Capítulo 2
Voltei para o meu sombrio e minúsculo apartamento.
Reparei que havia várias chamadas não atendidas e mensagens por ler no meu celular.
Duas eram do representante da minha turma do ensino médio e uma era de Luana Valente.
Luana é minha prima, e também prima do meu irmão, Salem Valente, mas ela sempre chama ele carinhosamente de irmão e a mim apenas de prima.
Quem está de fora facilmente pensaria que os dois são filhos da mesma mãe.
Eu forcei um sorriso com o canto da boca e continuei olhando o meu celular.
Acabei descobrindo que todas as chamadas eram sobre a mesma coisa, uma reunião de antigos alunos.
De repente, senti o meu estômago se revirar, e antes mesmo que eu pudesse responder, tive que correr para o banheiro e vomitar.
Eu não tinha comido nada o dia todo, então não havia o que vomitar. Mas mesmo assim, não consegui segurar a sensação de náusea dentro de mim.
Só depois de vomitar sangue foi que me deixei cair, colapsei, completamente exausta, ao lado do vaso sanitário.
O verão ardende depois do ensino médio se tornou um pesadelo que eu nunca mais quis reviver.
Meu corpo começou a manifestar sintomas físicos. Sempre que eu tenho qualquer vaga lembrança do ensino médio o meu corpo automaticamente me faz vomitar e tremer.
Demorou um tempo até que eu me acalmasse.
Voltei para o sofá e, instintivamente, peguei o celular para recusar o convite.
Mas ao passar os olhos no laudo médico em cima da mesa, hesitei.
Quando fiz dezoito anos, meu irmão me expulsou de casa. Vê-lo uma última vez parecia um luxo.
Meu irmão amava tanto Luana que, com certeza, iria acompanhá-la à reunião.
Ele não me deixava voltar para casa, essa seria a minha única oportunidade de vê-lo.
Ganhei coragem e, reprimi todo o desconforto dentro do meu coração, pedi ao representante da turma o horário e o local da reunião.
Coloquei o meu laudo médico em um envelope, e deixei pronto para entregar ao meu irmão e deixá-lo feliz.