Capítulo Dois - 3
Parte 3...
Só que se acabasse se envolvendo com Natália, depois teria a tia dela e sua família o enchendo se por acaso ela fizesse alguma reclamação ou comentário ruim sobre seu comportamento. Isso era complicado.
Houve um breve silêncio em que os dois ficaram apenas se olhando e se admirando em seus pensamentos.
— Bom - ele quebrou o silêncio — Acho que já podemos começar.
— Por mim tudo bem - se ajeitou na cadeira e pegou os óculos de dentro da bolsa — Pode ver se encontra outra secretária enquanto estou aqui.
— Com pressa, quatro olhos? - provocou.
Ela o olhou séria e depois aos poucos deixou o riso sair. Mexeu na armação colorida.
— Não comece uma batalha, você vai perder a guerra dessa vez. Estou avisando logo - ergueu a mão.
— Veremos - piscou o olho e saiu.
Não tinha ideia do que o fez mexer com ela assim de novo. Talvez o velho hábito tivesse retornado ao ver que agora usava óculos e veio a vontade súbita de brincar provocando-a.
— Sério Júlio - ela disse antes dele fechar a porta e ele colocou a cabeça para fora — Veja se pode achar outra pessoa. Não vou poder ficar mesmo.
— Não estou conseguindo uma boa secretária.
— Já ligou para as agências de emprego?
— Liguei para algumas, mas não gostei de nenhuma das que me enviaram.
— Será que não é você o problema? - cutucou.
— Creio que não - fez uma careta.
— E por que não treinou alguém antes de sua secretária sair? Seria o óbvio.
— Eu sei disso, mas não tive tempo e deixei que Marcela visse isso, mas ela estava com a cabeça nas nuvens.
— Não seja machista - ralhou — Ela com certeza estava mais atolada do que você. Sabe o que é estar grávida e ter um monte de coisas para organizar em casa e no trabalho?
— Lá vem você com defesa feminista.
— Não é feminismo, é a verdade. Vocês homens acham que é fácil ter um ser crescendo dentro da gente dia após dia enquanto a vida continua. Muda tudo sabia?
— Eu imagino - suspirou — Mas não tenho culpa se ela escolheu ficar grávida. Reclame com o marido dela.
— Vou reclamar com você por não ter colocado outra pessoa para treinar enquanto ela ainda estava aqui.
— Sério? - fez careta franzindo o nariz.
— Claro. Não é fácil ser uma mãe que trabalha. E muitas mulheres precisam trabalhar, mas se pudessem ficariam em casa com seus filhos.
— Ei - levantou a mão — Eu não faço as regras.
— Ainda bem - torceu o nariz.
— E você? Se estivesse grávida ficaria em casa?
— Poderia e gostaria - deu de ombros — É muito bom para a criança no começo que os pais possam lhe dar atenção. E tenho minha confeitaria que não é um trabalho pesado, apesar de ser cansativo às vezes, mas ficaria sim em casa por um tempo.
— Não sabia que a quatro olhos queria ser mãe.
— Nunca pensei à sério sobre isso, mas se encontrasse o homem certo, gostaria.
— E quem é o homem certo? - questionou curioso.
— Com certeza não seria você - provocou — Vai trabalhar e me deixa em paz - abanou a mão.
— Você é tão madura - riu balançando a cabeça.
— Tanto quanto você - mexeu na gaveta — Não estou achando lápis, caneta... Que bagunça - balançou a cabeça — Você mexeu aqui? Não acredito que sua secretária fosse assim relaxada.
Ele girou os olhos e foi até ela.
— Aqui - entregou uma chave — Vai encontrar tudo o que precisa no depósito onde Marcela organizava as coisas. Lá tem todo material de escritório.
— Obrigada - sorriu zombando — Chefinho.
— Está adorando isso não é?
— Adorando não - piscou o olho — Mas vai ser bom infernizar você um pouco como fazia comigo.
— Jesus - ergueu os braços — Isso foi há séculos.
— Eu hein - ela tocou o pescoço — Você está me chamando de velha?
— Você era e ainda é uma peste - apontou.
— Ah, antes que eu me esqueça - levantou o dedo — Não sou garçonete, portanto não me peça para te servir nada. Se vire.
— Mas minha secretária sempre fez isso. Ela até comprava meu almoço.
— Comigo não, bebê - negou com o dedo em riste — Posso ser boazinha e te levar um café hoje por ser meu primeiro dia e talvez caso receba algum cliente, por educação, mas nem pense que vou sair por aí atrás de comida para você. É só pedir que eles entregam aqui.
— Já começo a duvidar que esse acordo com Célia foi bom pra mim - soltou o ar.
— Não fui eu quem me ofereci - deu de ombros.
— Tem certeza de que não quer ir embora logo?
— Posso? - ergueu uma sobrancelha.
— Ah, vá - abanou a mão — Está só me enchendo.
— Viu só o que eu passava com você? - riu.
Ele riu lhe dando razão, mas pensou em como iria se virar com ela durante esse tempo. Seria difícil não prestar atenção ao quanto estava bonita e atraente. Uma grande mudança.
E não tinha certeza se seria bom ter essa nova Natália em sua vida de novo.
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No segundo dia, Natália já estava certa de que tinha feito a melhor coisa da vida ao trocar um escritório por sua paixão que era fazer doces. Mil vezes passar o dia enfiada em sua cozinha na confeitaria do que ali, presa entre quatro paredes e atolada de papel.
O lado bom era poder se arrumar mais porque na confeitaria passava o dia de uniforme e com um avental enorme na frente.
Só que ela não iria admitir isso para Júlio. Já tinha dito que não queria estar ali. Porém não poderia negar que até que foi bom fazer algo diferente pra variar, ainda que fosse só papelada e tivesse o lado chato, que era ficar respondendo aos muitos e-mails e atendendo telefone sem parar.
Isso quando Júlio não jogava algo em sua mesa para ela corrigir. Era muito papel. Uma burocracia grande.
Não era um trabalho difícil, era chato. Como só ficaria pouco tempo dava pra levar, mas o pior mesmo era observar Júlio passando por sua mesa. Não tinha reparado como ele ficava bem, arrumado assim.
Quando ele aparecia antes geralmente estava de jeans e camiseta, ainda assim era bonito e ela já tinha notado isso, mas nunca a sério. Até porque ele vivia enchendo a paciência dela que era curta.
Não era nada bom que ficasse reparando como ele ficava sexy usando gravata. Nada bom mesmo.
Estava reparando até em seu perfume. Só podia ser porque estava tempo demais sem namorado. Júlio não era alguém por quem deveria se interessar, não de verdade.
Quando mais nova ela até que ficou de olho nele um tempinho, mas foi tipo uma paixonite de adolescente que está se descobrindo, nada demais e depois isso passou com o tempo. Agora não era hora dessa paixonite retornar.
Só faltava essa!