Prólogo
A tarde daquela quarta-feira chuvosa vista da janela parecia trazer em cada gota fragmentos de lembranças que Jamie William Bennet, o Duque de Dorffwest tentava esquecer. E era só voltar-se para a cama, enquanto vestia a camisa para que a culpa e o desprezo por si mesmo o acertasse como uma lufada de ar frio despertando-o de um sono tranquilo. Havia jurado que não a veria novamente, e quebrado cada um desses juramentos. Ela havia lhe mostrado o quão traiçoeira e inconstante poderia ser a alma feminina, havia lhe tirado a paz, a dignidade e valores que ele sempre prezou, e mesmo depois de tudo ela ainda o tinha nas mãos.
Serviu-se de uma taça de vinho e aproximou-se da lareira, nem sequer deveria estar ali, sua família precisava de atenção, haviam responsabilidades e deveres que um homem em sua posição não poderia deixar de lado por algumas horas de prazer, se essas horas fossem com aquela mulher, então estaria condenado.
Na maior parte do tempo Jamie se comportava exatamente o homem que todos achavam que de fato era, o homem de temperamento forte que havia rompido com sua adorável noiva para sumir pelo mundo durante anos, voltando para a família anos mais tarde, semanas após a morte prematura do pai. Ainda lamentava por não ter ficado ao lado da mãe e da irmã, quando mais precisavam e a chuva lá fora o lembrava, do dia em que retornou a casa Dorffwest, para não somente assumir o seu lugar, mas para culpar-se por não estar lá em seus últimos momentos.
Afastou essas lembranças, como sempre fazia, não era mais o rapaz que havia deixado a casa dos pais porque não conseguia encarar que havia sido traído. Agora era um homem beirando os trinta anos, e esperava que pudesse aceitar que havia errado, e que de certa forma, em certos aspectos persistia em velhos hábitos, que o faziam sentir que por mais poder, riqueza e influência que tivesse, haviam grilhões difíceis de romper.
― Jamie ― ele ouviu a voz dela, quase um sussurro, enquanto sentia suas mãos macias subindo por suas costas ― querido, volte para a cama, ainda é cedo.
― Eu a acordei? ― ele voltou-se para Kathrine, e como todas as vezes que olhava para ela ainda que odiasse admitir isso, sentiu seu coração acelerar.
― Talvez ― ela sorriu, sonolenta ― ou só não o encontrei ao meu lado ― olhava para ele que vestia o colete, aparentemente com o pensamento distante daquele quarto ― é minha impressão ou milorde está com pressa?
― Perdi a noção do tempo, Kat, tenho que ir ― ele disse vestindo o elegante casaco de veludo preto.
― Vamos nos encontrar ainda? ― ela apressou-se a perguntar, pois ele já alcançava a porta ― Digo, essa semana?
― Provavelmente não ― ele abriu a porta do quarto e então voltou-se mais uma vez para ela, o cabelo loiro escuro, e a pele branca realçada pelos olhos azuis acinzentados, e bochechas rosadas, Kat olhava para Jamie como quem cobrava uma justificativa, mas estava determinado a não lhe dizer uma palavra sobre o que sentia ― pedirei as criadas que a ajudem a se vestir, e tem uma carruagem à sua disposição Sra. Lawson, agora realmente preciso ir.
Ele sumiu pelo corredor antes que Kathrine tivesse a chance de começar a protestar, e atirar-lhe na cara sobre saber sobre um ou outro caso seu, em uma ridícula demonstração de ciúme que ele não suportava. Kathrine havia escolhido Peter, mas seu ego gigantesco a deixava cega e ela não conseguia admitir que Jamie continuava solteiro. O Duque deu um meio sorriso amargo ao deixar o casarão que ficava à poucas horas de distancia da mansão Dorffwest, havia recebido a propriedade como pagamento de uma dívida antiga de seu falecido dono, e não demorou para se tornar o local para onde costumava levar mulheres. Não tinha a mínima intenção de submeter sua mãe ou irmã ao risco de encontrar alguma daquelas damas dentro da casa da família, e receber olhares de reprovação pelo comportamento libertino vindo das duas para ele já era o bastante.
Dentro da carruagem, respirou fundo, olhava a chuva caindo mais forte a medida que o veículo seguia pela estrada. Perguntava-se o que estava fazendo de sua vida mantendo viva a ilusão de que ele e Kathrine ainda tinham qualquer ligação, e se realmente ainda a amava para tanto. E como poderia amar uma mulher que deixava os filhos no meio do dia para encontrar o amante também era um mistério. Não sentia-se melhor sabendo que ela voltaria para eles, e para Peter, e que por mais que ela afirmasse que o amava, não o havia escolhido.