Capítulo 5 - Mudanças
Edward
Após a saída de Beatrice da mansão, eu caminho até o bar disposto quase no centro da minha sala de estar e despejo uma dose do meu whisky mais caro em um copo, tomando todo o conteúdo de um único e ardente gole.
Consegui manter uma expressão de neutralidade, mas por dentro, o único sentimento que prevalece em mim é o mais puro e genuíno alívio.
Uma coisa é certa, eu não fiquei nem um pouco triste com a decisão da Beatrice de partir. O nosso casamento foi apenas um contrato de negócios, algo que fiz exclusivamente em consideração ao antigo amigo de meu pai.
Em um tempo passado eu já nutri uma forte paixão por Beatrice, mas tudo mudou quando eu a encontrei beijando o seu primo Sebastian. Naquela noite, eu percebi que o sentimento entre eles não era apenas de amizade ou um amor de primos. Eles sentiam algo mais um pelo outro e a maior prova desse fato foi o beijo que os vi trocar no jardim da casa de Beatrice.
Eu havia falado com Beatrice naquele dia, a parabenizo por seu aniversário de dezoito anos e prometi que estaria em Kent para a comemoração.
Eu planejava declarar meus sentimentos por Beatrice e a pedir para ser a minha namorada. Os meus sentimentos eram tão profundos, que eu idealizei até mesmo o nosso noivado, quando ela terminasse a faculdade, nós poderíamos nos casar. Tudo isso não passou de apenas uma ilusão.
Eu posso dizer com toda a certeza que sempre senti algo diferente por Beatrice, porém, a nossa diferença de idade era de cinco anos e eu temia que as nossas famílias não aceitassem bem esse fato. Pensando assim, eu decidi esperar pacientemente pelo aniversário de dezoito anos de Beatrice. Grande foi a minha decepção ao constatar que mais alguém parece ter pensado o mesmo que eu.
Eu sempre desconfiei dos sentimentos de Sebastian por Beatrice, mas jamais acreditei que ela poderia corresponder a esses sentimentos. Eu estava enganado.
Mas, não adianta remoer o passado. O mais importante agora é que estou livre, para viver a minha vida da forma como desejar. Não preciso mais evitar a minha própria casa, tudo para não me deixar levar novamente pela ilusão criada pela emoção de estar tão próximo de Beatrice.
Confesso que não entendo o que impede Beatrice e Sebastian de assumir o sentimento entre eles, mas isso não me interessa. Agora ela está livre mais uma vez, nada a impede de viver o seu amor agora que já é uma mulher adulta e dona do próprio nariz. Enquanto isso, eu pretendo aproveitar a minha vida da melhor forma possível.
Antes, no entanto, preciso abafar as notícias sobre a situação e impedir que qualquer jornal no país fale sobre este assunto. Eu não quero que o meu nome esteja ligado a qualquer escândalo, afinal, eu tinha uma reputação nos negócios a zelar e a minha vida pessoal só diz respeito a mim mesmo.
Consegui que a notícia do meu divórcio não fosse divulgada, e a partir daquele dia, eu passei a ter a melhor vida de solteiro que um homem poderia sonhar, e as mulheres mais lindas do país passavam por minha cama, algo que não pude aproveitar enquanto estava casado, em respeito à minha esposa. Mesmo agora, ainda continuo a manter a discrição nas minhas relações casuais, por mais que eu seja agora um homem livre.
Não importa que os meus pensamentos sempre me levem até Beatrice e eu a mantenha sob constante vigilância. Quero apenas garantir que ela está bem e que não precisa da minha ajuda.
Saber que ela preferiu permanecer em Londres, na casa de uma amiga, me deixou preocupado. Entrei em contato com um parceiro de negócios e pedi um favor. Joel Smith é dono de um grande jornal da Grã-Bretanha e prontamente atendeu ao meu pedido, conseguindo um cargo de repórter do seu jornal para Beatrice. Eu sempre soube do seu sonho de ser correspondente internacional, porém, eu deixei bem claro para Smith que a deixasse na cidade. Nada de viagens para a minha ex-esposa.
Quando os papéis do divórcio chegaram ao meu escritório, por alguma razão que eu não consegui entender, simplesmente os coloquei no triturador de papel sem pensar nem mesmo duas vezes. Eu não pretendia dificultar a nossa separação, porém, ainda não acredito ser o momento certo de oficializar isso.
Quando o advogado perguntou sobre os papéis, eu apenas o deixei saber que em outro momento eu iria pensar sobre aquele assunto. Ele não deveria falar sobre isso para Beatrice. Ele faria o que eu mandei.
Beatrice
Com um sentimento de perda irreparável me corroendo por dentro, e apenas com uma única e solitária mala, chego à casa da minha melhor amiga Janet, que me aguarda na sala da mansão onde mora com seu marido.
Eu iria morar com o casal de amigos por algum tempo, até encontrar um apartamento adequado para mim e estar com eles me faria muito bem, pois eu os amava e sempre fui muito bem recebida naquela casa.
E ao entrar na majestosa sala da mansão imponente dos meus amigos, Janet já me aguarda de braços abertos, pronta a me acolher e a me ajudar em um momento tão doloroso da minha vida e eu aceito prontamente o seu carinho.
— Tudo isso vai passar, Beatrice. — ela diz, tentando me consolar.
— Dói tanto, Janet. — confesso, e deixo as lágrimas seguirem o seu fluxo contínuo. — Como poderei viver sem o Edward?
— Como tem vivido até hoje, amiga. — Janet fala, apertando ainda mais o seu abraço em torno de mim. — Edward nunca esteve realmente presente na sua vida. É sempre tão relapso e distante.
Apesar de aquelas serem palavras que me machucam muito, são totalmente verdadeiras e eu só tinha a agradecer pelo apoio que estava recebendo da minha querida amiga.
— Mas eu vou te ajudar, e você vai conseguir superar esse momento tão difícil na sua vida, Beatrice. Você verá!
Janet, assim como eu, é uma pessoa bastante otimista e eu precisava desse estímulo agora, eu precisava acreditar que tudo daria certo.
— E como o Edward reagiu, quando você pediu o divórcio? — Janet quer saber, e me olha com expectativa.
— Ele não se importa, realmente. — conto, e sinto a tristeza se instalar em mim. — Mas prefiro não falar mais sobre o meu marido, Janet. Preciso esquecer que um dia o amei.
E com essa decisão em mente, eu consigo me fortalecer o suficiente para enfrentar os dias seguintes, que eu tenho consciência de que não seria nada fácil, mas em momento algum eu acreditei que seriam.
A minha amiga me levou ao quarto que ela disponibilizou para mim, onde irei ficar até encontrar o meu próprio lugar para morar, e mostra onde devo colocar todas as minhas coisas.
— Trouxe comigo apenas o mesmo que levei, Janet. — digo para ela, explicando assim porque só trouxe uma mala.
— Não há problema, eu entendo você. — ela me conforta. — Mas tem algumas roupas que providenciei para você.
Eu já imaginava aquilo, afinal, Janet sempre considerou a forma como me visto muito discreta e sem cor e vive tentando me convencer a ser um bom mais ousada.
— Obrigada por me receber e me ajudar. — agradeço, a abraçando mais uma vez.
Depois de guardar os poucos pertences, eu vejo as poucas fotos que tenho comigo, todas tiradas no dia do nosso casamento e lembro o quanto aquele último ano foi doloroso e angustiante, vivendo ao lado de um homem que não me amava.
Mesmo sabendo que nunca fui amada pelo meu marido, toco com carinho a face do Edward na foto, mas logo as empurro para o fundo de uma gaveta qualquer, pois aquelas lembranças não me faziam bem, contudo, eu não tinha coragem de jogar todas elas no lixo.
Quem sabe um dia, em um futuro próximo, eu conseguisse superar aquele amor não correspondido e pudesse finalmente me desfazer daquelas fotos, penso.
Pensei na minha família, o quanto está sendo difícil lidar com a doença do meu pai, e para não levar mais problemas para eles, decidi não voltar para Kent. Tinha conseguido terminar o curso de jornalismo e agora pretendia atuar na área. Tentaria encontrar um emprego e adiar ao máximo o momento da verdade.
O fato é que decidir algo é muito fácil, difícil foi colocar a cabeça no travesseiro e não pensar no grande amor da minha vida e tudo o que vivemos juntos.