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Teu Para O Que Quiser

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Rebecca Santiago
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Notas

Resumo

[Sequência] Livro 1# Minha Para O Que Eu Quiser Após Jace levar um tiro, Olivia precisa juntar os cacos e seguir em frente. Dinheiro, fama e poder nunca se pareceram tanto com um castigo. Enquanto lida com a dor e a culpa, a jornalista ainda vai enfrentar um poderoso inimigo que ameaça das sombras.

romancebilionário

Bad Vibes

Havia muita coisa para eu me orgulhar na minha vida, recentemente.

Depois de toda a agitação com a descoberta das atividades fraudulentas na Kellan Corp, eu tinha atingido fama e reconhecimento, as duas coisas que sempre desejei.

Enfim, eu era a repórter que sempre tinha sonhado me tornar.

Só que eu estava bem longe de ser feliz de verdade. Agora que todo o barulho ao meu redor havia se tornado menor, eu estava voltando a pensar com clareza. Só que pensar não era nada bom. Pensar era horrível. Pensar me fazia ter pesadelos a noite e acordar gritando, suando e me sentindo um lixo. Um ser humano horrível.

Pensar me fazia querer saber por que eu tinha entrado em um filme de terror por vontade própria. E arrastado comigo as pessoas que realmente importavam.

Por trás da minha mesa, na Prime, eu tinha uma visão singular de Manhattan, com suas luzes se acendendo a medida em que o sol ia se apagando por trás dos prédios na Quinta Avenida.

Em breve, eu estaria partindo para o meu novo apartamento, no meu carro novo, um modelo esportivo vermelho que deveria fazer eu me sentir incrivelmente poderosa. Mas tudo o que eu sentia era o peso esmagador de um bloco de concreto no peito.

Jace estava no hospital, há dois meses. Sempre que eu fechava os olhos, eu via os dele, fechados sob as longas pestanas escuras. Seu belo rosto envolto em uma serenidade que era dolorosamente fúnebre. Era difícil acreditar que aqueles olhos não se abririam nunca mais. Mas os médicos, minha mãe, Ron e até mesmo Emma haviam perdido completamente as esperanças.

Cada dia que passava era um dia contra ele. Um dia a menos. E todos pareciam tristes, mas convictos em dizer que eu precisava esquecer o homem que amava e seguir com a minha vida de uma vez por todas.

Todos eles. Exceto aquela vozinha insistente dentro de mim dizendo que aquilo não era o fim.

Eu recolhi minha bolsa, desliguei o computador e fechei o escritório. Dentro do elevador, enviei uma mensagem a Emma, pedindo que ficasse com Natalie até eu chegar em casa. Ela respondeu com um "ok" simples, que não era muito do seu estilo, embora eu soubesse que as coisas estavam tudo menos simples para qualquer um de nós.

Emma e eu estávamos nos revezando para cuidar de Natalie. Depois do ataque arquitetado por Rosalie, minha mãe ainda não tinha se recuperado totalmente. Ela tentava parecer forte, mas cada vez mais, se parecia com um pedaço de vidro, frágil e fragmentado, lutando para permanecer inteira enquanto o mundo desabava em volta dela.

Eu morria de medo de perdê-la. E morria de medo de perder Jace, também.

O dinheiro e o sucesso haviam, finalmente, seguido seu curso até mim. E nunca, antes, na vida eu tinha me sentindo tão despedaçada.

Nem tão sozinha.

***

- Boa noite, Em. Como ela está?

Emma esfregou os olhos, ao mesmo tempo em que eu afundei ao seu lado no sofá. Eu estava exausta.

Passava das onze horas, mas não tinha nada a ver com sono ou cansaço físico. Era uma exaustão mental que vinha me consumindo há meses.

Antes de passar no apartamento dela, eu havia ido até o meu, tomar um banho e trocar de roupa. Natalie poderia ter facilitado tudo, simplesmente deixando que Emma fosse até nossa casa - ou minha casa, já que minha mãe teimosa se recusava a admitir que, só talvez, tivesse se mudado de vez para o meu apartamento.

Ela passava tempo demais lá, principalmente nas últimas semanas. Andava sempre com medo, tinha crises horríveis de ansiedade e precisava tomar diferentes tipos de remédio, para dormir e controlar o humor. Ficava mais tempo comigo do que na própria casa, que dividia com minha avó, Bertha. O que significava que o restaurante de Natalie andava sendo, precariamente, administrado apenas pela minha avó.

Emma estava de férias no trabalho e, nas últimas semanas, Bertha havia precisado se ausentar, várias vezes, para saldar compromissos de negócio. Por isso, talvez, minha mãe se sentisse mais segura comigo do que em Staten Island.

Ainda assim, nada justificava o horário da minha chegada. Nada, além do fato de que, outra vez, eu havia saído do trabalho mais tarde do que qualquer outra pessoa que conhecia.

- Estou preocupada com você, Olivia - Emma suspirou, os cachos louros e curtos emoldurando seu belo rosto angustiado. - Você estava na Prime até agora? De novo? Do que você está se escondendo, afinal?

- Onde mais eu poderia estar, além de trabalhando? - usei meu tom azedo, torcendo para que ela não pegasse no meu pé por estar ignorando a última pergunta.

- Em algum bar, bebendo e transando com um desconhecido bonitão para o qual você não vai ligar no dia seguinte?

Eu fechei os olhos, saboreando bem a visão, e sorri.

Aquela seria eu, com certeza. Em outros tempos.

- Sinto muito, Em. Vou voltar ao meu velho eu, logo - eu não iria e nós duas sabíamos disso. - Como minha mãe está?

- Ela não teve nenhum pesadelo, se é isso o que você tem medo - o olhar apreensivo de Emma me preocupou. - Mas...

- Mas o que?

- Acho que você deveria se preocupar com o que ela faz quando está acordada. Ou com o que não faz.

- Como assim?

- Ela parece perdida, Oli, sem rumo. Fica olhando para lugar nenhum por horas, sem dizer uma única palavra. Está comendo menos a cada dia, parece viver em uma bolha.

Eu sabia do que Emma estava falando. Aquilo era boa parte da razão para eu ir visitar minha mãe no quarto, muitas vezes, no meio da noite.

Eu tinha medo que Natalie, algum dia, se desintegrasse.

- Ela vai melhorar.

- Você está tentando convencer a mim ou a si mesma? - Emma bufou. - Estou cansada de intermediar essa situação. É horrível assistir as coisas darem errado e não poder fazer nada a respeito.

- Bom... bem vinda ao meu mundo.

- Ah, por favor, não seja uma vaca idiota - ela levantou do sofá, irritada. - E não haja como se eu fosse uma chata resmungando. Eu amo Natalie, tanto quanto você ama.

- E qual a sua sugestão, Emma? Que eu interne minha mãe em uma clínica psiquiátrica? - eu baixei a voz para um sussurro, mesmo aquela sendo uma ideia idiota e impensável, que jamais passaria pela minha cabeça.

Minha melhor amiga me olhou com horror e descrença.

- É claro que não!

- Então o que?

- Por que você não tira algumas semanas de férias, pelo menos? - ela nem hesitou antes de dizer, o que me levou a crer que aquele já era um assunto em pauta na sua mente há algum tempo. - Vocês duas poderiam viajar para algum lugar interessante. Você poderia levá-la a Veneza. Você mesma disse que ela adoraria.

A menção a Veneza fez o meu coração se partir em um milhão de minúsculos fragmentos.

A menção a Veneza me transportou, diretamente, a viagem que eu havia feito com Jace, meses antes. Não foi lá onde tudo começou, mas com certeza, foi ali que os nossos sentimentos se confirmaram. Eu estava loucamente apaixonada pelo homem que deveria mandar para a prisão. Depois disso, descobri que ele era inocente e me tornei sua principal aliada. Mas nesse ínterim, precisamos atravessar muitos obstáculos.

Juntos e separados.

- Eu adoraria - suspirei, forçando um sorriso. - Mas não posso deixar a revista, justo agora, que sou a responsável pelo lugar. E não posso deixar...

- Jace - ela fechou os olhos com força por um momento. - Pelo amor de Deus, Olivia. Você precisa parar com isso de uma vez por todas. Os médicos disseram que ele não vai acordar. Estão falando em desligar os aparelhos.

- Isso nunca.

- Entenda de uma vez - ela suspirou. - Sua mãe está aqui, precisando da sua ajuda, mais do que nunca. E você prefere passar cada segundo do seu tempo livre com um homem condenado. Sabe o quanto isso é prejudicial a você?

- Eu estava lá quando ele levou um tiro, você se lembra? Eu o segurei entre os braços, sangrando e quase sem vida...

Antes que eu pudesse concluir o raciocínio , Emma se aproximou e me puxou para junto dela. Ela me abraçou com força antes mesmo da primeira lágrima cair, e continuou assim, até que as outras vieram, e mesmo quando elas se transformaram em soluços.

Era difícil imaginar um mundo onde Emma Lance não existia. Por mais que fosse chata, mandona e tagarela - e ela era tudo isso -, era também muito mais do que a minha melhor amiga. Era minha irmã, minha alma gêmea a minha confidente. E a única coisa segura a qual me agarrar quando tudo estava desmoronando.

Eu poderia brigar com ela por horas a fio e, ainda assim, nós duas acabaríamos explodindo em gargalhadas sobre alguma lembrança idiota do nosso passado. E , então, a amizade retornaria ao prumo.

- Eu não posso imaginar pelo que você está passando. Eu sinto muito - ela murmurou, a voz aquecendo o meu coração, a cabeça deitada sobre a minha. - Eu gostaria de saber como aplacar um pouquinho do sofrimento que você está sentindo. Eu gostaria de verdade.

- Você tem feito muito por mim. E por Natalie, também.

- Eu sinto que estou perdendo você.

- Você não está me perdendo - eu segurei o seu rosto entre as mãos. - Não está. Eu juro. De verdade, Emma. As coisas vão voltar a ser como eram antes.

"Quando Jace acordar", eu quase acrescentei.

E era a verdade. As coisas, de fato, voltariam a ser iguais, assim que Jace abrisse os olhos e dissesse o meu nome pela primeira vez.

Quando aquilo acontecesse. E não, se.