08- Obsessão
Alicia narrando
Acabamos saindo daquela discoteca em formato de cabana com dores nos pés e até um pouco tontos. Eu disse ao cara mal-humorado que ainda não queria ir embora, então olhei para as margens do lago para admirar mais de perto suas águas.
–Por que você me trouxe aqui?
Eu perguntei a ele, observando-o segurar sua jaqueta com uma mão enquanto ele olhava fixamente para a ponte.
A verdade é que achei muito estranho termos saído daquele restaurante de máxima calma e elegância, para um local como a cabana, movimentado, extravagante e barulhento.
–Não sei, senti que aquele não era o ambiente que você precisava. Você me disse que eu te obriguei a comparecer ao jantar com uma certa cara que não gostei, e pensei que poderia animar as coisas dançando com você ou fazendo algo divertido com você.
Enquanto dançávamos aquela peça romântica não me senti completamente satisfeito e lembrei que talvez meus gostos não sejam iguais aos seus. Você é jovem, então imaginei que a discoteca nos fundos iria te animar muito mais e eu não me sentiria tão culpada pelo meu...
Não deixei ele terminar.
–Eu estava gostando desde o momento que você me deu esse vestido.
Minha língua ganhou vida. Eu não pensei nessas coisas antes de dizer isso, mas elas eram verdade. Não queria alimentar seu ego, mas acho que desta vez não foi uma questão de egocentrismo ou orgulho. Eu vi que ele estava realmente querendo me chamar a atenção e ele conseguiu, porque não parou de me atacar com o olhar no dia da reunião.
Seus olhos se arregalaram ligeiramente.
–Agradeço pelo presente. Não posso negar que adorei o vestido. Especialmente lendo sua nota, sorri inconscientemente.
Eu ouvi como ele soltou um suspiro, penso com leveza.
–Eu escolhi para você, saí exclusivamente para escolher aquele vestido para ver você usar. Ficou lindo em você, você é linda, ele falou comigo com muita cautela, gostei de ver como ele não gostava das palavras, me apaixonei pelo seu léxico e pela sua maldição Alicia, pelo amor de Deus!
–Obrigado, Lombardo.
Olhei para baixo e não era minha praia fazer isso, mas..
ele era o culpado. Não entendo onde você quer chegar com tudo isso, estava prestes interromper mas levantei a mão em sinal de que ele me deixaria continuar.
–Você até me disse que serei sua esposa, que serei sua e... não consigo assimilar totalmente o que está acontecendo. Não sei se isso é uma ameaça, um jogo, uma obsessão ou apenas um capricho de mafioso. Me sento um tanto confuso. Vejamos, eu não vejo isso todos os dias, não posso fingir que é um passeio normal, um homem normal. Até minhas palavras foram deslocadas.
Seu olhar correspondeu a mim em todos os momentos.
–Eu também não sei o que aconteceu comigo.
Ele fez uma pausa.Não sei se isso me causou medo ou satisfação.
–Quando descobri que você havia colocado em apuros a imagem da minha empresa, pensei que a autora do artigo fosse uma senhora idosa, alguém com certo desdém por mim ou em busca de dinheiro. Mas então, você veio para a sala de reuniões tão controlada, com uma confiança invejável a ponto de me deixar com cara de idiota na frente dos meus funcionários. Linda, com personalidade. Sua voz nunca vacilou na minha frente, você não escondeu nada do que queria dizer e, merda, você me desafiou na cara na frente da minha própria equipe. E você tinha razão, todo o dinheiro da empresa não é justificável, é uma lavagem que eu tenho em determinada parte, que me chamou muito mais a atenção do que a seu papel. O único capaz de duvidar e comentar é você.
Eu fiquei completamente fascinada por seus olhos azuis. Ele fez uma pausa novamente.
–Meu assistente me disse para matar você, mas eu não queria. Você não, senti vontade de ter você, de fazer você ver quem eu sou, de fazer você conhecer meu poder e do que sou capaz, mas sem te machucar, o que me surpreende. Ele acabou desviando o olhar do meu.
–Se eu não fosse aquele escritora, mas sim outra pessoa, não sei... uma mulher normal e comum, você a teria matado? perguntei-lhe.
–Sim, isso é o que eu teria feito. Mas duvido muito que se fosse outra pessoa seria desafiado como você. Tenho certeza de que com uma quantia em dinheiro tudo teria se resolvido, ou isso nunca teria realmente começado. Ninguém jamais ousou falar mal da minha empresa. Só você, eles conhecem tanto o seu potencial em publicidade que por isso entregaram o caso para você. Outra pessoa teria rejeitado e é isso que me deixa obcecado. Ah, bem, eu não chamaria isso de obsessão – ele se expressou com certa frustração.
Não posso negar que adoro que um homem como ele goste de mim, mas... ele é um mafioso.
–Sim, é uma obsessão. Neste caso, terei que parar de desafiá-lo para que você possa me libertar. Um meio sorriso se formou em seu rosto. Ele era o bandido mais bonito de todas as Bahamas.
–Eu só gostaria mais de você. Você não gosta nem um pouco de mim? Ele deu um passo em minha direção. Tive que morder os lábios para não sorrir.
–Você é muito lindo, bastante. Você sabe disso porque tira vantagem disso, mas você é um mafioso. Não vou negar que você tem muitas qualidades enlouquecedoras, por exemplo, seu gênio, seu jeito de falar, seu jeito de observar e claro, sua idade. Eu imagino que estou com um sugar daddy.
Uma risada da parte de nós dois escapou. Nossas risadas em uníssono soaram perfeitas.
Nunca tinha ouvido ele rir, sempre com aquela cara séria e dura.
–Eu me aposentei da máfia após a morte do meu pai há um ano. O contrato terminou ontem. Meu último crime foi sequestrar você, mas isso é apenas um segredo que você e eu sabemos. Ele me confessou.
Eu separei meus lábios.
–Então você gosta de mim?
Eu era egocêntrica, ele se aproximou de mim, encurtando a curta distância que nos impedia de nos tocarmos. Ele juntou sua testa à minha e colocou a mão livre em meu pescoço. Senti minha alma tremer.
–Não está claro? Tenho você livre sabendo quem sou e o que minha empresa faz. Comprei o lugar onde você trabalhava só para ficar perto de você, te convidei para jantar porque quero te conhecer. Eu não faço essas coisas com nenhuma mulher. E isso também me irrita. Eu nunca convidei ninguém para jantar nem sair para comprar um vestido para ela. Já me limitei em muitas coisas por causa da vida que levo, mas com você me arrisquei em quê, três dias? Seus lábios tocaram os meus quando ele falou e fiquei desesperada.
–Gostei muito de cada cena desta noite, valorizo seu esforço, valorizo a ideia de que você se importava comigo, por me fazer sentir confortável, por encontrar um caminho querendo ou não conquistar. Minha parte favorita foi quando você me carregou e, claro, sabendo que a velhice ainda permite que você dance.
Nossas risadas voltaram a ser uma só.
Eu estava começando a adorar ouvi-lo rir.
–Sou apenas dez anos mais velho que você, não exagere.
Ele colocou uma mecha do meu cabelo atrás da minha orelha.
–Se sim, quero continuar dançando, quero ver se você realmente aguenta – desafiei-o.
Ele negou categoricamente.
–Eu não quero dançar, mas quero beijar você.
Ouvi-lo dizer essas palavras para mim me deixou louca. Eu tinha três doses de vodca na cabeça, não estava bêbada, mas estava com calor. A proximidade de seu corpo próximo ao meu durante toda a noite me deixou desidratada.
Você tem um namorado, Alicia.
–Beije-me.
Não sei o que diabos havia de errado comigo, mas senti urgência.
Pela primeira vez ele se atreveu a sorrir amplamente.
me mostrando seus dentes brancos perfeitos. Ele tinha dentes pequenos e um sorriso invejável.
–Finalmente, algo que você me dá o passe.
Eu ri do comentário dele.
Você já sabe né? Na união de nossos lábios, envolvi seu pescoço com meus braços enquanto ele colocava as mãos em meus cabelos e se divertia segurando-os.