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Capítulo 3

Sérgio

Daniela acabou de se formar na universidade. Sei que ela viu minha sombra passar, porque ela está com pressa. Muito rápido. Mas eu a sigo com calma, porque os táxis não param e o ônibus não faz sua parada habitual por aqui.

Ela terá de ir a pé.

E, dessa vez, eu também. Al está a alguns metros de distância com o carro. Vou precisar dele mais tarde.

Ela vira a esquina e se encontra em uma rua deserta. Eu a ouço murmurar. -Você não tem medo dele. Ele é apenas um palhaço, um fanático. -

Ela me faz rir e não posso deixar de responder. - Tem mesmo certeza disso? -

Ele fica parado no lugar e já posso imaginar sua expressão: puro terror.

Ele começa a se virar lentamente, até ficar cara a cara comigo.

E sim, ela está apavorada.

Isso é o que acontece quando você provoca a pessoa errada.

Ele olha para mim por um momento. - Não me diga que você só tinha esse par? -

Ele se refere aos óculos de sol. Eu não os usei hoje, mas por acaso. - Você parece alegre esta manhã. - Soltei uma gargalhada. - Sentiu minha falta? -

- Nem um pouco. - ele diz, cerrando os dentes.

- Você gostou do presentinho? -

-Obrigado, eu realmente queria trocar os móveis. -

Que personagem! - Fico feliz em ouvir isso. - Coloquei minhas mãos nos bolsos. Estou sufocando com esse maldito terno cor de vinho. Minha avó e suas ideias estúpidas. - Você me chamou de palhaço, de fanático. E diz que não tem medo de mim. -

Talvez eu seja um fanfarrão, mas também não sou um palhaço. E então ela não tem medo de mim, ela está morrendo de medo. Para mim, medo e terror são duas coisas diferentes.

Ele me dá um olhar sujo. - E daí? Você é um palhaço, seu cabeçudo. Por que eu deveria ter medo de alguém como você? -

Ok, vou soltar a bomba. Que cara ele vai fazer agora? - E ainda assim, você começou a chorar quando leu a frase no espelho. -

Ele começa uma frase, mas não a termina, porque percebe o que acabei de dizer. E do medo ele se transforma em raiva.

Aqui está, ele finalmente vai explodir.

Vamos ver como é quando ele perde o controle.

- NÃO POSSO ACREDITAR! - ele grita. - VOCÊ ME ESPIONOU!!! -

Droga, isso vai romper meus tímpanos. Pior que minha avó. -Meu Deus, como você grita. Você é pior do que um cachorro cuja cauda foi pisada. Relaxe. -

- Relaxe!? Como pode me pedir para relaxar? Você violou minha privacidade, seu idiota de merda! -

Bem, ele acabou de passar dos limites. Agarro o pulso dela e o puxo, antes de empurrá-la com força contra a parede. -Ninguém me chama de idiota, está claro? Você não faz ideia das coisas que sou capaz de fazer, boneca. -

Se soubesse, não seria tão provocador. É a minha palavra.

-Não me chame de boneca. -

-Está rugindo para o leão errado. Está rugindo para o leão errado. -

- Só porque você é Sergio Federicio? - ele começa a rir, zombando de mim e do meu nome. -Oh, por favor! Você é igual a todo mundo. Você se acha superior e não passa de um verme. -

Sem pensar (e sem perceber), bato nela com força. Meu tapa cai em sua bochecha, fazendo-a virar a cabeça bruscamente.

Ela está surpresa. Eu, mais do que ela. E ela está em choque. Eu, muito mais do que ela.

Eu não queria bater nela, mas ela me fez perder o controle.

Ele olha para mim e em seus olhos escuros eu leio: terror, surpresa, tristeza e muito mais.

- Você é... - ele está prestes a chorar. - Você é... - ele não consegue terminar e isso é melhor.

-Ele entra no carro. -Eu os mando.

Ele faz o que tem que fazer. Ele segura a porta aberta e espera em silêncio.

- Vamos embora. - Repito, mas ela se solta do meu aperto, gritando, e sua bolsa cai no chão. Seu computador sofre um impacto terrível. Não tenho certeza se ele voltará a funcionar.

- Daniela, entre no carro. -

- EU LHE DISSE QUE NÃO! -

Eu a levanto pelo braço e a jogo no banco. Ela resiste, pressionando os pés na porta para impedir que ela se feche. Meu Deus, ele é um cara durão. Se ela não o achasse mesquinho, minha avó a aplaudiria.

Ela usa toda a sua força, mas eu perco a paciência novamente e lhe dou outro tapa.

Ela desiste e começa a chorar.

Ótimo, agora vou ter que ouvir tudo.

Pego a bolsa dela, coloco tudo de volta no lugar e a atiro nela antes de entrar no carro. - Vamos embora", murmuro. - murmuro.

Nessa parte, em seu silêncio habitual.

Daniela soluça baixinho, pressionada contra a porta ao seu lado. Ela está com a cabeça encostada no vidro fumê e a bolsa pressionada contra o peito. O rímel escorre por suas bochechas e seu cabelo está despenteado.

Estou prestes a lhe entregar um lenço quando meu celular começa a tocar. É a vovó.

- O que há de errado? - Eu respondo.

- Você já terminou ou ainda tem muito o que fazer? -

-Sim, já terminei. -

- Para onde a está levando? -

- Para casa. -

- PARA CASA?! - grita ele. Sua voz estridente estilhaça meu tímpano. - Jonah, nem pense nisso! Descarregue-o em algum lugar, mas não aqui! -

Isso não vai incomodá-lo. -

- Vai, sim! Não quero um estranho em minha casa! -

- Você nunca a verá, não se preocupe. -

- Sergio Alexander Federicio, se... -

Estou desligando. Quando ela diz meu nome completo, fico nervoso.

- O que você quer fazer comigo? - Daniela me pergunta com uma voz rouca. Ele não olha para mim, mantém os olhos em sua bolsa.

Não lhe respondo e me acomodo em meu assento. Vou jogar essa maldita roupa no lixo quando chegar em casa. A calça está muito apertada quando não deveria estar.

-Você vai me matar? -

- Não.

- Vai... vai me estuprar? -

- Não me sinto atraído por você vestida assim. -

Com o canto do olho, vejo novamente suas bochechas cheias de lágrimas. Para onde foi a voz irritada? Por que ela não está mais gritando comigo? Será que aqueles dois tapas a perturbaram tanto assim?

Bem, eu definitivamente exagerei, tenho que admitir.

- Você me manterá sob controle em algum lugar antes de me matar, certo? Vai me torturar até a morte. Você sempre faz isso, não é? -

Ele acertou a primeira parte. -Você tem assistido a muitos filmes antigos de gângsteres. Os tempos mudaram, boneca. -

- Não machuque minha família. - ela sussurra.

Eu não queria fazer isso, mas quero provocá-la ainda mais. - De outra forma? -

- Faça o que quiser comigo, mas não a atrapalhe. -

-O que eu quiser, hein? - Soltei uma risadinha. -É bom saber disso. -

- Por favor. -

Essas últimas palavras, estranhamente, me perturbam.

E não entendo por quê.

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