Biblioteca
Português
Capítulos
Configurações

2

— Alma? — Falei, a voz falhando. Não conseguia processar a imagem diante de mim. Apesar da natureza feliz da gravidez, uma tristeza profunda se instalou no meu coração. — Você está grávida?

Ela assentiu lentamente, um sorriso tímido tentando se formar em seus lábios. Mas a alegria que deveria acompanhar a revelação estava envolta em um véu de desconforto. Acompanhei a gesticulação dela enquanto olhava para minha mãe, que parecia presa em um mar de palavras não ditas.

— Como... como isso aconteceu? Por que vocês parecem estar com medo de algo? — Eu perguntei, a lembrança do meu coma pesando mais do que nunca sobre mim. O tempo havia se desdobrado em um intervalo que não pude alcançar. Para mim, eram apenas alguns dias — como uma noite que durou uma eternidade.

— O acidente... tudo isso... — Alma começou, mas as palavras não pareceram se formar. O ar no quarto havia se tornado pesado, uma névoa de sentimentos que quase podíamos tocar. Minha mãe olhou para Alma, e no silêncio do quarto, o tempo pareceu parar. Nada além do batimento cardíaco das máquinas, que agora soavam como um eco doloroso, preenchia o espaço.

Finalmente, minha mãe respirou fundo e se virou para mim, como se estivesse se preparando para oferecer um presente e um fardo ao mesmo tempo.

— Asa, nós... — Minha mãe começou a falar com dificuldade.

— Fala logo, aconteceu algo? Por que estão enrolando para falar — Perguntei, um peso esmagador se estabelecendo em meu peito.

Alma se aproximou, hesitante, e colocou sua mão na minha.

A mão de Alma estava quente, um toque que deveria ser reconfortante, mas em vez disso, trouxe uma onda de angústia que me fez querer recuar. Colocamos tudo em perspectiva, mas o clima pesado permanecia no ar, nas entrelinhas do que ainda precisava ser dito. Alma parecia hesitante, como se carregasse um peso que não sabia como dividir.

— Por que tanto suspense, Alma? — perguntei, tentando manter minha voz estável, mas o tremor traia a calma que eu tentava sustentar. — Parece que há algo que vocês não estão me contando.

O silêncio se estendeu novamente, e por um breve momento, os rostos ao meu redor estavam congelados em uma bruma de confusão. A expressão de Alma alternava entre a dor e a empatia, como se estivesse prestes a soltar uma revelação que poderia despedaçar o que restava da minha sanidade.

— Porque... porque a verdade é difícil, Asa, — disse ela, finalmente rompendo o silêncio, mas suas palavras pareciam mais como uma defesa do que uma explicação. — Às vezes, a verdade é... brutal.

— Brutal? — Eu repeti, o coração acelerando. Em algum lugar dentro de mim, algo começava a se formar, uma percepção tênue que me fazia querer me afastar, como se o mundo estivesse prestes a desabar.

— Sim. Eu... não sei como dizer isso, mas... meu filho, — ela começou, a voz embargada. — é do Max.

As palavras dela ressoaram como um trovão em uma tempestade silenciosa — cortantes e devastadoras. O significado pesado da sua afirmação me atingiu em cheio, e a realidade despedaçou o que restava das minhas expectativas. Uma onda de desespero preencheu meu peito, e a sala pareceu girar em torno de mim.

— Não... não pode ser, — murmurei, as lágrimas brotando em meus olhos. — Você não pode estar falando sério. Max... meu Max?

— Eu sinto muito, Asa. Eu... Você estava em coma, e a vida continuou. Ele... ele se envolveu com você, mas quando você... quando você estava fora... — Alma se interrompeu, as palavras pesadas quase impossíveis de serem pronunciadas.

O choque azedou o ar. A densidade do momento cresceu, um colapso que eu não estava preparada para enfrentar. O amor que eu tive, o que pensava ainda existir, agora se desfazia diante da crueldade da realidade. Max havia escolhido continuar a viver enquanto eu estava aprisionada em um sonho profundo.

— Por quê? — Eu perguntei, o fio de voz preso na garganta.

— Eu não queria te machucar! Aconteceu e foi tudo tão difícil... estávamos perdidos e acabamos passando muito tempo juntos. Uma coisa levou a outra e tudo isso aconteceu. Me perdoa... — Alma implorou, o desespero em sua expressão refletindo a dor que estava me consumindo. — Ninguém sabia se você ia acordar, Asa! E quando você acordou...

— Quando eu acordei? — Eu a interrompi, a raiva e a dor lutando pelo controle da minha voz. — Agora a culpa é minha? — As lágrimas começaram a rolar livremente pelo meu rosto.

Eu estava perdida em um mar de traição. Agora meu mundo desabava. Meu coração estava quebrado e despedaçando como folhas caem de uma árvore no outono — secas, quebradiças e, de alguma forma, mortas.

A conexão entre nós esvanecia-se rapidamente, e o peso das revelações crescia, tornando-se insuportável. Minha mãe observava em silêncio, o olhar carregado de compreensão e empatia, mas o que isso importava agora? O amor que eu tinha, o futuro que eu idealizava, tudo desmoronava.

— Eu não sei se consigo lidar com isso, — confessei, a voz quase inaudível. O choque e a traição inundavam meu corpo, um labirinto de sentimentos que me deixava perdida. — Vocês me trairam de uma forma tão cruel ... não posso acreditar!

Alma estava em lágrimas, a mão ainda firme na minha como um porto na tempestade.

— Por favor, Asa... tente entender. Ninguém queria que isso acontecesse. Eu não queria isso. Eu só queria que você estivesse bem.

— Bem? Você não entende, Alma! Como é acordar de um coma, confusa e totalmente perdida. E o pior, descobrir que enquanto você lutava pela sua vida, sua irmã estava trepando com o seu namorado.

Nesse momento, o mundo em que eu existia, repleto de amor e esperança, desmoronou. O presente se tornou uma visão borrada, e o futuro que eu havia imaginado se evaporou em um sopro. As revelações estavam consumindo tudo, e me deixava vazia.

Era uma nova realidade, uma nova vida, mas que vida? O que me restava, senão a dor e a perda, enquanto o eco das risadas que compartilhava com Max se tornava um eco distante, como um sonho que nunca voltaria?

E enquanto o peso das verdades pairava sobre nós em um silêncio tenso, percebi que o verdadeiro desmoronamento havia começado e, com ele, uma nova jornada que eu não escolhi.

Baixe o aplicativo agora para receber a recompensa
Digitalize o código QR para baixar o aplicativo Hinovel.