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Capítulo V

Ane e Magie tinham decidido sair para uma festa altas horas da noite e eu preferi ficar em casa, estava tentando fugir de problemas e era isso o que essas duas atraiam.

Aproveitei o tempo sozinha e liguei para Nana, ela me disse que realmente tinha ficado doente, uma febre repentina que a deixou de cama, após uma longa conversa contando a loucura que tinha sido o dia anterior ela me aconselhou a continuar longe da cidade, Monty não era um homem de perdoar e ela o conhecia bem.

Nana me pediu para cuidar de Ane e conseguir um emprego aqui mesmo, para que pudesse começar a me erguer e prometeu que assim que se sentisse melhor pegaria um ônibus até a Filadélfia para ficar conosco.

Era um bom plano, eu precisava focar em onde poderia conseguir um emprego, qualquer um que fosse, não tinha medo de trabalho duro e assim que conseguisse um pouco de dinheiro procuraria um lugar pequeno pra nós, até que tudo melhorasse.

Eu estava empolgada com a ideia de um novo começo, longe de tudo o que havia sido meus últimos anos, mas bastou dez minutos com Oliver naquela cozinha para que eu me arrependesse da minha escolha.

— Inferno de homem! — rosnei pisando duro nas escadas fazendo o som ecoar pela enorme casa.

Por que tinha que ser assim tão grosso e na frente de sua irmã ser um doce? Talvez ele fosse gentil apenas sobre o efeito de remédios, pois quando eu lhe dava pontos ele soube me tratar bem, mas quando eu era gentil ele vinha com uma enxurrada com grosseria.

Todo meu sono havia ido embora graças ao nosso desentendimento. Eu queria socá-lo até que minhas mãos cansassem ou quebrar alguma coisa, mas nem isso eu podia fazer porque a merda da casa não era minha! Ele tinha feito questão de deixar isso bem claro hoje pela manhã e novamente há minutos atrás.

Contentei-me em abrir a porta para varanda e respirar fundo várias vezes na tentativa de me acalmar, quando me dei conta uma lágrima já escorria por meu rosto.

— Eu posso me virar sozinha. — Murmurei para mim mesma encarando o céu escuro da noite. — Não preciso passar por isso. — sabia que aquela era toda emoção dos últimos dias sendo finalmente colocada para fora.

Só quando entrei no banheiro me permiti chorar de verdade enquanto a água quente caia, levando toda minha frustração.

Sentia-me pequena, acuada e perdida sem saber que rumo tomar. Todas as minhas tentativas de reconstruir minha vida no último ano tinha ido embora em uma corrente de desgraças, mesmo que não fossem as coisas mais maravilhosas o que tinha conseguido até o momento, mas era o que eu tinha conseguido fazer para tentar me reerguer e novamente a vida estava mostrando que Gabriela Parker teria que recomeçar do zero.

Na manhã seguinte acordei determinada, vesti novamente minhas roupas, coloquei a bolsa sobre o ombro e desci as escadas. Iria procurar um emprego e se Deus quisesse nem mesmo precisaria voltar para essa casa.

Passei no quarto de Ane em busca da diaba, mas ela não estava lá. Desci direto a sala de jantar já ouvindo a gritaria das duas.

— Bom dia. — falei assim que entrei na sala de jantar e encontrei as duas malucas na mesa atacando a comida com verdadeira gana.

Perguntei-me naquele momento se elas tinham chegado sequer a dormir depois da noite passada, ou se tinham acabado de chegar da farra, porque definitivamente ainda estavam chapadas.

— Gabriela, bom dia querida. — Jenna me cumprimentou passando por mim. — O café está quentinho. — Me incentivou a me juntar aos outros.

— Bom dia vaca. — Ane me cumprimentou finalmente notando minha presença.

— Bom dia, — Magie falou animada. — Anda se senta aqui, vem comer com a gente.

— Não estou com fome. Vou te esperar lá fora Ane, quero ter uma conversa com você.

— Aconteceu alguma coisa? — ela perguntou apreensiva já se levantando.

— Nada de mais, depois que você terminar de comer nos falamos.

Do lado de fora o dia prometia sol, mas algumas nuvens se formavam rápido mostrando que isso não ia durar por muito tempo. O céu parecia tão confuso quanto minha cabeça nesse momento.

Sim, eu estava determinada a sair e tentar novamente construir uma vida, mas isso não significava que tivesse qualquer certeza do que iria acontecer.

Sentei-me no segundo degrau da escada na frente da mansão tentando aproveitar os pequenos raios de sol que logo sumiriam, enquanto remoía minha atual situação. Onde diabos eu tinha me metido? Estava sem emprego, sem dinheiro e não fazia ideia do que poderia me acontecer caso Monty decidisse vir atrás de nós duas.

De repente ouvi passos atrás de mim e me virei rapidamente apenas para me arrepender de fazê-lo, quando vi que era o senhor cavalo ali.

— Não vai tomar café? — ignorei sua pergunta e continuei apenas olhando para o céu. — Você precisa comer. — Sua voz de comando fazia meu corpo se arrepiar, mas me mantive impassível, como se ele não estivesse ali. — Gabriela? — chamou tentando ter minha atenção, mas não me deu muitas chances de continuar com meu descaso já que desceu os degraus parando a minha frente ocupando toda minha visão.

Não sei quem o tinha mandado, mas com certeza ele estava odiando ter que falar comigo, seu pé batendo impaciente no chão mostrava o quanto o incomodava.

— Nada da minha vida é da sua conta. — Respondi abrupta usando suas palavras da noite anterior.

Por mais engraçado que fosse aquilo, e eu estava adorando ver sua irritação, precisava ir embora logo antes que ele jogasse novamente na minha cara que a casa não era minha.

Quando me levantei decidida a entrar e avisar Ane dos meus planos, para que eu pudesse ir de uma vez ele segurou meu braço me mantendo no lugar.

— Desculpe por ontem. — Oliver começou com a voz firme e no mesmo instante me virei para olhá-lo. Percebi por sua voz e seu rosto que ele não era o tipo de pessoa dada a se desculpar por seus erros.

— Como é? Não ouvi direito. — Provoquei-o sorrindo, querendo tripudiar um pouco mais no homem tão bem apessoado a minha frente, mas que parecia ter uma faca enfiada em seu rabo enquanto se desculpava.

— Não complica. — Resmungou. — Eu sei que fui um grosso descontando meu estresse em você na noite passada, então me desculpe por isso. — Dava para ver que suas palavras eram verdadeiras, apesar da dificuldade em dizê-las ele estava sendo sincero.

— Tudo bem. — Murmurei tentando tirar meu braço de seu aperto.

Mas tudo o que consegui foi que sua mão deslizasse por minha pele, do cotovelo até meu pulso de forma leve e quente, quase como um sopro de vento com o calor de verão me consumindo e me causando um arrepio.

— Agora vamos tomar café. — Sua voz havia voltado ao tom autoritário e ele ainda mantinha sua mão firme contra meu pulso, não parecendo pronto para soltá-lo.

— Eu estou pensando em sair para procurar emprego, quero aproveitar antes que comece a chover. — falei antes que ele me arrastasse para dentro. — Você podia me dizer onde posso pegar um ônibus, ou se souber de algum lugar que estão precisando, alguma indicação de onde poderia começar? — Tagarelei antes que ele começasse a ser grosseiro novamente, eu precisava resolver isso como tinha prometido a Nana.

Se bem que ele não parecia ser o tipo de pessoa que sabia onde procurar um emprego, deveria ir direto a Jenna que entendia o que era a vida real, a vida de uma pessoa da nossa classe. Se eu tivesse sorte ela teria até mesmo uma indicação para trabalhar com limpeza ou na cozinha, eu era boa nisso, tive que me tornar nos últimos anos.

— Merda. — O ouvi sussurrar antes de soltar minha mão e passar a mão nos cabelos de forma impaciente. — Você não deve sair dessa casa, o melhor que faz é continuar aqui e se limitar a passeios como sua amiga, sempre na segurança de algum dos meus homens.

— Do que você está falando? Como assim não devo sair dessa casa? — questionei sentindo meus medos dispararem um alerta dentro de mim. — Que eu saiba viemos apenas para fugir do tiroteio e fiquei para lhe ajudar, mas você deixou bem claro que não precisa de ajuda. Pois bem, eu vou seguir com a minha vida, preciso de um emprego o mais rápido possível para conseguir pagar um lugar para morar.

— Você sabe que aquele desgraçado está por aí querendo sua cabeça em uma bandeja, não é? — soltou tentando ser irônico falando como se eu fosse estupida para não entender uma coisa simples. — Ele não vai desistir tão fácil depois de toda a bagunça que causamos.

— Acha que ele tentaria atacar sua casa? — questionei não querendo acreditar na possibilidade, na verdade Nana tinha me dito que ele não perdoaria fácil, mas até o momento ele estava na cidade, então eu não acreditava que ele viria tão longe atrás de nós.

— Aqui ele não seria estupido, minha casa está bem segura então não conseguiria muito, mas você sozinha na rua ou em um local de fácil acesso para ele e os desgraçados que ele mantém ao seu lado como soldadinhos, seria um prato cheio. — Ele falou realmente conseguindo me assustar dessa vez, eu sabia que Monty era metido com todo tipo de merda ruim, mas nunca tive real medo do infeliz até esse momento. — Basta só pensar, você estará mais segura dentro desses muros do que em qualquer outro lugar.

— E eu devo ficar o resto da vida dentro desses muros pra me manter segura? — me recusava a passar o resto da minha vida com medo, tendo que olhar para os lados a todo instante, assustada com a própria sombra, imaginando o que poderia acontecer.

Já havia passado por isso e me sentia sufocada apenas com o pensamento, uma prisão de medo em sua cabeça era como definhar um pouco a cada dia.

— Isso não vai durar para sempre, é a única coisa que posso lhe prometer. — Ele me olhou de uma maneira tão intensa que ainda não tinha visto, seus olhos estavam sérios, como se estivesse me fazendo um juramento, o qual ele levaria ao pé da letra.

— Eu...

— Confie em mim Gabriela, antes que você perceba tudo terá acabado e você vai estar livre para seguir sua vida. — Oliver se apressou em me cortar, parecia decidido a me fazer acreditar em sua palavra. E eu não soube por que, mas me peguei concordando com ele. — Ótimo, agora vamos tomar café.

Ele estendeu a mão indicando o caminho para que eu fosse à frente e veio atrás logo em seguida até a cozinha. Seus passos e seu perfume eram os únicos sinais do quanto seu corpo se mantinha perto do meu, aquele cheiro marcante de algum perfume caro demais, misturado com um cheiro que parecia ser apenas seu, uma fragrância que ainda não tinham descoberto, algo único que marcava o lugar como: Oliver Miller esteve aqui!

— Está tudo bem? Aconteceu alguma coisa? — Ane perguntou assim que nos viu entrando na sala de jantar juntos.

— Está tudo ótimo, nada que se preocupar. — Murmurei em resposta querendo tranquilizá-la.

Tomamos café com Ane e Magie se animando em passar um dia na cidade, andando nas lojas mais caras e gastando rios de dinheiro. Não sei como elas viviam em completa alienação a quaisquer problemas que estivesse a sua volta, elas simplesmente viviam ligadas no modo curtir a vida ao máximo sem se importar com o amanhã.

Oliver não disse mais nenhuma palavra, comeu em silêncio, olhando vez ou outra para as meninas, mas nada além disso. Quando terminou seu café murmurou só um "com licença" já deixando a mesa.

O tempo todo em que conversamos seu rosto foi o mesmo, duro e sem nem mesmo um fantasma de sorriso. A única chance que tive de vê-lo descontraído e livre de qualquer máscara foi enquanto lhe dava pontos, dava pra ver que ele não era do tipo sorriso fácil como a irmã, parecia mais velho, taciturno, do tipo que faria carinho em um gato enquanto dava ordens de assassinato.

Deus, tinha acabado de descrever Vito Corleone de o poderoso chefão! Mas o que podia fazer se o homem lembrava o próprio, não podia negar que eram figuras marcantes e, como tinha notado no dia em que nos conhecêssemos, ele não hesitava em matar alguém.

Isso era um assunto que eu deveria estar me preocupando, se ele não hesitava em matar pessoas eu deveria me manter longe dele, longe de sua casa, mas desde que tinha sido salva de ser abusada por Monty e até mesmo morta, eu sentia que podia confiar em Oliver, havia algo sobre ele que me fazia baixar as barreiras, deixando que ele chegasse perto como nenhum outro conseguia, não havia alertas soando em meu cérebro quando era ele que estava sendo grosseiro ou se aproximando fisicamente.

Mas estava começando a me perguntar o que diabos ele fazia da vida? Estava na cara que não era nada legal, mas com o que ele trabalhava e por que tantos seguranças em sua casa?

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