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5

Já passa das sete da noite quando ligo para Robert na conferência de médicos onde ele está. Ele não atende a primeira chamada então ligo novamente. Mais uma vez sem resposta. Resolvo ligar mais tarde e aproveito pra ligar para Rachel pra me acertar sobre o pagamento referente à Ellen. Inicialmente, ela entende mal minha ligação a uma hora dessas, – Oh céus, quando vou ter uma mulher que não espere nada de mim? – mas logo que eu explico tudo, ela se irrita e nossa conversa é curta. Ela informa que terá a soma total dos gastos da Ellen amanhã e que me ligará de volta.

Desligo e tento mais uma vez o Robert. Nenhuma resposta. Acho que estou sendo um incômodo. Ele deve estar bem ocupado e eu aqui enchendo o saco. Estou com tanto tédio. Ainda não são oito da noite e eu não tenho nada pra fazer. Porra é sábado. Eu deveria estar com uma gata ou duas por aí, mas ao invés disso estou em casa morto de tédio e sem a menor vontade de sair, o que é pior. Restrinjo-me a ver televisão ou acessar a internet, vendo antigos colegas que encontraram o amor. Grande piada. Essa coisa de amor é perda de tempo e um infortúnio. Ou talvez ele exista mesmo, mas não é pra mim. Por um instante sinto nostalgia pela época do colégio, onde a vida era bem menos preocupante. Mas lembranças do colégio sempre acabam naquele fatídico dia em que minha vida mudou então disperso esses pensamentos.

—Isso... mais, Nicholas... mais.

— Gosta assim? Gosta do jeito que estou fodendo você?

A garota não responde, apenas geme. Geme enlouquecida com o sexo que estamos fazendo. É maravilhoso. É quente. Ela é tão gostosa.

— Aaaaaaah. — ela grita quando coloco a boca no seu mamilo.

Que gosto bom ela tem. Pode ser comparada com a iguaria mais rara do mundo. Estou quase tendo uma convulsão de tanto prazer que estou sentindo. Não me lembro de ter sentido tanto tesão e tanto desejo na minha vida. Ela está me matando.

— Você é tão gostosa. Eu quero você para sempre.

Todo esse prazer está afetando minha cabeça. Eu nunca digo esse tipo de coisa para alguém porque não é verdade, mas... Talvez com essa mulher eu queira. Talvez eu possa ficar com ela pra sempre. Talvez...

— Não pare... por favor... não pare.

Não garota eu não vou parar. Não com você. Eu quero você. Preciso ver você. Seu rosto. Olho pra ela e vejo seus cabelos pretos espalhados no colchão, seus olhos verdes olhando em êxtase pra mim, sua boca aberta em puro prazer. É um rosto conhecido. É ela. É Ellen. Por ela eu posso tentar. Continuo com meus movimentos, sendo envolvido por ela, por seus gemidos, por suas mãos no meu corpo e gozo de maneira gloriosa olhando bem dentro dos olhos dela desejando que esse momento dure e que ela nunca vá embora.

Acordo em um solavanco com o coração acelerado. Porra foi um sonho erótico. A porra de um sonho me fez acordar. E pior... As coisas que aconteceram no sonho foram contra tudo que eu quero pra mim. Que porra está acontecendo comigo? Sento-me, passo as mãos no rosto e olho o relógio. São quatro da manhã. Merda. Preciso dormir.

Deito-me novamente e tento a todo custo cair no sono novamente.  Pffff. Totalmente em vão. Eu tenho um sono um tanto leve e irregular, depois de acordar uma vez no meio da noite, dificilmente volto a dormir.  Amanhece eu não preguei mais o olho de jeito nenhum. Agora estou de completo mau humor e coitado daquele que se aproximar de mim hoje.

Ás dez da manhã meu humor ainda não melhorou, ao contrário, só ficou pior. Recebo uma ligação e atendo sem olhar o número. Sou grosso e bastante ríspido com a pessoa do outro lado e me xingo por dentro quando percebo que é a recepcionista da ONG onde eu trabalho nos fins de semana perguntando sobre minhas ausências de hoje e ontem. Porra.

Não compareci porque passei a madrugada de sábado quase toda transando e não dormi direto, e essa madrugada tive a porra de um sonho que me acordou no meio da noite e não me deixou dormir mais. E a culpa de tudo isso é de quem? Dela. A menina que dominou meu desejo me deixando devasso ao extremo no sábado e que dominou meus sonhos me deixando indisposto hoje. Ellen. A culpa é de Ellen.

Para aliviar o estresse, resolvo correr um pouco. Facilmente eu faço pelo menos quatro quilômetros pensando no que aconteceu nesse fim de semana. Eu nunca faltei a um único dia na ONG depois que comecei, nunca me masturbei por uma garota depois que comecei com a minha vida sem relacionamentos, e com certeza nunca tive um sonho erótico tão intenso e com pensamentos tão perturbadores.

Essa menina nem entrou na minha vida e já está me colocando de cabeça pra baixo. Está revirando tudo o que esteve muito bem guardado por anos. Isso não é típico de mim. Eu não sou assim. Não posso e nem quero ser assim. Tenho que colocar um basta. Pelo menos se eu soubesse o motivo dela estar, por falta de um termo melhor, tão pregada em mim. Talvez eu até saiba. Eu a desejo. Eu a desejo muito. É isso. Eu a desejei desde que Rachel me falou sobre ela uma semana atrás. Mas o desejo pode vir acompanhado por algo que eu não quero mais em minha vida. Não vale a pena. Uma coisa é eu estar sonhando e pensando bobagens sem o menor controle sobre meu subconsciente e outra coisa é eu estar acordado e saber o que quero da minha vida e não aceitar essas idiotices de bom grado.

Eu não quero isso. Eu não a quero. Eu não a quero. Eu não a quero. Repito esse mantra pra mim durante todo o percurso querendo me convencer disso e acho que consigo.

Às três da tarde eu vou até a Casa da Rachel e acerto com ela o que devo pela “estadia” de Ellen e pela noite de sábado. Volto para casa pra preparar as aulas do dia seguinte e passo bastante tempo nisso. Ligo para o Rob e continuo sem resposta. Ok, estou um pouco preocupado agora. Liguei várias vezes e ele não atendeu, mas eu não deixei mensagem de voz, dessa vez eu deixo.

— Oi Rob, está tudo bem? Estou te ligando várias vezes e você não me atende. Estou preocupado, me liga.

As aulas da segunda são como todos os dias. Os alunos empolgados com a matéria que estou dando e eu satisfeito por estar fazendo o que eu gosto. Na hora do almoço, quando saio da Universidade, Rob está sorrindo e esperando na frente do meu carro.

— Oi sumido. Estive preocupado com você esse fim de semana. — eu falo destravando as portas com o controle automático.

— Jura? — ele brinca — Achei que estaria mais preocupado com o tamanho do sutiã daquela moça lá na Rachel.

— Isso é assunto pra depois do almoço. Suponho que foi pra isso que veio, pra almoçarmos juntos, não?

— Claro que sim, mas quero ir falando com você enquanto dirige.

Rimos um para o outro e entramos no carro. No caminho para o restaurante, eu conto a ele tudo o que aconteceu esse fim de semana comigo. Desde a fuga de Ellen até o fim da noite de ontem sozinho na minha casa. Ele tira o maior sarro da minha cara por causa das minhas sessões de orgasmos solitário. Ele – com razão – diz que nunca mais me viu assim, insinuando coisas do passado, mas eu não dou trela pra ela e digo que não quero passar nunca mais na minha vida pelo que um dia eu passei. Depois permanecemos calados até o restaurante favorito dele que escolhi para comermos porque queria um lugar legal pra contar a ele sobre Janeth. Pedimos a comida e comemos mais da metade em completo silêncio.

— Rob — eu o quebro — eu não sei bem como fazer isso, nem sei se é o certo, mas... — ele para de comer e olha pra mim esperando que eu termine — Eu tenho que te contar uma coisa sobre a Janeth que eu não sei se você...

— Pode parar... — ele me corta — Eu já sei de tudo.

Franzo a testa e fico mudo. Acho que engoli a língua junto com a comida porque não consigo pronunciar uma palavra. Ele vê minha cara e começa rir, sem entender o motivo de tanta graça começo a rir também.

— Qual o motivo do riso Rob? E como assim você sabe de tudo?

— Não sou idiota, Nicholas. Eu imaginei algo assim depois daquela nossa noite com aquela sua amiga.

— Não entendi.

— Você pode ser um canalha com todas as mulheres, mas nunca me puxou pra essa vida. Você nunca me incentivou a trair a Janeth. Nunca. Nenhuma vez, e naquele dia você estava me jogando pra cima daquela mulher. — ele volta a comer — Aí eu suspeitei de tudo e comecei a ir atrás. E como diz o ditado, quem procura acha.

— Mas eu poderia estar te jogando pra cima da mulher porque você está se divorciando.

— Não. — ele fala complacente — Você não faria isso se não achasse que a Janeth merecia. Sei que gostava dela por ser minha esposa então você não me levaria a acreditar que ela merecia uma traição se já não tivesse traído antes.

É verdade. Apesar de achar um erro ele ter casado, eu não era cego pra não ver que ele era feliz e só isso já era motivo o bastante pra gostar da Janeth. Mas ao ver que ela estava traindo meu melhor amigo, evidentemente fiquei louco de raiva.

— Além do mais, — ele continua — não caí na história de “eu estava na casa de uma amiga” que ela me contou no dia seguinte. Assim, eu a segui no outro dia e acabei vendo o que eu não queria ver, mas tinha certeza que veria.

— Porque você não me contou?

— Não era uma conversa que alguém gostaria de ter com um amigo. Sabia que seria difícil pra você me contar e quis evitar. Eu vi hoje que estava certo. Você ficou nervoso o almoço inteiro e quando decidiu falar eu vi que parecia que estava com dor.

— Não é uma coisa fácil de lidar. Você é meu melhor amigo.

— Não. Não é não. Mas obrigado pela intenção, você é um amigo e tanto Nicholas.

Por um lado fico feliz por não ter que contar, mas por outro fico muito triste porque ele teve que lidar com isso sozinho. E eu aqui achando que tive um final de semana ruim... Ele deve ter passado o inferno na convenção em que estava.

— Me desculpe por ficar ligando Rob, é que eu estava preocupado com você, mas eu sou um mala eu sei. Você devia estar querendo ficar sozinho e eu incomodando. Você fez bem em não atender.

— Nick meu garoto, eu não atendi porque estava querendo ficar sozinho, ao contrário, eu não atendi porque estava muito bem acompanhado.

— O quê? — perguntei espantado.

—Exatamente o que ouviu.

— Espera aí, não entendi. Como assim muito bem acompanhado. — ele levanta uma sobrancelha sarcástica pra mim e essa é a minha vez de ficar embasbacado. — Não acredito.

— Pois pode acreditar Nick. Fiquei bem ocupado esse fim de semana. Conheci uma médica lá que me fez rever o estudo do corpo humano.

Não seguro o riso. É bom saber que Robert está bem. Na verdade melhor do que eu imaginava. Queria ser uma mosca pra ver esse fim de semana dele em Nova Iorque.

— E eu aqui pensando que você estava na pior. — eu brinco — Fiquei me sentindo mal por achar que meus problemas eram maiores que os seus, mas eles realmente são, não é mesmo?

— Parece que sim. — o bastardo sorri — Então me fala aí, como vai resolver isso?

— Não tem nada pra resolver. Ontem fui lá na Rachel, paguei as contas dela e encerrei esse assunto, até porque como ela mesmo disse, eu provavelmente nunca mais a verei.

Palavras dela que na hora achei ruins, mas não parecem tão ruins agora. Pra mudar o foco da conversa da minha vida... – amorosa? Não, sexual – pergunto a ele sobre a Janeth e ele diz que dará o divórcio a ela com todas as exigências que a vadia fez, mesmo podendo deixa-la sem nada por ter sido traído, mas apenas para se ver livre de uma vez. Por um instante, sinto inveja dele por ter se controlado tanto e não ter sucumbido a um coração partido. Gostaria de ter sido mais forte. Brindo a ele e terminamos de almoçar antes de voltar às nossas vidas.

O resto da semana se passa bem rápido. O fim dessa semana é bem melhor que o passado. Aproveito todas as noites e durante o dia volto à ONG. A semana seguinte a essa vem e se vai da mesma forma. Robert e eu temos saído juntos para curtir a vida e pelo que ele tem me falado, Janeth está em um lugar muito bem guardado e trancado dentro dele. A mesma rotina toma meus dias, e eu de certa forma me sinto satisfeito com tudo, embora... Embora eu tenha o sentimento de que falta algo em mim que não sei bem o que é e nem como explicar. Parece que eu tenho um vazio. Um frio que eu nunca senti antes. Algo dentro de mim simplesmente mudou e bem lá no fundo eu sei o que está causando isso, mas sempre que me pego pensando “na causa”, eu me distraio com algo, ou melhor, com alguém.

Quinze dias depois, eu estou me preparando pra ir à Casa de Rachel. Ela me disse que uma mulher que veio de Los Angeles seria uma boa diversão e eu de cara aceito. No caminho, eu paro em um sinal e fico observando o movimento em volta. Deve ser quase oito horas da noite e vejo muitas pessoas entrando em suas casas para aproveitar o calor do seu lar em uma noite de sexta, mas também vejo casais lotando restaurantes e bares, e estudantes que comemoram o fim de mais uma semana de aulas.

Não sei bem o motivo, talvez porque o vulto se move um pouco rápido, eu olho para um beco e vejo uma figura feminina caindo no chão com um cobertor por cima do seu corpo pra se proteger do frio da noite.

De longe eu não consigo ver direito, mas a figura parece ferida. Eu entro à direita exatamente onde fica o beco e ao passar bem perto do vulto que eu vi de longe, eu posso ver de quem se trata.

É Ellen. E ela realmente está ferida.

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