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Temos que sair daqui

Parte 2...

Elena

Vicky tropeçou ao meu lado, quase caindo, mas eu a segurei pelo braço, puxando-a para continuar. O som da chuva era ensurdecedor, abafando nossos passos apressados pelas ruas escuras.

Minha mente estava em um turbilhão, o pânico me cegando, mas tudo que importava agora era escapar.

— Precisamos sair daqui rápido! - eu disse entre os dentes, tentando manter minha voz firme, apesar do medo que me dominava.

Vicky apenas assentiu, os olhos arregalados e a respiração descontrolada. Ela parecia prestes a desmoronar a qualquer momento, e eu sabia que precisava mantê-la em movimento.

Estávamos quase na saída do beco quando Vicky, em sua pressa desesperada, esbarrou em uma lata de lixo metálica, derrubando-a com um estrondo.

O som ecoou pelo beco como um tiro, e meu coração parou por um segundo.

— Droga, droga! - Vicky exclamou em um sussurro apavorado, os olhos arregalados de pânico. — Eles ouviram isso, Elena!

Meu sangue gelou, e a adrenalina percorreu meu corpo como uma descarga elétrica. Não havia tempo para pensar, apenas para reagir. Comecei a correr ainda mais rápido, puxando Vicky comigo.

— Não pare, só corre! - gritei, o medo apertando meu peito enquanto ouvia passos pesados se aproximando atrás de nós.

Podia ouvir vozes, gritos e ordens sendo dadas, mas tudo parecia abafado pela chuva e pelo bater acelerado do meu coração.

Viramos a esquina, e as luzes da cidade pareciam ainda mais distantes, como se estivéssemos correndo em direção a um abismo escuro.

— Ali! - ouvimos o grito — Peguem as garotas! — ouvi alguém gritar, e meu corpo entrou em modo de sobrevivência.

Corríamos pelas ruas desertas, nossos pés batendo contra as poças d'água, os respingos molhando nossos rostos.

As luzes dos postes se misturavam com as gotas de chuva, criando uma visão distorcida, quase surreal.

— Não vamos conseguir, Elena! — Vicky arfou ao meu lado, sua voz carregada de desespero. — Eles vão nos pegar!

Eu nem queria olhar para trás, com medo de que eles estivessem colados atrás de nós.

— Não vão! - eu disse com firmeza, embora minhas pernas já estivessem queimando de cansaço. — Só mais um pouco, Vicky. A gente vai conseguir!

Eu falava isso para ela, mas era muito mais para mim, porque estava apavorada, mas não queria pensar no pior.

O som dos passos estava cada vez mais perto, e eu sabia que precisávamos ser rápidas e inteligentes. Avistamos uma rua lateral à frente, quase oculta pela escuridão, e eu puxei Vicky em sua direção.

— Vamos por aqui!

Entramos na rua estreita e sem saída, com uma parede de tijolos ao fundo. O pânico me consumiu quando percebi que estávamos encurraladas. Foi uma escolha ruim.

— O que vamos fazer? - Vicky perguntou, a voz trêmula.

Eu olhei ao redor, buscando desesperadamente uma saída. Meus olhos se fixaram em uma cerca de metal enferrujada ao lado de uma lixeira.

— Vamos subir por ali - eu disse, apontando para a cerca.

Subimos a cerca com dificuldade, o metal frio e escorregadio dificultando cada movimento. Eu sou péssima em escalar as coisas, mas o medo me empurrava.

Vicky passou primeiro, e eu a segui, quase escorregando no topo. Caímos do outro lado, nossos corpos encontrando o chão molhado com um baque surdo. Bati o cotovelo com força. O impacto me fez ver estrelas, mas não havia tempo para me recuperar.

— Levanta, rápido! - eu sussurrei, puxando Vicky para ficar de pé.

Corremos por mais alguns minutos, o som dos nossos perseguidores ficando mais distante. Finalmente, avistamos a avenida principal, e meu coração deu um salto de esperança.

Um ônibus se aproximava lentamente, as luzes acesas cortando a escuridão da noite.

— Ali, o ônibus! - eu apontei, ofegante, respirando forte. — Vamos pegá-lo e sair daqui!

Corremos em direção ao ponto de ônibus, Vicky quase tropeçando novamente.

A chuva caía mais pesada agora, tornando cada passo uma luta contra o cansaço e o medo. Quando finalmente chegamos ao ponto, o ônibus estava prestes a partir.

— Espera! - eu gritei, acenando com a mão freneticamente.

O motorista olhou para nós, claramente surpreso ao ver duas garotas encharcadas e desesperadas.

Ele hesitou por um momento, mas abriu a porta, permitindo que entrássemos. Assim que nos sentamos, o ônibus começou a se mover novamente.

Eu me afundei no assento, meu corpo tremendo incontrolavelmente. Vicky estava ao meu lado, pálida como um fantasma, seus olhos fixos em algum ponto distante.

— Você está bem? - eu perguntei, a voz baixa e rouca.

Ela apenas balançou a cabeça, incapaz de falar. Eu também não tinha palavras. Tudo que conseguia fazer era respirar fundo, tentando acalmar meu coração que ainda batia como um tambor dentro do peito.

O ônibus seguia seu caminho pelas ruas desertas, as luzes da cidade piscando através das janelas embaçadas.

Tudo parecia surreal, como se estivéssemos presas em um pesadelo do qual não conseguíamos acordar.

Depois do que pareceu uma eternidade, finalmente chegamos ao nosso ponto. Saímos do ônibus em silêncio, o vento frio nos envolvendo como um manto gelado. Caminhamos abraçadas para tentar nos aquecer.

O acampamento de trailers estava escuro e silencioso, as luzes apagadas nos indicando que os moradores já estavam dormindo.

Eu não gosto desse lugar, mas foi o teto que conseguimos arranjar depois que nos colocaram para fora do orfanato, quando ficamos maior de idade.

— Temos que ser silenciosas - eu disse a Vicky, tentando manter minha voz firme. — Não queremos chamar atenção de ninguém.

Ela concordou com um aceno, e começamos a caminhar em direção ao nosso trailer. A lama grudava nos nossos sapatos, e eu me sentia pesada, como se cada passo exigisse um esforço monumental.

Quando finalmente chegamos ao nosso trailer, abri a porta com cuidado, tentando não fazer barulho. Entramos, e eu fechei a porta atrás de nós, trancando-a com todas as trancas que tínhamos.

Vicky se jogou no sofá velho e rasgado, o corpo inteiro tremendo. Eu me sentei ao lado dela, tentando encontrar as palavras certas para dizer, mas tudo parecia tão vazio.

— Isso foi muito perto - ela finalmente murmurou, a voz quebrada. — Eles poderiam ter nos matado, Elena.

— Eu sei - eu respondi, sentindo o peso da verdade em suas palavras. — Mas estamos vivas. Isso é o que importa agora.

Ela virou o rosto para mim, os olhos cheios de lágrimas.

— E amanhã? O que vamos fazer? Não podemos ficar aqui, eles podem nos encontrar. Não sabemos quem eles são, mas eles nos viram.

Eu queria lhe dar uma resposta, uma solução mágica para todos os nossos problemas, mas a verdade é que eu não tinha ideia do que fazer agora.

A única coisa que eu sabia era que precisávamos sobreviver, de qualquer maneira.

— Vamos pensar em algo - eu disse, tentando transmitir uma confiança que não sentia de verdade. — Vamos dar um jeito, como sempre fazemos. Foi um azar que vimos aquilo... Mas não vamos ficar pensando o pior agora.

Vicky assentiu, mas o medo não deixou seus olhos. Eu a abracei, tentando passar algum conforto, mas dentro de mim, o pavor ainda me segurava como uma corrente.

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