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Capítulo 4

As luzes se apagam, espero por meia hora sem conseguir dormir e saio do meu quarto em silêncio. Não era permitido ficar fora dos quartos depois de um determinado horário, mas meu quarto era muito abafado e eu não conseguia ler nele, a biblioteca era muito melhor. Depois de tomar muito cuidado, entro na biblioteca e pego o livro que escondi, mesmo sabendo que quase ninguém vem aqui. Sento-me no sofá e me perco na história. Às vezes, eu me perdia em minha leitura e, quando me dava conta, já estava de madrugada. Isso sempre me fazia correr para o meu quarto sem ter dormido a noite toda, mas valia a pena.

- Belo cabelo - entrei em pânico e fechei o livro com força.

- O que está fazendo aqui? - Sento-me ereta no sofá e tento me proteger segurando o livro firmemente em frente aos meus seios.

- Vim dar uma volta, como você - Alecandre olha em volta. Ela estava usando uma camiseta regata que expunha seus braços. Eu nunca tinha visto braços como aqueles antes, era impossível não olhar para eles, e havia... tatuagens! Tatuagens cobrindo todo o seu braço esquerdo.

- Você tem tatuagens. - sussurro distraidamente.

- Você tem um fetiche por homens com tatuagens?

- O quê? Não! Como você pode estragar sua pele desse jeito? - Desviei minha atenção do braço dele. Ele estava descalço e usava calças largas, acho que era algum tipo de pijama.

- É a minha pele - Alecandre se senta na perna do sofá e olha para mim. -O que está fazendo sozinha em uma biblioteca tão tarde, irmã?

- Estou lendo, não é óbvio? - Tento mostrar que não me sinto intimidada. - E você, o que está fazendo do lado de fora do seu quarto, que fica do outro lado do convento?

- Talvez ele esteja seguindo você - ele se senta no sofá, mais perto de mim. Eu engulo com força. -Com medo, doce Susana?

- Não”, ela ri, ”fique longe de mim. Ele está perseguindo outra pessoa para intimidá-la.

- Eu o intimido?

- Não!”, ela ri novamente.

- O problema é que eu gostava de você, Susana, principalmente depois daquele beijo.

- Você tirou algo de mim sem meu consentimento.

- O que eu quero de você é muito mais do que um beijo.

- Não quero saber o que isso significa - agarro o livro com mais força ainda em minhas mãos. Eu deveria estar com medo, mas não estou.

- Quantos anos você tinha quando decidiu se tornar uma freira? - ele pergunta casualmente. Ele estica as pernas e eu sigo o comprimento de suas pernas até seus pés, olho para cima novamente e encaro... meu rosto esquenta de vergonha. Olho para cima, para aquele que sorri para mim.

- Eu nasci sabendo meu destino.

- Como?

- Minha mãe não conseguia engravidar. Quando ela tinha quarenta e quatro anos, ela engravidou de mim assim....

Por que eu estava lhe contando isso?

-Continue, Susana.

- Então... - Decido dizer tudo de uma vez para evitar mais perguntas - Meus pais fizeram uma promessa. Se o bebê fosse um menino, eu seria padre, e se fosse uma menina, freira.

- E agora você está aqui - ela inclina o corpo para frente, apoiando os cotovelos nos joelhos. - E se você quisesse algo mais do que este lugar?

-Eu pertenço a este lugar, sou um milagre.

Ele bufa, irritado.

- Você tem apenas dezenove anos, pelo amor de Deus! Não sabe nada sobre a vida real, deveria estar em festas, bebendo e fazendo coisas estúpidas. Fiquei em silêncio porque odeio admitir, mas sempre me imaginei fazendo esse tipo de coisa. Toda vez que eu assistia a um filme e via jovens se divertindo, eu me pegava pensando: e se fosse eu ali? Mas não vou confessar isso, especialmente para ele. - Como você pode estar preso aqui sem ter vivido a melhor vida?

- Por que você parece tão irritado?

- É por isso que estou! Como o mundo pode ter perdido isso...? -Olhe para todo o meu corpo. - Para Deus.

-Eu queria isso.

- Não, você não queria. Você foi criado para acreditar que era isso que você queria.

- Eu aceitei meu destino! - digo com orgulho, mas uma voz no fundo de minha consciência me diz o contrário.

- Sim, doce Susanna - sacudo a cabeça, mostrando como minhas palavras foram ingênuas -, vou lhe mostrar o melhor da vida.

- Não!”, dou um pulo, ”quero você longe de mim! Eles podem me expulsar se descobrirem o que você fez comigo. Isso foi assédio, e se eu ficar com raiva, você também ficará.

Vejo o rosto dele parar de reagir e, por um breve momento, acho que vejo a culpa rastejar em suas feições, mas então descubro que imaginei tudo porque o que ele diz em seguida não demonstra o menor arrependimento.

- Você o beijou de volta.

- Fique longe de mim, Alecandre”, diz Susananta assim que termino meu discurso.

-Alexander? - ele se aproxima. Sinto-me como um animal sob a mira de um predador.

- Alec - eu me corrijo rapidamente. Coloco o livro no sofá e me viro, mas ele ainda está me seguindo - Por que eu? - Ele faz uma pausa - Entre tantas freiras neste lugar, por que você escolheu apenas a mim para atormentar?

- Você notou que só há mulheres idosas aqui? - Dê um passo em minha direção.

- Meredith tem sua idade.

- Eu não quero a Meredith.

-E nem mesmo a mim. Me deixe em paz.

- Agora é tarde demais.

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