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6. Alianças de Guerra

Alguém está á espreita, Maya que acabara de sair de uma butique muito chique num dos bairros nobres de Lacrimal city. Provavelmente há vendedoras e donas de lojas que preferem o dinheiro de uma vampira do que suas presas em seus pescoços. E por cima, a mãe de Maya é cliente vip da butique, e agora seus cartões de crédito passaram a filha. Maya sentiu olhos a cercando, mas quando tentou decifrar o cheiro no ar, isso só piorou, pois o cheiro era lobo/vampiro.

Que estranho –pensou ao arquear a sobrancelha e percorreu com o seu olhar de vampira os arredores e fora atrás de uma árvore de enfeite gesso com folhas de cristal colorido que localizara um corpo- de homem- a julgar pela silhueta.

-Te peguei – murmurou ao dirigir-se pé por pé, mas para sua surpresa, o vulto saiu do esconderijo e a encarou- até que ele é bem gostoso- pensou Maya avaliando o desconhecido desde os pés com sapa-tênis de couro preto, calças jeans surradas e camiseta asul escuro bem justa nos músculos do peitoral, os gomos da barriga tanquinho – o que fez Maya sorrir – e, é claro, os bíceps bem torneados. Subindo um pouco mais, o queixo quadrado com barba nascendo, os lábios cheios, as bochechas salientes, o nariz desafiador, mas ao chegar nos olhos – o que não a agradou fora o tapa olho, mas o belho olho azul claro fora o contraste belo com os cabelos negros e úmidos.

-E então, já encontrou o que procurou em mim?

-Não encontrar algo em você é que é difícil -pensou o desconhecido, pois enquanto ela o avaliava, ele também o fazia. Calça preta justa e desfiada desde o alto do pé até o alto das coxas, ankle boot vermelho e uma blusa sem alças naqueles seios generosos que o deixou babando. Sua barriga estava um pouquinho avolumada, mas isso passou batido quando ele chegou naqueles lábios vermelhos, um nariz teimoso e o olhar negro bem desafiador junto ao cabelo loiro platinado com mechas negras.

-E então, gostou do que avaliou?

Lucian riu.

Maya arqueou as sobrancelhas e escondeu um risinho ao morder os lábios.

-Por que você estava me espionando?

-Eu preciso da sua ajuda.

-Me dê um motivo pra te ajudar.

-Posso te dar vários, mas no momento o nome Augusto te sugere algo?

Maya trincou os dentes á menção deste nome.

-Vingança.

-Então eu te proponho uma aliança.

-Vamos falar mais de perto – convidou com um gesto sugestivo nos dedos.

Algum tempo depois os dois encontravam-se na antiga casa de Maya, sentados á mesa da cozinha onde Lucian relatou o último ocorrido entre ele, o irmão Lucas e o seu bando- foram todos mortos pelos tais exterminadores.

-Foram eles que fizeram isso com você?-perguntou referindo- se ao tapa- olho ao qual ele já dissera ser para cobrir o buraco enrugado onde um olho um dia existira, só não dissera quem o fizera...até agora.

-Não-disse- foi o desgraçado do Augusto quem fez- Lucian retirara o tapa- olho, e Maya arregalou os olhos junto com uma careta ao ver-isso!

-Eu suponho que foi por causa da vadia- palpitou.

-Soraia? Sim, eu a ataquei e ele me arrancou o olho.

-Augusto não poupa ninguém que encoste na preciosa dele- desdenhou com certo ciúme, pois bem que queria um homem que fizesse isso por ela.

-Você não gosta muito dela, não é mesmo? - perguntou ao dar um gole no copo de água á sua frente -a única coisa que ainda tinha na casa. Adoro- debochou- tanto quanto você adora o Augusto.

-Vamos deixar estes desgraçados de lado e ir direto ao que interessa -Maya meneou a cabeça- eu quero sua ajuda para salvar meu irmão das mãos dos exterminadores, e depois quero acabar com o Augusto e sua laia.

-Tenho uma condição - impôs Maya; ele assentiueu mesmo quero acabar com a Soraia.

-Feito- concordou ao estender a mão para Maya que fez o mesmo – feito- e apertaram as mãos.

Desde que chegaram, Soraia tendo a condição de vampiro e por costume- dormiu apenas alguns minutos e já se sentiu revigorada. Já sua mãe, por ter conseguido‘matar’ o vampiro nela, tomou um banho, deitou e caiu no sono no lado da cama onde Adam deitava, onde agora Soraia deu-lhe um beijo na testa e saiu.

Já na biblioteca – lugar preferido do pai- Soraia tinha em mãos um porta- retratos de vidro em formato de coração onde seu pai, lindo de terno preto e camisa branco impecável, sorria com sua mãe, de mãos dadas em um belo vestido vinho de frente única.

-Ai, pai, que falta o senhor faz.

-Não só pra você, minha filha –Soraia teve um sobressalto ao ouvir sua mãe do seu lado, estava tão perdida nas lembranças com o pai e pensou que a mãe estava dormindo.

-Mãe, eu... - Soraia nem terminou a frase, não só por não conseguir achar as palavras certas, mas também pelas lágrimas que a sufocava e abraçada a mãe choravam juntos.

-Oh, minha filha, seu pai deixou um buraco imenso nessa casa, e até agora não sei como cobrilo.

-Talvez não tenha como mãe.Talvez o único jeito seja transformar a saudade em lembrança. Depois que as lágrimas secaram, ambas se sentaram á escrivaninha de frente uma para a outra, tocando nas coisas que Adam mais gostava, embora o coração sofresse.

-Papai adorava essa caneta- comentou Soraia olhando a caneta de ouro branco com partículas de esmeraldas.

-Sabia que quando nos casamos, ele já tinha essa caneta – lembrou Katrina com alguns papéis em mãos- e quando a tinta acabava, ele simplesmente tocava o tubo de tinta. Ambas riram com carinho.

-Adam e suas maniasbrincou.

-Principalmente a de usar somente gravatas brancas- lembrou a filha. Katrina sorriu- sabia que uma das gavetas do guarda-roupas é só para as gravatas brancas, e Deus me livre se tocasse nelas, seu pai virava uma fera.

-Vocês já brigaram por causa das gravatas? - perguntou Soraia ao recolocar a caneta no estojo de veludo azul escuro.

-Eram brigas banais que sempre terminavam com nós dois na cama -Katrina encarou a filha de um jeito diferente- acho que não preciso dizer o resto né?

-Absolutamente.

Entre risadas e lembranças o tempo fora se passando até que o sol cruzou de um dos lados da janela para o corredor.

Soraia que estava em frente a estante, organizando as gavetas, decidiu parar por algum tempo. Abraçou a mãe que estava arrumando as almofadas no sofá dizendo-lhe que ia respirar um pouco no jardim. Pelo caminho, passou pela varanda e pegou a almofada preferida do pai a qual usava para escorar-se a cadeira , de frente para o jardim- era azul escura com um escorpião-seu signo- cujo os olhos e as pinças eram de purpurina azul- e a levou consigo, abraçada ao peito e dirigiu-se ao jardim.

Katrina seguiu para o quarto, olhou para a cama que parecia ainda maior sem seu marido; dirigiu-se para o guarda-roupas e o abriu nas camisas, passou a mão pelas mesmas e pegou uma vermelha- a que Adam usara na cerimônia de posse- e a levou consigo para a cama onde deitou-se com ela sob o rosto e chorou ao sentir o perfume do marido.

Palaços

Botas de salto agulha negras ecoam pela calçada de cerâmica azul escura com pontos brancos-como o céu á noite- elas levam alguém até a porta de um bar, quando entra uma campainha ecoa como uma canção. Mesas redondas e cadeiras estão por todos os lados, menos no extremo do longo balcão de granito sem ornamento algum. As paredes são em tons alegres, mas nuas, a não ser por um relógio de madeira em formato de duas estrelas cruzadas e mostra 17:51 horas.

Os clientes são poucos, mas todos bebem e conversam. Mas a pessoa em questão segue para uma mesa onde uma mulher parece esperá-la.

-Você está atrasada-dissera.

-Eu sei- respondeu e puxou a cadeira com uma mão onde unhas em um tom vermelho claro se destacam e um anel de esmeraldas e brilhantes bem grandes no dedo indicador as ofusca.

-Me perdoe- e finalmente seu rosto feminino surge. Longos cabelos negros com mechas queimadas pelo sol, boca carnuda e roxa pelo batom escuro e hipnotizantes olhos lilás claros.

-É bom revê-la, minha amiga, já se passou tantos anos- disse e foi como se ambas voltassem ao tempo. Todas as batalhas sangrentas- e infindáveiscontra os guardiões, contra lobos, mas por milagrenunca se envolveram em lutas contra vampirosmas até entre si mesmas pelo posto de líder das xamãs dragão. Em especial uma que além de lhe render a vitória, também lhe rendeu a enorme cicatriz circular que tem nas costas.

Palaços            1712

Sul dos Casarões da primeira geração de soldados romanos.

O clã das xamãs dragão havia se formado em menos de três meses. Segundo a lei antiga, dragões e xamãs fizeram um ritual satânico e se uniram, e assim nasceram as xamãs dragão, e agora terão de ser unidas sob uma líder na qual duas mulheres lutam entre si até a morte de uma. Ambas estavam na forma mais pura da xamã dragão - corpo de mulher comum a não ser pela cor verde e escamosa, unhas como garras,olhos de serpente estreitados e os longos cabelos á cintura.

-Ainda dá tempo de desistir Litia aconselhou Velaska frente a frente, olhos nos olhos e em posição de ataque; enquanto a sua volta um círculo de mulheres fechara um espaço e as estimulavam ao combate.

-E quem disse que eu quero-rebateu e lançou uma bola de fogo contra Velaska que contra atacou e lançou-se para uma luta corpo a corpo com movimentos bem planejados junto a bolas de fogo.

A vegetação era rasteira mas já estava toda chamuscada e coberta de cinzas dos galhos que queimavam e caiam na mesma.Dentre as árvores, encontram-se ruínas dos antigos casarões e estátuas que conseguiram resistir ao peso do tempo, e talvez resistissem ao fogo dos dragões.

Uma fumaça negra dançava ao céu bem como as labaredas nas altas árvores. Litia dera várias cambalhotas, e com isso ela escapava das bolas de fogo que iam em todas as direções, inclusive ás outras mulheres que desviavam. De repente a rival sumiu, e quando Velaska deu-se por conta, recebeu uma bola de fogo direto no rosto. Ela gritou, Litia riu junto com aquelas que a apoiava.

Uma fúria latente dominou Velaska que conseguiu apagar o fogo do rosto jogando terras – por sorte, o único lugar do corpo de uma xamã dragão vulnerável ao fogo são suas costas, barriga e peito.

-Ainda dá tempo de desistir-debochou com um risinho de vitória. Só que ela não contava com uma coisa... -Espadas!- vociferou Velaska ao levantar-se do chão, então duas espadas surgiram das mãos de outra xamã, Velaska as pegou e soprou uma bola de fogo em ambas, deixando-as em chamas. Espadas de fogo – murmurou orgulhosa, olhandoas. Então mais duas espadas foram jogadas aos pés de Litia, e antes que ela conseguisse pegalas, Velaska a atacou.

Litia conseguiu amparar as duas espadas com apenas uma das suas, pois o outro braço tateava o chão em busca da outra espada. O nome de ambas era gritado pelas companheiras, principalmente quando uma estava vencendo a outra.

No caso, Velaska tinha vantagem sobre Litia, pois ela forçava as espadas contra a cabeça da oponente que já estava com o braço no chão devido a força do rival. Finalmente, com muito esforço, Litia ergueu-se um pouco do chão, encontrou a outra espada e tentou acertar a lateral do pescoço de Velaska que viu-se obrigada a largar uma das espadas para agarrar o braço da oponente.Então, Litia aproveitou-se, passou uma rasteira em Velaska que caiu de joelhos e com um golpe preciso conseguiu tirar a espada da rival. Litia lançou fogo em suas espadas e aproveitou e lançou outra bola de fogo em Velaska, que bem a tempo, jogou-se de bruços ao chão.

O próximo golpe foi cruel, e para muitos, covarde, pois Litia ateou fogo nas costas de Velaska que gritou, enquanto o cheiro de carne e sangue queimados cerrou o ar. Litia vibrou de êxtase e vitória, mas Velaska não ia lhe dar esse prazer. Afinal ela passou por muitos desafios e guerras para reunir este clã, e não ia deixar uma qualquer lhe tirar o direito de líder. Determinada, levantou-se do chão, olhos estreitos e fixos na rival, e com uma cambalhota atingiu Litia que estava com os olhos arregalados, no queixo e a arremessou de costas ao chão.

A apreensão reinou no círculo das xamãs que estavam afoitas pelo golpe final.

-Lutei por este clã - disse Velaska acima do corpo de Litia imobilizada com as espadas cravadas nas palmas da mão e ao chão e os pés de Velaska em seus joelhos- lutei com você pela liderança- chamas começaram a faiscar por sua boca-e você agora não fara mais parte dele - Litia arregalou os olhos e lançou uma enorme bola de fogo contra Litia que consumiu-se em chamas e gritos. Suas costas ficaram marcadas, mas valeu a pena, pois com elas nunca mais ninguém duvidar de sua luta pelo direito a liderança.

-E então, xamãs dragão, quem as lidera?!

- Velaska!- gritaram e mesmo aquelas que esperavam a vitória de Litia, agora devem respeito e lealdade a ela. -Foram tempos inesquecíveis-murmurou sua acompanhante de mesa- e agora, você voltou para revivê-los.

Velaska sorriu.

-Com certeza, conto apenas com meu clã. Atia- era assim que se chamava a outra- pegou a mão de Velaska e a levou consigo.

Algum tempo depois, entre tantas ruas, prédios, casas e praças, escondido por detrás de uma muralha, elas pararam e desceram da caminhonete e rumaram para um antigo castelo de tijolos coberto por musgos e folhagens que subiram do chão e se espalharam pela estrutura, cobrindo-o quase por completo.

-Como vocês se mantiveram vivas e, principalmente, escondidas de todos? - perguntou a Atia, enquanto caminhavam por um longo corredor iluminado, bem como todo o castelo, apenas pela luz do dia.

-Em resumo de história, saímos á noite e evitamos qualquer contato com os guardiões e com humanos.

-Vocês estiveram se escondendo de vocês mesmas?!

-É difícil manter um rebanho unido sem o pastor – revelou Atia cansada.

-Mas agora eu estou de volta-finalmente elas chegaram em um corredor separado por colunas, e num desses Atia deu passagem para Velaska que não hesitou. Ao entrar deparou-se com o seu clã que já a aguardava.

Um porshe azul metálico vinha por uma estrada ladeada de ambos os lados por parreirais, e mais a frente uma bifurcação uma seguia o mesmo curso a outra era de terra batida- o carro seguiu em frente. Ivan estava ao volante, atento a estrada e ao seu lado Raína estava ao celular .

-Não, não precisa se preocupar, eu só preciso que você os chame para me encontrarem ai- uma pausa se passou- do jeito que as coisas estão, minha irmã, é melhor estarmos todos juntos, antes que seja tarde- aconselhou. Provavelmente a pessoa do outro lado da linha seria Malvina, pois Katrina continuava dormindo segundo Soraia- ela ligara para a sobrinha assim que saiu de casa. Raína riu de algo que Malvina dissera, mas então o estresse e a preocupação ficaram evidentes no rosto de Raína conforme a irmã relata sobre os exterminadores que, por enquanto, por meio de informantes infiltrados aqui e ali, ela era a única da polícia a saber.

-Deixe que com o Augusto eu me entendo, sei que ele vai querer ir atrás de Soraia no mesmo instante, mas espero que ele saiba compreender o momento - Raína passou a mão por entre seus cabelos, levando-os para trás, enquanto a irmã falava - eu estou pretendendo ir ao anoitecer visitar Katrina, então falarei com Soraia, até lá, nosso pequeno exército vai estar á par de tudo- e com isso elas se despediram e desligaram os celulares.

-E então? - perguntou Ivan ao desviar os olhos da estrada para olhar a esposa que respondeu:

-Para minha irmã, missão dada é missão cumprida.

E nesse momento Malvina ouvia a campainha indicar sua presença na casa de Soraia, com Sofia do seu lado- pois seu pai não a deixara ir com ele e Gabriel para o acampamento- e o celular em seu ouvido. Mas para seu azar, no exato momento que Soraia abriu a porta, Amy – para quem ela ligara – atendera o celular.

-Amy, um segundo -enquanto Soraia e Sofia se cumprimentavam - tia, não quer entrar? - convidou Soraia, mas Malvina deu uma explicação rápida sobre Sofia ficar ali e dera de ombros, deixando-as boquiabertas.

-Nossa, minha tia mente mal –reconheceu Soraia ao entrar com Sofia que sorriu e concordou. Afinal, Soraia aprendera a ler a alma das pessoas, embora a tia soubesse camuflar a sua. Mais cedo ou mais tarde, eu descobrirei- pensou Soraia.

Malvina dirigiu-se a sua rang over verde - Amy, preciso que você e Marcus me encontrem no acampamento – ela abriu a porta e o carro ligou - não, não é nada grave – o cinto a envolveu – ok, encontro vocês lá - desligou e partiu rumo ao acampamento.

-O senhor quer mesmo que eu vá ao acampamento? - perguntou Gabriel a Sergio no carro parado numa esquina á espera de Malvina.

Sergio fez uma careta.

-Mas foi você quem pediu pra ir junto.

-Eu sei- admitiu- mas não sou nem lobo e nem vampiro. Sergio dera um sorrisinho.

-Não se preocupe, se as intuições de Malvina e as premonições de Raína estiverem certas, então, em um futuro breve todos que saibam atirar se farão necessários.

-Já não está ruim o suficiente? -desdenhou, então ligou seu belo hummer H2 preto ao ver a rang over de Malvina passar e assim a seguiu.

Amy e Marcus também saiam de casa, deixando á porta Valéria e André lhes acenando, e logo atrás da bela moto vermelha estilizada de Marcus iam os protetores no carro.

Thiago e Leticia permaneceram na praça, nenhum dos dois dissera mais nada, mas permaneceram juntos. Então o cheiro de um lobo invadiu suas narinas, se entreolharam, se viraram e olharam direto para o local de onde o cheiro vinha.

De repente um lobo de pelo marrom avermelhado surgiu e o reconheceram como um dos lobos da matilha de Augusto.

-O que aconteceu? -perguntou Thiago a ele que voltou a forma humana e respondeu:

-Retornem ao acampamento. É importante. Ambos assentiram, o lobo transformou-se novamente e correu por onde viera com os dois vampiros a lhe seguir

. -Mãe, a senhora tem certeza de que não sabe do que se trata essa reunião? - perguntou Augusto pela terceira vez á mãe que deu- lhe um sorriso sem graça.

-Augusto, você acha que estou mentindo?

Augusto ficou sem graça- bom, mentindo talvez não, mas omitindo – Sheila o olhou séria-olha aqui, garoto – cutucou-lhe o peito com a ponta do dedo – quando você pensava em ser lobo, eu já estava casada, seu impertinente – muitos lobos e vampiros baixaram os olhos.

-Isso é pra vocês saberem que eu sou calma até a próxima vírgula- e saiu marchando deixando seu filho boquiaberto, mas por um momento cogitou seguir a mãe até encarar Miranda que lhe olhava com medo e temerosa.

Miranda viu Augusto se aproximando, e a culpa foi sua própria, e tentou escapulir, mas sentiu alguém lhe pegar o braço Era Augusto.

- Podemos conversar?

Ela suspirou e assentiu.

-Eu queria me desculpar pelo modo como falei mais cedo.

-Eu te entendo- apiedou-se ela – mas você também tem que entender Thiago argumentou, e aí o semblante de Augusto mudou.

-E ele, entende que Soraia não é culpada pelo seu destino?

-Ele entende. Lá no fundo ele sabe que Soraia não tem culpa.

-Eu espero, porque não retiro o que disse sobre mata-lo.

Miranda calou-se, principalmente ademais ao ver Thiago chegar ao acampamento acompanhado de Letícia. O ciúme bateu á porta e entrou um pouquinho, matando-a.

-Verônica, eu quero essa menina longe da nossa casa!- esbravejou Vera na sala com a filha que a salvara por pouco de não virar vampira ou quem sabe até morrer, julgando em conta a fúria que sentira em Maya.

-Seja sincera, minha filha, você está ajudando a Maya, não está? - perguntou enquanto passava gentilmente um pano úmido em sua garganta vermelha pelo aperto das mãos de Maya, encarando-a na janela.

-Estou esperando mocinha!

Verônica dera um suspiro. Sim, mãe, eu estou ajudando Maya. Afinal ela é minha amiga e, depois que os pais dela faleceram, ela ficou sozinha.

-Por que, Verônica?! Será que você não vê ou não quer ver que aquela Maya que conhecemos um dia, não existe mais.

-E o que quer que eu faça mãe?!-desesperou-se Verônica- se eu não ajudá-la, ela vai matar nós duas! - e lágrimas rolaram por suas bochechas. Vera meneou a cabeça inconformada e foi ao encontro da filha e se abraçaram.

-A senhora se lembra do que o papai nos dizia -Vera assentiu e ambas falaram - é melhor estar ao lado do inimigo e sobreviver do que ficar em seu caminho e morrer.

-Se papai soubesse o quanto estaria certo hoje em dia – murmurou Verônica triste, pois seu pai morrera quando era uma criança de 08 anos em uma troca de tiros com ladrões normais( hoje em dia ‘normal’ é vampiro ou lobisomem).

VerônicaVera levantou a cabeça da filha e acarinhou seus cabelos-mais cedo ou mais tarde você terá de escolher ficar ao lado de Maya ou contra ela- e dito isso Vera levantou-se e rumou para a cozinha deixando a filha com seus questionamentos.

-Minha mãe continua dormindo-comentou Soraia á Sofia que comia um sanduíche com um copo de suco, após subir ao quarto para perguntar se a mãe não queria algo para comer- acho que chorou tanto que ficou exausta de corpo e alma-conclui ao sentar-se a mesa e dar um gole em sua bebidaa qual Sofia sabia não ser só um suco comum.

- Não precisa ter medo Sofia, é de animal- Sofia desviou os olhos- e ao contrário dos humanos, o animal em questão não vai sofrer uma mutação.

-Me desculpe, eu não quis ser indiscreta - Sofia nem sabia onde enfiar sua cara vermelha de vergonha.

Soraia riu.

-Não precisa ter vergonha, Sofia, pelo menos não comigo. Afinal, todo o vampiro, como eu, se acostuma com olhares de todos os lados e de todos os tipos.

-Imagino que sejam olhares de medo- palpitou Sofia ao dar a última mordida no pedacinho de seu sanduíche que restava, e limpar os lábios com o lenço de papel. De vocês humanos, sim, mas dos nossos e, principalmente, dos lobos é quase sempre de ódio- Soraia largou o copo vazio na mesa - você aprende a ler a vontade de matar nos olhos das pessoas.

-Mas você convive tanto com lobos quanto com vampiros, e namora um lobisomem, como é? perguntou curiosa ao colocar os braços sobre a mesa e pousar o queixo nas mãos juntas e fixar seu olhar verde brilhante em Soraia, que sorriu e matou sua curiosidade.

-Foi um aprendizado desde que me envolvi com Julio Cesar, digamos que o destino me levou a Augusto, e a partir dele eu soube o que teria de enfrentar- os olhos de Sofia brilhavam de fascinação - primeiro, eu tive de enfrentar Julio Cesar para conquistar a lealdade dos vampiros, depois eu tive de enfrentar a minha cidade para conquistar os humanos, e por fim, veio Augusto e as lutas diárias para conquistar o respeito dos lobos.

-Nossa!

Se fascínio tivesse rosto, este seria o de Sofia com certeza.

-E você, Sofia?

Sofia engoliu em seco- eu?- e apontou os dedos para si desconversando. Sofia contou do primeiro ataque de vampiros que presenciou da janela de seu apartamento; depois outro ataque no dia que conheceu Gabriel, pois ele a salvara: depois revelou o que seu pai fez para tentar separa-la de Gabriel – principalmente – o que Malvina fez para ajudá-los –minha tia sempre dando um jeitinho – comentou Soraia.

- Então, depois de Gabriel provar a meu pai que poderia me proteger de todas as formas, e de qualquer um, meu pai consentiu meu namoro – finalizou.

-E onde está seu namorado agora? Seu pai não teme que eu te mate?- brincou Soraia num tom sério, mas sentiu a apreensão e o estremecer de Sofia.

Ela engoliu em seco.

-Corro algum risco?

-Primeiro responda ás minhas perguntas, depois respondo as suas- Soraia estava jogando verde, pois poderia jurar que por Sofia saberia o que sua tia tentou- muito mal- mas tentou esconder. Gabriel fora com meu pai para...o acampamento do seu...é...namorado -esse namorado custou pra sair- e quanto a segunda pergunta, a resposta é não.

-Sério?- desdenhou Soraia, afinal o delegado lhe confiar assim, uau, era raro. Digamos que de alguma maneira, você conquistou o respeito do delegado. Ambas sorriram.

-Minha resposta a sua pergunta também é não.

Sofia suspirou de alívio.

Isca finalmente conseguiu se livrar do shopping, e agora já estava de volta a corporação com sua filha no quarto a admirar as compras- com o dinheiro dele é claro- mas eram para ela. Isca não conseguira tirar Malvina dos seus pensamentos- só ficara sabendo o nome dela porque na saída a menina a chamou para ir a uma loja ao lado do restaurante. Agora encontrava-se sentado á mesa, pés sobre ela e o notebook no colo, pesquisando atentamente tudo o que podia sobre Malvina.

-Muito interessante essa Malvina –murmurou e surgiu suas primeiras pesquisas- Malvina Luisa Di Anne, nascida em Lacrimal city no dia 14 de setembro de 2041, é solteira até o momento – muito lhe interessou-e tem 20 anos de carreira brilhante como investigadora e policial treinada na polícia local. Isca queria saber mais de Malvina, afinal estava bem tentado a conhecê-la física...e intimamente; então digitou arquivo pessoal e o que descobriu o deixou em estado de êxtase.

- Malvina Luisa Di Anne filha de Mariela Luisa Di Anne Leniz e Alfonso Jerry Leniz, tem duas irmãs, Katrina Di Anne e Raína Di Anne- de ambas apareceu a foto atual, nos dias de hoje, a cada passagem de aniversário a internet passa por meio de registros dos satélites a foto se atualiza no computador-ambas casadas, sendo Katrina casada com o prefeito da cidade Adam Gonzalez(já falecido) - assassinado por um vampiro – na tela surgiu a foto do casal – sendo eles pais de Soraia Di Anne Gonzalez – e quando a foto dela surgiu, Isca teve um sobressalto.

-Mas olha só quem é a filha do casal!- e riu com gosto, mas continuou a leitura.

-Raína Di Anne também encontra-se casada com o professor de Muai Tai, Ivan D’Lavinne, ambos sem filhos- o relato continuava, mas Isca preferiu pular para a parte pertencente a Malvina e Soraia. Soraia Di Anne Gonzalez, nascida em Lacrimal city no dia 28 de junho de 2057, brilhante aluna cursou a faculdade de psicologia, mas não a concluíra, pois envolveu-se com o vampiro Julio Cesar, filho de Vlad Tepes III...até continha mais detalhes sobre Julio Cesar na pesquisa, mas pulou a frente- ...e logo depois envolveu-se com um lobisomem Augusto Pallacius Ankara, filho de uma cigana chamada Sheila Isabel Ankara e Magnus Pallacius, e tem como irmão Leonel Pallacius Ankara(não residente), mas já fora acusado de vários crimes em Londres na Inglaterra. Isca riu de modo desdenhoso. -Quem diria que essa cidade iria ser tão interessante-murmurou e continuou com sua leitura excitante, mas passou a parte de Augusto e foi para o que aconteceu com a mãe de Soraia. Katrina, mãe de Soraia, além de perder o marido para a crueldade de Julio Cesar, ele por vingança á Augusto que lhe roubara Soraia, ele sequestrou Katrina e a levou para as longínquas Cavernas do Norte e até o momento não consta mais informações do ocorrido. Isca fechou o notebook e sorriu satisfeito, mas mais satisfeito ficaria quando entrasse para a polícia local.

No acampamento, lobos e vampiros já estão reunidos a espera daqueles que requisitaram a reunião.

Amy e Marcus foram os primeiros a chegarem- mas o que deixou muitos de queixo caído fora o estilizado da moto seguidos pelos protetores, logo depois a Rang Over de Malvina seguida pelo Hummer HZ de Sergio, e por último o Porshe azul de Raína. Com todos reunidos, Malvina tomou a palavra. Todos sabem dos dias difíceis que temos enfrentado, e sinto dizer, os piores ainda estão por vir- todos concordaram- e infelizmente, as notícias que trago só os farão pior-revelou e continuou:

- Mas primeiro eu vou mostrar-lhes algo- Malvina dirigiu-se ao carro, pegou o notebook, abriu-o, digitou algo e o pôs sobre uma cadeira e os vídeos que mostrara de torturas, perseguições e assassinatos que um grupo de homens de negros cometeram com lobos e vampiros mundo á fora. Enquanto os vídeos eram mostrados, Malvina ia dizendo a cidade e o ocorrido.

-Roma, Itália um grupo de lobos que visitava a igreja do Vaticano foram amarrados com chicotes de prata, postos fogos e quando começaram a gritar foram decapitados.

-Washington DC, capital, vampiros foram amarrados nus e expostos ao fogo dos lobisomens, que após foram decapitados também. As cenas eram tão cruéis que muitas mulheres loba ou vampira desistiram de assistir.

-Rio de Janeiro, Brasil uma família de vampiros foram atacados no Cristo Redentor por suas facas de prata, metralhadoras de mira laser, balas de prata paralisantes e granadas de nitrato de prata pura. Muitos lobos tinham os punhos cerrados e muitos vampiros se transformavam sem nem perceber.

-Paris, França lobos que tentavam subir na Torre Eiffel para salvar suas vidas, em plena madrugada foram alvejados e deixados ali para servirem de exemplo. As cenas terríveis continuavam em muitas outras cidades, mas Malvina preferiu fechar o notebook antes que lobos e vampiros perdessem a razão(e ela o notebook).

-Malvina, você não me contou nada disso- ralhou Sergio com as mãos na cintura se sentindo excluído. -Por isso eu convoquei esta reunião para mostrar e falar uma única vez para todos.

-E o que você tem para me contar?- perguntou Augusto. Malvina suspirou.

-Eu descobri por meio de fontes confiáveis que eles estão aqui em Lacrimal city e que denominam Exterminadores- revelou.

- Diga-nos onde eles estão!- rosnou Marcus em fúria latente por causa das cenas que vira, enquanto Amy acariciava seu braço tentando acalmar seu ânimo.

-Por favor, escutem-nos primeiro.Não façam nada no calor da fúria ou acabaram todos mortos- pediu Raína ao tomar a palavra pela irmã, que suspirou de alívio, pois percebera que fora um erro mostrar aqueles vídeos.

-Eu me chamo Raína, sou uma vampira sensitiva, tia da Soraia e...

-Que não fora convidada para a reunião, não é mesmo, tia- retalhou Soraia ao aparecer de surpresa por entre as árvores com uma Sofia muito sorridente ao seu lado. Alguns se espantaram, mas outros não, pois conheciam o gênio forte de Soraia e suas convicções.

-Soraia, como você...- Raína nem conseguia encontrar as palavras.

-Não me tomem por idiota- assegurou- a grande culpada é você, tia Malvina – eu?- sim, por mentir muito mal.

-E sua mãe?- perguntou Sheila ao ir a seu encontro e abraça-la, enquanto Sofia abraçava seu pai que falou algo para ela, com certeza, uma bronca.

-Foi para a casa dos pais da Amy-olhou para a amiga que lhe assentiu ao sorrir.

-Mas, por favor, tia, continue-debochou Soraia abraçada a Augusto que a envolveu em seus braços fortes.

Malvina fez uma careta para a sobrinha, e Raína também, mas prosseguiu:

-Bem, como eu estava dizendo, sou sensitiva e nos últimos tempos, minhas visões não poderiam ter deixado mais claro que Lacrimal city vai entrar em guerra contra os seus.

A apreensão e a tensão que se instalou no acampamento ficou palpável, e deixou claro a todos que esse futuro seria em breve.

-E o que a senhora propõe? -perguntou um dos vampiros- em nome dos demais, eu sei que para a senhora ter vindo até aqui é porque devem querem algo, não?

-Uma aliança.

-E quem serão nossos aliados? -perguntou Augusto com Soraia atenta a ele e a tia.

-Nós- respondeu Sergio por ela ao ir para seu lado e encarar lobos e vampiros.

-A polícia? Isso só pode ser brincadeira. Acho muito difícil isso acontecer- murmurinhos rolavam entre uns e outros.

-Seus homens sabem de sua decisão? - perguntou Soraia com certo tom de escárnio ao qual Sergio chegou a dar um passo á frente para enfrenta-la, mas desistiu ao ver o olhar de aviso de Augusto que parecia lhe dizer – cuidado com o que vai fazer.

- Embora vocês não acreditem, eu já havia cogitado essa possibilidade e, cheguei a comentar com alguns policiais- e qual fora a resposta? interrompeu Ivan e Sergio disse:

- Muitos aceitaram de imediato pelo bem da cidade, outros não souberam me dizer e muitossuspirou- muitos se recusaram, preferem sair da corporação do que lutar ao lado de vampiros e lobos.

-Eu sugiro uma conversa com toda a corporação, delegado, afinal é melhor reunir os aliados e debandar os contrariados- recomendou Ivan encostado ao carro, braços cruzados e postura rígida.

-Tem razão - concordou Sergio. Vampiros e lobos se reuniram em dois grupos, respectivamente para discutir a proposta, mas levaram sua decisão primeiramente ao Alfa e a Rainha, respectivamente de seu grupo, e depois de algum tempo... Os vampiros foram os primeiros a tomarem uma decisão, e um dos vampiros deu a palavra por todos.

-Somos leais a nossa Rainha, se ela assim o quiser, lutaremos junto a vocês- declarou, e então foi a vez dos lobos, e um deles dissera:

-Nós seguimos nosso Alfa, incondicionalmente.

-Sendo assim, a Rainha e o Alfa é quem darão a palavra final – concluiu Sergio olhando para Soraia e Augusto que nem precisaram discutir, pois já tinham a decisão.

-Nós aceitamos a aliança- falaram juntos. Ao longo da tarde, outros assuntos foram discutidos, entre outros o evento do domingo e a presença de todos lá, a conversa com os policiais- e a principal- a liderança dos grupos na ausência do Alfa e/ou Rainha.

Em volta de uma grande mesa redonda posta á sombra de uma árvore, encontravam-se Augusto e Soraia nas extremidades, do lado esquerdo Amy, Marcus, Raína e Ivan e do lado direito Sheila, Malvina e Sergio- e ao redor destes, em pé, vampiros, lobos e Sofia e Gabriel sentados sobre uma rocha.

-Infelizmente, sempre haverá lobos e vampiros rivais, e quando isso acontecer, deixam por nossa conta - falou Augusto com os braços sobre a mesa e as mãos juntas – mas se, por acaso isso, no momento não for possível, eu sugiro que vocês tenham isso – ele depositou sobre a mesa um sabre de ouro com a lâmina trabalhada com nitrato de prata e gelo seco dando uma cor magnífica ao sol. Todos ficaram boquiabertos e de olhos arregalados e se perguntando de onde Augusto havia tirado aquele sabre e o mais curioso, onde ele o escondera.

-Por acaso, você é um samurai? - brincou Marcus rindo embasbacado com a beleza do sabre.

Augusto riu junto dos demais, mas continuou o relato.

-Esse sabre é de ouro puro, foi feito pelos anciões ancestrais dos lobos ciganos na lâmina - Augusto passou a mão pela mesma contemplando-a – foi trabalhada em nitrato de prata misturado a gelo seco. Essa lâmina decapita qualquer lobo, seja ele puro sangue ou não.

-Será que eu...- uma voz surgiu de fora do grupo.

Todos os olhares se voltaram para ela, que ficou vermelha como uma pimenta, mas foi Soraia quem a incentivou.

-Fala, Sofia. Ela ficou muda, se arrependendo de ter se pronunciado.

-O que você quer perguntar Sofia?- perguntou-lhe Malvina com certa curiosidade ao que Sofia poderia querer saber.

-Os cientistas e médicos- iniciou ela ao aproximarse - através de estudos, já descobriram muita coisa sobre os vampiros- Augusto assentiu já que os olhos de Sofia estavam fixos nele – mas quando o assunto são lobos, tudo parece uma incógnita.

- E o que, exatamente, você quer saber?

TUDO- ela pensou, mas o que disse foi.

-Como surgiu o primeiro lobo?

Augusto voltou no tempo, tempo em que o mundo recém começava a caminhar com suas próprias pernas.

Noruega                             Península Escandinava         715 a.C

Tempos de guerras vikings, lendárias em bravura, brutalidade e coragem, mas em outras partes, outros fatos irreais entrariam para a mente do mundo. Uma mulher jovem e grávida corre pela encosta estreitíssima de uma montanha, seus pés resvalando em muitas pedras pelo caminho que caem e rolam pelo paredão até lá embaixo.

A jovem mulher está assustada, sua expressão demonstra isso a cada vez que olha para trás, o medo em seu olhar de que algo a percebe, e isso só a faz correr ainda mais. Mas seu único pensamento de sobrevivência está em seu filho-ela acaricia sua barriga volumosa. De repente, ouve uivos de lobos , e do nada apareceram correndo ás suas costas. Mas acabou se desequilibrando, pois assustou-se com a quantidade de lobos, e acabou despencando entre gritos e lágrimas, em vão, tentou agarrar-se no paredão , mas conseguiu apenas sangue em suas unhas arrancadas. Roupas rasgadas, pernas,braços e rosto cobertos por arranhões, hematomas e sangue.

Os lobos estão uivando, seus olhos vítreos no corpo, famintos e descem pela montanha um a um chegando a garota e a rodeiam como uma matilha.

Semiconsciente, ela entreabriu os olhos e sentiu o hálito quente e fétido dos lobos em seu rosto – ela sentiu, literalmente, a morte lhe rondar e a única coisa que podia fazer era rezar. E o fez. Os lobos rosnaram e a atacaram sem dó, mordendo, rasgando, lambendo os cortes, ela gritava enquanto era devorada e rezava a Deus por seu bebê. Seus gritos foram ouvidos além dos fiordes e nas belas montanhas de gelo nas quais o mar começava a penetrar. De volta ao momento presente,todos encontramse vidrados e tristes pela história que Augusto contava.

-Pobre moça- apiedou-se Raína ao ser abraçada pelo marido.

- Esperei aí, a garota foi devorada, então como ela tornou-se lobisomem?- questionou Sergio bem indignado.

-eu ainda não terminei a história, delegado – rebateu Augusto com os olhos estreitos – ao entardecer do mesmo dia...

O sol já estava sumindo por detrás das montanhas, quando um grupo de moradores – que descobriram que o marido da moça havia sido assassinado, e segundo testemunhas, ela havia fugido-saíram á sua procura pelas montanhas. Infelizmente encontraram pedaços de roupa e do corpo da moça, mas o mais inacreditável - o bebê formado dentro dela havia sofrido apenas alguns arranhões, e com a ajuda dos moradores ele sobreviveria.

-Nossa, se a história do nascimento do primeiro vampiro é incrível, a dos lobisomens é tanto ou mais- declarou Amy sorrindo como uma criança deslumbrada com uma boneca nova.

-Você ainda não chegou na melhor parte, não é mesmo?- perguntou Sofia já sentada á mesa com Gabriel em pé, ás suas costas, bem interessado no desfecho.

-Não, e você ainda vai se impressionar muito maisgarantiu Augusto ao prosseguir...

Anos foram se passando e conforme as geleiras tornavam os fiordes mais belos e profundos, o bebê se tornava garoto, mas todos percebiam que havia algo de errado com ele- adorava comer carne crua, tinha força e músculos incomuns para a idade, qualquer ferimento cicatrizava e sumia na hora, e nas noites de lua cheia seus olhos brilhavam como fogo. Mas fora nos anos seguintes, no seu aniversário de 12 anos que o pior acontecera.

727a.C

O garoto agora com 12 anos saiu com os amigos para escalar as montanhas, mas nenhum dos garotos esperavam ver o que estava para acontecer. Seus amigos iam á frente, conversando e rindo, e quando ele ia compartilhar as risadas, uma ânsia horrível abateu-se sob seu estômago fazendo-o cair de joelhos ao chão. Inexplicavelmente ele começou a engasgar, e então, vomitou sangue e quando viu seu reflexo na poça de sangue via que seus olhos brilhavam como duas bolas de fogo e seus dentes se tornaram lanças afiadas. Os garotos se aproximavam, chamando-o e perguntando o que ele estava sentindo, mas então o estalar de ossos se espalhou pelo ar, e conforme iam se esticando pelos iam nascendo, e seus olhos engasgos pela dor se tornavam rosnados.

Os garotos começaram a recuar e o rosto do menino transformou-se por completo, semelhante a uma cabeça de lobo, bem como todo o seu corpo só que em tamanho desproporcional. Os garotos começaram a correr, e para espanto deles- o lobo gigante- ergueu-se em suas patas traseiras e os perseguiu ensandecido na fúria animal.

O lobo pegou o primeiro menino que gritava e corria desesperado e o estripou – literalmente – depois vieram os demais massacres, transformando a floresta em cenas de terror pintadas a sangue, pedaços de corpos e lágrimas.

O lobo farejou os rastros de morte que causara e chegou ao último menino, ele estava no chão á frente do lobo que conforme se aproximava, o menino se arrastava a uma árvore, apavorado. O menino começou a implorar e rezar por sua vida, e lembrando ao lobo, por um fio de esperança, o momento em que lhe ofereceu amizade, comida e o chamou a sua casa para brincarem. De alguma forma, as lembranças chegaram a mente humana do lobo que deu um longo uivo e começou a menear a cabeçorra nervosamente enquanto recuava até sumir nas árvores.

O menino, chorando de medo e raiva, conseguiu chegar a casa de seus pais e contar-lhes tudo. Logo depois, homens corajosos partiam para as montanhas, armados com instrumentos de trabalho e vasculharam tudo, mas nada encontraram, nenhum sinal, sequer, do lobo ou do que quer que fosse a descrição do menino, e terminaram por voltar as suas casas. O menino lobo- assim ficara conhecido- nunca mais fora visto. Mas no século XVI houve relatos de meninos lobos atacando em florestas, mas nunca houve uma comprovação.

-O menino nunca mais foi visto? - perguntou Ivannão se some assim fazendo tudo o que ele fez.

-Não há como saber, muitos meninos lobos foram pegos, mas como saber se era ele dentre tantos? explicou Augusto.

-Alguém conseguiu explicar a origem do ‘surto’ que o menino teve? - perguntou Soraia ao fazer aspas no ar na palavra surto, afinal não era essa bem a palavra.

-Muitos anos depois, com a ciência como aliada e a conservação de um corpo de um daqueles meninos, soubesse que a raiva era transmitida do cão ou lobo através da mordida a um humano transforma as células e todo o sistema nervoso, e assim ocorre de dentro para fora, a mutação. Causa um efeito colateral então -palpitou Malvina e Augusto assentiu. -E com tudo isso, deu-se a mutação do homem lobo para o lobisomem - complementou Sheila a história contada pelo filho.

-E então, Sofia, o que achou?- perguntou Soraia bem sabendo e vendo o fascínio que continha nas expressões da moça.

-Fascinante – declarou.

Todos riram.

-Ainda bem que com o passar dos anos vocês aprenderam a se controlar e conviver junto a humanos- quase- de igual para igual- finalizou Marcus.

-Assim como vocês- rebateu Augusto e ambos sorriram.

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