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Capítulo cinco

Sarah fica intacta, os olhos congelados e a boca entreaberta, igual ao meu pai. Ela puxa uma cadeira, levemente e senta ao lado dele, os dois pareciam ter visto um fantasma.

- Vocês ... - Papai começou, mas logo parou. Estava sem palavras.

- Minha filha, mas vocês só namoram.

Nem o pai do meu filho ele é, mãe.

Meu peito aperta angustiado e eu luto para não chorar na frente deles. Só quero que esse dia acabe, mas presumo que estraguei o Natal deles.

Estraguei o meu também. Na verdade estraguei grande parte da minha vida.

- Eu vou me casar com ela. - Marco quebrou o silêncio, meus olhos marejaram. - Não por obrigação, já planejava isso há um tempo.

- Garoto - Pela primeira vez meu pai tira os olhos de mim, e transfere para o Marco -, vocês fazem ideia do que estão fazendo?

- Papai. - Pedi chorosa. Não queria que ele ouvisse uma bronca que não merecia.

- Vocês me batem mais velho! - Bateu na mesa eufórico e gargalhou alto, minha mãe abre um sorriso e percebo que as lágrimas dos seus olhos são de emoção. - Vem cá! - Ele puxa Marco para um abraço.

- Ah, minha menininha! - Mamãe abre os braços e nós abraçamos. Eu preciso tanto disso que me desmancho em seu ombro. - Você será uma mãe incrível, eu tenho certeza disso. - Segurou meu rosto, limpando as minhas lágrimas enquanto as dela escorria. - Vocês vão formar uma família maravilhosa. Eu te amo, tá bom?

- Vem aqui minha garota! - Papai brutalmente me puxa para um abraço. - É bom ele ser maravilhoso pra vocês, se não eu pego minha espingarda. - Sussurrou, mas pude notar sua voz embargada.

- Estou tão assustada, pai.

- Eu sei. Eu sei, filha. - Beija o alto da minha cabeça e sorri emocionado.

___ ••• ___

Depois da janta com risadas altas e nomes para o bebê, levei uma bronca enorme da minha mãe por não ter começado o pré-natal.

E ela toda orgulhosa falou que iria falar com uma médica-amiga para tentar fazer um ultrassom.

Não foi a reação que eu imaginava, mas também não é a verdade. O Marco, eu e família feliz, não é a minha realidade.

E ele foi tão bem, meus pais o adoraram. Era impossível não gostar dele, o sorriso cativante era de agradar qualquer um.

Ouço a porta abrir enquanto estou sentada no degrau da varanda, a noite está quente e a rua completamente enfeitada e natalina.

- Seu pai me convenceu de fumar um charuto. - Marco comenta enquanto senta ao meu lado. - Estou com dor no peito até agora. Traguei tanto que ele teve que bater nas minhas costas. Você o conhece melhor do que eu, né? Minhas costas estão doloridas.

Dei uma risada e encarei ele.

Os olhos castanhos observavam os enfeites e brilhavam a cada casa.

Gabi tinha razão, Marco ainda carregava com ele um espírito de criança.

Eu não estou bem. Meu mundo está uma confusão e eu nem sei por onde vou começar a arrumar.

Desejo nunca mais ir embora e ter a vida que eu criei aqui. Desejo essas luzes para sempre e esse clima agradável. Desejo que eu seja feliz com esse bebê, e que saiba ser uma boa mãe, que eu dê conta sozinha.

Sinto o corpo do Marco encostar no meu, e ele delicadamente me puxar pra perto, contornando minhas costas com seu braço longo, e me segurar pelo ombro.

Não luto para deitar minha cabeça em seu ombro. O cheiro agradável exala da sua pele e eu fecho os olhos sentindo seu ombro subir e descer com a respiração calma.

Ficamos em silêncio, eu não queria dizer nada e ele sabia exatamente o que fazer.

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