"Prolog"
"Toda decisão é proveniente de experiência. E toda experiência é proveniente de uma decisão não acertada."
(Albert Einstein)
Os 30 segundos que estamos vivendo agora, podem decidir os próximos 30 anos. - pensou Fany, ainda surpresa por conseguir formar pensamentos tão claramente diante do que estava acontecendo.
- Então?! Já decidiu senhorita Stefany? Será a sua vida ou a deles? - ele disse com sua voz fria com a qual Fany ainda não conseguira se acostumar, outra coisa que não conseguia era olhar para a cara dele, em vez disso preferia olhar para aquelas pessoas - que em tão pouco tempo conseguiram ocupar um lugar dentro dela - amordaçadas e acorrentadas uma a outra em uma câmara de gás improvisada.
- Você está pensando muito! Não tenho a vida toda, preciso terminar logo com isso, com o que fui destinado a fazer, por culpa daquele... daquele insano... - Porque ele não a matava logo? A idéia original era esta, porque a fazer escolher? Fany o interrompe, ela estava amarrada em uma cadeira, mas não amordaçada.
- Você não é diferente dele. - falou com ousadia, não tinha nada à perder, sua escolha já havia sido feita, ela não estava pensando, só queria olhar mais uma vez para aquelas pessoas que passara a amar e admirar.
Ele desfere um tapa em sua face - mais um - ela sente o gosto adocicado do sangue em seus lábios.
- Cala a boca! Você é como ele... não eu! - disse com raiva relampejando os olhos.
- Você matou os meus pais e vai me matar... - Fany diz com uma sobra de ironia.
Ele ergue a mão para bater nela mais uma vez, mas paira a mão no ar, recapitulando o que acabara de ouvir dela. Sorri triunfante.
- Então já escolheu? - pergunta recolhendo a mão.
- Nunca foi uma escolha, e sim um fato. Jamais tiraria a vida de alguém. Não poderia continuar vivendo depois disso. - Disse olhando mais uma vez para a sala onde ninguém conseguia vê-la, mas ela podia ver á todos.
O monstro - como ela o tinha intitulado - apagou o sorriso do seu rosto, como se desse conta de que tinha deixado algo passar.
- Como sabe que não irei matá-los também? - perguntou curioso.
- Eu acredito que apesar de tudo, você ainda tenha palavra. Afinal está lutando a batalha de outra pessoa, um antepassado que deve estar queimando no inferno, aguardando sua chegada. - Fany não temia mais nada, ela só queria acabar com tudo aquilo e descansar... e morrer.
Ele apenas a olhou. Não teve reação alguma.
Passado alguns segundos afastou-se e enviou um comando para um dos seus comparsas. Fany não tirava os olhos daquela câmera de gás, especialmente de...
- Já estão indo solta-los. Você verá com seus próprios olhos. - Ele diz interrompendo os pensamentos dela, lembranças recentes de momentos que nem começara a viver e daria tudo para que pudesse. Nem notou que seus olhos estavam embaçados com lágrimas prestes a cair.
- Por que só agora? - Lançou a pergunta que estava instalada na garganta. E finalmente olhou para o monstro, bem dentro de seus olhos.
- Por que não matou-me junto com meus pais? Por que toda essa perda de tempo? - perguntou cheia de ira que até então estava reprimida.
- Ora, ora querida, eu ainda precisava de você, eu sabia que havia algo pra você no testamento, se você morresse antes, eu nunca descobriria. Meu plano fora calculado desde o começo. - ele fez uma cara de satisfação como se esperasse congratulações por sua façanha. Fany não entendia como era possível mas sentiu ainda mais ódio e nojo daquela pessoa à sua frente.
- Se você pedisse minha parte da herança teria lhe dado. - disse com desdém. Ele imediatamente fechou a cara.
- Eu nunca quis seu dinheiro... - disse com raiva, mas logo deu um sorriso irônico - mas sabia que acabaria ficando com ele de um jeito ou de outro, e com tudo o que era de seus pais. Afinal não sobrará mais ninguém para assumir a herança.
- Apenas acabe logo com isso... - disse Fany entredentes.
- Primeiro um espetáculo para você! - Falou quando se inclinou próximo ao ouvido dela. Apontou para a sala. Seus comparsas estavam soltando um por um. Fany não conseguiu mais segurar as lágrimas.
Já fazia algum tempo que a sala onde à pouco estavam seus amigos e familiares esvaziara, mas ela permanecia olhando para lá. O monstro a deixara sozinha por uma meia hora talvez, ela não tinha certeza, logo escutou a porta do galpão ranger e passos atrás dela.
Deu-se conta que não tinha mais muito tempo de vida, e rapidamente fez uma retrospectiva. Não sentia medo. Não sentia arrependimentos por coisas que fez, talvez por coisas que não fez. Mas sobretudo estava em paz consigo mesma. Não sabia ao certo se seus amigos tinham sobrevivido ou iriam sobreviver, mas sua consciência estava em paz. Seu sangue, sua linhagem, sua origem... não tinham modificado seu caráter, não tinham mudado aquilo que ela achava que era certo. Por isso ao invés do choro, abriu um sorriso singelo. Em silêncio fez uma prece de rápidas palavras... "... e absolvo Adolph Hitler, porque para onde quer que eu vá, não quero mais estar emocionalmente agrilhoada à ele e seus atos. Quero ser apenas Stefany Braun Barbieri, apenas uma garota comum.