Capítulo 10
Eu não me importo mais.
Paro em frente à única porta fechada e bato três vezes.
- Serviço de quarto.
Estou trancado e sozinho neste quarto há pelo menos uma hora.
Meus olhos doem.
Nunca senti tanta raiva.
Não pensei que sentiria aquela... coisa impura de novo.
Uma corrente de ansiedade percorre meu corpo.
dois
Algo não está certo.
Naquele mesmo momento ouvi o som de vidro quebrando.
O som de lâmpadas velhas se apagando.
Sinto uma dor aguda na cabeça.
Droga, César. Onde você está?
Minha visão começa a ficar embaçada e escurecer.
Me apoio no encosto do sofá para não cair.
O que está acontecendo?
Preciso de ar fresco. Agora.
Forço a abertura da janela no final da sala, minha fraqueza não ajuda, mas depois de um tempo consigo fazê-lo.
A brisa fria e algumas gotas de água atingiram minha pele.
Os pelos dos meus braços se arrepiam.
Sinto uma corrente fria, como um sopro, em meu pescoço.
-Cessar?
Olho para trás, a porta ainda está fechada e ele não está aqui.
Deve estar tudo na minha cabeça. De qualquer forma, está um dia bastante frio por causa da tempestade.
A visão que vejo é assustadora e ao mesmo tempo relaxante. A janela me permite ver a parte de trás do hotel. Está completamente escuro, apenas alguns postes de luz iluminam o local. Além do alcance do hotel há ainda mais campos vazios e depois uma floresta de árvores altas com copas densas.
Mesmo com o ar fresco, minha situação parece piorar.
Eu seguro o máximo que posso da moldura da janela.
Entendo... cinza?
Um leve som estático. A televisao?
Não, está funcionando perfeitamente.
O som está ficando cada vez mais alto.
Está ficando cada vez mais frio.
Que diabos?! O QUE É ESSE BARULHO?
Como se estivesse dentro da minha cabeça. É ensurdecedor.
Seguro minha cabeça com as duas mãos.
- A-ah...
- Ana?
Abafada, a voz de César ecoa pela sala, como se ele estivesse muito longe.
O som se dissipa gradualmente.
Sento-me no chão com o rosto entre os joelhos.
Estou chocado. Minha cabeça está latejando.
Cesar me segura pelos ombros.
Cheira a... sangue. Então meus olhos se ajustam lentamente. Seu rosto estava manchado de vermelho. Sua expressão é estranha.
Seguro fracamente seu casaco preto e minhas mãos ficam completamente vermelhas.
Eu me livro dele e imediatamente corro para o banheiro com dor de estômago. Mal consigo chegar a tempo. Meu cabelo cai sobre meu rosto enquanto o líquido ácido e nojento desce pela minha garganta. Meus olhos lacrimejam e minha garganta coça.
Fracamente, me apoio no mármore da pia para me levantar. Empurro meu cabelo para trás e me apoio nele.
Meu reflexo... O sangue escorre pelo meu nariz.
Não consigo engolir o que está acontecendo.
Não há sequer uma razão para isso.
Corro para jogar água no rosto.
É como um déjà vu.
:PM
Hotel; Denver, Colorado.
Agora estou deitado na cama tentando me recuperar. Assisto televisão, perdido, enquanto minha cabeça parece estar em outro mundo.
Cesar foi tomar banho depois para ter certeza de que estava tudo bem.
Eu menti. É óbvio que não estou me sentindo bem, só espero que você não me pergunte mais nada.
Ele voltou com suas roupas ensanguentadas para o quarto depois de um tempo. Acho que ele também não quer que eu pergunte sobre isso.
Estou cansado demais para me preocupar de qualquer maneira.
A dor de cabeça desaparece gradualmente e meu corpo se permite relaxar.
Um César diferente de antes sai do banheiro, agora com roupas limpas e parecendo mil vezes mais calmo.
O cheiro metálico permeia o banheiro, mas não me importo muito com isso agora. Tirar todo aquele sangue do seu corpo deve ter dado muito trabalho. Melhor no chão do chuveiro do que nele.
Cesar está deitado na cama, perto demais para ser ignorado.
- Como isso aconteceu? - Sua voz parece calma.
- Foi estranho... - hesito antes de continuar. Ele vai pensar que sou louca para sempre. - Minha cabeça começou a doer e fiquei fraco. Acho que perdi muito sangue com a lesão. -Eu menti.
Cesar pigarreia, desconfortável, antes de dizer:
- É um corte profundo. - Analise minha mão, agora enfaixada com um pedaço de pano.
Ele parece muito chateado para perceber que eu o enganei. Ele desvia o olhar da televisão.
O que está passando pela sua cabeça?
Suspirar.
Pego duas cervejas (que Cesar comprou mais cedo na loja, além de um monte de junk food doces e salgados) e volto para o meu lugar, ainda um pouco vacilante.
Entrego uma para ele e abro a minha.
Eu vejo televisão. O filme “O Massacre da Serra Elétrica” começa, dando início à maratona.
:PM
Abro lentamente os olhos.
Cesar acaricia meus cabelos enquanto assiste televisão sonolento.
É a única coisa que vejo antes de adormecer novamente.
: sou
Duas batidas me fazem acordar.
O som de tiros foi ouvido com clareza, quase dentro do hotel. Eu não poderia estar longe daqui.
Cesar dorme ao meu lado, com o braço estendido para fora da cama.
A luz fria da TV ilumina vagamente a sala, assim como a luz da lua que entra pela janela.
Esfrego os olhos.
Ao fazer isso, sinto uma forte sensação de queimação no pulso.
O sangue flui dele.
Há um “X” gravado na minha pele.
César fez isso?
Meus olhos pousam em seu braço. O mesmo hematoma em sua pele.
Isso foi recente.
Uma onda de medo toma conta do meu corpo. Sacudo Cesar, que acorda rapidamente.
Ele resmunga antes de levar a mão ao ferimento.
Quase num salto ele acende as luzes da sala.
Eu engulo em seco.
Há um corpo deitado no sofá. Seu rosto estava quase desfigurado.
Meu coração aperta quando olho para a mesma parede do sofá.
Um estranho símbolo feito de sangue está desenhado na parede, junto com a frase
" Feliz Halloween".
Cesar anda em círculos pela sala, com as mãos nas laterais da cabeça.
O que quer que tenha acontecido, alguém entrou aqui.
E essa pessoa sabe muito bem quem somos.
O corpo no sofá é da mulher Cesar... bem, morta. De uma forma muito brutal, desta vez, o que explica todo aquele sangue. Os detalhes não importam mais.
Não sabemos o que diabos fazer.
Contei a ele sobre o tiroteio. Definitivamente era para atrair a atenção das pessoas do hotel. Um grupo de convidados está discutindo o que aconteceu. Eles estão assustados. Um deles considerou chamar a polícia. Foi uma das poucas coisas que pude ouvir enquanto espiava das escadas.
Este é um problema enorme e fodido.
Esse alguém quer se comunicar conosco.
Todas as hipóteses nos levam à polícia.
Não há como passar pela recepção sem atrair pelo menos um pouquinho de atenção.
Na verdade, isso é um problema.
Reunimos todas as nossas coisas, precisamos estar preparados para qualquer situação. Cada minuto conta.
Desço furtivamente até o primeiro lance de escadas. Eles ainda estão reunidos na recepção.
Eu me esgueiro pela parede e olho para o corredor.
Há um homem falando ao telefone.
"Tiros.
Sim, o som de tiros. Ele até acordou os convidados.
Não. Tenho certeza que ele estava aqui. Você não ouviria nada ao longe, olhe aquela chuva!
Tudo bem. Estamos esperando. Obrigado pela compreensão. "
Subo as escadas correndo.
- Chamaram a polícia. Cessar. - Olho para ele incrédula. -César, espere! O que você está fazendo?
- Pegue suas coisas, Ana.
Coloquei o moletom de antes. Não hesito em obedecê-lo.
Ainda temos um pouco de tempo. O hotel fica a poucos quilômetros da cidade.
Eu faço o que ele me pediu.
Foi mais fácil passar por eles porque ela se parecia com qualquer outra garota. Eu apenas disse que precisava pegar meu remédio.
"E-eu me sinto mal... Isso realmente me assustou... esqueci meus remédios no carro."
Aliás, uma bela atuação.
Pego o galão de gasolina do porta-malas do caminhão e encho duas garrafas vazias de refrigerante com o líquido. Eu os escondo nos bolsos do meu moletom.
Na volta eles conversavam entre si e nem prestaram atenção em mim.
E então, está tudo pronto.
- Você tem certeza disso?