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Um caso de amor

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Sra.Kaya
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Resumo

Katerine é uma juíza fiel à justiça, porém, quando as leis colocam a vida de uma criança em risco, ela decide abandonar suas convicções e ajudar Edgar Alves. Edgar é um homem que foi absolvido de um homicídio, e deseja realizar o último desejo de sua falecida irmã, obtendo a guarda da sobrinha, para que a menina não caia nas mãos dos avós paternos. A única saída que Katerine encontra nessa situação é através do casamento entre eles, para que sua reputação como juíza o ajude a conseguir a guarda da pequena. Contudo, após chegarem ao consenso de que o casamento é a melhor chance para vencer a disputa judicial, por quanto tempo Kat e Edgar conseguirão fingir que estão apaixonados um pelo outro para convencer a todos, durante o casamento de fachada, e não acabar caindo na própria farsa?

romance

1

CAPÍTULO 1

Trovões e relâmpagos cortavam os céus de Bullut. Chovia forte naquela madrugada de março, comprovando que o inverno ainda não terminara. O homem que se aquecia junto às brasas do velho fogão à lenha recusava-se a atender as pancadas na porta da velha cabana. Que tipo de idiota estaria fora da própria casa numa noite como aquela? pensou, apesar de não se considerar a pessoa mais indicada para julgar o "bom senso" de ninguém, por conta de seus recentes problemas com a lei em Wallis. Contudo, quem quer que estivesse do outro lado da porta parecia não ter intenção de desistir.

Resmungando baixinho, ele resolveu abandonar o calor aconchegante e cruzar o pequeno espaço que o distanciava da porta principal da entrada. Será que nem mesmo morando numa cidade com tão poucos habitantes, quase do tamanho de um bairro de Nova Cidade, uma pessoa não poderia ter sossego garantido? Considerou a hipótese de alguém ter errado uma indicação na estrada principal e tomado o atalho que acabava diretamente na cabana solitária.

Provavelmente iria pedir-lhe abrigo até a tormenta cessar. Todas as suposições que fizera no curto trajeto desmoronaram quando abriu a porta e deparou com a figura alta de um homem todo coberto de neve, carregando nos braços uma mulher grávida e aparentemente congelada. Ele sacudiu a cabeça várias vezes, argumentando para si mesmo que aquilo não estava acontecendo! Não depois de tanto esforço para afastar os pesadelos que o atormentavam. Enganara-se mais uma vez.

- Edgar...

A voz fraca da irmã interrompeu os devaneios de Edgar Alves, que estendeu os braços para receber a mulher que Omar Gigante carregava.

- O que aconteceu com ela? - perguntou Edgar, assim que entrou e deixou que o outro homem se encarregasse de fechar a porta.

Isto é, presumia que Omar o estivesse seguindo, embora não duvidasse nem um pouco que ele pudesse ter girado nos calcanhares e ido embora. Nunca poderia saber como seria a reação de alguém como Omar, cuja reputação era pior que a de Edgar, levando-se em conta a excentricidade e o gosto pelo isolamento. Por tudo que conhecia do outro, era provável que desaparecesse na noite e sumisse de vista por dias ou até semanas... Todavia, a assustadora tempestade deveria tê-lo desencorajado, pensou Edgar ao ouvir o ruído da porta sendo fechada.

- Parece que o bebê está chegando - respondeu Omar.

Tal esclarecimento nem seria preciso, porque Edgar percebeu a situação no momento em que tomou a irmã nos braços e a viu se contorcendo de dor e gemendo. Sem contar com o imenso volume do ventre de Marine, que parecia pronta para dar à luz uma nova vida. Sem dúvida era uma tremenda surpresa vê-la ali, naquela hora da madrugada, já que não tinha notícias dela havia meses.

O último encontro casual que tiveram na cidade fora muito rápido. Ela havia mencionado qualquer coisa sobre estar grávida. Mas Edgar não prestara muita atenção, uma vez que ela estava apressada e visivelmente embaraçada, com receio de que alguém os visse juntos.

- Eu a encontrei a meio caminho entre aqui e Wallis. Parece que o carro dela derrapou quando saiu da rodovia e atolou num buraco. Imagino que ela estivesse vindo para encontrá-lo. Estava assustada demais para falar. Então eu a trouxe para cá.

- Por favor, Edgar. Promete que não vai brigar comigo? - implorou Marine. "Brigar" não era a palavra adequada. Edgar sentia vontade de esganar tanto ela quanto Omar. Marine deveria estar com os parentes do marido, isso sim! O que ele poderia fazer por ela, naquelas condições?

- Deveria estar em um hospital - murmurou Edgar, enquanto a conduzia para o quarto que um dia pertencera aos pais. Agora, ele o ocupava apenas para guardar as roupas e se utilizar do banheiro. Preferia dormir no sofá da sala. Já estava acostumado desde criança e, além disso, ficava próximo do calor do fogão. Depois de combater no Vietnã... e, principalmente após o que acontecera com Alex, Edgar preferia dormir na sala por causa dos pesadelos constantes e a insônia que o obrigava a levantar-se várias vezes durante a noite. Porém, no momento, o quarto seria ideal para Marine. Ela poderia ter a privacidade que necessitava.

- Estava vindo ver você - revelou a irmã.

- Deveria estar no hospital - insistiu Edgar. - Precisa de um médico. - E, enquanto falava, analisava a distância de 20 km até Wallis, tendo de ser percorrida em meio a tanta chuva. - Talvez o melhor seja levá-la de volta para sua casa.

Marine fez uma careta de dor e, agarrando-se à camisa de flanela do irmão, implorou:

- Não, Edgar! Não posso voltar! Eles querem ficar com o bebê!

Apesar de sentir os cabelos da nuca arrepiados, ele assegurou a si mesmo que a fantástica afirmação da irmã era produto do estado de gravidez. Ela estava apavorada com o processo de parto do primeiro filho. A maioria das mulheres nas mesmas condições fica com o emocional abalado, pensou Edgar.

- Ninguém vai roubar seu bebê, Marine. Por que fariam isso? - indagou ele, enquanto a acomodava na cama de casal que pertencera aos pais.

A irmã agora fazia parte da família dos Tavares, e, apesar de ele não gostar do menosprezo com que eles o tratavam, não tinha como negar o fato de que eram pessoas poderosas e respeitadas na região. Ela não poderia estar mais segura do que estava pertencendo a um núcleo privilegiado. Precisaria ser muito ignorante para acreditar que... A voz desesperada da irmã lhes interrompeu os devaneios.

- É verdade, juro! Farão a mesma coisa que Cláudio fez comigo para me afastar de você, assim que nos casamos.

Do que é que ela estava falando?, pensou Edgar. Seria verdade? Aquelas afirmações foram recebidas por ele como se tivesse levado um soco na boca do estômago.

Até aquele instante, Edgar acreditava que a irmã estava muito feliz na vida luxuosa que levava. E, mesmo após a morte acidental do marido, imaginava que ela tinha vergonha de retornar para o lugar humilde onde crescera. Ele procurava entender e perdoá-la por ter-lhe virado as costas. A pressão da sociedade nunca é fácil de ser confrontada. E isso era exatamente o que acontecia também com ele próprio. Muitas pessoas continuavam julgando-o um assassino frio e cruel. E Edgar imaginava que a própria Marine também tinha suas dúvidas e por isso o evitava. Porém, a súbita revelação sugeria algo diferente