Sob a Pele do Medo

Minha irmã cometeu suicídio mais uma vez.

O mundo não foi gentil com ela, nem quando ela estava deitada na cama da sala de cirurgia. As suas fotos vulgares e pornográficas preencheram o fórum da escola. Os comentários dessas fotos também eram extremamente feios.

[Olha a cara dela... Deve ter dormido com várias pessoas!]

[Quanto será que ela cobra por uma noite?]

[Ouvi dizer que ela cometeu suicídio porque foi estuprada pelo seu padrinho.]

[Ela morreu mesmo? Se não, pode continuar transando com eles, né...]

A primeira coisa que meus pais fizeram foi ligar para a polícia. Mas mesmo na frente da polícia, a agressora continuava ignorante e arrogante.

— Essa foto foi tirada pela própria Manuela. O que tem a ver comigo se ela foi tão trouxa e postou a foto pela Internet?

— Meu, a sua filha é tão nova ainda e já faz coisas tão sem vergonhas... Você vai difamar a minha filha por ser a culpada de tudo isso agora?

Fiquei na sala de vigilância, observando essas duas mulheres. Elas estavam fazendo de tudo para se livrarem desse acontecimento...

E minha irmã está naquela cama gelada de cirurgia neste exato momento, sendo que estava acariciando meu cabelo e me disse para ser corajosa e enfrentar a vida até o fim ainda ontem...

Luciana, a garota que intimidou minha irmã e a forçou a tirar aquelas fotos obscenas, sorriu com desprezo nesse momento.

— Não tenho o que fazer também. Mas será que vocês teriam que me compensar por alguns danos mentais, por poluírem a minha vida escolar com uma filha dessas? — disse ela.

Após isso, a mãe de Luciana olhou para meus pais de cima a baixo.

— Não vamos pegar o dinheiro deles, Luciana. Pode ser que todo o dinheiro da casa dela tenha vindo da prostituição dela... — O tom da mãe de Luciana ficou ainda mais frio e irônico.

Minha mãe não chorou e nem fez nada, apenas sorriu levemente. O mesmo com o meu pai, não dava para perceber nada com a sua expressão. Mas eu sabia que isso era um sinal de que ambos estavam furiosos.

Como as fotos foram, de fato, enviadas pela conta da minha irmã, não temos evidências para provar que o bullying realmente aconteceu e os agressores ainda são menores de idade... Então, esse acontecimento acabou sem resolução alguma.

A minha irmã nem sequer conseguiu uma “desculpa”.

Assim, o único consolo que obtivemos foi que os médicos trouxeram a minha irmã de volta.

Mas a irmã se trancou no quarto assim que voltamos para casa.

— Vou à escola por ela, a partir de amanhã — olhei para meus pais e disse.

Meus pais não disseram nada, apenas olharam para mim e assentiram levemente. Eu sabia que essa era a decisão que eles desejavam.

Com isso, levantei a cabeça e olhei para o espelho. Um rosto igualzinho ao da minha irmã entrou pelos meus olhos, um sorriso subiu lentamente nele.