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7

— Mais uma David. — Carlos, um antigo amigo de farras, disse enchendo mais um copo de uísque. Estamos em um clube noturno, onde meu pai é um dos sócios. Caio e alguns amigos que vieram juntos e já tem algum tempo que eles sumiram na pista de dança lotada. Já é quase uma da madrugada e a minha cabeça não para de girar e eu não sei dizer se é por conta da bebida, do som alto demais ou por conta da visão de mais cedo. O fato é que quando eu cheguei na casa dos meus pais, liguei para todos, combinando uma noitada. Eu precisava apagar aquela imagem, afoga-la em uma garrafa de uísque e depois levar uma garota qualquer para um motel e transar com ela até perder a consciência.

— Vem dançar David. — Luana, uma garota que acabei de conhecer pediu, praticamente se jogando em cima de mim. Esvaziei mais um copo e segurei a sua mão, a levando para a pista aperta. A música tinha um ritmo dançante, mas a garota se encostou no meu corpo, envolveu o meu pescoço e começou a se esfregar de uma forma completamente sensual em mim. Levei as minhas mãos a sua cintura e me deixei levar, me mexendo na sua frente, da mesma forma que ela se mexia para mim. Ela sorriu e se aproximou ainda mais, de modo que os nossos rostos ficaram frente a frente. Não havia emoção naquilo, se quer senti um desejo de beijar-lhe. Eu só queria sair de perto dela, fugir para longe dali, mas me forcei a continuar. Eu precisava continuar. Então a puxei para os meus braços e a tomei em um beijo frio e sem vida e quando me afastei, encontrei Luana ofegante e sorridente. — Não quer sair um pouco daqui? — perguntou perto demais do meu ouvido.

Eu quero? Foi a pergunta que me fiz e quando olhei através do seu ombro, eu a vi. Merda, Yaidis estava dançando bem na minha frente e sozinha. Imediatamente meu coração saltou em vida e o sangue correu quente em minhas veias. Tive o cuidado e olhar para os lados, a procura de Júlio no meio daquela confusão de pessoas dançando, mas não o vi em lugar nenhum. Parei todos os meus movimentos e fiquei ali, assistindo-a dançar, enquanto sorria, erguendo o seu copo com um tipo de bebida colorida. Então senti um par de mãos puxar o meu rosto e encontrei Laura, pronta para mais um beijo. Eu a afastei de mim sem nenhuma delicadeza e olhei na direção de Yaidis, mas ela já estava saindo da pista. Imediatamente fui atrás dela. Eu não sabia o que diria pra ela, nem sei se conseguiria falar qualquer coisa, mas eu precisava chegar perto dela, olha-la, confronta-la, beija-la. A alcancei quando subia os degraus que a levaria para fora do clube. Ela abriu a porta e quando pôs os pés na calçada, agarrei o seu braço e a puxei para mim.

— O que pensa que está fazendo? — A garota bradou, se soltando do meu agarre e eu me vi sem jeito, ao ver que não era ela. Levei as mãos à cabeça e desesperado sussurrei um pedido de desculpas. — Parece maluco, eu hein? — rosnou se afastando de mim e entrou em um táxi.

— Caralho! — Xinguei bainho quando senti a minha cabeça latejar. Fechei os meus olhos e a cobri com um travesseiro, tentando aplacar a dor infernal que pulsava dentro do meu cérebro. Lembranças da cena patética da noite passada preenche os meus pensamentos e inquieto, saio da cama e entro debaixo do chuveiro de água gelada. O frio faz o meu corpo estremecer e a dor ser oprimida no mesmo instante. Fecho os meus olhos sentindo raiva de mim mesmo e esmurro a parede, com o meu punho fechado, soltando um grito animalesco em seguida. Porque eu não consigo esquece-la? Porque é tão difícil? Eu preciso voltar para os Estados Unidos. Eu nem devia ter vindo. É claro que ela seguiu em frente, que se casou e que teria filhos, porque me levar por esperanças tolas? Determinado, desliguei o chuveiro e voltei para o quarto, troquei de roupa e sai do quarto. Passarei esse dia com a minha família e no final contarei sobre a minha partida.

— Bom dia! — Dominik disse ao me ver no topo da escadaria. Forcei um sorriso para minha irmã, sentindo a minha cabeça latejar um pouco e fui ao seu encontro. — O que vai fazer hoje? — perguntou quando segurei a sua mão e fomos juntos para a sala de jantar.

— Pra onde você quiser. — falei a puxando para mais perto de mim e ela sorrio.

— Sério? — Nick parecia empolgada com isso. Fiz um sim com a cabeça pra ela e quando entramos na sala, encontramos a família reunida a mesa.

— Bom dia! Posso saber o motivo de tamanha felicidade? — Duda indagou enquanto servia uma xícara de café preto.

— Pode servir uma pra mim? — pedi me acomodando em uma cadeira, depois de beijar a minha mãe, que estava sentada ao lado do meu pai. Ela pegou mais uma xícara, a serviu e a empurrou sobre o tampo de vidro retangular da mesa, em minha direção.

— Eu e o David decidimos passar o dia juntos. — Nick respondeu à pergunta da Duda e mamãe se animou.

— Adorável ideia. Acho que vou aproveitar os meus filhos juntos. Você vem amor? — Ele fez um não com a cabeça, enquanto bebericava o seu café.

— Não posso querida, tenho uma chamada de vídeo em algumas horas. Mas divirtam-se. David, quando vai dá uma passadinha na empresa? Gostaria de lhe mostrar as novidades. — Ele questiona com uma empolgação quase infantil e depois de beber um gole grande do meu café, respondo-lhe que em breve.

Enquanto comemos, observo a animação da minha família a mesa. Uma conversa descontraída, boas risadas, algumas brincadeiras. Até parece que não crescemos. Nós sempre fomos assim, unidos e animados e eu não havia percebido o quanto isso me fazia falta. Depois do café, decidimos ir a um clube de piscina e passamos a manhã inteira lá e depois disso almoçamos em um restaurante perto da orla marítima. Na volta para casa dona Lilian sentiu a necessidade de ir a uma livraria. Fiquei surpreso ao ver que não era a livraria de sempre e sim, uma simples e pequena livraria, que ficava a algumas quadras da sua clínica.

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