Resumo
Amaia Leyva é uma dançarina exótica em um luxuoso clube de striptease. Seu corpo impressionante e seu treinamento físico, além de algum conhecimento de dança clássica e contemporânea, eram suas únicas oportunidades de evitar acabar na rua, sem ter o que comer ou alimentar sua filha. Seus estudos em seu país natal não serviram para nada. As palavras ditas a ela pelo homem que fingiu amá-la, mas que foi embora sem olhar para trás, não serviram de nada. Não houve melhora entre o que era sua vida em outro país e o que é agora. Nem mesmo um vislumbre do "sonho americano". Muito menos de "juntos para sempre". Agora, enquanto dança agarrada ao tubo que se tornou seu suporte, ela o faz com raiva e desprezo. Odiando a si mesma todas as noites, quando precisa se entregar aos olhos de todos os homens que querem tocá-la, mesmo que nenhum deles possa. Quando ela fecha os olhos e se imagina longe; quando chora lágrimas de raiva que todos não entendem. Amaia é a melhor no que faz, porque essa é a sua natureza. Todos acham que ela gosta disso, mas ninguém conhece sua verdadeira história de sofrimento. Será que alguém conseguirá enxergar além de sua máscara de perfeição? Será que Amaia conseguirá abandonar a confiança que lhe foi tirada tantas vezes? Às vezes, só precisamos encontrar a razão, decidir crescer. Será que ela conseguirá?
Prefácio
Tudo está escuro. Assim deve ser.
A expectativa criada pela espera, além de não saber quando o show vai começar, cria um estado de nirvana que quem move esse mundo sabe aproveitar.
E é a minha vez.
Com o corpo reluzente de óleos que vão me fazer brilhar, a dose exata de cera para não escorregar no tubo, devo ficar nervosa; mas eu não faço isso. Neste momento anterior, apenas um sentimento me preenche, a raiva. E durante minha apresentação, costumo depositar minha confiança na raiva e na decepção, sentimentos fortes e enérgicos que me levam a aperfeiçoar meus movimentos, a torná-los bruscos e perfeitos ao mesmo tempo.
-Amaia, você sai em cinco, contagem regressiva...
Fecho os olhos e respiro fundo.
-Cinco quatro...
Dou um passo e me aproximo da cortina de veludo preto que separa a sala dos fundos.
-Três dois…
murmúrios. assobios. Música instrumental ao fundo que agita o ambiente.
-Um.
As cortinas se abrem e uma luz avermelhada reflete ao redor do tubo. Poucos notaram minha silhueta por baixo de tudo e costumo aproveitar esse momento para causar impacto. Ando pela passarela e ao passar ouço os sussurros de quem já me viu. Logo todos o fizeram e começa o barulho ensurdecedor, que por alguns segundos impede que se ouça a sensual música de fundo.
Chego ao tubo, minha mão o envolve com um movimento delicado e é aí que o show começa.
Erótico e provocante, meu corpo se contorce, sobe e desce o tubo, ao ritmo de uma melodia hipnotizante. Baixa luminosidade. Silêncio. Muitos olhares. Tudo acima de mim. A música muda e agora tudo vai crescendo; meus movimentos endurecem e começo a sentir aquela raiva que me corrói e que expulso, a cada segundo. Uma raiva que todos veem, mas interpretam mal, com paixão, com devoção. Eu arqueio meu corpo; meu cabelo toca o chão quando fico pendurado de cabeça para baixo apenas segurando meus pés. Figuras sensuais e impróprias; daquelas que mostram um pouco de tudo, daquelas que deixam um gostinho de quero mais.
Tudo perfeitamente detalhado; bem polido. Provocar. Para estimular. Para incitar.
E ele consegue.
É evidente quando, caindo de joelhos com o corpo arqueado para trás, a sala irrompe em aplausos estrondosos.