Capítulo 5 - Impossível evitar
Heitor
Eu deveria apenas seguir meu caminho e voltar a procurar por Catarina, que tinha bebida um tanto quanto a mais que o recomendável quando eu a vi pela última vez e por quem eu tenho responsabilidade. Eu pretendia fazer isso, mas ao caminhar apenas alguns poucos metros, notei que alguns homens visivelmente embriagados caminhavam na direção da garota insuportável e aquilo foi suficiente para me deixar apreensivo de uma maneira desconcertante.
Eu não tenho que me preocupar com aquela garota, mas foi impossível continuar a andar sem ter certeza de que aqueles indivíduos iriam seguir o seu caminho sem incomodá-la. Acabei diminuindo completamente a velocidade dia meus passos apenas para confirmar que eles realmente não iriam notar a presença da garota solitária sentada a beira mar.
— Olha o que temos aqui, meus amigos — um deles falou alto o suficiente para que eu conseguisse ouvir — Uma gata dessas sozinha aqui. Deve estar perdida…
— Ou está apenas esperando que alguém a encontre — Um outro sugeriu — Acho que hoje é o seu dia de sorte, gata.
Não precisei ver o que estava acontecendo para entender claramente aonde aquilo iria chegar e eu tinha certeza de que nada de bom resultaria daquela situação. Decidi voltar e ir até a garota, antes que algo de ruim acontecesse a ela.
— O gato comeu sua língua, baby? Estamos falando com você!
— Não tenho nada para falar com nenhum de vocês! — a garota falou de maneira bastante corajosa — Será que uma garota não pode ter seu momento sozinha, que logo aparece um monte de… ah! Esquece!
A essa altura, eu já estava caminhando até onde estavam a garota e os idiotas que a cercavam, constatando que realmente a cena não era das mãos animadoras. Ela tinha optado mais uma vez por ficar de pé e depois de gritar com eles e olhar para os quatro homens com nítido desprezo, sem mais demora ela saiu caminhando.
A sua afronta me fez suspirar de alívio, afinal, não tinha acontecido nada de mais grave, até que vejo um deles se aproximando dela e a impede de seguir em frente, puxando-a grosseiramente pelo braço.
— Larga ela agora! — falei com autoridade, ao chegar próximo ao grupo.
Todos olharam na minha direção e estava claro que os homens não tinham gostado nenhum pouco de eu ter interrompido, seja lá o que eles pretendiam fazer com a garota.
— E por que eu iria te atender ? — O que estava segurando a garota perguntou com afronta.
— É, porque o meu brother iria te atender? — O outro se intromete.
— Eu, no lugar de vocês, iria embora agora, antes que eu chame a polícia e vocês vão passar o réveillon atrás das grades.
O homem não tinha largado o braço da garota e ela agora parecia estar aterrorizada, o que é totalmente compreensível diante das circunstâncias. Mas vê-la tão assustada daquela forma me deixou bastante irritado. Esperava não ter que levar aquilo até às últimas consequências, mas eu jamais poderia deixar a garota à sua própria sorte agora.
— E por que iríamos temer a polícia? Não estamos fazendo nada de errado.
Eles eram quatro e eu não poderia lutar com todos eles e sair ileso. Só poderia colocar em risco a minha integridade e talvez a da garota. Sendo assim, apanhei o meu celular no bolso e disquei o número da polícia militar e após a identificação do outro lado da linha, eu falei claro o suficiente para que ele entendesse que eu não estava blefando.
— Olá, eu tenho uma denuncia a fazer e antes de qualquer coisa, quero dizer que eu e minha namorada estamos neste momento sendo ameaçados por quarto indivíduos e correndo risco de morte — falei rápido e com clareza — Precisamos urgentemente de ajuda.
As minhas palavras parecem ter causado o impacto desejado, pois o idiota que estava prendendo o braço da garota a soltou de imediato.
— Está ficando louco!? — Ao menos dois deles falaram ao mesmo tempo.
— Em momento algum ameaçamos ninguém aqui!
Eu fingia que estava sendo questionado pelo policial sobre a nossa localização, olhei em torno e vi um ótimo ponto de referência.
— Estamos nas proximidades do hotel Season Summer, descendo para a praia — comecei a explicar.
— Vamos logo embora daqui! Esse cara tá louco! — Disse um deles, aquele que esteve o tempo todo apenas acompanhando o que acontecia, mas sem se envolver realmente.
Antes mesmo que eu pudesse descrever melhor o local para a suposta pessoa do outro lado da ligação e como se tivessem combinado, os quatro homens começaram a caminhar apressados e logo estavam correndo em direção a parte da orla onde estavam concentradas a maioria das pessoas, diferente daquela área deserta.
Mesmo a distância foi possível ver que eles se misturavam às outras pessoas, provavelmente na tentativa de passar despercebidos e não serem facilmente encontrados, caso a polícia realmente viesse.
— Você está bem? — perguntei para a garota à minha frente.
Era visível que ela estava nervosa e provavelmente ainda um pouco chocada com a situação em que acabou se envolvendo naquela noite. Agora a encarando com total atenção, constatei mais uma vez o quanto ela é linda e que, por algum estranho motivo, ela estava me deixando balançado, algo completamente sem sentido.
— Eu… — começou a dizer, passando a língua sobre os lábios e fazendo o meu coração acelerar de maneira idiota — … te devo um pedido de desculpas.
— Você não me deve nada — falei, desejando ir embora o mais rápido possível — Fiz apenas o que qualquer homem decente faria. Agora, sugiro que volte para onde estão as outras pessoas, pois já entendeu que é perigoso ficar aqui sozinha.
Imaginei que ao ouvir o que eu falei, a garota iria dizer apenas concordar e ir embora, mas para o meu total espanto, ela começou a chorar de maneira copiosa, seu corpo todo tremendo convulsivamente. Bem, se antes de me aproximar dela eu já tinha acreditado que ela estava chorando, agora eu tive certeza absoluta de que eu estava certo sobre a minha suposição.
Eu já estava me sentindo estranho diante daquela garota e agora eu me senti completamente abalado pelo sofrimento evidente em seu pranto.
— Não precisa ficar assim — tentei dizer algo coerente — Nada de ruim aconteceu e aqueles idiotas já foram embora.
— Eu sinto muito… pela forma… como te tratei — disse ela entre um soluço e outro — Você… não mereceu.
— Vamos esquecer isso, OK!? — sugeri, colocando as mãos para o alto em rendição — Eu não vou guardar nenhuma mágoa. Tá bom assim?
Ela balançou a cabeça como se estivesse concordando com as minhas palavras, mas continuou a derramar o seu pranto extremamente doloroso e aquilo estava acabando comigo. Eu precisava ir embora. Mas não poderia deixá-la ali de maneira alguma.
— Onde estão os seus acompanhantes?
A minha pergunta parece ter aberto alguma comporta, pois o pranto se tornou ainda maior e era visível que ela estava sofrendo.
— Eu estou sozinha…
A maneira como ela disse isso me desarmou por completo e me fez desejar abraçá-la e confortar o seu sofrimento, mas aquilo seria totalmente inapropriado.
Ela estava usando um vestido simples e em seu rosto não havia nenhum tipo de maquiagem, o que me fez pensar que aquilo poderia indicar duas coisas: ou que ela é alguém sem muita vaidade, ou não é uma turista, assim como eu sou. Mas caso ela tivesse vindo para Gostoso apenas para o Réveillon, com certeza ela deveria ter vindo acompanhada, pela família, amigos ou talvez… um namorado?
Pensar nessa possibilidade não foi nada agradável e eu tentei espantar mais um pensamento inoportuno.
— Vamos, eu te acompanho até um local menos deserto e mais seguro.