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Capítulo 3

Acho que é o que acontece a toda a gente. É normal e muito natural ficar excitada ao ponto de sentir palpitações nas têmporas e ouvir a própria respiração. Sobretudo quando nos apercebemos que dentro de momentos vamos ver o homem que tentámos esquecer nos últimos seis meses. Eu não podia amá-lo de verdade, não podia! Porque é que estou a tremer agora? Porque é que o meu estômago está apertado e uma estranha languidez se espalha pelo meu corpo? Esta doce antecipação misturada com uma alegria enlouquecedora faz-me saltar o coração, e eu suspiro. Arfando como um peixe encalhado, e isso faz-me sentir bem e tão mal ao mesmo tempo. É uma experiência tão excruciante, mas é exatamente o que eu queria tanto no meu subconsciente.

Um homem... nem sequer lhe posso chamar homem! Que é 6 anos mais novo, que não sai da sua casa de campo, senta-se no seu portátil e usa uma cadeira de rodas - não pode viver de outra forma... pode ser um bom pai e marido? O Stas nunca teve uma relação séria, e todas as suas palavras, que dizia com um ar sério - isto é apenas uma bravata inventada, portanto, para dar importância... ele só queria atrair-me e confundir-me. Tudo por uma breve aventura. E eu, a tola, apaixonei-me como uma idiota por um jovem.

- Ei, amigo, porque estás tão pálido? Segura bem o teu bebé. - A Margot tirou-me do meu estupor, agarrei a Milana ao meu peito e pestanejei com medo. Já tínhamos descido ao rés do chão quando um medo súbito me paralisou.

- Não posso -” parei abruptamente em frente à porta da entrada. - Nada disto é verdade. Não vou a lado nenhum.

- Estás doido? Como assim, não vais? Estás a ir como uma querida! Não sei o que vai acontecer entre vocês os dois, mas tens de mostrar o bebé.

- Eu não tenho de fazer nada. Ele disse que ela não é dele. - Acho que nem ouvi a minha própria voz. Ele não acreditou em mim e riu-se na minha cara. E agora é suposto eu alinhar com ele? Porquê?

- Porquê? - Margot hesitou: “Tenho de o fazer, é só isso. Não importa o que foi dito. Ele agora é diferente, sabes? E se não vieres, ele virá. É isso que queres?

Engoli nervosamente, imaginando de repente o Stas a entrar no meu corredor numa cadeira de rodas. Nem sequer tenho espaço para me virar e não consigo pensar num encontro mais estúpido! Dirigi-me resolutamente para a saída. - Bem, se ele quer tanto ver a Milana, vai ver. Mas é a única coisa que o vou deixar fazer.

- Bem, isso é bom. - A Margot abriu alegremente a porta e saímos. A Milana abriu os olhos - a luz do sol estava a cegá-la, e eu tapei-lhe cuidadosamente a cara com um cobertor. Vi logo o carro do Stas. O Mercedes preto brilhava ao sol como uma criatura alienígena. No nosso bairro viviam pessoas comuns, com pouca riqueza, e os carros, se os havia, eram nossos, russos, com uma quilometragem impressionante. Depois de acenar distraidamente com a cabeça às avós que estavam no banco, caminhei com as pernas rígidas pelo caminho de asfalto. A Margot parecia estar a falar animadamente sobre qualquer coisa, ocasionalmente interrompida por um ruído que soava a uma desajeitada manigância de palavras desconhecidas. A voz dela, o barulho e o ruído da rua chegavam até mim como que através de uma coluna de água.

A meio da rua, parei hesitantemente, sem saber o que fazer. Vou aproximar-me dele assim? Não seria demasiado gordo, demasiado... Não tive tempo para pensar.

A porta de trás do Mercedes abre-se abruptamente e eu fico paralisada de expetativa. Agora, o condutor devia sair e abrir a bagageira para ir buscar o infeliz carrinho de bebé. Mas isso não aconteceu.

O Stas, como se nada tivesse acontecido, saiu do carro e bateu com a porta. Pareceu-me que o som da batida ecoou por toda a vizinhança. Ele pôs-se de pé, confiante, sobre duas pernas. Sem mais nem menos, enfiou os polegares nos bolsos das calças de ganga pretas e olhou para mim, cambaleando ligeiramente. O seu ar era tão arrogante e predador que me deixou desconfortável. Meu Deus, porque é que ele tinha vindo? E, no entanto, o meu coração palpitava de alegria. Ele já pode andar! Agora já não se vai sentir inferior. Agora é livre e tem a vida toda pela frente... a minha presença só o vai prender com obrigações desnecessárias.

- É essa a surpresa, amigo. - Margot sorriu com convicção: “Pensei que precisavas de ver, não de ouvir. Notícias espantosas, sim, o Stas é mesmo bonito!

- Sim... muito inesperado. - murmurei com dificuldade.

Stas dirigiu-se para mim com um passo leve e elástico, e quanto mais depressa a distância entre nós diminuía, mais medo eu sentia. Os nossos olhos encontraram-se. Os mesmos olhos azuis claros, quase transparentes, pelos quais me tinha apaixonado, mesmo que não imediatamente, olhavam para mim com uma atenção desconhecida. Ele tinha mudado. Mais sério, mais atraente. Eu estava pronta para me afogar nele, mas não podia deixar que isso acontecesse. Uma sensação familiar de inibição agitou-se algures dentro de mim, fazendo-me recordar a nossa última e fria conversa. E agora estávamos a encontrar-nos. Quantas vezes tinha repetido o nosso encontro na minha imaginação, pensando em cada movimento, cada palavra, até ao mais ínfimo pormenor. Na minha cabeça, tudo estava de acordo com o meu guião. E agora... agora nem tudo está a correr como planeado. Quero dizer, até o encontro fora de casa foi tão ridículo.

- Bem, olá, Alice. Continuas a ser a mesma rapariga do País das Maravilhas. Lembras-te da primeira vez que me vieste ver?

- Sim, lembro-me. - Sorri de forma incerta. Gostava mais de ouvir a sua voz agradável e rouca do que de responder a perguntas. - Parabéns pela sua recuperação total. Tu... tu ias sair dessa cadeira de qualquer maneira.

- Está na garagem. Não a posso deitar fora. É um bocado nostálgica. Posso pegar nela? - Stas olhou interrogativamente para Milana. Ela estava a mexer-se nos meus braços, grunhindo baixinho, tentando encontrar uma posição confortável. Eu estava com tanta pressa de sair do apartamento que nem sequer tinha preparado um biberão, e agora Milanka podia dar um verdadeiro espetáculo para todo o recreio.

- Sim, claro, mas tem cuidado. Ela acabou de acordar e ainda não comeu. - Mesmo assim, não resisti ao aviso. Stas pegou cuidadosamente na bebé nos braços, e eu lutei contra a vontade de segurar as costas de Milanka - Stas não sabia como pegar em tais bebés, mas tentou.

- Ela é tão parecida comigo. - Stas olhou para a filha com espanto, e eu mantive-me em silêncio. O que é que eu podia dizer a estas palavras?

- Façam como quiserem, mas acho que vou para casa. Os meus filhos estão à minha espera. - A voz estranha de Margot fez-me estremecer. Tinha-me esquecido dela e acenei com a cabeça.

- Telefono-te amanhã. Stas, adeus!

Ele nem sequer olhou na direção dela.

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