Dois
Lara
Mais uma vez minha mãe começa a gritar e a bater na porta do meu quarto antes do despertador tocar. Nossa! Ela sempre faz isso, e eu fico muitoooo irritada.
— Bora minha filha! Você tem aula cedo! - só grita batendo sem parar na minha porta.
— Tá mãe já levantei! - eu me levanto cambaleando, mesmo sabendo que falta mais de uma hora para a escola abrir, mesmo assim vou tomar o meu banho, e como eu vou ter tempo, eu faço uma maquiagem bem bonita, porém, simples para ir na escola durante a luz do dia, meus cabelos são pretos e lisos e os mesmos descem até a cintura, é um ponto ao meu favor, pois eu adoro jogar os mesmos na cara das inimigas lá na escola.
Inimigas? É bem, não tenho inimigas de verdade, mas tem umas meninas lá do outro bonde, as piriguetes que dão moral pra os bandidinhos aqui da favela, todas elas se gavam por ser bancadas pelos mesmos e tal, porém, eu não vou sou ser mulher de bandido, a minha mãe me mata se isso acontecer um dia, ou como ela mesmo vive martelando na minha orelha, eu que irei matá-la do coração caso isso aconteça algum dia. Por isso sigo a minha vida de boas.
Eu me chamo Ana Lara, tenho dezessete anos e estou quase terminando o ensino médio, depois eu vou tentar entrar em uma universidade lá no asfalto, eu quero ser uma enfermeira ou médica, mas a minha mãe diz que é melhor pra mim ser advogada, que nem o meu pai era, então eu acho que vou tentar fazer o curso de direito mesmo.
— Anda menina! O café já está na mesa! Parece até que você anda sonhado. - minha mãe reclama e eu passo o meu batom nude apressada, visto rápido a minha calça e coloco a farda da escola e meus tênis, depois saio correndo do quarto e vou pra mesa tomar o café da manhã. Depois preparo tudo o que eu vou precisar levar pra escola hoje na minha mochila e dou um beijo na minha mãe e me despeço pra ir na escola.
— Já sabe né? Nada de dar moral pra esses moleques aqui do morro! Teu futuro não é aqui, tu vai ser mulher do asfalto. - minha mãe repete o mesmo mantra de sempre. — Você me ouviu né Ana Lara?
— Sim! Sim! Mãe, eu ouvi, a benção.
— Deus te abençoe e te leve em paz até a escola.
— Tchau mãe!
— Tchau filha!
Sigo o caminho até a escola e no caminho passo pela a casa da Adriele e a chamo pra ir na escola comigo, nós somos best friends, só andamos juntas para todos os lados. A Adriele é lindona, a morena cacheada mais linda da favela, a mina tem olhos cor de mel e deixa os menor tudo loko, o que deixa o irmão dela Gustavo completamente irritado, pois ele tem ciúmes dela.
— E aí Larinha! Tá lindona hoje hein princesa! - o Gustavo diz passando pela porta atrás da irmã, que já vem correndo e me abraça.
— Bom dia amiga!
— Bom dia gatona! Vamos? - eu a chamo e pego na sua mão.
— Ei pera aí gatinhas! Eu deixo vocês na escola, entra aí na minha moto. - o Gustavo aponta a moto mó lindona, mas eu nego na mesma hora.
— Tô fora Gustavo! Se a minha mãe me pega andando na garupa de… de…. - fico meio sem jeito pra falar.
— Na garupa de bandido! Pode falar princesa, o nome da minha profissão não me magoa não. - ele diz sorrindo.
— Ela me mata Gustavo! É isso!
— E como ela vai ficar quando a gente começar a namorar? - ele pergunta com uma expressão séria no rosto e eu e a Adriele nós olhamos e começamos a dar risada.
— Qual foi menor! A mina vai ser mulher lá do asfalto, não se ilude. - minha amiga diz para o irmão e nós seguimos para a escola.
O caminho todo nós vamos sendo observadas pelos vapor, em cada viela tem pelo menos dois fazendo a venda, e eles sempre fazem questão de dizer alguma piadinha com a gente, eu acredito que daqui da favela as únicas mina que ainda não ficaram com nenhum bandido somos nós. E assim eu e minha amiga seguimos, nós mantemos o foco, estudar, e entrar na faculdade, homem nenhum não está nos nossos planos no momento, seja bandido ou não.
Pois nós temos outros objetivos para as nossas vidas.