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Capítulo II

10 anos depois

Matthew on

-VIREM À ESTIBORDO! Atracaremos no porto da Tartaruga em duas horas! -grito enquanto ajeitava o leme e via os marujos fazendo o que havia pedido

-Capitão? -indaga o homem atrás de mim

-Sim Smith? -pergunto me virando em direção ao mesmo

-Os marujos já acabaram a limpeza-fala soltando um suspiro cansado e eu assinto com a cabeça

-A tempestade de ontem foi complicada, nos tirou de curso e provavelmente teremos um problema com os suprimentos. Chegaremos ao porto logo, um pouco de terra firme será bom para todos sobretudo após a morte de Kevin-falo tocando o ombro de meu amigo e braço direito

-Todos ainda estão tristes. Ninguém esperava que ele fosse cair do barco daquela maneira. Estava tudo tão barulhento e a tempestade tão complicada que não conseguimos encontrar seu corpo-fala com pesar

-Todos estão de folga pelo resto do dia de hoje-falo- mas se eu vir alguma gracinha vão se arrepender

-Obrigado, capitão-fala com um sorriso fraco antes de sair dali

Bufo abrindo a bússola que mantinha sempre presa em minha calça por uma cordinha. A abro encarando na parte de cima a pedra azul prensada.

Ela era uma bússola grande embutida em uma caixinha preta e por dentro, na parte da tampa, havia a joia azul que me lembrava dela.

Hoje fazem 10 anos.

Irônico não? A bússola deveria me indicar direção do meu destino e durante anos o único destino que desejei foi encontrá-la

Toda vez que encaro essa pedra, toda vez que olho o azul do mar ou o preto dos céus eu lembro dela.

Perdi a conta de quantas vezes me deitava no chão deste navio quando todos estavam dormindo e encarava o céu pensando como seria bom se as coisas tivessem sido diferentes

Balanço a cabeça tentando afastar esses pensamentos de mim. A pequena estava morta e não havia nada que eu podia fazer

Mas depois que passei 9 anos junto com uma pessoa, a qual considero ter salvado minha vida, é difícil não passar por um luto complicado

Guardo a bússola e foco no navio

Havia conseguido minha própria embarcação, Mar Negro, quando tinha apenas 20 anos. A cor do mar remete os olhos dela enquanto o negro me lembra de seus cabelos. Era só isso que podia fazer por minha pequena

Me tornei um capitão e conquistei minha tripulação ao longo desses 7 anos. Ela era composta por alguns membros

Capitão: aquele que comanda o navio, com capacidades de liderança e combate. No caso eu

Imediato: aquele que repartia as refeições e tarefas e até mesmo o ouro que roubávamos de outro navio. Esse era Smith, meu braço direito e excelente em lidar com pessoas

Mestres do navio: esses são vários. São aqueles responsáveis por várias tarefas como limpar o convés. Alguns deles são Jake, Jason, Louis, James, Charles, Milles, Stones por aí vai

Tínhamos também Lily. Não estava em nossos planos encontrá-la, mas Smith se apaixonou pela garota e em alguns momentos ela faz parte de nossas viagens. A mulher atua como médica e é boa no que faz

Havia o carpinteiro: pessoa responsável por reparar o dano dos navios emendando velas e substituindo pedaços de madeira, que no nosso caso seria Mike. Ele é só um garoto, mas é apaixonado por isso. O encontrei nas ruas e salvei sua vida. Depois disso ele não saiu de perto de mim

Por fim havia o homem de armas: pessoa que tinha boa mira e sabia mexer com canhões. Eram difíceis de achar e precisavam ter experiência e capacidade. Kevin era nosso cara e agora ele está no fundo do oceano.

Não sobreviveríamos muito tempo sem um homem de armas. No caso de um ataque quem desceria até o convés dos canhões?

O navio era composto pelo convés principal ou plataforma, onde ficava a proa e popa -parte de frente e de trás do barco-, o "andar" abaixo era composto por três partes: embaixo da proa havia meus aposentos, seguido pelo convés dos canhões logo à frente e depois o cômodo de dormir dos marujos -que consistia em um espaço com redes e colchões- e por fim a enfermaria logo lá na frente na parte embaixo da popa. Já no que seria uma espécie de "último pavimento", estariam as munições e armazenamento de comida.

Administrar tudo isso não foi tão difícil até porque passei minha vida toda em um navio. A parte complicada foi não cometer os mesmos erros que os capitães imbecis que encontrei por aí

Ninguém em minha tripulação era forçado a estar aqui. Cada um deles havia sido encontrado por mim e entrado por livre e espontânea vontade

Salvei a vida de muitos deles e outros apenas entraram e não quiseram sair depois

Viramos uma espécie de família estranha

Meu barco e esses homens são tudo que tenho no momento

-TERRA A VISTA! -grita Jake do mastro principal

Solto o ar de meus pulmões sem sequer notar que o tempo havia passado tão rápido e os homens começam se preparar para jogar a âncora e atracar no porto

Não precisaríamos deixar o navio longe e descer nos botes graças a um longo deck que permitia que parássemos a embarcação ali mesmo como na maioria dos portos das ilhas espalhadas pelo mundo

Este era um dos locais desenhados por piratas e um ótimo ambiente para encontrar um homem de armas

-MARUJOS! -os chamo em tom de voz alto e rapidamente toda a tripulação estava em minha frente- não teremos compromisso hoje. Fiquemos de luto por Kevin. Entretanto devo pedir que mantenham os olhos abertos caso vejam um homem de armas precisando de uma tripulação. Voltem pela manhã como sempre

-Sim capitão! -dizem em uníssono

A maioria dos homens desembarca provavelmente a procura de um bar ou de uma mulher que se disponha a dormir com eles

-Capitão? -começa Smith se aproximando- não vai querer beber conosco?

-Desculpe marujo, hoje não é mesmo um dia para isso-pontuo desviando o olhar para o oceano

-Certeza que não quer sair por aí e bater em uns caras aleatórios? -indaga tentando me animar- qual é Matthew, faz tempo desde que não ficamos em terra firme!

-Desculpe-murmuro em tom de voz baixo. Agora não éramos capitão e marujo, éramos apenas amigos

-É hoje, não é? -começa suspirando- hoje é aquele dia do ano em que você fica mal e deprimido

-Fazem 10 anos-falo encarando o oceano com olhar vago

-Olha, eu não sei muita coisa, mas o melhor remédio agora é não pensar apenas nisso. Por favor Matt! Vamos beber uma garrafa inteira de rum

-Me parece apetitoso

-E podemos encontrar um novo tripulante. Sabemos que você é um capitão propício para ataques e que metade dos piratas tem ordens de te matar, não podemos ficar sem alguém que lide com os canhões

-Vamos logo com isso-falo bufando enquanto me afastava do leme e caminhava em direção a saída do navio

Eu e Smith andamos pelo extenso deck cumprimentando com um aceno de cabeça as pessoas que passavam e que nos reconheciam

Em modéstia parte minha tripulação era conhecida assim como eu

-Olá...-começa uma voz feminina se aproximando de mim com olhos vorazes

-Tchau-falo me desvencilhando e Smith solta uma risada alta

-Cara, não sei como recusa essas loiras gostosas-fala rindo- e olha que eu só tenho olhos para minha garota

-Loira gostosa? -indago arqueando uma sobrancelha- está mais para mulher atirada. Veja bem, vivemos em um momento em que a prostituição é lucrativa para mulheres. E na teoria não deixa de ser um emprego digno e fonte de renda para elas. Mas eu não estou nem um pouco interessado nisso Smith. E para completar: loiras não fazem meu tipo

-Para variar-fala revirando os olhos

Os próximos 10 minutos inteiros, nos quais Smith falava que encontraria Lily no porto e que ela finamente poderia estar com ele nas próximas semanas, me faziam querer vomitar

Quando adentramos o bar não resisti e o deixei para trás indo diretamente em direção ao balcão de bebidas

Ponho uma moeda de ouro no balcão e o funcionário não hesita em me servir uma generosa caneca de cerveja

-Obrigado-falo bebendo um grande gole do líquido

Um barulho de copo batendo no balcão me faz virar e noto que o homem ao meu lado havia virado uma caneca inteira de cerveja. Ele limpa os lábios com as costas das mãos e pede mais fazendo um gesto com as mãos

Era relativamente pequeno, mas comparado a mim isso não era muito difícil, suas roupas eram definitivamente masculinas e estranhamente largas. Sem contar que ele parecia falar como um homem

Uma boina cobria seu rosto pela metade então praticamente não o via e a iluminação e sua cabeça sempre baixa não ajudava

-Tragédia ou comemoração? -indago curioso após vê-lo virar a segunda bebida inteira com uma rapidez admirável

-Comemoração da tragédia talvez-responde com voz estranha e cabeça ainda baixa

Sua resposta me fez soltar um sorriso involuntário. Foi inteligente e de certa forma engraçado

-Aí está você! -fala Smith e eu reviro os olhos- já fez amigos?

Antes que eu diga algo mais o homem da boina simplesmente vai embora com cabeça baixa sem dizer nada

-Esquece, vem, Lily está na praça em frente a hospedagem-fala empolgado e eu reviro os olhos antes de segui-lo para fora dali

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