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Capítulo 02

Não recordava como tinha chegado no meu apartamento na manhã seguinte, após aquela porcaria de festa beneficente. Despertei com o mau cheiro do meu próprio vômito. Sentei na cama com uma baita dor de cabeça. Foi frustrante acordar sujo de vômito e sem uma companhia da noite anterior. Eu queria esquecer que vi Charlotte provocativa, e a todo momento passando a mão em nosso diretor do telejornal. Não lembro ao certo o quanto de álcool ingeri, mas não foi o suficiente para me fazer esquecê-la.

Saí da cama indo até o banheiro usar o vaso sanitário. Depois de lavar as mãos e escovar os dentes, tomei uma ducha rápida. Fiquei algum tempo no closet escolhendo qual terno usar. Minha aparência não era das melhores, entretanto, precisava ficar, pois tinha que trabalhar. Quando saí do closet encontrei David passando o pano no piso. Quem quer ver um macho logo pela manhã? Eu poderia pagar uma empregada para cuidar dos serviços, só que fazendo isso perderia a graça de irritar o meu lacaio. Apenas queria deixá-lo tão exausto e cansado de mim que pediria demissão, no entanto, não tinha conseguido esse feito ainda.

— Garoto, não esqueça de lavar minhas cuecas! — disse debochando, eu tinha alguém que cuidava da lavagem das minhas roupas. De todas as reações que ele poderia ter, fez algo horrível, me entregou o rodo!

— Temos tempo ainda, pode continuar! O que foi? Nunca pegou em um rodo? William, não fale assim comigo outra vez, como se fosse obrigação minha cuidar das suas peças íntimas!

Ele não tinha bom humor, larguei o rodo e fui para cozinha procurar alguma coisa pra comer. Depois do café da manhã saímos para a emissora para mais um dia puxado. No trajeto até o estúdio de gravação, precisei ser simpático com a maioria que atravessou meu caminho. Eu não era muito bom em fingir simpatia, todavia, tentava mesmo assim.

Senti um frio na espinha quando fui chamado pelo diretor em um canto vazio. Passou pela minha cabeça que talvez ele fosse me dar algum tipo de sermão por ter tomado todas na noite anterior, mas era muito pior que um mero sermão.

— Charlotte, sugeriu você William para apresentar um novo documentário sobre turismo e paisagens naturais. — por um breve momento cheguei a ficar empolgado que ela tinha feito algo bom por mim, entretanto, a bomba estava por vir. — Você partirá para essa aventura na semana que vem. Serrinha dos Pinheiros o aguarda!

— O quê? Eu não posso! De jeito nenhum vou para lá! — exaltei-me, com toda razão, aquela cretina tinha armado pra mim! — O senhor não pode me obrigar! Deveria ter me consultado se eu gostaria de participar ou não deste documentário!

— Não era essa atitude que esperava de você. Sinto muito que não seja algo do seu agrado, porém, como seu diretor e com direitos legais do que pode ou não fazer, está decidido! Não seja ingrato William, sua colega insistiu tanto para que esse documentário fosse apresentado por você.

Deixei que ele falasse sozinho e fui atrás da culpada de colocar-me em uma enrascada daquelas. Após saber onde ela estava escondida, não poupei a língua e muito menos minha fúria. Comecei a berrar e bater com força a porta do seu camarim.

— Para de chutar à porta do camarim da Charlotte! Enlouqueceu? Pra quê esse escândalo? — David questionou, intrometendo-se no assunto que nada tinha a ver com ele. O anão de ternos gozados, segurou meus braços para trás, conseguindo me afastar um pouco da porta onde estava aquela mulher.

— Vai se foder, David! Não sou uma marionete, me solta! Essa vagabunda precisa sair daí. Quero que diga na minha cara, Charlotte, o que disse pro nosso diretor!

Em uma tentativa de desvencilhar-me dele, perdi um dos sapatos e ele continuou me prendendo, usando toda sua força.

— Senhor, acalme-se! Me explica o que está acontecendo?

Como ele não sabia do que tinha acontecido? Perguntei-me. Para um assistente pessoal ele não passava de um imprestável!

— O que está acontecendo? Essa vadia maldita, convenceu o nosso Diretor de que eu tenho que ir para Serrinha dos Pinheiros, para ser o apresentador de um novo documentário sobre aquele lugarzinho! — justifiquei.

— William, vai ser bom pra sua carreira apresentar esse documentário. Ela te fez um grande favor, deveria agradecê-la e não querer discutir com ela! — disse ele, me largando finalmente. O empurrei em seguida até a parede, agarrando a gola de sua camisa.

— Você é mesmo um imbecil, David! Eu não posso ir pra esse lugar, entendeu? E essa maldita sabia e fez de propósito! — comentei, cuspindo fogo pela boca.

Empurrei-o com força contra o bebedouro, antes de sair andando pelo corredor para me acalmar. O desejo de vingança foi maior do que fazer um escândalo para todos verem, quando a vi para gravarmos juntos o telejornal finge demência. Primeiro houve a gravação até ficarmos a sós.

— Ainda usa drogas? — perguntei, pegando com força seu pulso. — Eles não sabem, não é mesmo? Do seu passado sujo! O que será que vão falar quando souberem?

— Quem vai contar? Você? Ninguém vai acreditar em um alcoólatra feito você! — disse ela, soltando seu veneno de cascavel. — Divirta-se enquanto estiver naquele lugar que tanto odeia!

Soltei-a antes que acabasse cometendo uma loucura contra ela. Saí sozinho da emissora, despistando David, chamei um Uber e fui diretamente para um bar qualquer. Eu precisava afogar as mágoas. No ambiente novo pra mim, comecei a tomar todas enquanto chorava e resmungava coisas indecifráveis.

O restante daquela noite tornou-se um borrão na minha mente, somente percebi a gravidade da noite de bebedeira no dia seguinte, ao acordar em um lugar que não era meu apartamento.

— Minha cabeça... — murmurei, abrindo os meus olhos enquanto bocejava. Eu conhecia bem aquele apartamento de paredes brancas. Como eu tinha ido parar lá? Bati duas vezes no meu rosto. Quando consegui levantar da poltrona onde tinha sem dúvidas, passado a noite, pensei em sair de fininho antes que a dona daquele apartamento desperta-se.

— Então, você acordou! — aquela voz me fez olhar em sua direção. A desgraçada usava uma lingerie preta sexy, enquanto segurava uma caneca em mãos com o que supôs que fosse café.

— Quem me trouxe pra cá? — questionei, mesmo sabendo qual era a verdade, tinha sido escolha minha ter chegado até seu apartamento.

— Você veio com suas próprias pernas!— disse ela, caminhando na minha direção com um sorrisinho nos lábios. — Essa não é a primeira vez, e nem será a última, que você vem parar aqui por vontade própria! Sabemos bem o porquê você não consegue me deixar!

— Charlotte, não seja convencida! — falei afastando sua mão do meu rosto. Não queria seu toque.

— Você, sempre volta, querido, não importa o que eu faça. Um cachorrinho adestrado! — afirmou, apertando meu queixo. — Eu odeio quando o vejo intrometendo-se nos meus assuntos, e, no entanto, você insiste em ficar no meu caminho. Por isso sempre sou obrigada a lhe pôr no seu devido lugar, o de segunda importância!

Era uma mentirosa ainda por cima, todos sabiam que eu sequer era uma das suas opções.

— Por trás dessa mulher que você criou para todos, eu te conheço melhor do que ninguém. — sussurrei, tocando sua nuca. — Você pode dizer que eu sempre volto, mas a verdade é que você não resiste a mim!

Até pensei que fossemos nos pegar ali naquela sala de estar, e reacender todo fogo que tínhamos um pelo outro, era inegável a química que tínhamos.

— Você é tão insignificante, William!

Charlotte jogou o seu café quente na minha camiseta. Isso mesmo ela jogou o café em mim! Caindo na gargalhada em seguida.

— Porra! Olha o que você fez! — resmunguei, prestes a lhe dar uma lição.

— O que foi senhor âncora? Não gosta de café?

Sem tirar meus olhos daquela cascavel, tirei minha camiseta jogando-a no chão.

— Vou te dar a educação que os seus pais nunca te deram! — ameacei bastante irritado.

— O café não estava do jeito que você gosta? — ela perguntou, correndo pela sala, até mesmo deixou a caneca vazia cair de sua mão.

— Não me provoque sua atrevida! — respondi, correndo em sua direção e agarrando sua cintura, em seguida coloquei-a no meu ombro direito, como um saco de batatas. — Agora você vai aprender que comigo ninguém brinca, senhorita Lefevre!

Não tive pena alguma no momento que comecei a lhe dar tapas em sua bunda. Ouvi cada palavrão que daria para colocar em um novo dicionário. Os socos que Charlotte deu nas minhas costas foram todos fracos, por isso continuei me aproveitando da situação. Ela tinha que aprender que eu não era seu brinquedinho.

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