantar, nos levantar. Graças a ela conseguimos superar esta dolorosa provação. Uma mulher forte e admirável, é isso que ela é!
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As aulas finalmente acabaram, tiro a sacola nas costas, estou com fome. Chego em casa mais rápido que a entrada, meu corpo transpira, ao meio-dia o sol queima minha pobre pele diáfana.
Corro para tomar banho, me visto rapidamente e esquento um pouco de lasanha que sobrou da noite anterior.
Sento-me em frente à TV e acompanho um documentário sobre animais. Às vezes posso ser muito chato, provavelmente por isso tenho poucos amigos. Enfim, a solidão não me incomoda mais do que isso, muito pelo contrário, desde que papai nos deixou, me retraí em mim mesmo. Eu mudei. Completamente.
Eu pulo quando a porta da frente se abre. minha mãe aparece, eu a examino com um olhar surpreso, não esperando vê-la de volta tão cedo.
"Mãe, o que você está fazendo a esta hora?" Eu questionei curiosamente.
Ela fecha a porta atrás de si sem olhar para mim, fico nervoso.
"Hum... tenho um jantar importante com colegas esta noite, tenho que me arrumar", ela responde.
Não sei porquê, mas tenho a sensação de que ela não me conta tudo.
"Se você diz..." eu simplesmente respondi, encolhendo os ombros com indiferença.
Finalmente saio da sala e subo para o meu quarto. Pego um livro na estante e pulo na cama.
Absorto na leitura, não sinto o tempo passar, marco a página onde parei e dirijo-me à varanda com uma paisagem escura. O sol se pôs cedo demais para o meu gosto, acho essa escuridão deprimente e o silêncio noturno aterrorizante.
Entro no meu quarto e fecho a janela atrás de mim. Ouço o som de saltos vindos do corredor, saio correndo do meu quarto e fico sem palavras ao cruzar a silhueta esguia da mamãe.
"Uau.. Você está linda!" exclamei, assobiando alto demais.
"Sara!" ela me repreende falsamente com um sorriso no rosto.
Ela se vira para me permitir admirar seu vestido preto elegante, mas que a deixa super sexy com sua fenda na perna.
"Não há como negar, você é de morrer! Eu a elogio com orgulho. Mas me pergunto como você consegue andar com esses saltos que mais parecem pernas de pau"
Seu sorriso radiante aos poucos dá lugar a uma tristeza significativa, ela se aproxima de mim e coloca suas mãos macias e quentes em meus ombros.
“Você também é mulher Sarah, você é capaz de fazer esse esforço. Olha você, você é tão linda, se cuidasse um pouco mais...”
“Mãe, já conversamos sobre isso, essa discussão não vai levar a lugar nenhum” a interrompi, exasperado por ela voltar a esse assunto.
Um suspiro perturbado escapa dela após minha resposta, mas ela não insiste, entendendo perfeitamente meu comportamento.
"Não espere por mim, posso chegar atrasado, querido"
"Ok, espero que sua noite esteja indo bem"
Ela beija minha testa e aproveito nossa proximidade para inalar profundamente seu perfume agradável e reconfortante.
Ela então se vira para descer as escadas elegantemente, depois de um aceno de mão, ela se afasta com um sorriso no rosto.
Finalmente me encontro sozinho e bocejando, acho melhor ir para a cama.
Visto o pijama, escovo os dentes e me tranco no quarto.
Retiro o elástico que prende meu cabelo o dia todo e sento na cama. Muito rapidamente, para minha maior felicidade, juntei-me aos braços de Morfeu...