Capítulo 4
Brian levou mais três segundos para levantar a garra que cobria sua cabeça. Ao fazer isso, Mark se impulsionou para cima. Ele pulou, esticando o pescoço e apavorado com o fato de que sua cabeça logo estaria debaixo d'água novamente. Com a boca aberta, ele inspirou o máximo de ar que conseguiu. A respiração era ofegante. Ele tossiu, cuspiu e tremeu. Tudo isso antes de começar a implorar e choramingar.
Mark Miller sabia quem era o licantropo que quase o havia matado. Assim como ele sabia que não era páreo para Brian Bluent. Ninguém era. Ele era o alfa indiscutível da matilha por um motivo.
-EU... EU... -ele olhou para seu rei com terror.
Rose estava convencida de que um civil como ele, sem nenhuma posição hierárquica, nunca havia estado tão próximo de seu líder.
Intimidante. Não há dúvida sobre isso.
Ele era um macho incrivelmente forte e poderoso. As fêmeas o desejavam e os machos o invejavam. Ele era um grande líder. Ele era cauteloso e forte. Após a morte do antigo rei licantropo da matilha da montanha, todos, inclusive Rose, acreditavam que seus inimigos se aproveitariam desse momento de fraqueza para atacá-los. Mas não, eles não o fizeram.
Eles não tiveram a chance. Brian havia flexionado seus músculos e o rebanho agora era próspero. Ele até abriu novos negócios, que não tinham nada a ver com o tráfico de substâncias e armas. Brian e... Lock, seu antigo noivo, havia trazido a matilha para o século XXI, com sua empresa imobiliária e seu negócio de computadores que sugeriam que o dinheiro não seria um problema para o sustento deles.
Na quietude da noite, apenas o suspiro de Mark ainda podia ser ouvido.
-Senhor...
Eu deveria matá-lo por tocá-lo.
Foi então que Rose percebeu que tudo aquilo era sobre ela.
Uau!
Ela levantou uma sobrancelha. O que diabos havia de errado com os machos de sua matilha? Será que eles achavam que ela não conseguia se defender? Primeiro seu pai, depois seu irmão? Ela teria suspirado com desprezo, mas já tinha tido mais do que o suficiente.
Rose rosnou alto, o som reverberando em seu peito.
O Alfa virou sua formidável cabeça para ela. Eu poderia jurar que o vi piscar os olhos em descrença, como se não tivesse ouvido direito.
Mas ele havia escutado perfeitamente.
Mas foi a reação de Mark que mais chamou sua atenção. Ele deu mais um passo para trás, como se ela tivesse enlouquecido.
-Ninguém rosna para o Alfa! exclamou o cunhado, apavorado com a ideia de rasgá-la em pedaços.
O rei deles se virou para ele e o olhou com as mandíbulas trêmulas.
A voz sobrenatural do Alfa foi ouvida apenas pelo lobo encolhido.
-Ela pode rosnar para mim o quanto quiser.
Mark assentiu, voltando para a água.
Quando os instintos de Brian gritaram para que ele acabasse com a vida desse destroço, ele pulou nele novamente, mas dessa vez não o mergulhou na água. A garra dela envolveu sua garganta e o levantou até que apenas seus tornozelos estivessem submersos.
-Eu acabei com ele? -perguntou ele a uma Rose perplexa.
-O que...?", perguntou ela, incrédula, olhando para os olhos suplicantes de Mark. Não", ele finalmente disse.
A cabeça de Brian deixou de olhar para ela para se concentrar em sua presa.
-Você a ouviu?", perguntou o Brian. Você só está vivo porque ela não quer que sua morte recaia sobre sua consciência. Mas... lembre-se, eu não tenho esse problema.
-Por favor, senhor", ele choramingou.
-Saiam!
A ordem era clara e ela estava pronta para obedecê-la o mais rápido possível. Ela não tinha a intenção de perder a vida só por estar brincando com a cunhada.
O Alfa o jogou na água e, quando Mark chegou à superfície cuspindo água, ele acenou com a cabeça energicamente.
-Sim, sim... Vou voltar para a cabana.
-Não!", rugiu Brian, para surpresa de ambos. Vocês vão sair daqui. Você vai sair de White River. Não haverá Festa da Lua para você, e se eu o vir perto dele novamente... vou obrigá-lo a dar seus restos mortais aos peixes.
Mark piscou, enquanto Selena estreitou os olhos. O idiota ia mesmo protestar? Ele não sabia que o Alfa poderia despedaçá-lo e que não haveria nada que ele pudesse fazer? Ninguém lamentaria sua morte, ninguém exigiria justiça. Porque, na matilha, a justiça era o Alfa. A lei era Brian Bluent.
-Saia daqui", cuspiu Rose, ainda sem se mexer. Não seja idiota.
Mark a encarou com ódio, mas se moveu rapidamente. Ele foi em direção à margem, de costas para eles.
Rose olhou para o seu Alfa, mas não se moveu. Ela podia ver o peito do lobo subindo e descendo, como os olhos dele a observavam como se quisesse avaliá-la. Talvez para ver se ela estava ferida, ou talvez... para outros fins. Seus batimentos cardíacos ficaram tão altos que ela mal conseguia ouvir qualquer outra coisa na noite. O bombeamento de seu sangue trovejava em seus ouvidos. Mas, sem aviso, a cabeça do Alfa se voltou para Mark, que já estava com o corpo fora da água. Ele desapareceu nos arbustos.
As mandíbulas de Brian se abriram, seus olhos brilharam mais intensamente.
Merda, pensou Rose. Ele estava realmente irritado.
Como que para provar isso, sua grande figura desapareceu na noite. Foi rápido, sobrenatural, e Rose fechou os olhos ao ouvir o grito do homem.
-Não!", implorou Mark. Mas havia patadas na noite, cortando a carne, rasgando.
Mark gritou novamente e seu corpo se arrastou em direção à estrada. Rose apertou os olhos para vê-lo melhor. Quando conseguiu se levantar, ela o viu cambaleando em direção à sua bicicleta, escondida entre as árvores. O ar cheirava a sangue e o coração de Rose estava batendo forte, como se fosse ela quem estivesse sendo perseguida pelo Alfa.
O barulho do motor da motocicleta anunciou sua partida. Mark faria bem em fugir e não olhar para trás.
E ela... Rose faria bem em não se sentir tão excitada com tudo o que acabara de testemunhar.
Ele poderia ter reagido de forma diferente, disse Brian a si mesmo.
Certamente, se a fêmea não fosse Rose Snow, ela poderia ter se acalmado um pouco. Bater no cara em sua forma humana e mandá-lo para casa, mas o descaramento de Mark Miller havia acabado com a paciência dela. Mas o descaramento de Mark Miller havia desintegrado a paciência dele. Qual era o objetivo dele ao abordar a cunhada daquele jeito? Assediá-la? Ameaçá-la para que dormisse com ele?
Maldito bastardo.
O cheiro de sangue inundou suas narinas e ele se esforçou para voltar à sua forma humana. Ele havia sido tão generoso que deveria ter arrancado alguns de seus membros.