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Capítulo 7

O ponto de vista de Emily.

Sua voz ainda ecoava na minha cabeça. Meu coração batia tão forte que, se pudesse sair do meu peito, sairia. Como ele poderia falar comigo telepaticamente se ainda não fazíamos parte oficialmente do mesmo bando? Eu tive que tentar algo para entender...

- Damião? Eu digo, estupefato.

- Emily! Não se mexa, estou indo te pegar! ele respondeu com uma voz suave e firme.

Mas por que ? Como ? Resolvi esperar por ele e por isso sentei-me na grama. Meus sentidos me trouxeram todos os sons, assim como os cheiros desse novo lugar. Eu podia ouvir cervos bebendo em um rio, que devia estar a cerca de um quilômetro e meio a leste, acima de mim havia chapins voando, faisões correndo em alta velocidade pelo solo. O cheiro da floresta fazia-me cócegas no nariz, cogumelos, morangos silvestres, amoras... Tantos cheiros e sons agradáveis e tranquilizadores. Meus ouvidos giraram para trás, me dizendo que alguém estava se aproximando. Um animal correndo em alta velocidade. O coração do animal batia rapidamente e o animal ainda acelerava. Ele estava vindo em minha direção. Levantei-me tranquilamente, já sabendo a identidade do animal bem como sua espécie. Um lobo. Damião.

Virei-me em sua direção e ele apareceu depois de alguns segundos. Ele tinha músculos impressionantes e olhos verdes penetrantes. Por que eles não mantiveram a mesma cor na forma humana? Mais uma pergunta a fazer. Damien parou a três metros de mim. Sua respiração era irregular, ofegante.

- Você não tem nada ? ele perguntou.

- Só saí por alguns minutos! Eu gemi. Estou em boa forma.

"Tudo bem... vamos para casa", ele ordenou.

- Minuto! Eu o parei. Como...

- Responderei suas perguntas em casa, ele me cortou. Agora mova seu traseiro!

Revirei os olhos, exasperada com sua autoridade. Fui até ele e ele rosnou impacientemente. Não se preocupe meu lobinho, daqui a alguns segundos serei eu quem ficará impaciente... Sorri interiormente e quando cheguei na altura dele, ele começou a andar também. Vamos. Comecei a correr em direção à casa. Queria ver o que esse Alfa tinha no estômago, a melhor forma, segundo meu pai, era o efeito surpresa. Um uivo foi ouvido, e foi rapidamente substituído pelo barulho do chão sob as patas de Damien.

- Então, garotão, você não estava esperando, né?! Eu joguei.

Um grunhido alto me respondeu. Ouvi ele se aproximando aos poucos e diminuí a velocidade, fingindo estar exausto. Segunda fase: faça seu oponente acreditar que você está cansado. Efeito desejado: acelerar. O galope de Damien estava cada vez mais perto dos meus ouvidos. Que amador... Exagerei na respiração para reforçar meu pseudo cansaço.

- Estamos cansados, lobinho? Damien me disse sarcasticamente. Você não teve chance contra mim!

Como os Alfas ficaram tão egocêntricos... Se alguém ousasse dizer que não era um Alfa, tinha provas do contrário. Damien estava a poucos metros de mim... Cinco... Quatro... Três... Dois... Um... Ele estava ao meu lado agora, se ajustando ao meu ritmo. Ele facilitou para mim a terceira e última fase: o ataque surpresa. Aproximei-me lentamente do lado dele e ele se aproximou do meu. Pobre idiota... Diminuí a velocidade, minha cabeça estava na altura do ombro dele e antes que ele pudesse reagir, pulei em suas costas e nós dois caímos no chão. Finalmente Damião. Eu estava em cima dele, ele me usou como almofada enquanto estava de bruços, rosnando.

- Para um Alfa, pensei que você fosse mais bem treinado em ataques surpresa! Eu rosnei. Se meu pai ou outro Alfa estivesse no meu lugar, ele simplesmente teria que esmagar sua garganta! Então você ainda acha que eu não tive chance contra você?

Levantei-me, infeliz por ter tido a tarefa tão fácil. E acima de tudo, com raiva dele por ter sido conquistado tão facilmente! Ele poderia ser mais poderoso que os outros lobos, mas ainda precisava saber como se defender!

Ele se levantou enquanto eu andava. Parei e olhei-o diretamente nos olhos. Ele olhou para mim, totalmente incrédulo. A raiva dançou em suas íris verdes.

- Porque você fez isso? ele perguntou, irritado.

"Para ver se eu poderia me sentir seguro aqui", rosnei. Não é muito conclusivo.

Ele olhou para mim novamente, sem expressão.

- Ninguém me atacou assim até hoje, ele se defendeu. Você tem que estar louco para atacar um Alfa.

- Duas vezes brigamos, duas vezes eu te venci muito bem Damien! Sim, você é um Alfa, você está cheio de poder. Mas de que adianta estar cheio de poder se você não consegue se defender de ataques surpresa? Eu agarrei. Quer saber por que meu pai nunca é atacado? Os outros Alfas ouviram falar das habilidades ofensivas e defensivas do meu pai. Eles ficaram impressionados. Uma noite, eles queriam verificar organizando uma luta amistosa entre Alfas no Conselho. Ele derrotou todos eles. Dois deles aceitaram mal a derrota e atacaram o território. Eles perderam. Foi um verdadeiro banho de sangue. Ambos os Alfas perderam mais de três quartos de suas tropas. Meu pai tem apenas cem anos.

O olhar de Damien brilhou de admiração mas também de consternação, acho até que percebi um pouco de vergonha. Lembrei-me daquela noite. Eu tinha dez anos de idade. Meu pai havia saído de casa às pressas com seu Beta e minha mãe estava muito preocupada. Ela se juntou a eles depois de alertar Gabriella para tomar cuidado comigo. Ignorante naquela época da situação, assisti meus desenhos a noite toda. Mas eu tinha percebido que tinha alguma coisa errada, Gabriella estava muito agitada. No dia seguinte, meus pais chegaram em casa exaustos, com o Beta do meu pai. Só muito mais tarde soube o que havia acontecido naquela noite.

- Vamos voltar agora, você tem que responder minhas perguntas, lembrei-lhe.

Voltamos em silêncio para Damien. Havia tensão entre nós. Olhei algumas vezes com o canto do olho para Damien, e ele parecia imerso em pensamentos. Perdido. Ignorei a pontada de dor que tomou conta de meu ser ao vê-lo nesse estado e olhei para frente até reconhecer a enorme mansão. Parei e vi Damien passar por mim. Nu como um verme. Incrível. Se eu estivesse na minha forma humana, ficaria vermelho da cabeça aos pés. Eu não era modesto, longe disso, mas embora não gostasse nada dela, seu corpo não tinha imperfeições. Pelo menos por trás...

- Você vai para casa ou prefere continuar me observando enquanto deixa o fiozinho de baba escorrer da sua boca? Damien me provocou.

Recuperei o juízo, balançando a cabeça e olhei para ele. Ele riu como uma criança. Quem poderia acreditar por um segundo que no minuto anterior ele estava agindo como um fantasma? Totalmente bipolar esse Damien, como todos os Alfas. Minha mãe muitas vezes zombava de meu pai e de suas frequentes mudanças de humor, eram muito desconcertantes.

- Traga alguma coisa para eu me cobrir ao invés de ficar falando besteira! Eu fiquei irritado.

Ele riu mais e entrou. Ele saiu vestido, com um roupão que parecia muito macio e quente. Ele cobriu minhas costas com isso, e no segundo seguinte eu estava sob minha pele humana. Peguei o roupão, fiz questão de cobrir todo o corpo e me levantei. Damien estava fazendo uma careta, como se estivesse desapontado.

- Hum... Geralmente o sexo frágil faz o possível para me fazer admirar o corpo deles e aí, me privam disso, ele ficou de mau humor.

- Desculpe querido, mas você não verá meu corpo tão cedo!

- Minha linda, né?

- Por assim dizer, já vi melhor, digo, encolhendo os ombros.

O que era totalmente falso. Fui para casa e fui para o quarto para pegar uma roupa mais decente. Meu laptop estava na mesinha de cabeceira e, quando o liguei, percebi que eram quase cinco da tarde. O tempo passou rápido... Rápido demais. Enfiei-o no bolso de trás da minha calça jeans e desci para encontrar Damien ao pé da escada, olhando para outro lugar. E quando ele me viu, seu olhar se iluminou, o que me perturbou um pouco, mas me recuperei imediatamente.

"Bem, parece-me..." ele começou.

- Por que podemos conversar telepaticamente eu e você?! Eu o interrompi.

Eu queria respostas. Ele bufou e passou a mão pelos cabelos escuros, hesitante.

- Acho que a resposta não vai te agradar..., disse ele.

- Para que ?! Eu insisto.

- Você e eu... Estamos... Conectados pelas nossas almas..., ele soltou. Nós somos...

"...almas gêmeas..." terminei.

Eu senti como se tivesse recebido uma bomba. Almas gêmeas. Damião e eu. Quando espíritos afins se encontravam, cada um sentia isso profundamente e geralmente um descobria mais rapidamente que o outro. Eles podiam se comunicar telepaticamente e cada um sentia as emoções do outro. Um vínculo estreito e indestrutível foi criado entre os dois. Esse vínculo foi o mais forte de todos. Cada uma das almas via apenas a outra, ninguém conseguia se impor no seu relacionamento. Como foi possível... Caí de joelhos no chão de madeira clara, completamente atordoada e senti Damien se aproximar de mim muito rapidamente.

- Emily? ele me ligou, preocupado.

A voz de Damien estava próxima e distante. Eu estava em choque. Os braços de Damien me aprisionaram contra ele. Meu cérebro não controlava mais nenhum dos meus músculos.

- Emilie... Me pegou tão surpreso quanto você..., ele me explicou. Ele era tão poderoso, todos os meus pensamentos estavam direcionados para você e a vontade de te fazer minha caiu sobre mim sem avisar.

O uso da fala voltou para mim.

"Mas..." eu sussurrei. Por que você sentiu isso tão rapidamente? Geralmente leva vários dias...

- A vantagem de ser um Alfa…, ele sussurrou em meu ouvido. Assim que passei por você no mato, eu percebi. Seu visual funcionou como um ímã. Eu precisava ter você comigo, era vital, uma necessidade vital. A semana de atraso que dei ao seu pai foi a mais dolorosa que já experimentei.

Ele encostou a cabeça na minha e apertou seu abraço. Como se ele estivesse com medo de que eu fosse embora. Eu não conseguia nem mover um dedo. Minha cabeça aninhou-se em seu pescoço e o cheiro da floresta assaltou minhas narinas. Minha respiração ecoou em sua pele bronzeada, senti ele tremer contra mim. Ele afrouxou o aperto e fixou seu olhar azul no meu. Sua beleza me perturbou, mas não deixei transparecer. Uma pergunta saiu dos meus lábios.

- Por que seus olhos são verdes na sua forma de lobo? Eu perguntei, para mudar de assunto.

- Cada Alfa tem olhos coloridos de uma maneira diferente. É um sinal que nos permite identificar-nos. E quanto mais clara a cor, mais poderoso é o Alfa, ele me explicou.

Balancei a cabeça, um sinal de que entendi. Um pesado silêncio caiu entre nós. Como um robô, levantei-me e fui para o meu quarto, deixando Damien plantado no meio da sala, de joelhos, completamente perdido. Duas longas horas se passaram e em minha mente as únicas palavras que ressoaram foram “alma gêmea”. Nada mais. A campainha quebrou o silêncio que reinava na casa desde a revelação. Ouvi Damien abrir a porta e rapidamente dois cheiros familiares encheram a casa. Com o coração batendo forte, deixei de lado o fato de que Damien e eu éramos almas gêmeas e corri escada abaixo para pular nos braços da mulher mais linda do mundo.

- Meu querido ! gritou minha mãe, à beira das lágrimas.

Meus pais estavam presentes e a presença deles me tranquilizou mais do que eu imaginava.

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