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1

A neve começou a manchar a cidade como se também quisesse apagar o erro em que caí pela enésima vez alguns momentos atrás.

Um erro que, no entanto, não tenho vontade de retratar.

Virando de lado, olho para o vidro sem cortina que percorre todo o lado esquerdo da sala e tomo muito cuidado para não colidir com o corpo nu de Tom, que já adormeceu, deixando-me em absoluta solidão.

Com ele sempre termina assim e nunca consigo me retirar dessa porra de libido que me rasga no baixo ventre toda vez que ele decide dominar e submeter meu corpo à sua vontade, pairando sobre minha sanidade.

Sentando-me na cama, chuto as cobertas e rolo para fora da cama em toda a minha nudez, arrastando meus pés pela madeira preta até chegar à janela francesa do sótão do meu pai.

Parando em frente a isso, pego uma camisa que pertence ao Sr. Ferrari, meu pai, e a visto antes de sair para a noite fria de novembro.

Rajadas de ar frio atingem minhas bochechas causando pequenas feridas dos cristais de neve dentro delas e isso me dá vários calafrios, mas é melhor estar aqui congelando minhas entranhas do que estar perto de Ryan Thomas agora.

Enxugando as lágrimas que começam a escorrer dos meus olhos, olho as luzes que brotam da noite ainda iluminada de Milão e imagino que sou outra pessoa; uma pessoa diferente, menos problemática e menos relutante em fazer amigos.

Eu tinha acabado na cama com Tom por essa mesma razão, porque ele era fácil de conversar como ninguém, mas com ele eu era apenas um corpo de mulher para possuir e saciar apetites primitivos.

Algo sedoso acaricia minha panturrilha e olhando para baixo sorrio levemente quando vejo o rabo de Tigrão, meu gato, enrolado em minha perna.

Esticando minhas mãos para baixo eu o encorajo a se levantar em duas pernas e depois de agarrá-lo pelas axilas eu o carrego em meus braços.

- É bem verdade que vocês animais são melhores que humanos - sussurro beijando seu nariz molhado, enquanto ele me responde com um ronronar calmante.

- Você correu em minha direção porque sentiu o cheiro da minha tristeza, aquele ali nem notaria se eu contasse para ele - digo tristemente, enquanto o abraço contra o meu peito.

Quando finalmente perdi a sensação em todo o meu corpo, decido voltar e fazendo Tigro sentar em seu canil vou para a sala onde desabo sentado no sofá.

Com as mãos trêmulas e ainda mais geladas começo a acariciar minhas coxas nuas até me aproximar da minha intimidade, onde as paro para passá-las lascivamente sobre a virilha de ambas as pernas.

Arrepios de prazer vibram por toda a parte inferior do meu corpo. Eu não penso em nada. Não quero pensar em nada além de mim.

Com impaciência me livro da camisa do meu pai, pois teria nojo de fazer isso com algo em cima que cheira a ele, e então trago minha mão esquerda para minha entrada pronta para me dar o prazer que Tom não consegue me dar ou me dá apenas em parte.

Estico os pés no macio tapete de pele branca relaxando completamente contra o sofá e no exato momento em que afundo em mim a magia é quebrada com o som de um celular; que foi o meu ser que as notas de "Trasparente", uma das minhas músicas favoritas, estão se espalhando pela sala.

Rosnando, como um gato que acabou de comer um bife mal passado, eu me levanto do sofá e vou para o quarto onde Tom ainda está dormindo feliz, alheio ao toque insistente de seu telefone celular.

- Alô pai - digo depois de ver de quem veio a ligação; Não tenho notícias dele há mais de uma semana e agora ele me liga à uma da manhã.

- Olá princesa, você está em casa? - pede gritando para dominar todo o barulho ao seu redor.

Eu nem quero saber onde ele está a essa hora da noite com a idade dele.

Só saio à uma da manhã, quando mal sou maior de idade e há quem esteja mais perto dos cinquenta do que dos quarenta.

- Sim o que você quer? - pergunto sentado na cama fria e asséptica.

- Digo-lhe que estou chegando com um convidado - ele responde como se me dissesse para não responder de forma alguma, mas se realmente acha que pode me calar com tão pouco, esqueceu quem é sua filha e ainda mais por ser filha.

- Tarde da noite você quer entrar com alguém em casa? Mande-o para o hotel e você pode vir se quiser – digo com firmeza, mas é claro que é como falar com uma parede.

- Eu tenho uma cobertura enorme em Milão e você quer que eu mande meu convidado para o hotel? Não faça bagunça, garota, há espaço para vocês três e mais, enquanto sua mãe não está lá, certo? - ele pergunta em tom de reprovação e eu adoraria mordê-lo, mas se eu não estiver calmo me encontro de volta naquela remota aldeia de montanha onde moram meus avós, que só pode ser útil para férias de verão ou inverno.

- Sim, fique no exterior até o Natal; enfim, concordo, te espero - digo olhando para o chão porque não quero conhecê-lo e tê-lo em casa.

- Boa garotinha, vejo que você entende; Vou ficar em casa por alguns dias se você não se importar – ele explica, como se dissesse que mesmo que se importasse, ele não se importaria.

- Ok, até logo - digo fracamente antes de desligar o telefone, ainda mais frustrada do que antes.

Virando-me para Ryan Thomas eu olho para ele - Acorde, caramba! - Eu escorreguei jogando um travesseiro nele que tinha acabado no chão, quando depois de sua chegada acabamos na cama.

Assustado pelo susto, ele aponta para mim com aqueles olhos escuros, quase negros, que parecem ter engolido a pupila na penumbra do quarto.

- O que diabos há de errado com Nife? - Ele rosna pronto para me mandar para o inferno e voltar a dormir como de costume.

- Meu pai está chegando; Quero você fora daqui em cinco minutos! - Bufei indo para o banheiro me vestir, sabendo muito bem que quando ele voltasse não estaria lá, muito assustado com o que Gabriel Ferrari poderia ter feito com ele se o tivesse encontrado na cama de sua amada e única filha.

- Malditos pirralhos - bufo sabendo muito bem que nunca vou conseguir encontrar um cara que decida ficar comigo a céu aberto depois de perceber quem realmente é meu pai.

"Uma única reunião pode

mudar todos os planos

na vida"

Ainda estou no banheiro quando ouço a fechadura da porta da frente ranger, avisando que meu pai e quem está com ele chegaram.

Eu me olho no espelho e liberto meu cabelo da flanela, com a qual o amarrei para o banho e sem prestar atenção no que estou vestindo, que é um roupão, saio do banheiro em direção à sala, onde aqueles dois teriam surgido depois de passarem pela ante-sala, que minha mãe queria a todo custo, quando compraram o apartamento junto com meu pai.

- Nife, onde você está? - grita a voz de meu pai no exato momento em que cruza a soleira, congelando imediatamente ao interceptar minha presença.

Felizmente a cobertura é toda nossa porque à 1h da manhã não é normal gritar como se fossem 4h da tarde e se tivéssemos vizinhos já teríamos sido despejados há muito tempo.

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