2. A ressurreição das trevas
O sol já estava se pondo no horizonte, as cores laranja, rosa e amarelo se misturavam ao azul de começar da noite fazendo um belo retrato de paisagem. Depois de muito chorar a mãe de Raquel pegara no sono entre soluços, envolvida pelo calor dos braços do marido que também adormecera na tristeza.
No cemitério uma esplendorosa lua cheia pairou direto sobre o rosto pálido e sujo de terra de Raquel a sete palmos abaixo da terra, mas abriu os olhos num rompante de vida.
Vida?
Deus, onde estou?-perguntou-se confusa enquanto suas mãos tateavam o interior do caixão. Então, de repente o desespero gritou dentro dela ao se ver na escuridão já que os flashes do luar sumiram, e esta começou a socar o caixão e gritar por socorro.
Raquel não havia se dado de conta que a sua força havia aumentado a tal ponto de quebrar a madeira do caixão, e só o percebera quando seu rosto e corpo começaram a cobrir-se de terra e galhos em profusando, mas cega pela sua vontade de libertade, nada a adeteve.
–Tenho que sair daqui-soluçava ao sentir a pele de seus dedos se ralarem e o sangue escorrer, mas isso não a impedira de prosseguir com a destruição do caixão enquanto seu corpo começava a queimar novamente de dentro ára fora, enlouquecendo-a de dor.
Uma pessoa movida pelo medo não recua e sim avança. E foi justamente isso que Raquel fez quando começou a escalar a terra como um gato a escalar uma parede, que lhe rodeava mesmo tendo o corpo ferido pelos galhos e pedrinhas e só parou quando sentiu uma leve brisa chegar em seu rosto coberto de terra e ,mesmo com os cortes a arderem pela terra e sangue ela sorriu.
Finalmente chegara á superfície e quando abriu os olhos já com metade do corpo para fora da cova a primeira coisa que viu fora a lua que parecia lhe sorrir- então murmurou–obrigado- e largou-se ali e a comtemplou.
Algum tempo se passou, quanto não se sabe mas um bom pedaço da noite já havia se passado com Raquel ali somente a sentir a brisa morna da noite lhe tocando o rosto, um alívio, se bem que seu rosto ao seu próprio toque para tirar a terra do rosto lhe era frio. Eis que esta se levantou e decidiu que era hora de rever os pais, e caminhou pelo cemitério entre lápides e mausoléus até os portões de saída.
Dos males o pior, se é que pode se colocar a situação assim já que ninguém sabia como, de fato, Raquel morrera. Imagina revê-la no estado em que se encontrava?
A lua parecia seguir os passos de Raquel como uma acompanhante que, de repente, enquanto cruzava em frente a um mausoléu destruído pelo tempo e pela falta de cuidados dos familoiares e/ou dos cuidadores do próprio cobeiro ouviu nitidamente o bater de um coração e arranhar de unhas em algo sólido vindo lá de dentro. Claro, seu primeiro pensamento fora o de sair depressa dali, mas então surgira outro em sua mente: será que enterrara mais alguém vivo?
Lentamente se dirigira até o mausoléu, suas mãos tremeram mais não hesitaram ao irem até a maçaneta da porta que com ruídos e pó a sair do chão abriu-se. De longe espiou lá para dentro, era escuro e fétido mais nada ouvira, e não ficou ali para ouvir.
–Que estranho-murmurou já se virando para ir embora, mas o bater de asas surgira as suas costas e quando virou-se viu-se atacada por um morcego que cravou suas presas com raiva em seu pescoço.
O grito de Raquel reverberou pelo cemitério enquanto tentava arrancar aquele bicho de seu pescoço, parecia que haviam enfiado varias agulhas em sua veia, então ,enfim pegou aquela coisa pelas asas e a arremessou para longe de si. Sorte sua que o morcego fora embora. Suspirara aliviada ao levar a mão ate seu pescoço onde sentiu algo pegajoso e quente a escorrer por entre seus dedos, e quando os ergue á frente de seus olhos viu que era sangue. O seu sangue.
Gritou de dor e de medo ao sair correndo sem rumo pelo cemitério sem nem perceber que do nada uma forte chuva começara a cair.
Lágrimas rolavam por seu rosto, sangue rolava por seu pescoço e a chuva lavava sua raiva que tamanha era que com apenas um empurrão Raquel arremessara os portões do cemitério para longe e seguiu correndo.
O tempo e o espaço começaram a girar em torno de Raquel que nada mais sentia, e só fora sentir algo quando dera de cara em uma casa de esquina.
O baque fora violento e a mandou ao chão desacordada. Só que Raquel não contava que o morcego havia lhe seguido e agora com ela desmaiada apossou-se de seu pescoço mais uma vez.
O que vai acontecer? Vou te contar e te apresentar o que ninguém sabia existir. Ainda.
O sol já estava nascendo e Raquel só acordou porque sentiu o forte cheiro de pele queimando e resfolegou quando percebera ser a sua pele que estourava em bolhas porulhentas, e tratou de se arrastar até a sombra da lateral da casa , pois parecia que algo havia lhe sugado as energias. Sua cabeça latejava fortemente e seu pescoço parecia chiar ,mas os sentimentos que sentia por dentro eram bem piores á ponto de fazê-la chorar. Então uma leve garoa desceu do céu.
Minutos depois de ter se acalmado, Raquel pôs-se de pé, retirou os resquícios de lágrimas das bochechas com as mãos e levou, lentamente, o pé ao sol, como se algo lhe avisasse para ter cautela e ,logo comprovou ,pois ao botar o pé no sol esse queimou e estourou em bolhas. Gritou não só de dor mas de raiva, ai percebeu que o pe na sombra se curava e voltava ao estado normal.
Ela fez o teste mais duas vezes e percebeu que não conseguira sair dali a não ser pelas sombras das casas.
Raiva era o que Raquel sentia e quanto mais esta se avolumava em seu peito, mas forte a chuva se tornava á ponto de trazer consigo um vento violento que varria as ruas da cidade sem piedade. Isto que Raquel nem desconfiava que eram os seus sentimentos que causavam essas bruscas variações no tempo.
O dia se passou e Raquel acabou por adormecer recostada aos tijolos da casa, e quando o fez a chuva no mesmo instante cessou. E esta só acordara no entardecer quando uma névoa densa cobria a cidade, tão densa que não se enxergava um palmo adiante do próprio nariz, com exceção de Raquel que seguia pelas ruas enxergando normalmente.