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O plano

BENTO GONÇALVES

Cheguei nessa cidade pequena e pacata fugindo da dor que está encangada em mim e que não me deixa um minuto sequer, fica me apoquentando a todo maldito instante

Cheguei nessa cidade pequena e pacata fugindo da dor que está encangada em mim e que não me deixa um minuto sequer, fica me apoquentando a todo maldito instante.

Viver em santa rosa já não era mais possível!

Por esse motivo adquirir um bom pedaço de terra e alguns bichos que é com o que gosto de tratar, tratar das terras e dos bois é isso que me faz gente.

Pego boi brabo pelo chifre, quanto mais bravo mais atiçado eu fico, não tenho medo deles pois sou feito eles, furioso e sem medo de coisa alguma, se cismo com algo avanço pra cima e estraçalho.

__ patrão, patrão!

Estou bebendo meu conhaque e fumando meu charuto, três coisa que sou viciado e não abro mão: meu conhaque, meu charuto cubano e a mais importante de todas, uma boceta quente e molhada, sou obcecado por chupar boceta, minha língua larga e cumprida que o diga!

quando um dos peões adentra alvoroçado me deixando desassossegado!

__ desembucha cabra!

__ os cinco comerciantes que fecharam com o senhor volto atrás e desfez o acordo!

__ por mil éguas puro sangue! O que estais falando cabra?

__ eles não vão mais compra sua carne de gado, E tem mais!

__ arre desembucha de uma vez!

Paciência nunca foi meu forte.

__ os mexeriqueiros estavam comentando que um tal de Alexandre que foi o culpado, o homem disse que quem compra do senhor vai se ver com ele, e parece que todos na cidade tem medo do homem!

Me ergo da cadeira e seguro minha barba grossa na mão,

__ e por qual motivo essa gente tem medo dele, por acaso ele tem três cabeças?

__ não patrão, dizem que ele é filho do coisa ruim, filho do capeta!

__ ele é um defunto se ficar no meu caminho, isso sim!

Falo forçando a goela e cuspindo grosso no chão,

__ vai virar presunto! eu escangalho ele inteiro com minhas próprias mãos.

Tiro meu chapéu da cabeça e bato com ele em minha coxa, em seguida volto a colocá-lo na cabeça.

O Lázaro termina de falar, e pelo que vejo esse tal de Alexandre é um frangote metido a macho.

__ Arre se eu vou permitir que um galinho novo que mal deixou a sai da barra da saia da mãe, dizer o que posso ou não fazer, vamos comigo cabra, fazer uma visitinha de cortesia a esse tal de Alexandre sei lá das quantas!

__ ele tem uma tabacaria no centro...

Lázaro sai desembestado desembuchando tudo sobre a família Monte negro e pelo que escuto pai e filho domina a cidade pela força do medo!

Arre tá pra nascer homem que bote medo em mim, sou bicho da terra, bicho do mato tem medo de nada não.

Paro de frente a tabacaria, aprumo minha peixeira na cintura e antes de entrar cuspo no chão fazendo um barulho alto com a goela, tiro o chapéu da cabeça segurando em frente ao meu cinto largo.

Quando adentro no recinto me deparo com dois homens muitos parecidos, sendo que um já tem alguns cabelos brancos, os dois são muito fortes e altos,

__ quem aqui é Alexandre?

Levanto o queixo e espero uma reposta a minha pergunta, os dois homens se olham e depois olha pra mim, eles não têm uma fuça muito boa não, mas minha fuça é pior pode apostar!

__ eu sou Alexandre!

O homem de mais idade fala!

__ eu sou Alexandre!

O outro fala a mesma coisa e eu coço a barba confuso!

__ ele é meu filho, AlexandreII, quem é você?

__ eu sou Bento Ribeiro quero trocar umas palavrinhas com seu cabrito!

Falo apontando para o galinho na minha frente.

__ pois fala, estou ouvindo!

O galinho me olha como se fosse o dono do mundo, eu o encaro da mesma forma, nunca vou baixar a cabeça para frangote!

__ ouvir falar que você está metendo seu nariz onde não foi chamado!

Seus olhos estão furiosos e parecem labaredas de fogo, passo a mão no cabo da minha peixeira numa ameaça velada que ele entende prontamente, seu pai um homem mais experiente me olha e eu sei que ele sabe do que sou capaz, ele conhece por que é igual a mim, noto assim que o olho nos olhos, o mais novo faz um gesto para tentar alcançar a pistola em cima da mesa, mas seu pai segura seu braço.

__ desgraça!

Ele xinga e em seguida cochicha algo no ouvido do seu filho que bufa alto se mostrando visivelmente contrariado ao que quer que o seu pai tenha dito, mas a raposa velha sabe que bater um confronto com minha pessoa agora não seria viável.

__ senhor Ribeiro, tudo não passou grande furdunço, um mal entendido, pois essa cidade é cheia de mexeriqueiros e para provar isso aceite nosso convite, meu e do meu filho e venha jantar na minha casa!

Cerro meus olhos desconfiado e eu aposto mil cabeças de boi que tem caroço nesse angu, esse homem de cabelo grisalho não me engana, ele está tramando alguma coisa, ele me olha de um jeito perigoso e eu conheço gente assim só pelo cheiro, ele está me armando uma arapuca, o que essa gentinha não sabe é que não tem cabra pra me botar medo.

__ eu aceito o convite com muito gosto!

Mantenha os amigos por pertos e os inimigos mais perto ainda! Preciso ficar de olho bem aberto com esses dois!

__ eu moro...

__ não precisa me passar seu endereço, eu te acho!

Digo sem deixar algum dos dois falarem, saio de lá sobre uma ameaça muda que nem de longe me bota medo.

__ cabra! Descobre o endereço desses dois diabos!

__ como queira patrão!

__ agora desembucha, onde tem um lugar bom para um homem como eu me divertir?

Lázaro me conhece muito bem e ele sabe perfeitamente o tipo de diversão que procuro, quando estou agitado poucas coisas me acalmam e boceta é uma delas!

quero descontar toda minha fúria dentro de uma boceta fácil, que engula toda a cobra que tenho entre as pernas, uma não, duas, três bocetas, quanto mais bocetas melhor, agora elas têm que dá conta de acalmar minha jiboia furiosa!

__ eu sei onde tem um cabaré de qualidade patrão!

__ e está esperando o que para me deixar lá cabra?

BELLA MONTE NEGRO

O pincel desliza suavemente pela tela em forma de aquarela onde uma pintura se sobressai por sobre a outra, é lindo, é encantador e magico ver como meus quadros ganham vida sozinhos!

O pincel desliza suavemente pela tela em forma de aquarela onde uma pintura se sobressai por sobre a outra, é lindo, é encantador e magico ver como meus quadros ganham vida sozinhos!

Quando de repente a porta do meu aposento é escancarada, e só a duas pessoas nessa casa que faz isso, uma é meu pai e a outra meu estimado irmão!

Quando me viro para olhar quem está a dentro me deparo com meu irmão.

__ boa tarde irmão!

Ele parece inquieto e mais agitado que de costume!

__ dê fim a essa baboseira de pintura, isso é perca de tempo!

A mesma conversa de sempre!

__ isso não é baboseira, isso é arte!

__ ao meu ver isso não passa de bobagens, um monte de borrões!

__ você não tem a delicadeza para entender a arte! Você é insensível!

__ isso é coisa de mulherzinha eu sou macho!

Ele estufa o peito com superioridade para falar isso!

__ mas você insiste nisso, deveria estar na cozinha esquentando a barriga no fogão e aprendendo a cozinhar para agradar seu futuro marido!

Meu pai e Alexandre empaquetaram com a ideia de que Aurora e eu estamos na idade de arrumar marido!

__ mas não vim aqui para isso, cadê sua irmã?

Não sei o que responder porque eu realmente não sei por onde a Aurora anda!

__ eu não sei!

__ se aquela desajuizada se atreveu a sair sozinha ela vai se ver comigo quando chegar e se estiver andando com aquelas duas perdidas o castigo dela será pior ainda!

Alexandre parece está realmente num mal dia o que é seu normal.

__ se embeleze, hoje temos visita para o jantar!

__ visita?

__ não faça perguntas, só obedeça, e se vista de forma mais caprichada, mas nada mostrar os joelhos ou a saboneteira como algumas espevitadas fazem! quem sabe assim o paspalho seja pego!

Não compreendo nada que meu irmão fala!

__ E OUTRA COISA, QUANDO SUA IRMÃ RESOLVER DAR O AR DE SUA GRAÇA, DIGA A ELA QUE QUERO TER UM DEDO DE PROZA COM ELA!

Da forma como entrou nos meus aposentos Alexandre se vai, como um furacão!

__ Aurora por onde andas?

Pergunto sozinha enquanto borrifo colônia de lavanda em minhas vestes!

Quando a porta abre e minha irmã entra com sua cara de tédio se jogando no leito.

__ graças a santinha que você apareceu, vai se vestir para o jantar, o Alexandre...

__ eu não vou descer para esse jantar!

__ Aurora nosso irmão mandou!

Aurora se senta no leito e faz aquela cara que eu conheço muito bem, a cara que ninguém vai fazê-la voltar atrás.

__ eu quero que o Alexandre vai para baixa da égua! Eu não vou nesse jantar nem amarrada, eu faço escândalo, mas não vou!

Fico assustada com a forma firme que ela fala!

__ porque qual motivo Aurora?

Pergunto, pois acho estranha toda sua revolta!

__ quando estava caminhando até nossos aposentos, sem querer eu ouvir o papai falando com o Alexandre!

__ e o que eles falavam?

__ que seria melhor unir o útil ao agradável, que talvez o casamento fosse uma boa saída, ia juntar dinheiro e poder!

__ não entendi!

__ papai quer casar uma de nós duas com velho fazendeiro que vai jantar aqui hoje, ele é rico e tem muito dinheiro!

Fico chocada com o que escuto!

__ eu não aceito casar forçada! EU NÃO ACEITO! eu só caso se eu quiser, se eu quiser ficar encalhada para titia eu fico, eu não vou permitir que decidam minha vida por mim nunca, a vida é minha, posso levar uma coça (levar uma surrar) bem dada de tirar sangue, mas na minha vida mando eu!

Casamento, fazendeiro, velho, minha cabeça gira e tudo está confuso!

__ dizem que ele é um chucro sem modos! Se eu fosse sua pessoa também não iria a esse jantar de merda!

Aurora como sempre fala palavrão, mas nem dou atenção, pois estou tentando assimilar os acontecimentos.

Diferente de Aurora eu sigo para o jantar sem saber que essa noite irá mudar minha vida para sempre eu nunca mais serei a mesma depois de conhecer Bento Ribeiro, o cabra mais macho que já pisou na terra.

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