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Capítulo 4 Cicatrizes que o tempo não apaga

Depois da sessão de fotos, Rafaela passou a me ligar todos os dias para apressar o processo. Cada ligação era cheia de conversas sem sentido e coisas irrelevantes. O principal era que ela fazia questão que eu ouvisse os dois trocando carícias ao fundo.

Era irritante e frustrante, mas ela era a minha cliente, então eu não podia simplesmente desligar o telefone. Só me restava aguentar a atuação dos dois em silêncio.

Ainda assim, eu não conseguia ignorar completamente a existência deles. Principalmente enquanto editava as fotos, eu precisava ampliar cada detalhe para retocar, vendo de perto os rostos deles.

O rosto de Eduardo, seus cílios, seus fios de cabelo, até mesmo o sorriso no canto de seus lábios... tudo isso me lembrava o passado. Afinal, esse foi o homem que amei por toda minha juventude. Ele já foi a luz da minha vida.

Quanto mais lembranças vinham a tona, mais meu coração doía. Mas, mesmo assim, eu precisava continuar, Rafaela era extremamente exigente.

Até que, finalmente, depois de muito esforço, terminei o trabalho no prazo combinado. Consegui, enfim, dinheiro suficiente para a cirurgia.

Quando pensei que finalmente poderia descansar, o telefone tocou de novo.

— Senhorita Carolina, as fotos já estão prontas, certo? Me lembro que você oferece entrega à domicílio, não é? Pode entregá-las no Hotel Tranquilidade. — Era Rafaela.

Ela falou tão rápido que não me deu nem tempo para recusar. Só me restou seguir suas ordens.

Talvez fosse o cansaço ou o tumor, mas acabei adormecendo no táxi. Até sonhei que éramos jovens novamente, eu e Eduardo, correndo por um campo verde.

— Senhorita, chegamos ao Hotel Tranquilidade — disse o taxista.

Sacudi a cabeça para tentar acordar, mas o movimento brusco só me deixou mais tonta. Precisei descansar por um tempo na recepção do hotel até arranjar força suficiente para continuar.

Eu sabia que a minha doença estava piorando, mas segui em frente, me forçando a caminhar até o quarto deles. Toquei a campainha, mas ninguém veio atender. No entanto, mesmo do lado de fora, eu consegui ouvir sons da intimidade dos dois vindo do quarto.

Dei um sorriso amargo. Estavam me dando um show erótico?

Toquei a campainha de novo.

Enquanto esperava, senti meu coração a acelerar mais e mais, a minha respiração ficou ofegante. Naquele momento, eu sabia que precisava ir ao hospital imediatamente, mas ninguém abria a porta. Bati com mais força, e só então alguém abriu a porta.

Rafaela apareceu com a cara de quem tinha acabado de sair do banho.

— Desculpe, Senhorita Carolina. Você sabe muito bem como é, Dudu... demora um pouco. — Sua voz preguiçosa ainda carregava vestígios de suspiros.

Eduardo também apareceu na porta, vestindo um roupão frouxo, com marcas de beijo em seu peito. Desviei o olhar e entreguei as fotos.

— As fotos estão prontas. Espero que vocês... — Antes que eu pudesse terminar a frase, desmaiei.

— Carol! — A última coisa que ouvi foi a voz de Eduardo, cheia de desespero.

Quando voltei a abrir os olhos, já estava no hospital. Inconscientemente, olhei ao redor da cama, mas, como esperado, não havia ninguém. Do corredor, ouvi vozes distantes.

— Qual é a doença dela?

— Você é o quê da Senhorita Carolina?

— Sou apenas... um amigo.

— Nesse caso, não podemos compartilhar informações médicas sem o consentimento da paciente.

— Mas a Senhorita Carolina já deve estar acordada. Gostaria de entrar para vê-la?

— Não, obrigado.

“Apenas um amigo, só isso?” dei uma risadinha seca. Mas, naquele momento, eu não podia me dar ao luxo de ficar triste. Eu tinha coisas mais sérias com que me preocupar.

— Senhorita Carolina, seu tumor cresceu novamente. Precisamos operar o quanto antes — disse o médico.

— Certo. Vamos marcar a cirurgia o quanto antes. Já tenho dinheiro suficiente para pagar — respondi.

O médico assentiu, passou algumas instruções à enfermeira e saiu.

Fiquei encarando o teto, enquanto todas as lembranças invadiam minha mente de uma só vez. Talvez elas também estivessem com medo de serem esquecidas. Mas esquecer talvez não seja necessariamente algo doloroso. Esquecer Eduardo parecia ser a melhor escolha. Assim, nunca mais me lembraria de como ele me abandonou, nunca mais ficaria doente por causa dele, nunca mais choraria por ele.

A partir daquele momento, a única coisa que importava na minha vida era eu mesma.

Ao assinar o termo de consentimento para a cirurgia, não hesitei nem por um segundo.

Adeus, Eduardo. Adeus, minha juventude perdida.

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